Trabalho: a pandemia criará uma nova “geração perdida”?

Quando o contágio eclodiu no início do ano, a Covid-19 ceifou vítimas principalmente entre os mais idosos. Mas, em longo prazo, as consequências da pandemia correm o risco de ser piores para os mais jovens, especialmente para aqueles que estão dando os primeiros passos no mundo do trabalho neste período.

A reportagem é de Chiara Merico, publicada em Business Insider, 30-07-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Muitos jovens europeus viram o seu caminho, talvez recém-começando, interromper-se bruscamente com o advento da pandemia: uma parada forçada, que, segundo vários economistas, poderia piorar as suas perspectivas de trabalho e de renda por um período muito longo. Um problema particularmente sério na Europa, onde o desemprego juvenil é uma triste realidade que se arrasta sem solução desde a crise financeira global de 2008-2009, particularmente nos países meridionais como Espanha e Grécia.

E a crise desencadeada pela pandemia do coronavírus já está mostrando os primeiros sinais nesse sentido, que certamente não são encorajadores. Se a taxa geral de desemprego em maio aumentou apenas 0,1%, chegando a 6,7%, graças aos amortizadores sociais e às reduções de horário, no mesmo mês, o desemprego entre os menores de 25 anos aumentou três vezes isso, 0,3%, tocando em 15,7%.

Na Itália, como ressaltou o Financial Times, a taxa de desemprego caiu surpreendentemente de 8% em março para 6,3% em abril, mas apenas devido ao fato de muitas pessoas terem passado para a categoria de inativos, que viu um aumento de 746 mil unidades para uma taxa que passou de 36,1 % para 38,1%.

O número dos ocupados na Itália diminuiu 274 mil unidades entre março e abril: o país, explica o jornal financeiro, detém o pouco invejável primado de nação europeia com o mais elevado percentual de jovens entre 20 e 34 anos que não trabalham, não estudam e não estão envolvidos em projetos de formação, os chamados “Neet”. Na Itália, a número é de 27,8%, bem acima da média europeia de 16,4%.

O que preocupa, acima de tudo, é o fato de o desemprego juvenil estar inversamente relacionado ao crescimento econômico, e, portanto, quanto mais forte for o impacto da crise sobre a economia como um todo, pior será para os jovens trabalhadores.

Um exemplo emblemático vem da República Tcheca, um país que, após uma longa fase de expansão econômica, orgulhava-se de uma taxa de desemprego juvenil de apenas 5%. Mas, entre janeiro e maio, o número de jovens sem trabalho entre 15 e 24 anos de idade aumentou pela metade, e, de acordo com estimativas de Dennis Tamesberger, especialista em desemprego juvenil da Câmara do Trabalho de Linz, na Áustria, em 2020 a taxa poderia mais do que triplicar, chegando a 16%.

E, infelizmente, como explicou o estudioso à Reuters, quem “perde o trem” em tenra idade corre o risco de não conseguir mais acompanhar o ritmo dos outros: com base nos resultados de uma pesquisa do Center for Economic Policy Research, de Londres, um mês de desemprego entre os 18 e os 20 anos de idade pode levar a uma perda de 2% na renda da vida inteira.

Além disso, períodos mais longos de ausência do trabalho em idade juvenil aumentam a probabilidade de paradas futuras, porque quem fica parado não têm mais a possibilidade de adquirir conhecimentos e experiências necessárias para ser competitivo no mercado de trabalho.

Conforme o especialista austríaco, “os períodos de desemprego em idade juvenil podem ter um impacto negativo sobre a vida em geral, o que justifica o uso do termo ‘geração perdida’”.

A pandemia chegou como um tsunami, atingindo um território já devastado: após a crise financeira em países como a Grécia e a Espanha, o desemprego juvenil nunca se afastou de porcentagens em torno dos 30% e, de acordo com Tamesberger e outros especialistas, poderia chegar agora a 45%.

Se o mundo do trabalho na Europa já estava cheio de obstáculos para os mais jovens, a pandemia criou ainda mais. Por exemplo, entre os setores mais afetados pelas restrições estão o varejo e setor hoteleiro, historicamente dois dos mais populares entre os jovens em busca do primeiro emprego.

União Europeia também interveio sobre essa questão, pedindo aos governos que utilizem os fundos existentes para criar empregos dedicados aos jovens e iniciar programas de formação e treinamento: a estimativa é de que sejam necessários investimentos de 22 bilhões de euros [134 bilhões de reais] para corrigir defeitos estruturais do mercado, particularmente em países como a Espanha.

Como observou o comissário europeu Valdis Dombrovskis, “mesmo nos melhores momentos, dar os primeiros passos no mundo do trabalho é um desafio. E estes certamente não são os melhores momentos”.

 

fonte: http://www.ihu.unisinos.br/601439-trabalho-a-pandemia-criara-uma-nova-geracao-perdida

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