“Quem mandou matar Marielle?”: quatro anos depois, pergunta permanece sem resposta

Duas pessoas estão presas acusadas de serem os executores dos assassinatos de Marielle e do motorista Anderson, mas o mandante do crime ainda não foi identificado

Thays Martins – Correio Braziliense 14/03/2022 11:01

Os assassinatos da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco (Psol) e do motorista Anderson Gomes continuam sem um desfecho quatro anos depois, completos nesta segunda-feira (14/3). São 1.461 dias que a família dos dois esperam por uma resposta sobre o caso. A contagem consta no site do Instituto Marielle Franco, que cobra que o crime seja solucionado. O instituto realiza hoje um festival para cobrar justiça por Marielle e Anderson no Circo Voador, no Rio de Janeiro. 

Ainda nesta segunda, os advogados das famílias da parlamentar e do motorista também vão protocolar um mandado de segurança no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro para que as informações dos autos de investigação sobre os mandantes do assassinato sejam compartilhadas. “O corpo e a voz de Marielle respiravam luta. Hoje são quatro anos sem ela. Honremos sua trajetória, exijamos respostas”, escreveu Arielle Franco, irmã da vereadora no Twitter. 

O que se sabe

A investigação chegou a identificar os executores do crime e sabe como foi a dinâmica do assassinato, mas até hoje não sabe quem foi mandante. Ainda não se sabe também qual foi a motivação para o assassinato. De acordo com o Ministério Público, a principal hipótese é de motivação política. Já a Polícia civil afirma que o caso é tratado como duplo homicídio.

Desde 2019, o sargento reformado da polícia Ronnie Lessa e o ex-policial militar Élcio de Queiroz estão presos acusados de serem os executores do crime. Os dois respondem por duplo homicídio triplamente qualificado por motivo torpe, emboscada e sem dar chance de defesa às vítimas e vão a júri a popular. Mas ainda não tem data para o julgamento. 

De acordo com as investigações, Ronnie Lessa foi o autor dos disparos e Élcio de Queiroz conduzia o veículo da emboscada. Eles negam participação do crime. 

No ano passado, as investigações apontaram o nome do ex-vereador do Rio Cristiano Girão como possível suspeito. O ex-parlamentar está preso preventivamente desde 2021 acusado de ter participado de um outro homicídio cometido por Lessa.

Em julho do ano passado, houve uma mudança nos promotores que investigam o caso. Os promotores Simone Sibilio e Letícia Emile pediram para sair voluntariamente da força-tarefa alegando “interferências externas”.

No âmbito da Polícia Civil, a investigação também foi marcada por mudanças. Até o momento, já participaram cinco delegados no caso. A última mudança foi no início deste ano.

Relembre o crime

Marielle Franco e Anderson foram executados na noite de 14 de março de 2018 no Estácio, na região central do Rio de Janeiro. Também estavam com os dois a assessora da vereadora que sobreviveu.

Os três estavam dentro de um carro quando foram cercados por um outro veículo que atirou várias vezes contra eles. Marielle foi atingida por quatro tiros, três na cabeça e um no pescoço. 

A vereadora tinha participado de um evento na Casa das Pretas, na Lapa, pouco antes do crime. As imagens de câmaras de segurança mostram quando ela entra no carro e é seguida por um outro veículo. O Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) classificou o assassinato como “profundamente chocante”. 

Diversas personalidades usaram as redes sociais para cobrar respostas sobre o crime nesta segunda. Entre elas, o ex-presidente Lula (PT), a jornalista Eliane Brum, o pré-candidato a presidência Ciro Gomes (PDT), o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT), a Anistia Internacional e o líder da oposição no Senado e Randolfe Rodrigues (Rede). 

fonte: https://www.correiobraziliense.com.br/brasil/2022/03/4992807-quem-mandou-matar-marielle-quatro-anos-depois-pergunta-permanece-sem-resposta.html

Mulheres negras comentam 4 anos sem Marielle: “Nós sofremos diariamente com a impunidade”

Só no Rio de Janeiro, 67% das mulheres assassinadas no ano de 2019 eram negras, segundo o Atlas da Violência 2021

Jéssica Rodrigues
Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) | 14 de Março de 2022 às 09:17

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Casos como o de Marielle Franco, que seguem sem resolução, reforçam a sensação de impunidade – (Foto: Marco Fávero/BD)

Nesta segunda-feira (14) se completa quatro anos do assassinato da vereadora Marielle Franco (Psol), mas as investigações continuam sem resolução sobre qual a motivação e quem foi responsável pelo crime que trouxe à tona questões não só políticas, mas também o debate sobre como gênero e raça podem influenciar na impunidade em casos como este.

Só no Rio de Janeiro, 67% das mulheres assassinadas no ano de 2019 eram negras, segundo o Atlas da Violências 2021. Casos como o de Marielle Franco, uma mulher negra que foi a quinta vereadora mais votada em 2016 e possuía histórico de trabalho reconhecido na área dos direitos humanos, podem estimular que outros crimes como este aconteçam.

Leia mais: Perto do quarto aniversário do crime, caso Marielle chega ao quinto delegado no Rio

Marielle era formada em sociologia e sua trajetória de vida e profissional era em torno da luta por direitos da população LGBTQIA+, também contra o machismo e o racismo. A antropóloga e professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Flávia Medeiros, explica em entrevista ao programa Central do Brasil, uma parceria da rede TVT com o Brasil de Fato, que o recado que este crime traz é de tentativa de desmobilização para que outras pessoas não se posicionem.

“O que mais me parece atual nesta discussão são as constantes ameaças que outras mulheres que ocupam lugares análogos ao que Marielle ocupava seguem sofrendo”, constata a professora.

Já a vereadora Thais Ferreira (Psol) relembra que mulheres negras sofrem com a impunidade sendo figuras públicas ou não e que isso reforça a existência de um sistema racista dentro da sociedade.

“Quando a gente pensa no caso da Marielle, a gente acha que vão ter que fazer alguma coisa já que é uma pessoa reconhecida, e quando a gente vê que não, o pensamento é ‘de que adianta?’. Acho que isso colabora muito para continuarem forçando a gente para este lugar marginal, para um lugar de controle, de que é melhor não sairmos de onde estamos porque se sairmos isso vai acontecer com a gente”, reforça a vereadora.

Leia também: Candidatas negras na política no RJ foram alvo de 78% dos ataques virtuais na eleição passada

A diretora-executiva da Anistia Internacional no Brasil, a ativista Jurema Werneck, atenta para o fato de que todas as instituições não cumpriram seu dever para responder quem mandou matar Marielle. Para Werneck, Marielle deixou como semente mulheres negras que, assim como ela fazia, produzem trabalhos em defesa dos direitos humanos, e isso expões a necessidade de criar mecanismos de proteção para estas mulheres.

“As cidades, as câmaras de vereadores, as assembleias legislativas e o Parlamento brasileiro, ninguém criou protocolos para proteger estas mulheres da violência que elas estão denunciando de forma consistente. O conjunto da sociedade está devendo respostas, que deveriam surgir a partir da experiência do assassinato de Marielle”, afirma.

Fonte: BdF Rio de Janeiro

Edição: Mariana Pitasse

fonte: https://www.brasildefato.com.br/2022/03/14/mulheres-negras-comentam-4-anos-sem-marielle-nos-sofremos-diariamente-com-a-impunidade

4 anos sem respostas #JustiçaPorMarielle

14 de março de 2022 – Articulação de Mulheres Brasileiras

Há 4 anos, no Rio de Janeiro, arrancaram de nós a vida da Vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes. As investigações ainda não revelaram os mandantes dessa barbárie. São quatro anos do assassinato e a resposta não é dada: quem mandou matar Marielle?!

#PraTodesVer: Card de fundo laranja com uma xilogravura de Marielle Franco em branco contornado em roxo. Ela é uma mulher negra de cabelos curtos e está entre hastes finas com pequenas folhas verdes. No alto, o texto: “Quem mandou matar Marielle? 4 anos sem respostas! #JustiçaPorMArielleEAnderson No rodapé: acesse manifesto completo em www.ambfeminista.org.br

Nesses quatro anos sem respostas foram várias trocas nas equipes responsáveis pela investigação, tanto no Ministério Público quanto na Polícia Civil: já é o terceiro grupo de promotores e o quinto delegado que assume o caso! Além disso, causa estranheza que a Delegacia de Homicídios da Capital tenha levado mais de três anos para enviar ao Ministério Público os mais de mil arquivos contendo fotos e vídeos do caso, que podem ajudar na elucidação do crime. O que justifica essas trocas e tanta demora?

De 14 de março de 2018 até agora, o racismo, o ódio, a barbárie, a misoginia e a LGBTfobia têm recrudescido neste país e centenas de vidas negras, indígenas, trans, mulheres, tem sido ceifadas pela política genocida do governo Bolsonarista e Marielle Franco é um símbolo da resistência contra o machismo e o racismo que violentam mulheres e jovens no Brasil.

Marielle e seu legado não serão interrompidos. Continuaremos a cobrar justiça por esse crime bárbaro e de tantas outras mulheres que vem sofrendo com a violência do estado, o racismo, o machismo, a LBTFobia, a miséria e a fome.

Marielle semente, presente!

Queremos saber, exigimos respostas e justiça: Quem mandou matar Marielle e por quê?

#4anosSemRespostas #JustiçaPorMarielleEAnderson #MariellePresente #AndersonPresente

Chegada de política machista racista e genocida deste governo!

fonte: https://ambfeminista.org.br/4-anos-sem-respostas-justicapormarielle/

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