02/01/2021
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A Diocese de São Miguel Paulista comunicou, com pesar, que faleceu na noite desta sexta-feira, 1º, o Padre Antonio Luiz Marchioni, mais conhecido como Padre “Ticão”, pároco da Paróquia São Francisco de Assis, em Ermelino Matarazzo, aos 68 anos de idade, ordenado sacerdote há 42 anos.
O Regional Sul 1 da Conferência dos Bispos do Brasil (CNBB) publicou nota de pesar assinada pela presidência da entidade.
Leia a Nota.
NOTA DE CONDOLÊNCIAS PELO FALECIMENTO DO PE. TICÃO
O Regional Sul 1 da CNBB lamenta profundamente o falecimento do Revmo. Pe. Antonio Luiz Marchioni (Pe. Ticão), da Diocese de São Miguel Paulista, pároco da Paróquia São Francisco de Assis, em Ermelino Matarazzo, aos 68 anos de idade, ordenado sacerdote há 42 anos.
Pe. Ticão é personagem das mais conhecidas na Zona Leste da Capital paulista e deixa um valiosíssimo legado, graças ao seu envolvimento e sua liderança junto aos movimentos populares, especialmente o de Moradia, com vistas à mobilização e à luta para a conquista de moradia para o povo. Nesses anos, ele testemunhou que foram conseguidas cerca de 35 mil casas populares. Além disso, sua atuação foi marcante no trabalho de cuidado da saúde e prevenção de doenças. Atuou fortemente no esforço de inclusão e valorização das pessoas idosas, por meio de centros de convivência para idosos, que na Zona Leste hoje somam cerca de quarenta grupos. Some-se a tudo isso o trabalho com pessoas portadoras de deficiência e a luta por uma Universidade na Zona Leste.
Pe. Ticão se esforçou durante essas quatro décadas num trabalho de formação de lideranças, articulação e mobilização, promovendo e valorizando os fóruns populares. Diante de tudo isso e muito mais que se poderia descrever, não há como não ser tomado de perplexidade e tristeza diante da partida de um sacerdote com esse grau de dedicação ao povo pobre da periferia. Gastou sua vida perseguindo os mais nobres ideais: um verdadeiro pastor segundo o coração de Jesus Cristo.
Expressamos nossa solidariedade a Dom Manuel Parrado Carral, bispo diocesano de São Miguel Paulista, a todo o clero daquela diocese, seus familiares, amigos, colaboradores e a todos quantos seu luminoso raio de atuação beneficiou, especialmente os pobres, razão de ser de seu contagiante idealismo e seu eloquente testemunho cristão.
É o momento de renovar a fé na ressurreição e na vida eterna que Cristo conquistou com a entrega de sua vida na cruz. E ao mesmo tempo reafirmar o compromisso com o Seu Evangelho, que anuncia a esperança de um mundo novo e a realização da promessa de “um novo céu e uma nova terra, onde Deus enxugará toda lágrima dos olhos, pois nunca mais haverá morte, nem luto, nem clamor, e nem dor haverá mais” (cf. Ap 21,1.4).
Os arcebispos e bispos e todo o Regional Sul 1 da CNBB se unem em prece pelo descanso eterno do querido Pe. Ticão que agora já pode ouvir: “Vinde, bendito do meu Pai, recebe por herança o reino preparado desde a fundação do mundo” (Mt 25,35). Pe. Ticão vive!
Fraternalmente,
Dom Pedro Luiz Stringhini
Presidente
Dom Edmilson Amador Caetano
Vice-presidente
Dom Luiz Carlos Dias
Secretário
São Paulo, 02 de janeiro de 2021
Morre Padre Ticão, líder da luta pela legalização da maconha medicinal, da moradia popular e defensor do aborto legal
Morreu na noite desta sexta-feira de complicações cardíacas padre Ticão, uma das maiores referências da Igreja Católica progressista no Brasil. Ele era líder da luta pela moradia e educação popular, pela legalização da maconha medicinal, da saúde popular e alternativa e defensor do aborto legal
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247 – Morreu na primeira noite de 2021 padre Ticão, pároco da Paróquia de São Francisco de Assis, do setor Ermelino Matarazzo, na zona leste de São Paulo, onde liderou as lutas populares por décadas. Ticão morreu aos 68 anos, devido a seus problemas cardíacos -durante 42, foi sacerdote. Era líder da luta pela moradia e educação popular, pela legalização da maconha medicinal, da saúde popular e alternativa e defensor do aborto legal.
Padre Ticão dedicou-se, nos últimos três anos, aos temas vinculados à saúde popular e à construção de alternativas à medicina tradicional -ele era um crítico impiedoso da indústria farmacêutica. Assista, ao final desta reportagem, entrevista que ele concedeu, em agosto de 2019, ao canal Paz e Bem, associado ao 247. Na entrevista, ele afirmou, entre outras coisas, a necessidade do cuidado pessoal com a saúde: “seja médico de você mesmo”. Defendeu “uma medicina preventiva, educativa, holística e integrativa”. A morte do sacerdote recoloca um tema de grande relevância: quem cuida dos cuidadores e cuidadoras?
O Hospital Santa Marcelina (HSM) Itaquera, onde ele estava internado, informou em nota oficial que “o paciente deu entrada na unidade, nesta quinta-feira (31), em decorrência de uma arritmia cardíaca e o diagnóstico de edema pulmonar, permanecendo internado sob cuidado intensivo e cardiológico. E na noite dessa sexta-feira (1), faleceu, após nova descompensação da arritmia cardíaca, seguida de parada cardiorrespiratória.”
Mauro Lopes, editor do 247 e âncora do Giro das 11 na TV 247, e um estudioso da Igreja católica, afirmou: “Padre Ticão era um líder revolucionário na Igreja e na esquerda – entendeu como poucos que não há “pauta identitária” (como querem alguns na esquerda, pra criticar) nem temas vetados (como querem muitos na Igreja). Para ele, importava a vida concreta, o sofrimento e as alegrias das pessoas. Um grande homem. Um homem da história e do planeta, muito além da Igreja institucional e da esquerda tradicional”.
Antonio Luiz Marchioni era seu nome civil, mas só era conhecido por padre Ticão. Começou a lutar ao lado do povo brasileiro ainda na década de 1970, em plena ditadura, apoiando greves de bóias-frias e de professores na região de Araraquara (SP). “No interior, me chamavam de comunista”, disse ele certa vez em entrevista à Folha de S. Paulo.
Na década seguinte, liderou a invasão, ao lado de membros das Comunidades Eclesiais de Base e pessoas da Zona Leste, do prédio da Secretaria de Estado da Habitação, para pressionar o então governador Franco Montoro (1983-87) a construir conjuntos habitacionais. Foi um grande apoiador das ocupações na região, muito antes da fundação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).
“Ele teve um papel decisivo para a construção do campus da UNIFESP na Zona Leste”, observou o ex-ministro Aloizio Mercadante (veja na repercussão a seguir).
Repercussão
Padre Júlio Lancellotti, pároco da Pastoral do Povo da Rua de São Paulo, ao 247: “A morte de padre Ticão é a perda de um modelo de Igreja, comprometida com o povo, a mudança, a transformação, com o Evangelho”.
Aloizio Mercandante, ex-ministro e ex-senador, ao 247: “Padre Ticão, exerceu o sacerdócio como um verdadeiro Franciscano, toda uma vida dedicada ao povo sofrido da Zona Leste de SP. Estivemos juntos em muitas lutas, campanhas e em belos momentos. Ele teve um papel decisivo para a construção do campus da UNIFESP na Zona Leste, iniciativa da gestão do Ministro Fernando Haddad, que como sucessor no MEC, tive a honra de consolidar. Fará muita falta. Um amigo, mais uma perda muito difícil, nestes tempos sombrios de tantas despedidas. Continuará sempre presente no coração do povo da sua querida Zona Leste”.
Bruno Covas, prefeito de São Paulo: “2021 começa com a triste notícia do falecimento do Padre Ticão. Grande defensor da população mais carente da Zona Leste de São Paulo. Um guerreiro na luta pela diminuição das desigualdades sociais. Descanse em paz”.
Paulo Teixeira, deputado federal (PT): “Adeus Padre Ticão. Padre Ticão era chamado o ‘Trator de Deus’ por Dom Angélico Sandalo Bernardino, antigo Bispo da Zona Leste.A região conquistou através das lutas lideradas por ele, um campus da USP e um campus da Unifesp, além da Faculdade de Medicina Santa Marcelina. Conquistou também uma unidade do Instituto Técnico Federal. Dois Hospitais, um em Itaim Paulista e outro em Ermelino Matarazzo. Padre Ticão impulsionou os movimentos de moradia na década de 80, que resultaram nos mutirões de construção de casas pelo sistema de autogestão. Mais recentemente ele estava voltado para difundir os saberes da medicina tradicional e da fitoterapia. Entre tantos cursos que promoveu, ele difundiu para todo Brasil o uso terapêutico da cannabis medicinal. Era uma pessoa à frente do seu tempo, um visionário, além de um religioso acolhedor e realizador. Desde o firmamento ele continuará a nos convocar para as lutas por um país mais justo”.
Sâmia Bonfim, deputada federal (PSOL): “Sempre em defesa dos direitos humanos, dos oprimidos e das liberdades democráticas, deixará saudades e um legado de generosidade e luta por justiça social”.
Padre Júlio Lancellotti: “A morte de padre Ticão é a perda de um modelo de Igreja”
Ao 247, o pároco da Pastoral do Povo da Rua de São Paulo lamenta a morte do amigo e diz que sua morte significa “a perda de um modelo de Igreja, comprometida com o povo, a mudança, a transformação, com o Evangelho”
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247 – O Padre Júlio Lancellotti, pároco da Pastoral do Povo da Rua de São Paulo, falou ao 247 sobre a morte de seu companheiro de luta na zona leste da cidade, Padre Ticão, e disse que ela é “a perda de um modelo de Igreja”.Assim como Júlio, Ticão era um dos líderes da Igreja Católica que atuava por décadas junto a movimentos populares, com pautas como a defesa do uso da cannabis medicinal, a legalização do aborto e a medicina popular.“A morte de padre Ticão é a perda de um modelo de Igreja, comprometida com o povo, a mudança, a transformação, com o Evangelho”, lamentou Júlio.
Assista à entrevista concedida em agosto de 2019 por Padre Ticão ao Canal Paz e Bem, associado à TV 247:
Lula: padre Ticão viveu e exerceu sua fé cristã com a generosidade que nos ensinou Jesus
Antonio Luiz Marchioni, o padre Ticão, morreu na primeira noite de 2021 aos 68 anos, por problemas cardíacos. “Seu nome e exemplo de fraternidade e compromisso com os necessitados ficarão na memória do povo de São Paulo”, escreveu Lula
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247 – O ex-presidente Lula divulgou nota neste sábado (2) lamentando a morte de Antonio Luiz Marchioni, o padre Ticão. O pároco morreu aos 68 anos, devido a problemas cardíacos.
No texto, Lula afirma que Ticão “exerceu sua fé cristã de forma plena, com a generosidade que nos ensinou Jesus Cristo” e que “seu nome e exemplo de fraternidade e compromisso com os necessitados ficarão na memória dos Franciscanos e do povo de São Paulo, em especial da Zona Leste”.
Leia na íntegra:
”Antonio Luiz Marchioni, que todos conhecíamos como Padre Ticão, viveu e exerceu sua fé cristã de forma plena, com a generosidade que nos ensinou Jesus Cristo. Sempre atuou ao lado da luta pelos direitos dos trabalhadores, por trabalho digno, moradia e educação, mesmo em tempos sombrios de repressão contra qualquer forma de organização política.
Foi um dos maiores lutadores pela implantação da USP e da Universidade Federal de São Paulo na Zona Leste da cidade, para dar oportunidades de ensino aos jovens da região.
O seu nome e exemplo de fraternidade e compromisso com os necessitados ficarão na memória dos Franciscanos e do povo de São Paulo, em especial da Zona Leste.
Luiz Inácio Lula da Silva”.
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Em homenagem ao Padre Ticão
03.01.2021
A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns – Comissão Arns manifesta seu pesar pelo falecimento do Pe. Antonio Luiz Marchioni, o querido Padre Ticão, exemplo de vida dedicada aos mais pobres, em especial às comunidades da Zona Leste de São Paulo.
Seguidor dos compromissos de ética e de fé de Dom Paulo Evaristo Arns, Padre Ticão não mediu esforços ao se bater pelos ‘direitos do povo’, ou seja, por moradia, escola, hospitais, postos de trabalho, universidade, enfim, por uma vida digna para milhões de excluídos na periferia da metrópole. Assim ele desarmou o descaso dos políticos. Assim combateu a persistente desigualdade social. Assim acreditou ser possível construir uma democracia de face humana, popular e diversa.
A Igreja católica no Brasil, em especial a das comunidades de base, perde um pastor de visão profética. Já o Brasil, em tempos sombrios, perde um grande defensor dos direitos humanos. Que o exemplo do Padre Ticão ilumine os nossos passos.
São Paulo, 2 de janeiro de 2021
Comissão Arns
fonte: https://comissaoarns.org/blog/2021-01-03-em-homenagem-ao-padre-tic%C3%A3o/