por José Luís Fiori e William Nozaki (*)
Os militares brasileiros sempre tiveram uma visão elitista e caricatural do Brasil, imaginando um país sem cidadãos
“Existe uma psicologia bem compreendida da incompetência militar […]. Norman Dixon argumenta que a vida militar, com todo o seu tédio, repele os talentosos, deixando as mediocridades, sem inteligência e iniciativa, subirem na hierarquia. No momento em que alcançam cargos importantes de tomada de decisão, essas pessoas tendem a sofrer alguma decadência intelectual. Um mau comandante, argumenta Dixon, nunca quer ou é incapaz de mudar de rumo quando toma a decisão errada”.
Ferguson, N. Catástrofe. Editora Planeta, São Paulo, 2022, p. 184
Qualquer pessoa de bom-senso – dentro e fora do Brasil – se pergunta hoje como foi que um segmento importante dos militares brasileiros chegou ao ponto de conceber e levar adiante um governo militarizado e aliado a grupos e pessoas movidas por um reacionarismo religioso extremado, e por um fanatismo econômico e ideológico completamente ultrapassados, todos “escondidos” atrás de um personagem grotesco e um “mau militar”, como afirmou o Gal. Ernesto Geisel em outro momento? O historiador britânico Niall Ferguson defende a tese da incompetência universal dos militares para o exercício do governo democrático, e aponta algumas razões que explicariam tal incapacidade a partir da própria vida interna dos quartéis e da carreira militar. No caso específico da geração atual de militares brasileiros, há um contingente que vem se dedicando, há três anos, a desmontar aquilo que seus antecessores do século passado mais prezavam: o setor energético brasileiro.
Os militares brasileiros sempre tiveram uma visão elitista e caricatural do país, imaginando um país sem cidadãos e onde as classes sociais próprias do sistema capitalista são vistas com desconfiança e como uma ameaça à ordem social definida por eles segundo critérios ancorados, em última instância, na sua vassalagem internacional. Dentro desta concepção de um país sem sociedade civil, eles sempre se consideraram os verdadeiros responsáveis pela moral pública e pela definição do que fosse o “interesse nacional” dos brasileiros.
Num determinado momento da história brasileira, os militares entenderam que era importante para o interesse nacional que o país tivesse projetos industrializantes nos setores de metalurgia e siderurgia, ferroviário e rodoviário, petrolífero e petroquímico. No entanto, no momento seguinte, eles mesmos redefinem seu próprio conceito de “interesse nacional” brasileiro, invertem a estratégia econômica dos seus antecessores e promovem a privatização selvagem das empresas públicas, ao mesmo tempo que apoiam a desindustrialização da economia brasileira e seu retrocesso à condição primário-exportadora do início do século passado.
Como é sabido, as Forças Armadas brasileiras tiveram uma participação ativa na construção da Petrobras, Eletrobras, Gasoduto Brasil-Bolívia, Itaipu Binacional e inúmeras outras empresas estatais em setores estratégicos para o desenvolvimento da economia nacional. Mas hoje, como já dissemos, dedicam-se ao desmonte dessas mesmas empresas e setores econômicos, sem nenhum tipo de justificação estratégica de mais longo prazo, sobretudo no caso do setor energético, que é peça essencial da “segurança nacional” de qualquer país do mundo.
Veja-se o caso do Ministério de Minas e Energia (MME), por exemplo, que é um dos mais militarizados do governo Bolsonaro: além do Ministro-Almirante, o gabinete ministerial conta com a presença de mais vinte militares, da ativa ou da reserva, ocupando cargos de chefia, coordenação e assessoria. E esta situação se repete no Sistema Eletrobras, onde militares têm postos destacados em unidades como Eletrosul, Eletronorte, Eletronuclear, CHESF e Itaipu Binacional. E o mesmo se deve dizer do Sistema Petrobras, que é dirigido por militares com presença na presidência e no conselho de administração da empresa, desde onde lideram a desmontagem da própria empresa. A petrolífera brasileira vendeu a BR Distribuidora com seus postos de combustíveis, colocou à venda suas refinarias e passou a refinar menos diesel, gasolina e gás. O mercado foi aberto para a importação desses derivados, e os importadores passaram a pressionar para que o preço no Brasil fosse equivalente ao preço no mercado internacional. Assim se adotou a chamada “política de preço de paridade de importação”, que trouxe enormes lucros e ganhos para os acionistas da Petrobras, mas vem prejudicando diretamente os cidadãos brasileiros, com o aumento contínuo dos preços dos combustíveis e a aceleração em cadeia das taxas de inflação da economia.
Da mesma forma, no caso da energia elétrica, a elevação dos preços está primariamente relacionada a mudanças no regime hidrológico, mas no caso brasileiro atual ela está diretamente vinculada ao desgoverno do setor controlado por militares, mas carente de monitoramento, planejamento, coordenação e melhorias no Sistema Eletrobras, cujos investimentos sofreram redução significativa nos últimos anos.
Não há precedente, na experiência internacional, de um Estado que esteja se desfazendo de sua principal empresa de energia elétrica em meio a uma crise hidroenergética e num cenário de elevação na tarifa de luz. Mas é isto que os militares brasileiros estão fazendo ou deixando que façam. Praticando uma espécie de negacionismo energético que contraria toda sorte de fatos e dados, o Almirante Ministro das Minas e Energia afirmou que “a crise de energia, a meu ver, nunca ocorreu” (entrevista à Folha, em 01/01/2022); manifestando total despreocupação com a soberania nacional, o oficial que preside o conselho de administração da Eletrobras reiterou que “o futuro da empresa é a privatização” (declaração à imprensa em 07/01/2021); e revelando integral descaso com a noção de cidadania, o General Presidente da Petrobras endossa que “a Petrobras não pode fazer política pública” (artigo ao Estadão em 08/01/2022).
Isto está acontecendo no setor energético, mas a mesma incompetência ou desgoverno se encontra também em outras áreas do governo comandadas pelos seus militares, sejam eles velhos generais de pijama ou jovens oficiais que se especializaram rapidamente na compra e revenda de vacinas na área da saúde por exemplo, onde a incompetência militar teve efeitos mais dramáticos e perversos e atingiu a cidadania brasileira de forma extremamente dolorosa.
E o mesmo está acontecendo fora da área econômica, como no caso da administração militar verdadeiramente caótica da ciência e tecnologia e da questão ambiental amazônica, para não falar da situação esdrúxula de um Gabinete de Segurança Institucional da presidência da República que não conseguiu monitorar, e nem mesmo explicar – até hoje – o carregamento de cerca de 40 quilos de cocaína encontrado dentro de um avião da comitiva presidencial, em uma viagem internacional do próprio presidente.
O desempenho dos militares brasileiros e a volubilidade de suas concepções sobre o desenvolvimento nos trazem de volta à tese do historiador britânico Niall Ferguson. Ele atribui a “incompetência universal” dos militares às próprias regras funcionais da carreira dos soldados, e é possível que ele tenha razão. Mas nossa hipótese extraída da experiência brasileira parte de outro ponto e vai numa direção um pouco diferente.
Do nosso ponto de vista, a incompetência governamental dos militares brasileiros começa por sua subserviência internacional a uma potência estrangeira, pelo menos desde a Segunda Guerra Mundial. Uma falta de soberania externa que multiplica e agrava a fonte primordial da inabilidade e do despreparo do militar brasileiro para o exercício do governo em condições democráticas. Sintetizando nosso argumento: a maior virtude dos militares é sua hierarquia, disciplina e sentido de obediência e, portanto, para um “bom soldado”, falta grave ou mesmo traição qualquer questionamento das “ordens superiores”. Como consequência, a “verdade” de todo soldado é definida pelo seu superior imediato, e assim sucessivamente, até o topo e ao fim da sua carreira. Dentro das Forças Armadas, a “obediência cega” é considerada uma virtude e condição indispensável do sucesso na guerra ou em qualquer outra “situação binária” em que existam só duas alternativas: amigo ou inimigo, ou “azul” ou “vermelho”, como costumam se dividir os militares em seus “jogos de guerra”.
Não existe a possibilidade do “contraditório” nesse tipo de hierarquia, e é por isso que se pode dizer que a hierarquia militar é por definição antidemocrática. Mais ainda, nesse tipo de hierarquia altamente verticalizada, como é o caso dos militares, a crítica, a mudança e o próprio exercício inteligente do pensamento são proibidos ou desestimulados, e é considerado uma falta muito grave. Portanto, é a própria disciplina indispensável ao cumprimento das funções constitucionais das Forças Armadas, que os incapacita para o
exercício eficiente de um governo democrático.
No caso brasileiro, este tipo de cabeça autoritária pôde conviver, durante o período da ditadura militar – entre 1964 e 1985 – com o projeto econômico do “desenvolvimentismo conservador”, porque não havia democracia nem liberdade de opinião, e porque as prioridades do projeto já estavam definidas de antemão desde a segunda revolução industrial. A planilha era simples e ajustada para cabeças binárias: construir estradas, pontes, aeroportos e setores fundamentais para a industrialização do país. Ao mesmo tempo, essa mentalidade binária e autoritária, e distante da sociedade e do povo brasileiro, contribuiu para a criação de uma das sociedades mais desiguais do planeta, devido a sua total cegueira social e política.
Depois da redemocratização, em 1985, essa mesma cabeça bitolada das novas gerações militares perdeu a capacidade de entender a complexidade brasileira e o lugar do país na nova ordem mundial multilateral do século XXI. A Guerra Fria acabou, os EUA deixaram de apoiar políticas desenvolvimentistas, e tudo indica que a formação militar foi sequestrada pela visão neoliberal. Como resultado, os militares brasileiros ainda não conseguiram se desfazer de sua visão anticomunista do período pós-guerra, volta e meia confundem a Rússia com a União Soviética, e ainda somam a isto uma nova visão binária, oriunda dos manuais de economia ortodoxa e fiscalista, em que o próprio Estado é tratado como grande inimigo.
Resumindo nosso ponto de vista: a geração dos militares “desenvolvimentistas” brasileiros do século XX foi “vassala” com relação aos EUA, tinha uma visão apenas territorial do Estado e da segurança nacional, e possuía uma visão policialesca da sociedade e da cidadania, mas apoiou uma estratégia de investimentos que favoreceu a industrialização da economia até os anos 1980. Já a nova geração de militares “neoliberais” do século XXI aprofundou sua vassalagem americana, trocou o Estado pelo mercado, seguiu atropelando a democracia e os direitos sociais dos cidadãos brasileiros.
Neste ponto, podemos voltar à tese inicial de Niall Ferguson, para complementá-la ou desenvolvê-la, porque no caso de uma “corporação militar vassala”, e em um país periférico como o Brasil, a incompetência militar se vê agravada pela sua submissão à estratégia militar e internacional de outro país. Não se pode governar um país quando não se tem autonomia para definir quais são seus próprios objetivos estratégicos, e quais são seus aliados, competidores e adversários. Não se pode governar um país quando não se aceita o contraditório e se trata como inimigos todos os que divergem de suas opiniões. Não se pode governar um país quando se tem medo ou está proibido de pensar com a própria cabeça. Não se pode governar um país enquanto se olha para seus cidadãos como se fossem seus subordinados. Não se pode governar um país enquanto não se compreender que a obrigação fundamental do Estado e o compromisso básico de qualquer governo é com a vida e com os direitos à saúde, ao emprego, à educação, à proteção e ao desenvolvimento material e intelectual de todos os seus cidadãos, independentemente de sua classe, raça, gênero, religião ou ideologia, sejam eles seus amigos ou inimigos.
(*) José Luís Fiori é professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Economia política Internacional, PEPI; e do PPGBIOS, do Núcleo de Bioética e Ética Aplicada, NUBEIA; coordenador do GP da UFRJ/CNPq “O poder global e a geopolítica do Capitalismo”; coordenador adjunto do Laboratório de “Ética e Poder Global”; pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos do Petróleo, Gás e Biocombustíveis, INEEP. Publicou O Poder global e a nova geopolítica das nações, 2007, e História, estratégia e desenvolvimento, 2014, pela Editora Boitempo; Sobre a Guerra, 2018, e A Síndrome de Babel, 2020, pela Editora Vozes.
William Nozaki é Professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP) e diretor técnico do Instituto de Estudos Estratégicos do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (INEEP).
fonte: https://sul21.com.br/opiniao/2022/01/o-fracasso-dos-militares-por-jose-luis-fiori-e-william-nozaki/
O que fazer no quartel?
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Por MANUEL DOMINGOS NETO*
Qualquer projeto de país deve saber o que fazer das Forças Armadas
Democratas sinceros dizem: os militares devem voltar ao quartel. Se mal pergunto: fazer o quê? Formar novos Bolsonaros, Helenos, Villas Boas, Pazuellos, Etchegoyens ou coisa pior? Desenvolver “sinergias” com o Judiciário e outros braços do Estado, como aponta Piero Leirner? Cooptar aliados civis distribuindo medalhas a mão cheia, como alerta Ana Penido? Melar a disputa eleitoral com tuitadas, versões contemporâneas de sempiternas ameaças à ordem democrática, como frisa Eliézer Rizzo? Pintar meio fio, como sugeriu, num desabafo, Cristina Serra? Atuar como empreiteira de obras de engenharia, como mencionou Lula? Manter operante a “família militar”, a maior e mais tresloucada organização política reacionária do país?
Inventar versões da história do Brasil arrogando-se a condição de pais da pátria e estigmatizando os que lutaram por mudanças sociais? Arapongar os que sonham com terra, trabalho e moradia? Exercitar-se para operações de garantia da lei que beneficia os de cima e da ordem que massacra os de baixo? Esbagaçar dinheiro público comprando armas e equipamentos que não defendem o Brasil, mas reforçam o poderio de potências imperiais, como tenho insistido?
Quem pretende um país soberano e uma sociedade que supere a cruel herança colonial precisa saber o que fazer com as fileiras. Até agora, generais disseram o que julgam ser bom e ruim para o país. Passa da hora de os brasileiros definirmos como devem ser e o que devem fazer as fileiras que custeamos. A defesa do Brasil é assunto eminentemente político.
Não cabe pensar que os militares sejam incompetentes para governar. São tão competentes que impuseram regimes e governaram ou condicionaram governantes desde o final da monarquia! Sua competência está demonstrada de forma eloquente: o Brasil preservou estruturas arcaicas e manteve a dependência do estrangeiro poderoso. Dizer que são incompetentes, como fizeram José Luís Fiori e William Nozaki, é mascarar a evidência: os propósitos das fileiras contradizem os anseios sociais.
Se levarmos a sério a soberania popular, respondamos a questão: o que fazer com as fileiras? Sem respondê-la, demonstraremos medo de sermos felizes.
É improducente e desarrazoado falar em “projeto de nação”, “projeto de país” ou “projeto de sociedade” sem saber o que fazer das fileiras. É vão pensar em política externa altiva e ativa sem instrumentos de força. O mesmo, quanto ao desenvolvimento econômico e a mudança social benfazeja. As fileiras de que dispomos foram estruturadas para um país atrasado sob todos os aspectos. Digo, todos, inclusive o atraso científico e tecnológico.
Olhando de perto, a legenda nacionalista e desenvolvimentista de outrora decorreu de situações forçadas, entre as quais o reclamo social impulsionado pelos comunistas. Voltemos a ler João Quartim de Moraes.
Sem a pressão dos comunas, as fileiras poderiam ter apoiado Hitler. Os comunas teceram loas aos generais que contribuíram para a autonomia energética, a ciência e a modernização da infraestrutura. Enfim, contribuíram para firmar boa imagem das fileiras.
Os fardados devem muito aos comunistas. Só a expedita ordem de quem lhes vende armas e equipamento explica a fúria com que bateram e sangraram patriotas e reformistas sociais. No mundo inteiro, comunistas mostraram que sabem morrer pela pátria. Quem mata comunista trai a pátria.
Precisamos mudar o quartel estruturado para manter leis injustas e ordens iníquas. Para tal, cabe estudá-los. De todos instrumentos de Estado, as fileiras são as mais complexas e perigosas. Apegam-se à tradição como a lagarta ao milharal do lavrador indefeso.
Falando em tradição, adorei quando o presidente eleito do Chile lembrou Gustav Mahler, um judeu da Boêmia que, sendo romântico, abriu caminho para a sinfonia moderna. Suas composições eram longas e complexas, sugeridas pelas ruas. Mahler disse que a tradição não consistia no culto às cinzas, mas na preservação do fogo. Morreu em 1911, sentindo os fragores da hecatombe.
Ao pensar na volta das fileiras ao quartel, apuremos os ouvidos. A guerra está vindo, se é que não começou. Que as fileiras se prepararem. Para isso as custeamos, não para disputar boquinhas em cargos governamentais ou para a caça desvairada aos que consideram desalmados.
*Manuel Domingos Neto é professor aposentado da UFC/UFF, ex-presidente da Associação Brasileira de Estudos de Defesa (ABED) e ex-vice-presidente do CNPq.
fonte: https://aterraeredonda.com.br/o-que-fazer-no-quartel/
‘Fracasso de Bolsonaro é também um fracasso dos militares no poder’, diz analista internacional
Para Amauri Chamorro, permanência de Mandetta no governo mostra que ala militar tenta “preservar a reputação” das Forças Armadas “do abismo que o Bolsonaro já caiu”, avalia
Por Redação RBA
Publicado 07/04/2020 – 12h53 José Cruz/EBC“Se o governo continuar nesse desastre obviamente arrasta junto com ele a reputação dos militares”, destaca Chamorro
São Paulo – A notícia de que a permanência do ministro Luiz Henrique Mandetta à frente da pasta de Saúde, nesta segunda-feira (6), seria mais uma vitória momentânea da ala militar do governo de Jair Bolsonaro, revela que as Forças Armadas “não estão dispostas a jogar no lixo sua reputação que, até agora no Brasil, é relativamente respeitada apesar de terem mantido uma ditadura por 21 anos em que assassinaram, torturaram e desapareceram com pessoas”.
A ponderação é do analista e consultor internacional Amauri Chamorro, em entrevista aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, na edição desta terça-feira (7) do Jornal Brasil Atual. Ele avalia que “a falência do governo Bolsonaro também seria o fracasso dos militares no poder”.
Depois de um dia de boatos cogitando que o presidente assinaria a demissão de Mandetta, a imprensa divulgou que Bolsonaro teria sido convencido pelo núcleo militar a manter o atual ministro da Saúde no cargo, sob o risco de que uma demissão imediata poderia tirar sua capacidade de governar.
Com a crise em meio à pandemia, fortalecida por Bolsonaro e sua família, os ministros da Defesa e da Casa Civil, os generais Fernando Azevedo e Walter Braga Netto, respectivamente, estariam tentando “apaziguar os ânimos” em nome da ala militar para tentar garantir governabilidade.
Para Chamorro, no entanto, apesar do empenho, todo esse panorama demonstra que Bolsonaro tem “claro descontrole de seu gabinete”, já reduzido ao papel de “rainha da Inglaterra”, como um dos seus apoiadores chegou a sugerir no último domingo (5).
“É evidente que ele já não tem controle sobre seu gabinete. Um presidente que faz um joguinho para ameaçar a saída de um ministro, e seus subordinados avisam que, na verdade, tudo está certo e que o ministro da Saúde fica, isso quer dizer que ele não tem controle. Quem conhece o poder sabe que isso nunca aconteceria com um presidente que realmente tem um mando”, finaliza o analista internacional.
fonte: https://www.redebrasilatual.com.br/politica/2020/04/fracasso-de-bolsonaro-e-tambem-um-fracasso-dos-militares-no-poder-diz-analista-internacional/
Militares, poder e fracasso
Neste novembro, o 132º aniversário da República inventada pelos marechais encontra os militares novamente no controle
Editorial Brasil de Fato | Porto Alegre | 03 de Novembro de 2021 às 17:37
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Uma das mentiras mais bem contadas aos brasileiros versa sobre o suposto conhecimento superior dos militares em relação aos problemas do país e sua não menos superior capacitação para enfrentá-los. É tão falso quanto uma nota de três reais.
Os militares mostram-se mais talentosos para tomar o poder. Foi assim desde o começo ao derrubarem o Império e proclamarem a República em 1889. Foi uma quartelada. Desde então, no decurso de quase toda a história brasileira, eles estiveram no poder. Ou estiveram conspirando para dele se apossarem. Sua ausência mais longa – mas não lamentada – ocorreu na redemocratização pós-1985.
Neste novembro, o 132º aniversário da República inventada pelos marechais encontra os militares novamente no controle. Coube a um deles, o general Eduardo Pazuello, alinhar suas tropas não para golpear um presidente civil, mas para enfrentar antagonista mais possante. Foi uma catástrofe. Seguindo as ordens do comandante Bolsonaro, Pazuello caiu de joelhos diante da covid-19 na mais retumbante derrota sofrida por um general brasileiro.
Durante a ditadura, em 1970, os generais encararam outro inimigo invisível: a meningite que assolou o Brasil, causando 2,5 mil mortes apenas em São Paulo. Doze por cento dos infectados morriam. Incapaz e atarantado, o regime impôs a censura total para esconder seu fracasso. Até os médicos estavam proibidos de falar que a doença existia. Mas a bactéria prosseguia circulando e matando. Somente em 1974, quando não era mais possível ocultar a tragédia, o assunto veio à tona.
São duas histórias interessantes para lembrar quando alguém elogiar a qualidade superior da gestão militar.
Edição: Ayrton Centeno
fonte: https://www.brasildefators.com.br/2021/11/03/editorial-militares-poder-e-fracasso