Relatório Munique sobre abusos: cardeal Marx, “Estou chocado e envergonhado, ulteriores passos são necessários em direção ao futuro”

“Meus primeiros pensamentos hoje vão para aqueles que foram atingidos por abusos sexuais, que experimentaram malícia e sofrimento por meio de representantes da Igreja, sacerdotes e outros funcionários da Igreja, em um grau assustador. Estou chocado e envergonhado”. Assim se manifestou o cardeal Reinhard Marx, arcebispo de Munique e Freising, em seu discurso sobre o Relatório sobre os abusos cometidos por membros do clero em sua diocese.

A reportagem é publicada por Agência SIR, 20-01-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.

“Como tenho repetido várias vezes, como arcebispo de Munique e Freising, sinto-me corresponsável pela instituição da Igreja nas últimas décadas”, continua o cardeal, segundo informa o site da diocese: “Como atual arcebispo, peço desculpas em nome da arquidiocese pelo sofrimento infligido às pessoas na área da Igreja nas últimas décadas. Sabemos há anos que os abusos sexuais não foram levados a sério na Igreja, que os perpetradores muitas vezes não foram adequadamente responsabilizados, que houve um afastamento dos responsáveis. Justamente por isso, desde a primeira perícia que encomendamos em 2010, encomendamos o relatório apresentado hoje ao escritório de advocacia WSW. É um elemento importante e indispensável para enfrentar os casos de abusos sexuais em nossa arquidiocese e também para a Igreja como um todo”.

“Desde 2010, muito foi mudado e implementado na arquidiocese, e estamos longe de terminar”, o balanço do cardeal: “Aconselharemos e implementaremos novas mudanças com base nas recomendações deste relatório”. “Espero vivamente que na próxima quinta-feira possamos mostrar as primeiras perspectivas e traçar o caminho a seguir”, anuncia Marx, segundo quem “chegou a hora de seguir os impulsos transmitidos pelo relatório e realizar ulteriores passos para o futuro. A crise dos abusos é e continua sendo um choque profundo para a Igreja e a reavaliação e o caminho a seguir incluem a orientação para as vítimas dos abusos, a reavaliação de falsas estruturas e atitudes de poder. Mas é mais que isso, trata-se de uma questão de renovação da Igreja, trata-se do que estamos também buscando e promovendo no Caminho Sinodal na Alemanha. Porque este Caminho Sinodal foi baseado no estudo do MHG e nas suas análises”.

“Chegar a um compromisso com os abusos sexuais não pode ser separado do caminho de mudança, renovação e reforma da Igreja”, conclui o cardeal, assegurando que “a perspectiva das pessoas atingidas está agora no centro das atenções para nós na arquidiocese de Munique e Freising, também para efetuar passos em direção ao futuro”.

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fonte: https://www.ihu.unisinos.br/616018-relatorio-munique-sobre-abusos-cardeal-marx-estou-chocado-e-envergonhado-ulteriores-passos-sao-necessarios-em-direcao-ao-futuro

Pedofilia, relatório sobre a diocese de Ratzinger: 497 vítimas. O Papa Emérito é acusado de negligência em 4 casos. Santa Sé: “Vergonha”

Uma pedra muito pesada sobre a vida de Bento XVI nove anos depois de sua renúncia. De acordo com o que surgiu do relatório independente sobre a pedofilia do clero da arquidiocese de Munique e Freising, da qual Ratzinger foi arcebispo de 1977 a 1981, há pelo menos 497 vítimas de abusos. A maioria são homens jovens, 60% dos quais têm idade entre 8 e 14 anos. Os agressores são pelo menos 235, entre os quais 173 padres, 9 diáconos, 5 representantes pastorais e 48 pessoas do ambiente escolar.

A reportagem é de Francesco Antonio Grana, publicada por Il Fatto Quotidiano, 21-03-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.

Números monstruosos aos quais se soma o fato do Papa Emérito ser acusado de negligência em quatro casos durante o período em que liderou a arquidiocese bávara. Acusações que Bento XVI, do Mosteiro Mater Ecclesiae, no Vaticano, onde mora desde sua renúncia, rejeitou com firmeza em uma declaração escrita anexada ao relatório. A investigação foi conduzida pelo escritório de advocacia Westpfahl Spilker Wastl e abrange um período de 70 anos, de 1945 a 2019. Os líderes da Arquidiocese de Munique e Freising pediram tempo para avaliar os dados que emergiram do relatório e traçar suas considerações.

No entanto, já alguns meses antes da publicação desses resultados, o cardeal Reinhard Marx, que dirige a arquidiocese da Baviera desde 2007, havia renunciado, admitindo o fracasso da Igreja Católica em relação à pedofilia do clero. Renúncia imediatamente rejeitada por Francisco, mas acompanhada de declarações muito pesadas sobre a gestão dos vértices eclesiais sobre os abusos.

O cardeal, de fato, havia explicado o significado de seu gesto: “Basicamente, para mim, trata-se de assumir a corresponsabilidade relativa pela catástrofe dos abusos sexuais perpetrados pelos representantes da Igreja nas últimas décadas. As investigações e as perícias dos últimos dez anos me demonstram constantemente que houve falhas em nível pessoal como erros administrativos, mas também uma falha institucional e sistemática. As polêmicas e discussões mais recentes mostraram que alguns representantes da Igreja não querem aceitar essa corresponsabilidade e, portanto, também a culpa da instituição. Consequentemente, eles rejeitam qualquer tipo de reforma e inovação em relação à crise ligada ao abuso sexual. Eu vejo isso definitivamente de forma diferente”.

Foi o próprio cardeal, durante a cúpula sobre a pedofilia do clero convocada por Francisco no Vaticano em fevereiro de 2019, que sustentou que “os dossiês que poderiam ter documentado os terríveis atos e indicado os nomes dos responsáveis foram destruídos ou nem mesmo criados. Em vez dos culpados, foram as vítimas que foram repreendidas e o silêncio foi imposto a elas”. Uma denúncia muito forte feita pelo então presidente da Conferência Episcopal alemã. Naquela ocasião, o cardeal havia explicado que “os abusos sexuais contra crianças e jovens são em não leve medida devidos ao abuso de poder no âmbito da administração. Nesse sentido, a administração não contribuiu para cumprir a missão da Igreja, mas, pelo contrário, a obscureceu, desacreditou e tornou impossível”.

Para o cardeal, de fato, “as normas e os procedimentos estabelecidos para investigar os crimes foram deliberadamente desatendidos, e aliás cancelados ou ignorados. Os direitos das vítimas foram de fato pisoteados e deixados ao arbítrio dos indivíduos. Estes são todos os eventos em clara contradição com o que a Igreja deveria representar. A forma como a administração da Igreja foi estruturada e realizada não contribuiu para unir toda a humanidade e aproximar mais os homens de Deus, mas, pelo contrário, violou esses objetivos”. Com uma conclusão inevitável: “Não há alternativas à rastreabilidade e transparência“.

“A Santa Sé – comentou o diretor da Sala de Imprensa do Vaticano, Matteo Bruni – acredita que deve dar a justa atenção ao documento do qual no momento não conhece o conteúdo. Nos próximos dias, após sua publicação, irá lê-lo e poderá examiná-lo em detalhes. Ao reiterar o sentimento de vergonha e remorso pelos abusos contra menores cometidos pelos clérigos, a Santa Sé assegura proximidade a todas as vítimas e confirma o caminho trilhado para proteger os pequenos, garantindo-lhes ambientes seguros”.

Por sua parte, Bento XVI, através de seu secretário particular, monsenhor Georg Gänswein, informou que “nos próximos dias examinará o relatório com a necessária atenção. O Papa emérito, como já repetido várias vezes durante os anos de seu pontificado, expressa sua preocupação e vergonha pelos abusos contra menores cometidos pelos clérigos, e manifesta a sua proximidade pessoal e a sua oração por todas as vítimas, algumas das quais ele encontrou por ocasião de suas viagens apostólicas”.

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fonte: https://www.ihu.unisinos.br/616019-pedofilia-relatorio-sobre-a-diocese-de-ratzinger-497-vitimas-o-papa-emerito-e-acusado-de-negligencia-em-4-casos-santa-se-vergonha