Pesquisa revela que 47% dos jovens entre 18 e 29 anos têm visão negativa sobre a Igreja e 44% estão neutros.
Na última semana o instituto IBRiS realizou uma pesquisa para o jornal Rzeczpospolita, perguntando aos cidadãos: Como você avalia sua impressão sobre a Igreja Católica na Polônia?
35% dos que responderam disseram que eles tiveram uma visão positiva da Igreja, 32% uma visão negativa e 31% das pessoas disseram que eles eram neutros.
A reportagem é de Mada Jurado, publicada por Novena News, 17-11-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Entre as pessoas de 18 a 29 anos, no entanto, as coisas foram diferentes: 47% dos entrevistados disseram que tinham uma visão negativa da Igreja, 44% neutros e apenas 9% avaliavam a instituição positivamente.
Embora 90% dos poloneses sejam oficialmente católicos e mais de 80% das pessoas se identifiquem como crentes, a maioria católica no país está cada vez mais ameaçada à medida que uma lacuna cada vez maior sobre a fé se abre entre as gerações mais velhas e mais novas.
Uma pesquisa do Pew Research Center de 2018 descobriu que “os jovens adultos na Polônia têm uma probabilidade consideravelmente menor do que os mais velhos de dizer que a religião é muito importante em suas vidas, de ir à igreja semanalmente ou orar diariamente”.
Dados publicados em março de 2020 pela agência governamental Statistics Poland confirmaram essa tendência, descobrindo que enquanto 51% das pessoas com mais de 75 e 41% de 55-64 anos de idade estavam forte ou moderadamente comprometidas com sua fé, o número de católicos comprometidos caiu para 17% das pessoas na faixa etária de 25 a 34 anos e 18% das pessoas entre 16 e 25 anos.
Números como esse levaram o analista católico Tomasz Terlikowski a dizer ao jornal Rzeczpospolita que a crise de confiança da Igreja entre os jovens “não é particularmente surpreendente”. “A Igreja está perdendo sua autoridade há muito tempo”, lamentou Terlikowski.
A raiva com a crise dos abusos sexuais lança uma sombra até mesmo sobre o legado de João Paulo II
A Igreja polonesa se viu no centro de um furacão nas últimas semanas, enquanto batalha uma série de escândalos sobre sua LGBTQ-fobia, sobre o abuso sexual do clero e encobrimentos, e seu apoio a uma polêmica proibição quase total do aborto impostas pelo Tribunal Constitucional do país.
Uma figura chave na crise de abusos sexuais da Igreja polonesa – o ex-arcebispo de Breslávia, cardeal Henryk Gulbinowicz – morreu nesta segunda-feira dez dias depois de ser punido pelo Vaticano por abuso de menores, atividade homossexual e colaboração com o serviço de segurança secreta da era comunista.
Mas a morte de Gulbinowicz não aconteceu antes que a arquidiocese de Breslávia fosse forçada a se desculpar pelos crimes de seu ex-líder, divulgando um comunicado dizendo que estava “profundamente magoado” pelo fato de as pessoas terem sido “gravemente feridas” pelos crimes do cardeal.
Nada menos que 20 bispos poloneses estão agora sob investigação por abusos e/ou acobertamentos, incluindo o cardeal Stanislaw Dziwisz – o secretário de longa data do papa João Paulo II (1996-2005) e mais tarde arcebispo de Cracóvia (2005-2016).
Dziwisz negou as alegações feitas na TV polonesa de que ele encobriu os padres pedófilos e também recebeu dinheiro da ordem dos Legionários de Cristo do notório abusador Marcial Maciel.
O cardeal também rejeitou as acusações decorrentes do relatório que o Vaticano divulgou na semana passada sobre o ex-cardeal abusador Theodore McCarrick, e especificamente que Dziwisz desempenhou um papel fundamental na elevação de McCarrick em 2000 à arquidiocese de Washington.
Mas o último escândalo envolvendo a figura de McCarrick também está ameaçando manchar o legado do filho mais ilustre da Igreja polonesa, João Paulo II.
Depois que o relatório do Vaticano sobre McCarrick admitiu que o papa polonês nomeou pessoalmente o ex-cardeal para Washington, desafiando as advertências sobre sua má conduta sexual que ele recebeu de ambos os lados do Atlântico, muitos estão se perguntando agora se João Paulo II não foi canonizado cedo demais.
Entre as reflexões oferecidas por vários teólogos, comentaristas e meios de comunicação, talvez a expressão mais eloquente das dúvidas em torno do falecido Papa veio em um protesto anônimo em Varsóvia, onde ativistas colocaram um adesivo em uma placa de rua da Avenida João Paulo II tornando-a: “Avenida das Vítimas de João Paulo II”.
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