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A vida consagrada está de celebração. No ano passado não pôde celebrar sua tradicional Semana Nacional para Institutos de Vida Consagrada (a 49ª), de modo que, nestes tempos difíceis, decidiu fazer uma jornada dupla, para comemorar também o 50º aniversário.
“Consagrados para a vida do mundo: a vida consagrada na sociedade atual”, é o lema das jornadas deste ano, que contaram com um participante de luxo: o Papa Francisco, que fez um chamado claro aos religiosos (e as religiosas) espanhóis: “Não tenham medo dos limites! Não tenham medo das fronteiras! Não tenham medo das periferias!”.
A reportagem é de Jesús Bastante, publicada por Religión Digital, 17-05-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Em sua videomensagem, Bergoglio quis recordar seu amigo Aquilino Bocos, um dos factótuns destas semanas de vida religiosa, a quem agradeceu ser “o padre, o religioso, que nunca deixou de ser religioso e padre, e que sempre serve à Igreja assim”. Um exemplo, o do cardeal claretiano, de “semear continuamente a inquietude por compreender a riqueza da vida consagrada e fazê-la frutificar. Não somente compreender, mas vive-la. Não apenas teoria, mas prática. Em todo o caso, catequese para praticá-la melhor”.
Experiência dos limites
Visando o programa, “o tenho aqui, vejo que há gente que tem muita experiência na vida religiosa e experiência universal, e experiência do limite”, entre os quais exemplificou na irmã Liliana Franco, presidente da CLAR, que simboliza o limite com o mundo americano, “que tantas vezes apareceu no Sínodo Pan-Amazônico”; ou “o cardeal Cristóbal, de Rabat: o limite com o mundo islâmico”.
“Na vida consagrada se compreende caminhando, como sempre”, destaca o Papa. “Se compreende consagrando-se a cada dia. Se compreende no diálogo com a realidade”, acrescenta, advertindo que “quando a vida consagrada perde esta dimensão de diálogo com a realidade e de reflexão sobre o que ocorre, começa a se fazer estéril”.
“Eu me pergunta sobre a esterilidade de alguns institutos de vida consagrada, ver a causa, geralmente está na falta de diálogo e de compromisso com a realidade”, destacou, pedindo aos participantes das jornadas que “não deixem isto” e que compreendam que “sempre a vida consagrada é um diálogo com a realidade. Alguém dirá ‘sim, agora esta é a forma moderna’. Não! Pensemos em Santa Teresa. Santa Teresa viu a realidade e fez uma opção de reforma e foi adiante. Depois, ao decorrer do caminho, houve intenção de transformar essa reforma em clausura, sempre há”.
“A reforma sempre é caminho”
“Mas a reforma sempre é caminho, é caminho em contato com a realidade e horizonte sob a luz de um carisma fundacional. E estas jornadas, estes encontros, estas semanas de vida consagrada ajudam a perder o medo”, ressaltou.
“É triste ver como alguns institutos, para buscar certa segurança, para poder se controlar, caíram em ideologias de qualquer sinal, de esquerda, de direita, de centro, qualquer”, lamentou o Papa, que insistiu que “quando um instituto se reformula do carisma na ideologia perde sua identidade, perde sua fecundidade”.
Frente a isso, o Papa pediu “manter vivo o carisma fundacional é mantê-lo em caminho e em crescimento, em diálogo com o que o Espírito vai nos dizendo na história dos tempos, nos lugares, em diversas épocas, em diversas situações” e “supõe discernimento e oração”.
https://www.youtube.com/watch?v=A_OKccXuNys
Coragem apostólica
Pois, culmina Bergoglio, “não se pode manter um carisma fundacional sem coragem apostólica, ou seja, sem caminhar, sem discernimento e sem oração. E isso é o que vocês estão tratando de fazer com esta semana”, que “não é se reunir para tocar violão e dizer ‘que linda a vida consagrada’, não – sim, toquem violão de vez em quando, porque cantar faz bem, como diz Santo Agostinho, ‘canta e caminha’, faz bem –, mas sim para buscar juntos para não se perder em formulismos, ideologias, medos, diálogos com nós mesmos e não com o Espírito Santo”.
“Não tenham medo dos limites! Não tenham medo das fronteiras! Não tenham medo das periferias! Porque aí o Espírito vai lhes falar. Ponham-se ao alcance do Espírito Santo. E estas semanas ajudarão, certamente, a se colocarem ‘ao alcance’”, conclui o Papa, que pede aos participantes das jornadas que “se lhes restar um ‘pouquinho’ de tempo, rezem por mim”.
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Papa à Vida Consagrada: para não se tornar estéril, manter diálogo com a realidade
Andressa Collet – Vatican News
A 50ª Semana Nacional para Institutos de Vida Consagrada começa nesta segunda-feira (17) com uma mensagem especial em vídeo do Papa Francisco. O evento, um dos principais de aprofundamento dirigido à Vida Consagrada, será realizado em modalidade on-line até o próximo sábado (22) em análise ao tema “Consagrados para vida do mundo”.
O agradecimento do Papa a card. Aquiloso
O Pontífice, falando em espanhol, começa agradecendo publicamente o cardeal Aquiloso Bocos Merino, da revista “Vida Religiosa”, que “nunca deixou de ser religioso e sacerdote”, sempre servindo “a Igreja dessa maneira”, pela iniciativa de movimentar todo esse ambiente. Francisco comentou que foi um “semear contínuo” sobre a “inquietação de compreender a riqueza da Vida Consagrada e de fazê-la frutificar. Não apenas compreendê-la, mas vivê-la. Não apenas teoria, não, prática. Em qualquer caso, catequese para praticá-la melhor”.
O diálogo com a realidade
Ao analisar o programa do evento, que convida a recordar os primeiros 50 anos de caminhada à luz do Concílio Vaticano II e conta com conferências internacionais de primeiro nível – inclusive com a participação do brasileiro, o cardeal João Braz de Aviz, prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica –, o Papa confere o elenco dos participantes que têm “muita experiência de vida religiosa, e experiência universal, e experiência do limite”. O Pontífice confirma o apreço das atividades previstas, inclusive com participações que tratam da América Latina e do mundo islâmico, dialogando com a realidade e “se consagrando todos os dias”:
Manter o carisma com coragem apostólica
Mesmo diante das reformas, acrescenta o Papa, o contato com a realidade sempre existe e sob a luz do carisma. Encontros como este, que começa nesta segunda-feira (17), ajudam a perder o medo, afirma Francisco, reforçando o alerta:
“É triste ver como alguns institutos, a fim de buscar uma certa segurança, para poder se controlar, caíram em ideologias de qualquer tendência, de esquerda, de direita, de centro, qualquer tendência. Quando um instituto se reformula do carisma numa ideologia perde a sua identidade, perde a sua fecundidade. Manter vivo o carisma fundacional é mantê-lo em movimento e em crescimento, em diálogo com o que o Espírito vem nos dizendo na história dos tempos, nos lugares, nas diferentes épocas, em diferentes situações. Isso pressupõe discernimento e pressupõe oração. Não se pode manter um carisma fundacional sem coragem apostólica, ou seja, sem caminhar, sem discernimento e sem oração.”
Francisco finaliza a mensagem encorajando todos que participam da 50ª Semana Nacional para Institutos de Vida Consagrada, organizada pelo Instituto Teológico de Madri, a tentarem juntos não se perder “em formalismos, em ideologias, em medos, em diálogos conosco mesmos e não com o Espírito Santo”:
Para conseguir participar do evento em modalidade on-line, procure se inscrever pelo site!