IHU
Vídeo mostra a trajetória do líder do governo Bolsonaro e pivô do escândalo da Covaxin; financiado por empresários da saúde, ministro da Saúde do governo Temer tentou sucatear o SUS; ele tem latifúndios no Piauí e quadruplicou sua fortuna em doze anos.
A reportagem é de Luís Indriunas e Alceu Luís Castilho, publicado por De Olho nos Ruralistas, 30-06-2021.
Depois de muito relutar, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) abriu o jogo durante seu depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid e revelou o nome do chefe do esquema de venda superfaturada da vacina indiana Covaxin: o líder do governo Bolsonaro na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR). O político, empresário e fazendeiro paranaense foi citado pelo próprio presidente Jair Bolsonaro, quando Miranda denunciou o esquema para o capitão.
Menos de uma semana depois, outra denúncia envolvendo Ricardo Barros aparece. Seu indicado para a diretoria de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, foi acusado de negociar uma propina de um dólar a mais para cada vacina AstraZeneca comprada. Menos de 24 horas depois, Dias foi exonerado e a CPI convocou-o, juntamente com Barros. Os senadores querem detalhes das negociações escusas e a relação dessas denúncias com o presidente da República.
Bolsonaro e Barros são aliados de longa data. Foram companheiros de partido por dez anos, como mostra o 13º vídeo da série De Olho no Genocídio:
De origem ruralista, deputado quadriplicou sua fortuna em 12 anos
Ricardo Barros vem de uma família tradicional do Paraná. Seu avô Odwaldo Bueno Neto enriqueceu comprando terras de pequenos produtores na região de Maringá, reduto eleitoral do político. O próprio Barros aumentou sua fortuna durante sua carreira política. Em 2006, quando foi candidato, ele declarou R$ 1.255.746,74 ao Tribunal Superior Eleitoral. Em 2018, esse valor tinha quadruplicado: R$ 5.529.650,21. De Olho nos Ruralistas já falou sobre sua face agrária: “Novo líder do governo na Câmara tem latifúndio em região de conflitos no Piauí”.
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Anúncio do avô de Ricardo Barros publicado em jornal de Maringá.
(Imagem: Reprodução)
Os 5.204 hectares declarados ao TSE por Barros estão no município Baixa Grande do Ribeiro, uma região de transição entre a Caatinga, o Cerrado e a Floresta Amazônica. Além desses imóveis, o deputado tem declaradas outra fazenda no Paraná e participações em incorporadoras de imóveis, loteadora de terrenos, locadora de veículos, escola de ensino técnico, emissora de rádio e loja de roupas. Entre os bens não declarados, há uma sociedade em terreno em Marinalva (PR) cotado em R$ 56 milhões.
Enquanto acumula bens, Ricardo Barros ganha dinheiro de empresários do setor de saúde. Em 2014, recebeu para sua campanha R$ 100 mil de Elon Gomes de Almeida, sócio dos grupos Aliança Saúde e Qualicorp. Quando tornou-se ministro da Saúde do governo Michel Temer, em 2016, Barros defendeu a diminuição do tamanho do Sistema Único de Saúde e cortou cerca de R$ 50 bilhões do seu orçamento, além de dizer que “quanto mais gente tiver plano de saúde, melhor”.
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Como ministro da Saúde de Temer, Barros queria diminuir o tamanho do SUS.
(Foto: Marcelo Camargo | Agência Brasil)
O empresário ficou famoso por suas declarações que menosprezavam quem precisa de atendimento médico e não pode pagar. “Homens trabalham mais, por isso não acham tempo para cuidar da saúde”, afirmou o então ministro em uma ocasião. Em outra entrevista, ele falou que “a maioria das pessoas chega ao posto de saúde com efeitos psicossomáticos”.
Engenheiro civil de formação, Barros conseguiu ampliar apoio de Bolsonaro com discurso negacionista sobre a pandemia, apoiando o uso da cloroquina para tratamento da Covid. Numa troca de favores, Bolsonaro nomeou a mulher de Barros, a ex-vice-governadora do Paraná, Cida Borghetti, como conselheira da Usina de Itaipu. Com rendimentos mensais de R$ 27 mil. Dois dias antes, o deputado Luis Miranda tinha procurado o presidente para denunciar o esquema da Covaxin.
Além das declarações públicas a favor da cloroquina, a CPI da Covid mostrou que Ricardo Barros trabalhava nos bastidores. Entre os doze processos aos quais responde, há um de improbidade administrativa por fechar um contrato de R$ 19,9 milhões para compra de remédios para doenças raras com a Global Gestão Saúde, que não tinha como entregar o produto.
A Global é sócia da Precisa Medicamentos, intermediária da vacina indiana Covaxin, a mais cara entre as vacinas. Além de pressionar para que o contrato fosse fechado a toque de caixa, Barros é autor de uma emenda que facilitaria a importação da Covaxin, garantindo a entrada de vacinas importadas mesmo sem o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Na defesa de sua emenda, Barros citou a necessidade de compra da Covaxin.
À mídia em geral, Ricardo Barros nega envolvimento com o caso da vacina chinesa. Bolsonaro também nega: “Não tinha como saber sobre caso Covaxin“. O presidente tem evitado se pronunciar tanto sobre Barros quanto sobre Miranda.
fonte: http://www.ihu.unisinos.br/610706-ricardo-barros-do-feudo-no-parana-as-rotas-da-corrupcao
Líder do governo, Barros tem uma trajetória marcada por denúncias
Alvo da CPI da Covid, o líder do governo na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros, também enfrenta em sua trajetória política acusações de favorecimento a grupos empresariais
247 – Alvo da CPI da Covid por suspeitas de irregularidades na compra de vacinas, o líder do governo na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (PP-PR), carrega no histórico político investigações envolvendo a sua gestão à frente do Ministério da Saúde e o Paraná, sua terra natal.
A Procuradoria da República do Distrito Federal, por exemplo, denunciou Barros por improbidade administrativa por causa de fatos ocorridos durante a passagem dele na Saúde, entre 2016 e 2018. De acordo com o jornal Folha de S.Paulo, o deputado foi acusado de beneficiar Global Gestão em Saúde em contrato de cerca de R$ 20 milhões para compra de medicamentos utilizados no tratamento de doenças raras.
A empresa é sócia da Precisa Medicamentos, que é investigada pela CPI da Covid por suspeitas de irregularidades nas negociações para compra da Covaxin.
Na ação que tramita na 22ª Vara Federal Cível em Brasília, procuradores apontaram violação a leis administrativa, sanitária e de licitações, e o descumprimento de decisões judiciais, “com a intenção” de favorecer várias empresas, incluindo a Global Gestão em Saúde. Os investigadores pediram ressarcimento de R$ 120 milhões aos cofres públicos, incluído o valor do contrato mais reparação pelo dano moral.
Em 2017, o MPF em Pernambuco pediu o afastamento de Barros do cargo de ministro em uma ação civil pública apresentada ao Judiciário que buscava assegurar a aquisição de medicamentos a hemofílicos dentro de uma parceria firmada entre a pasta e a estatal Hemobrás.
Procuradores acusaram Barros de articular politicamente uma forma de esvaziar a empresa pública de hemoderivados em prol da iniciativa privada. “É clarividente o desvio de poder no âmbito da atuação do ministro da Saúde”, afirmou o MPF, destacando que Barros admitira publicamente ter “interesse político em levar o ‘mercado de sangue’ para o estado do Paraná”.
O líder do governo também foi citado na Operação Lava Jato. O nome do deputado apareceu vinculado a um suposto repasse de R$ 100 mil feito pela Odebrecht a uma campanha municipal de um aliado em 2012.
Em outro documento da construtora, foi apontado repasse de R$ 50 mil em 2010 a Cida Borghetti (PP), ex-governadora do Paraná e casada com Barros. Ela se elegeu deputada federal naquele ano.
No ano passado, o Ministério Público paranaense e a Polícia Civil vasculharam o escritório político de Barros em Maringá, em um desdobramento da Lava Jato. A Promotoria apura indícios de que ele teria sido beneficiário de R$ 5 milhões em propina para intermediar negócios ligados à Copel (Companhia Paranaense de Eletricidade). As irregularidades ocorreram entre 2011 e 2014. No período, Barros foi secretário estadual de Indústria e Comércio
Em outra investigação, Barros foi acusado pelo MP de interferência em uma licitação de R$ 7,5 milhões para a contratação de uma agência de publicidade pela Prefeitura de Maringá.
Em 2017, a Promotoria em Marialva abriu investigação para averiguar a negociação de R$ 56 milhões no município em 2014, após a revelação de que, com bens declarados, à época, de R$ 1,8 milhão, o ex-ministro da Saúde comprou o terreno.
Barros disse que fez um empréstimo de R$ 13 milhões de seu sócio na transação, uma empresa do setor imobiliário, para bancar o negócio. Naquele ano, era o titular da pasta de Indústria e Comércio.
Outro lado
Em nota, Barros afirmou que sua gestão no Ministério da Saúde promoveu economia superior a R$ 5 bilhões, reinvestidos em novos sistemas de compra. “São processos que afrontaram grandes interesses, mas promoveram mais serviços à população”, disse.
“A Global não entregou os medicamentos mas já reconheceu a dívida e está pagando as parcelas. Não participei de qualquer negociação para a compra desse produto”, afirmou. “Embora a Global seja sócia da Precisa Medicamentos, em análise pela CPI, esse processo em nada se relaciona com a aquisição de vacinas da Covaxin”.
O líder do governo afirmou que, no caso da compra de derivados de sangue pelo ministério, a licitação foi vencida por uma empresa que apresentou preço R$ 127 milhões inferior ao preço proposto pela Hemobras e, mesmo assim, o MPF pediu que a compra fosse feita com a empresa pública. A decisão da juíza foi cumprida pela pasta.
O deputado também negou estar envolvido em denúncias da Lava Jato e que seu nome não apareceu em qualquer inquérito, denúncia ou planilha. “O caso citado [os R$ 100 mil em um documento da Odebrecht] refere-se a uma planilha de pedidos de doação eleitoral para a campanha de prefeito de Maringá de 2012. A doação não ocorreu e não fui candidato naquele pleito”, continuou.
Sobre a irregularidade na contratação de agência de publicidade pela Prefeitura de Maringá, ele disse que “as acusações são infundadas, com a finalidade de gerar desgaste político.Não houve qualquer interferência, tentativa de interferência na licitação e muito menos dano ao erário”.
No caso Copel, Barros afirmou que valores recebidos por ele “têm origem lícita e não possuem nenhuma relação com a investigação”. Segundo Barros, os valores repassados pela Galvão Engenharia são referentes a doações oficiais de campanha de 2014. “Repudio a criminalização das doações oficiais de campanha, o ativismo político do judiciário com vazamentos seletivos, e provarei a inocência”.
Vacina Covaxin
Barros também aparece como um dos investigados pela CPI da Covid, após o deputado Luis Miranda (DEM-DF) denunciar publicamente um esquema de corrupção na importação da vacina Covaxin. As negociações tinham um intermediário e sem vínculo com a indústria de vacina, a empresa Precisa. O valor da compra foi 1.000% maior do que, seis meses antes, era anunciado pela fabricante.
Segundo Miranda, Barros esteve envolvido nas negociações para a importação do imunizante. A compra da vacina foi a única para a qual houve um intermediário e sem vínculo com a indústria de vacina, a empresa Precisa. O valor foi 1.000% maior do que, seis meses antes, era anunciado pela fabricante. Barros negou ter participado das negociações.
Procuradoria vai investigar governo Bolsonaro por corrupção na compra da Covaxin
O MPF (Ministério Público Federal) abriu investigação para apurar as irregularidades no contrato entre o governo Bolsonaro e a Precisa Medicamentos
247 – O MPF (Ministério Público Federal) do Distrito Federal abriu investigação criminal para apurar as irregularidades no contrato para compra da vacina indiana Covaxin assinado entre o governo Bolsonaro e a Precisa Medicamentos, empresa intermediária da Bharat Biotech.
O procurador Paulo José Rocha Júnior já determinou as primeiras diligências a serem feitas para o início das investigações, informa a Folha de S.Paulo.
A Polícia Federal também instaurou inquérito para investigar a compra da Covaxin pelo governo Bolsonaro.
A Procuradoria vê indícios de crimes contra a administração pública, “sobretudo a saúde pública e ao erário federal”, conforme despacho de Paulo José Rocha Júnior .
O procurador do Distrito Federal pediu à PGR (Procuradoria-Geral da República) para examinar se abre um procedimento de cooperação internacional que questione a Bharat Biotech sobre a existência de contatos diretos com o Ministério da Saúde, sobre a política de preços praticada, sobre a existência de outros contratos com intermediários e sobre a necessidade da intermediação da Precisa no processo.
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