Padre Antônio Henrique Pereira Neto foi assassinado pela ditadura militar

Se a ditadura militar não tivesse assassinado brutalmente o Padre Antônio Henrique Pereira Neto, em Recife, nosso irmão hoje estaria celebrando 80 anos de vida.

Lembremos sempre nossos Mártires.


 

50 anos da morte de Padre Henrique e a lição de contar histórias para não esquecê-las

 
 

O ano era 1969. Neste mesmo dia 27 de maio, há 50 anos, Padre Antônio Henrique Pereira Neto era encontrado morto em um terreno baldio no bairro da Cidade Universitária, zona oeste do Recife. Sequestrado, torturado e assassinado na noite de 26 de maio, foi encontrado com o rosto desfigurado, mãos amarradas, ferimentos brutais que indicavam requintes de crueldade e tortura. Uma imagem que passava um recado para aqueles que o enxergavam como ponto de resistência às práticas do regime militar – Padre Henrique, como era conhecido, era auxiliar do Arcebispo Dom Helder Câmara e desenvolvia um trabalho com grupos de jovens. Eles deveriam recuar.

Em 2014, após dois anos de instaurada, a Comissão Estadual da Memória e Verdade de Pernambuco concluiu que o assassinato de Padre Henrique foi um crime político, desmentindo a versão sustentada por anos de que o crime teria sido um caso comum. “Perpetrado por agentes do Estado de Pernambuco, em conluio com civis integrantes da chamada extrema direita com o desiderato de aterrorizar, amedrontar e proibir o inconteste foco de resistência então exercido por parte considerável da Igreja Católica no Estado de Pernambuco, sob a liderança do arcebispo de Olinda e Recife, Dom Helder Câmara”, diz o relatório final da Comissão.  O crime aconteceu meses após o regime ditatorial civil militar baixar o AI 5 – Ato Institucional nº5,  em novembro de 1968, de autoria do governo do General Costa e Silva. O assassinato de Padre Henrique faz parte do período mais brutal da ditadura, quando prisões arbitrárias, mortes e desaparecimentos aumentaram significativamente. 

Ordenação de Antonio Henrique, na Igreja da Torre, pelo a Dom Helder Camara. Foto: Arquivo Comissão da Verdade

Ordenação de Antonio Henrique, na Igreja da Torre, pelo a Dom Helder Camara. Foto: Arquivo Comissão da Verdade

O contexto do início dos trabalhos da Comissão Nacional da Verdade (dezembro de 2011) e a formação das comissões estaduais fomentadas no bojo do debate nacional sobre memória e verdade trouxe para o debate público o tema das investigações das violações de direitos humanos cometidas durante o regime civil militar. No entanto, em meio aos avanços que as comissões representaram, a justiça e a reparação ficaram, até hoje, na antessala da reconciliação com o passado. O Brasil ainda tem uma dívida com as vítimas e famílias da ditadura de 64. Não à toa, o atual Governo Federal, que não esconde o apoio à ditadura civil militar, ameaça alterar a configuração da Comissão de Anistia (criada em 2002 para analisar pedidos de reparação devido a violações cometidas no período de setembro de 1946 a outubro de 1988) com a nomeação de pessoas defensoras das violações de direitos cometidas pelo Estado no período de exceção.

O movimento aparentemente cíclico do curso da História, no entanto, é também oportunidade de conhecer as histórias que por muito tempo foram silenciadas ou deixadas no esquecimento. Não esquecer para que não se repita, como é o lema de quem sobreviveu à ditadura militar.  Para conhecer esse caso, o documentário Padre Henrique: o silêncio que grita resgata e conta a história do assassinato, de mais quatro décadas de impunidade e da luta por justiça. O projeto vencedor do 4º Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão, do Instituto Vladmimir Herzog foi dirigido por Camilla Figueiredo e Débora Britto (à época estudantes de jornalismo da Universidade Federal de Pernambuco), sob orientação da professora e doutora Adriana Santana.

Realizado em 2012, primeiro ano de atividade da Comissão Estadual da Memória e Verdade de Pernambuco, que teve como prioridade o caso do religioso, o documentário reconta a trajetória da última vez que Padre Henrique foi visto com vida e a trama que cerca o caso que até hoje não teve solução. Na época, os 44 anos de impunidade e a retomada das investigações moveram a esperança de muitos e podem, agora, também trazer lições importantes de resistência.


 

REDAÇÃO:

DÉBORA BRITTO

Mulher negra e jornalista antirracista. Formada pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), também tem formação em Direitos Humanos pelo Instituto de Direitos Humanos da Catalunha. Trabalhou no Centro de Cultura Luiz Freire – ONG de defesa dos direitos humanos – e é integrante do Terral Coletivo de Comunicação Popular, grupo que atua na formação de comunicadoras/es populares e na defesa do Direito à Comunicação.

fonte: https://marcozero.org/50-anos-da-morte-de-padre-henrique-e-a-licao-de-contar-historias-para-nao-esquece-las/

 


Padre Henrique: herói dos trabalhadores brasileiros

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HERÓI DOS TRABALHADORES – Padre Henrique Pereira Neto é imortalizado pela sua luta em defesa dos mais pobres. (Foto: Arquivo/Jornal A Verdade)

Redação Pernambuco
Jornal A Verdade

RECIFE (PE) – Há 51 anos, no dia 27 de maio de 1969, Antônio Henrique Pereira Neto, conhecido popularmente como Padre Henrique, era torturado e assassinado covardemente pela ditadura fascista brasileira no matagal da Cidade Universitária, onde ironicamente se encontra o Colégio Militar do Recife atualmente, no estado de Pernambuco.

No decorrer de sua curta vida, Padre Henrique foi um dos milhares de brasileiros seguidores do cristianismo, porém o mesmo seguiu sua fé a risca e repartiu da sua grande humildade e conhecimento com mais outros milhares de pobres. Logo ele se tornou Sociólogo, chegando a lecionar em alguns colégios e na Faculdade  de Ciências Sociais no Recife. O Padre exercia suas atividades junto a Dom Hélder Câmara, que na época era Arcebispo de Olinda e Recife e também defensor dos humildes. Além de prestar assistência a juventude, dedicando-se ao trabalho de orientação de jovens, Padre Henrique se mostrava averso a repressão e a perseguição causadas pela ditadura militar. Entre os milhares de jovens na qual o Padre prestava assistência, estava os estudantes que eram cassados pelo regime militar fascista de Costa e Silva – isso num período onde o AI-5 estava a pleno vigor.

Seu recorrente contato com os jovens e os estudantes cassados fez com que Padre Henrique fosse perseguido também, desta forma ele começa a receber ameaças de morte por ligações telefônicas do Comando de Caça aos Comunistas (C.C.C.), uma milícia fascista composta por defensores da ditadura vigente – uma milícia de amedrontados pela força da classe trabalhadora, que também procurou espioná-lo por escutas telefônicas, para intimidar a Igreja e os estudantes. Mas isso não foi suficiente pro Padre parar de defender a classe proletária abertamente.

GRANDE MARCHA – Dom Helder com uma multidão no cortejo do Padre Henrique. (Foto: Arquivo/Jornal A Verdade)

No dia anterior a sua morte, Antônio Henrique participou de duas reuniões com pais e estudantes, ao término das mesmas, já era noite e o Padre recusou a carona de estudantes para voltar para casa. Henrique foi visto pela última vez por uma de suas alunas, que testemunhou o Padre em uma rural acompanhado por três homens. Na madrugada do dia 27 de Maio de 1969, moradores do Engenho do Meio no Recife chegaram a ouvir disparos vindos das matas fechadas ali perto. Logo no início da manhã foi achada a vítima dos disparos, era o Padre Henrique cujo o corpo apresentava marcas de tortura também. Ele tinha apenas 28 anos. A execução política é evidente juntamente com o fato de que as autoridades e a esfera federal de Pernambuco sabiam da autoria da execução e agiram em conjunto para ocultar e interferir no processo por meio do Ministério da Justiça.

A execução do Padre Henrique causou uma comoção enorme na época. Milhares de pessoas participaram do cortejo e do enterro de Antônio Henrique, e logo se transformou numa manifestação popular contra a ditadura militar, a cantos e rezas católicas. Os responsáveis pelo assassinato do Padre estão impunes até hoje, o mesmo aconteceu com outros milhares de camaradas que foram perseguidos e mortos pelo fascismo. Ainda assim, a memória e o humanismo de Antônio Henrique Pereira Neto são lembrados como exemplos de camaradagem e de luta pela nossa libertação. Como disse Dom Hélder Câmara: “O trucidamento do Padre Henrique é obra daqueles que julgam estar salvando a civilização cristã com a eliminação de sacerdotes e líderes estudantis.” Viva Padre Henrique!

fonte: https://averdade.org.br/2020/06/padre-henrique-heroi-dos-trabalhadores-brasileiros/

 

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