O acompanhamento de uma religiosa à comunidade transgênero iniciou em um ônibus lotado

Uma religiosa católica tem uma visão dignificada da comunidade transgênero – que começou em um ônibus.

A reportagem é de Barbara Anne Kozee, publicada por New Ways Ministry, 01-08-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.

Enquanto viajavam em Assam, um estado localizado no nordeste da Índia, a irmã Prema Chowallur, da Congregação das Irmãs da Cruz, notou uma mulher sentada sozinha num transporte público lotado. Prema sentou-se onde ninguém se sentaria com uma mulher transgênero. Em sua conversa, a mulher trans descreveu como sua família a excluiu e ela acabou indo para o subúrbio.

Depois deste encontro, Prema entendeu o isolamento, pobreza e solidão que pode vir às vezes às pessoas transgênero. Ela aderiu à Rede Nacional de Católicos Arco-Íris (GNRC, pela siglas em inglês) e a Rede Indiana de Católicos Arco-Íris (INRC) para se tornar uma grande aliada das comunidades LGBTQIA+ em suas lutas pela dignidade humana.

Prama vê sua fé católica como uma direção central no seu ministério para pessoas trans. O jornal East Mojo relatou o seguinte:

“Uma apoiadora implacável da comunidade LGBTQIA+irmã Prema Chowallur tem participado de várias iniciativas para ajudar a comunidade queer, apesar da noção comum de homossexualidade ser considerada contra a ordem da natureza pela Igreja. Enquanto por um lado, de acordo com as crenças cristãs populares, diz-se que alguém nasce homem ou mulher (mesmo hermafroditas [sic] que por acaso manifestam características de ambos os sexos são considerados biologicamente masculinos ou femininos), a irmã Prema fez isso a missão de sua vida de servir as pessoas que foram rejeitadas ou marginalizadas por nossa sociedade”.

O jornal continua: “Ao ser questionada se a sua fé alguma vez atrapalhou seu apoio à comunidade queer, a irmã Prema respondeu dizendo: ‘O Papa Francisco pediu às famílias muito claramente para aceitar e abraçar o LGBTQIA+ porque eles são filhos de Deus. A igreja mantém seu conceito moral tradicional nesta questão. Seguindo os ensinamentos de Jesus, a igreja sempre enfatizou ir para as pessoas que são rejeitadas e marginalizadas da sociedade e trabalhar para o seu desenvolvimento, para levar uma vida digna como seres humanos’, ela acrescentou”.

Prema serviu como uma figura materna para a comunidade trans de Assam: muitos se referem a ela como “Maa”. No entanto, tornou-se cada vez mais difícil realizar seu ministério, pois há mais pedidos do que espaço para oferecer na Casa Arco-íris das Sete Irmãs. Por isso, ela tem uma visão de futuro:

“‘Quero que aprendam tudo o que lhes interessa, se têm interesse em ser esteticista, designer, fazer enfeites, qualquer coisa. Se eles tiverem um diploma, quero ajudá-los a encontrar empregos adequados. A Casa Abrigo não pode ser um lugar para eles ficarem por toda a vida. Será apenas um lugar onde eles se curam e se preparam para ficar em pé quando voltarem para enfrentar o mundo’, disse ela com firmeza”

“Ela ainda tem como objetivo aumentar a consciência entre toda uma geração de pessoas trans, conscientizando-as sobre seus direitos e se tornarem independentes, ao mesmo tempo em que opta por melhores perspectivas de carreira e busca um padrão de vida mais alto”.

O trabalho de irmã Prema em Assam é nada menos do que salvar vidas. Ela serve de modelo para outros líderes religiosos católicos sobre como receber a comunidade LGBTQIA+ com amor, fé e fervor. Em seu compromisso com a dignidade humana, é possível imaginar um ministério LGBTQ católico inclusivo e global.


 

 


 

 


 

 

 

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fonte: http://www.ihu.unisinos.br/611652-o-acompanhamento-de-uma-religiosa-a-comunidade-transgenero-iniciou-em-um-onibus-lotado


Por que a Igreja deveria ir ao encontro das pessoas LGBTQIA+? Algumas estatísticas chocantes podem responder a isso

 

“Muitos defensores de jovens LGBTQIA+ dizem que uma das principais razões para a falta de moradia dos jovens LGBTQIA+ é a rejeição das famílias por motivos religiosos. Devemos estar cientes, portanto, dos efeitos que a linguagem estigmatizante, especialmente a linguagem estigmatizante da religião, pode trazer. Isso pode ter consequências de vida ou morte”, escreve o jesuíta estadunidense James Martin, em artigo publicado por America, 02-08-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.

 

Eis o artigo.

 

Por que a Igreja deveria ir ao encontro dos católicos LGBTQIA+, ou, mais amplamente, das pessoas LGBTQIA+?

Nós deveríamos ir ao encontro não simplesmente porque eles são católicos – porque católicos LGBTQIA+ são partes do Corpo de Cristo –, mas sim porque nós somos católicos. Parte de ser católico, de ser cristão, é estar ao lado daqueles que são rejeitados, excluídos ou marginalizados, como Jesus escolheu. Como nós jesuítas dizemos, isso também significa: “caminhando com os excluídos”. E as pessoas LGBTQIA+ estão entre os mais excluídos em nossa Igreja.

Eu não consigo contar quantos católicos LGBTQIA+ me relataram sobre comentários odiosos e homofóbicos que ouviram de seus padres, diáconos, irmãos e irmãs, colegas leigos de pastorais, bispos, diretores de educação religiosa e professores de escolas, todos supostamente falando pela Igreja. Quase todos os dias eu recebo mensagens nas redes sociais de pessoas perguntando, “aonde eu devo ir se o meu pastor me trata assim?”, ou “como eu posso responder à minha diretora que me disse essas coisas?”, ou “como posso ficar na Igreja quando escuto homilias como esta?”.

Uma mulher disse-me que depois que ela contou a um padre que ela era gay, ele disse que ele tinha rezado desde sua ordenação que nunca encontrasse uma pessoa gay. Em algumas paróquias, homilias dizendo que a agenda LGBTQIA+ é satânica, identificando pessoas LGBTQ com o demônio e igualando casamento homossexual ao aborto não são apenas comuns, como esperadas.

Em fatos, uma pesquisa do Instituto de Pesquisa de Religião Pública de 2016 demonstrou que as mensagens negativas sobre temas LGBTQIA+ são uma das mais significativas razões pelas quais os católicos deixam a igreja, e eles fazem isso em proporções maiores que qualquer outra religião.

Comparando ex-católicos à média da população de estadunidenses que deixou suas religiões de batismo, o relatório constata:

Aqueles que foram criados como católicos são mais propensos do que aqueles criados em qualquer outra religião a citar o tratamento religioso negativo de gays e lésbicas (39% contra 29%, respectivamente) e o escândalo de abuso sexual do clero (32% contra 19%, respectivamente) como razões principais para eles terem deixado a Igreja.

Algumas estatísticas do DignityUSA, um grupo de defesa de católicos LGBTQIA+, podem colocar isso em outra perspectiva.

DignityUSA entrevistou informalmente pessoas que deixaram a Igreja, não apenas LGBTQIA+, e perguntou: “Os ensinamentos sobre questões LGBTQIA+ tiveram algo a ver com a sua saída?” 55% disseram que sim.

Os LGBTQIA+ que não mais se identificam como católicos foram questionados: “Ser LGBTQIA+ foi o principal motivo para deixar a Igreja?”. 64% disseram que sim.

Quando foi perguntado às pessoas LGBTQIA+: “Você já se sentiu incomodado ou discriminado diretamente em uma Igreja ou evento católico?”. 72% disseram que sim.

Essas estatísticas por si só deveriam ser suficientes para nos fazer querer passar por uma metanóia, uma mudança de mente e coração, e nos fazer perguntar por que nossa Igreja não só não é um lugar acolhedor para pessoas LGBTQIA+, mas é ativamente hostil.

Mas questões de preconceito contra pessoas LGBTQIA+, especialmente os jovens, não são apenas temas que afetam a frequência à Igreja; são realmente questões de vida ou morte. Frequentemente, católicos bem-intencionados não conhecem os fatos, por isso é útil revisá-los. Estes dados vêm de uma pesquisa de 2020 do Trevor Project, uma organização que trabalha para prevenir o suicídio de jovens LGBTQIA+. A pesquisa afirma que o suicídio é consistentemente a segunda principal causa de morte entre os jovens e impacta desproporcionalmente jovens LGBTQIA+.

E de acordo com uma pesquisa com alunos do 9º ao 12º ano, concluída em 2015 e publicada pelos Centros para Controle e Prevenção de Doenças, 29% dos indivíduos gays, lésbicas e bissexuais relataram ter tentado suicídio durante o ano anterior, em comparação com 9% do total de alunos. (Como os dados sobre a incidência de suicídio entre indivíduos LGBTQIA+ ainda são escassos, a Aliança de Ação Nacional para Prevenção do Suicídio pediu “dados mais oportunos e precisos relacionados ao suicídio”, em parte por “incluir perguntas válidas e confiáveis sobre orientação sexual/ identidade de gênero nos sistemas nacionais de vigilância”).

Pesquisa Nacional 2020 do Trevor Project sobre Saúde Mental de Jovens LGBTQIA+ representa as experiências de mais de 40 mil jovens LGBTQIA+, de 13 a 24 anos, nos Estados Unidos e é a maior pesquisa de saúde mental juvenil já conduzida. Lembra aos católicos a necessidade de a Igreja levar a sério os efeitos da linguagem estigmatizante sobre os jovens. E, novamente, você pode se surpreender com alguns desses resultados da pesquisa, mas eles devem ser confrontados:

  • 40% dos LGBTQIA+ entrevistados responderam que haviam considerado seriamente a tentativa de suicídio nos últimos 12 meses.
  • 48% dos jovens LGBTQIA+ relataram se envolver em lesões autoprovocadas nos últimos 12 meses.
  • 46% dos jovens LGBTQIA+ relataram que queriam aconselhamento psicológico ou emocional de um profissional de saúde mental, mas não puderam recebê-lo nos últimos 12 meses.
  • 10% dos jovens LGBTQIA+ relataram ter feito terapia de conversão, com 78% relatando que ocorreram quando tinham menos de 18 anos. E a terapia de conversão, que causa imensos danos mentais, emocionais, espirituais e às vezes até físicos, é algo que, como informou a revista America, ainda é ativamente promovido em muitos lugares da Igreja Católica.
  • 1 em 3 jovens LGBTQIA+ relataram que foram fisicamente ameaçados ou prejudicados durante a vida devido à sua identidade LGBTQIA+. 29% dos jovens LGBTQIA+ disseram que vivenciaram a falta de moradia, foram expulsos ou fugiram.

Muitos defensores de jovens LGBTQIA+, como o Ali Forney Center em Nova York, dizem que uma das principais razões para a falta de moradia dos jovens LGBTQIA+ é a rejeição das famílias por motivos religiosos.

Devemos estar cientes, portanto, dos efeitos que a linguagem estigmatizante, especialmente a linguagem estigmatizante da religião, pode trazer. Isso pode ter consequências de vida ou morte.

Mais esperançosamente, o Trevor Project relata que “jovens LGBTQIA+ que relatam não ter ouvido seus pais usarem a religião para dizer coisas negativas sobre ser LGBTQIA+ estavam em risco significativamente reduzido de tentativa de suicídio no ano passado, independentemente de a religião ser importante para eles”. Metade (51%) dos jovens relatou “não ouvir seus pais usarem a religião para dizer coisas negativas sobre ser LGBTQIA+”. E jovens LGBTQIA+ que não ouviram seus pais usarem a religião para dizer coisas negativas sobre serem LGBTQIA+ estavam “com metade do risco de tentativa de suicídio no ano passado em comparação com aqueles que o fizeram”.

Aqui há algo mais positivo a se considerar. Jovens LGBTQIA+ que relataram ter sido aceitos por pelo menos um adulto, relataram 40% menos ter tentado suicídio no último ano, de acordo com o Trevor Project. Esse adulto pode ser um padre, diácono, colega leigo de pastoral, um professor, uma merendeira da escola, um paroquiano, etc. Muitas vezes não são os pais (embora seja melhor se forem os pais).

E se essas estatísticas forem Deus nos falando para sermos os adultos que os jovens LGBTQIA+ necessitam em suas vidas? E se essas estatísticas estiverem pedindo à Igreja para ser uma força positiva?

Agora vamos analisar as pessoas LGBTQIA+ no geral – e aqui estamos falando sobre adultos também. Eles tem quase quatro vezes mais probabilidades do que as pessoas não LGBTQIA+ “a sofrerem vitimização violenta, incluindo estupro, agressão sexual e agressão agravada ou simples”, de acordo com um estudo do Williams Institute da Faculdade de Direito da Universidade da Califórnia (UCLA). E a partir de 2019, de acordo com o FBI, um em cada cinco crimes de ódio foi motivado por viés anti-LGBTQIA+.

Já agora, outro estudo da UCLA mostra que entre os cerca de 11,3 milhões de adultos LGBTQIA+ nos Estados Unidos, estima-se que haja 1,3 milhão de católicos romanos – 24,8% de todos os adultos LGBTQIA+. Essas pessoas, membros do Corpo de Cristo, estão ouvindo o que dizemos e vendo o que fazemos.

Quando olhamos para esse fenômeno, devemos ficar ainda mais alarmados. Em muitos países, a Igreja poderia ser, se assim o desejasse, uma voz poderosa para proteção, amor, misericórdia e compaixão em nome de pessoas LGBTQIA+, que muitas vezes estão em perigo.

Muitos países são considerados perigosos para sua população LGBTQIA+ devido à legislação discriminatória e ameaças de violência. Isso inclui países onde a religião dominante é o Islã, muitos países africanos e asiáticos e alguns países ex-comunistas, incluindo a Polônia com suas “zonas livres de LGBTs

Em mais de 70 países, simplesmente ser LGBTQIA+ é um crime, mas existem muitos outros países onde é culturalmente aceitável espancar ou assediar LGBTQIA+. Em muitos países, se pode ser espancado, preso, encarcerado e até executado por ser gay ou por ter um relacionamento homossexual. Assim, em muitos países, proteger as pessoas LGBTQIA+ é uma questão de vida. Onde está a Igreja nesses países? Infelizmente, em alguns desses países a Igreja está do lado de regimes repressivos. Um bispo na Europa Oriental chamou as pessoas LGBTQIA+ de “praga do arco-íris”.

Esses fatos podem chocar os católicos. Mas eles não devem nos oprimir ou nos levar ao desespero. Porque o desespero não vem de Deus.

Nesse caso, como respondemos ao que sentimos ao ouvir essas estatísticas terríveis? Como sempre, olhar para o exemplo de Jesus – que sempre ficou do lado daqueles que foram rejeitados, marginalizados, isolados, zombados, espancados ou abusados – pode nos ajudar a seguir em frente.

Essas estatísticas devem nos fazer querer nos aproximar de nossos irmãos, irmãs e irmanes, com a mesma “proximidade, compaixão e ternura”, para usar as palavras do Papa Francisco, com que Deus se aproxima deles.

 

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fonte: http://www.ihu.unisinos.br/611682-por-que-a-igreja-deveria-ir-ao-encontro-das-pessoas-lgbtqia-algumas-estatisticas-chocantes-podem-responder-a-isso

 

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