Marcelo Guimarães Lima, Retrato de Stuart Angel, lápis s/ papel, 21x29cm, 2021
Por MARCELO GUIMARÃES LIMA*
Não esqueceremos nunca a coragem, o destemor e a dedicação à causa popular de Stuart Angel e seus companheiros
Como tantos jovens brasileiros da sua geração, Stuart Angel (1946-1971) combateu a ditadura militar e foi por isso brutalmente, covardemente torturado e assassinado em uma base militar do Rio de Janeiro. Sua mãe, Zuzu Angel, por tentar corajosamente buscar justiça para o filho, foi também assassinada pelo regime dos generais golpistas e vendilhões da pátria que amordaçou o país por duas décadas no último século.
Não esqueceremos nunca a coragem, o destemor e a dedicação à causa popular de Stuart Angel e seus companheiros. Não esqueceremos e não perdoamos os seus algozes. A impunidade de torturadores e generais golpistas é não apenas uma mancha vergonhosa na história do país, algo que, consciente ou inconscientemente, pesa sobre todos os brasileiros, mas também um dos elementos importantes na gênese da situação atual onde um defensor da tortura e da ditadura ocupa o cargo de presidente.
*Marcelo Guimarães Lima é artista plástico, pesquisador, escritor e professor.
Quem foi Stuart Angel, homenageado por torcedores do Flamengo no domingo
Em nota divulgada nesta segunda, clube negou que tenha participado da homenagem de atleta torturado e morto pela ditadura militar
O Globo
01/04/2019 – 17:42 / Atualizado em 01/04/2019 – 17:44
Jovem estudante que foi torturado e morto durante a ditadura foi bicampeão de Remo pelo rubro-negro
Torturado e morto pela ditadura militar em 1971, o estudante Stuart Edgar Angel Jones voltou a ser tema de debate entre rubro-negros neste fim de semana. Durante a final da Taça Rio, um grupo de sócios e torcedores homenageou o remador do Flamengo, estampando seu nome na camisa do clube. No entanto, em nota divulgada nesta segunda, o clube fez questão de afirmar que a celebração não tinha nada a ver com a instituição. Segundo o comunicado, “qualquer manifestação política” é “estatutariamente vedada” às diretorias.
Mas isso já foi diferente. Em 2010, Stuart foi homenageado pelo Flamengo com a inauguração de um memorial na sede social da Gávea. A iniciativa fez parte do projeto Direito à Memória e à Verdade, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. O objetivo era contar a história das vítimas das ditadura, resgatando a trajetória de pessoas que se engajaram na oposição ao regime militar.
Cinco anos mais tarde, um busto em sua homenagem foi inaugurado em frente ao campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na Urca. Ali também há uma ciclovia com o nome do atleta. A ação foi promovida pelo Instituto Zuzu Angel, mãe de Stuart e da jornalista Hildergard Angel.
Stuart foi bicampeão carioca de remo pelo Flamengo, em 1964 e 1965. Também remou pelo Botafogo e estudou economia na UFRJ. Foi militante do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), mais conhecido pelo sequestro do embaixador americano Charles Elbrick, em setembro de 1969.
A tortura
Na manhã de 14 de maio de 1971, Stuart foi preso por agentes do Centro de Informações e Segurança da Aeronáutica, aos 25 anos. O interrogatório buscava informações sobre o paradeiro de Carlos Lamarca, um dos principais líderes da luta armada contra o regime.
As circunstâncias de sua morte foram narradas em carta pelo preso político Alex Polari de Alverga, que esteve com ele na Base Aérea do Galeão, no Rio. Ele relata que Stuart foi espancado e arrastado por colegas com a boca amarrada ao cano de descarga do jipe de um oficial. A descrição foi corroborada por depoimentos à Comissão da Verdade do Rio, em 2013.
22.08.1965 – ARQUIVO GLOBO – RG – EXCLUSIVO – REMO CAMPEONATO CARIOCA DE 1965 Foto: Agência O Globo / Agência O Globo
A família nunca encontrou o corpo. A viúva, Sonia Maria Lopes de Moraes, também foi morta após tortura em1973, pelos agentes do DOI-Codi de São Paulo.
Durante anos, Zuzu Angel, sua mãe, estilista de alta costura, empreendeu sucessivas buscas pelo corpo do filho, o que conferiu ao caso repercussão nacional e internacional.
Zuzu morreu em março de 1976 num suspeito acidente de carro no túnel que hoje leva seu nome, entre São Conrado e Gávea. Apurado como homicídio em 1988 pelo Ministério da Justiça, os mandantes jamais foram identificados. A Comissão da Verdade do Rio, porém, ouviu o ex-delegado Claudio Guerra apontar a presença do coronel Freddie Perdigão na cena do crime em foto do repórter Otávio Magalhães, do GLOBO. Perdigão morreu em 1997.
Stuart era descrito por pessoas próximas como um apaixonado por esportes, tendo praticado tênis, natação e levantamento de peso.
Na cena do crime. O coronel do Exército Freddie Perdigão (de camisa branca, encostado no poste) observa o carro de Zuzu Angel: Comissão da Verdade afirma que ele foi reconhecido por um agente da ditadura Foto: Otávio Magalhães 14/04/1976 / Agência O Globo