Mulheres na construção do Reino de Deus na Igreja e nas periferias do mundo

Dia da mulherDia da mulher 

Falar de mulheres nos leva a pensar em rostos concretos, que simbolizam lutas comuns, que ajudam a construir o Reino de Deus. A Igreja brasileira, a Igreja da Amazônia tem dado passos ao longo dos últimos anos. O testemunho de algumas mulheres comprometidas com a Igreja e a sociedade.
 

Padre Modino – Manaus

No dia em que é comemorado o Dia Internacional da Mulher, somos chamados a refletir sobre o papel das mulheres na sociedade e na Igreja. Olhar para o passado para poder analisar o presente e poder construir o futuro, um futuro melhor, sustentado em princípios que mostram aquilo que Deus quer.

Falar de mulheres nos leva a pensar em rostos concretos, que simbolizam lutas comuns, que ajudam a construir o Reino de Deus. A Igreja brasileira, a Igreja da Amazônia tem dado passos ao longo dos últimos anos, nem sempre para frente, mas mesmo aqueles que pontualmente representaram um retrocesso, a longo prazo, ajudaram a construir o futuro evitando cair nos erros do passado.

Laura, Joelma, Rosita, Roselei, são nomes atrás dos quais aparecem representadas as lutas de muitas mulheres para que a Igreja e a sociedade sejam cada mais imagem do Deus da Vida, sinal da Boa Notícia, do Evangelho, sinal do Reino de Deus. Elas são presença feminina no meio dos povos indígenas, no mundo da comunicação, entre os migrantes e refugiados, ao lado das vítimas do abuso e exploração sexual.


Mulheres na Amazônia

Fruto do seu trabalho como agente do Conselho Indigenista Missionário, a irmã Laura Vicuña Pereira Manso, tem dedicado os últimos anos a acompanhar a vida do povo Karipuna, no Estado de Rondônia. Ela, que também é indígena, foi escolhida como representante dos povos originários na Conferência Eclesial da Amazônia – CEAMA, onde “nós mulheres, temos muito a contribuir”, pois segundo a religiosa “nós somos chamadas a ser essa presença e essa voz de mulher na Conferência Eclesial da Amazônia”.

A religiosa catequista franciscana vê essa presença como “uma grande responsabilidade, pois estar presente numa instituição como esta, é uma responsabilidade no sentido de que a gente está levando a presença e a voz de muitas outras mulheres que habitam o território amazônico. São avós, mães, filhas e da Vida Consagrada, que estão presentes vivendo nesse imenso bioma, nessa imensa região amazônica”. Trata-se de “mulheres que lideram famílias e comunidades inteiras, que promovem a defesa da vida e que aspiram a um espaço também maior nos espaços da Igreja”.

A irmã Laura insiste em que “nós mulheres merecemos isso, precisamos agir, falar, e não devemos permanecer invisibilizadas nesses espaços”. Daí, ela espera “que isso nos ajude a abrir nossa mente, nosso coração, e estejamos abertas e abertos às transformações que estão ocorrendo no mundo e na Igreja”. Como indígena, destaca a importância da presença dos povos originários na CEAMA, como algo que pode “ajudar a oferecer uma visão de vida, de luta, das cosmovisões, a partir de dentro dos povos originários e das comunidades amazônicas”.

Estar na CEAMA é oportunidade para “fazer presente tudo aquilo que nos faz sofrer e que ameaça a vida das pessoas e desse bioma”, para “defender os seus territórios, defender a Amazônia, o ecossistema e os povos que aqui habitam, defender a nossa casa comum para que as gerações futuras possam ter vida”. Por isso insiste em que “a Igreja seja amiga e aliada dos povos da Amazônia e da Amazônia como um todo, para que dessa forma nos comprometamos com o cuidado da casa comum”.


Mulheres na Amazônia

Fazer comunicação na Amazônia é “um desafio muito grande, porque quando a gente pensa nessa região, ela é enorme, as distâncias são uma dificuldade que nós encontramos para poder chegar onde as coisas acontecem”. As palavras de Joelma Viana nos ajudam a descobrir que na comunicação amazônica, “a gente consegue estar mais próximo das pessoas, ouvindo, pisando o chão que eles pisam, compartilhando as suas vivências”, sempre na busca de uma comunicação diferenciada. A radialista insiste em que “quando a gente faz a comunicação a partir da Igreja, nessa região amazônica, a gente não só ouve, só para recolher os depoimentos. É necessário estar próximo, compartilhando esses momentos, vivenciando esses momentos, partilhando cada um desses momentos e aprendendo juntos”.

Na Amazônia, “essa comunicação acaba tendo um sentido muito maior, um sentido de comungar da vida do outro”, comungar com a vida dos povos da região. Esses desafios próprios da comunicação amazônica, aumentam quando ela é feita pelas mulheres, segundo Joelma Viana. Ela insiste em que o trabalho que é feito por mulheres, ele é diferente, pois as mulheres, “elas são sensíveis e conseguem fazer um acolhimento. E nós tentamos fazer isso, um acolhimento das pessoas que estão próximas da gente”.

Na Igreja da Amazônia, as mulheres que fazem comunicação ainda se deparam com “que muita gente não acredita no trabalho que é feito por mulheres” afirma Joelma. Ela que tem um papel destacado na Rede de Notícias da Amazônia, que desde Santarém, no Estado do Pará, engloba várias rádios católicas da região, afirma que “quando a gente olha o cenário da própria região e do próprio Brasil, a gente vai ter poucas mulheres à frente desse ramo dentro da Igreja. A gente vê mais homens no processo do que mulheres”. Diante disso, ela insiste na necessidade de ter maior presença das mulheres.


Mulher na Amazônia

Nesse avanço, Joelma destaca a importância do Papa Francisco, que “a partir do Sínodo da Amazônia, e agora também do próximo sínodo, que tem mulheres sendo representadas, acaba fortalecendo ainda mais esse trabalho que a gente vem desenvolvendo nessa região, que é tão desafiadora, mas ao mesmo tempo é tão instigante”. Isso faz com que as mulheres, insiste a radialista, “nos sintamos o tempo todo motivadas a estar presente, a estar compartilhando aquilo que aprendemos no nosso dia a dia”.

As mulheres refugiadas, as mulheres migrantes, as mulheres apátridas, “elas são mulheres persistentes, são resilientes, são de uma devoção à sua vocação de mulher e mãe, que impressiona”. Quem assim fala é a irmã Rosita Milesi, alguém que dedica sua vida a cuidar daqueles e daquelas que a sociedade despreza e explora. Nessas mulheres, a religiosa scalabriniana vê a presença de alguém que supera “com esforço, com dedicação, com carinho, com amor imensurável, todas as dificuldades e todos os percalços para poder atender, com um mínimo de dignidade, em primeiro lugar a seus filhos, depois a se mesmas, buscando a sua reintegração, a sua retomada na construção dos caminhos que a migração lhes impõe”.

Esse trabalho, tem ajudado a diretora do Instituto Migrações e Direitos Humanos – IMDH, a vivenciar fatos concretos que ajudam a “expressar a minha convicção de quanto essas mulheres atuam, buscam e superam”. Ela conta o caso de uma mãe que está em cadeira de rodas, está temporariamente impossibilitada de locomover-se. “No entanto, ela passa a maior parte do dia buscando alternativas, buscando comida, movendo amigos e amigas para socorrer outras pessoas que estão em maior necessidade do que ela”, relata a religiosa.

São exemplos que nos impressionam segundo a irmã Rosita Milesi, mas que devem nos servir para que “nós, agentes humanitários, busquemos cada vez mais com convicção esta possibilidade, ou este recurso que temos em nossas mãos, de estarmos ao serviço,  de fortalecermos a nossa missão e de atuarmos conforme o apelo do Papa Francisco, e de tantos líderes que nos inspiram neste momento, buscando acolher com carinho, promover, e dar chance, dar oportunidades, envolver estas mulheres para que elas possam colocar todas suas capacidades e talentos ao serviço dos demais, como elas sabem generosamente fazer”.


Amazônia

Aprender a valorizar e começar a entender o processo de luta pelas mulheres, é algo que a irmã Rose Bertoldo aprendeu desde muito pequena, no berço de casa, vendo sua mãe, que trabalhava com o movimento de mulheres campesinas, no Rio Grande do Sul. Ela lembra muito da sua mãe “quando ia para a rua, nas mobilizações em Porto Alegre, para reivindicar o salário maternidade e aposentadoria”. A religiosa insiste em que “as mulheres nunca ganharam nada de graça, mas sim a partir da luta organizada”. Ela diz que “sempre trabalhei, toda missão como mulher consagrada, a partir da vida das mulheres mais sofridas, mais empobrecidas, principalmente as meninas e as mulheres”, destacando sua história de “identificar esse trabalho de enfrentamento ao abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes e tráfico de pessoas”, que hoje assume como missão principal.

Como religiosa do Imaculado Coração de Maria, sua missão tem sido no “cuidado da vida, voltada mais a questão das violações de direito”. Ela afirma que, aos poucos, “como mulher consagrada, também fui me inserindo nesse movimento de construção de uma Igreja mais voltada para os mais empobrecidos, os mais vulneráveis. Aí está também a categoria das mulheres”. Seu trabalho na Rede um Grito pela Vida, “tem sido por essa sensibilidade de sentir a dor de tantas meninas mulheres”, vivenciando essa opção de trabalho de enfrentamento ao tráfico de pessoas, como “uma presença profética, enquanto Igreja, enquanto Vida Consagrada, enquanto missionária, nesse chão da Amazônia”.

Na Amazônia, onde mora há nove anos, ela vê que, sobretudo a partir do processo de preparação sinodal, está sendo construída “uma Igreja que caminha com o povo e também é parte do povo”, onde se fez possível “poder perceber mais essa presença das mulheres na vida da Igreja, na sociedade, e também perceber, a partir das vozes das mulheres, o tanto de dor, de sofrimento, que as mulheres da Pan-Amazônia têm sofrido”. A religiosa enfatiza que “a questão do abuso, da exploração sexual, do tráfico de pessoas, do feminicídio, são gritos imensos que a gente tem ouvido”. No seu trabalho na Rede um Grito pela Vida, ela percebe “o rosto de Jesus, a presença de Deus, o rosto sofrido na presença das mulheres que estão em situação de tráfico, em situação de abuso, em situação de exploração sexual”.

Rose Bertoldo afirma que sua missão é “poder ser essa presença, poder ajudar, contribuir para que essas mulheres saiam dessa situação de violência, reconstruam suas vidas, possam retomar também, porque cada mulher é única, cada menina é única, e cada mulher revela a imagem desse Deus cheio de ternura, cheio de amorosidade”. Por isso, “celebrar esse 8 de março é revigorar, rememorar toda essa história de luta das mulheres e aí continuar acreditando”, insiste a religiosa. Junto com isso, destaca a necessidade da formação de outras mulheres, “que possam contribuir nas mudanças, principalmente com relação à inclusão, de sermos uma presença ativa, efetiva, afetiva, nos espaços eclesiais, mas também em tantos outros espaços de luta, de construção da dignidade, não só das mulheres, mas de todas as pessoas”.

fonte: https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2021-03/mulheres-na-construcao-do-reino-de-deus-na-igreja-periferias.html


 

Memória de lutas das Amazonas. Artigo de Ivânia Vieira

“Somos herdeiras de 500 anos de resistência e estamos, hoje, unidas, solidárias, marchando contra a pobreza e pela distribuição justa e equitativa de nossa riqueza; contra a violência sexista e pelo respeito à integridade física e mental das mulheres do Amazonas, da Amazônia, do Brasil e do Planeta“, escreve Ivânia Vieira, jornalista, professora da Faculdade de Informação e Comunicação da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), doutora em Comunicação, articulista no jornal A Crítica de Manaus, co-fundadora do Fórum de Mulheres Afroameríndias e Caribenhas e do Movimento de Mulheres Solidárias do Amazonas (Musas).

 

Eis o artigo.

 

Há 18 anos, em Itacoatiara, o I Seminário da Mulher do Médio Amazonas, apresentou, ao final de três dias de debates, um documento sistematizando as principais razões de luta das mulheres no Amazonas a partir dessa região (formada pelos municípios de ItacoatiaraSilvesItapiranga, são Sebastião do UatumãUrucará e Urucurituba).

A ‘Carta de Itacoatiara’ tem como slogan “o espaço público das mulheres deve ser sem limites!”. A escrita de 2003 é, em 2021, um grito ampliado de reação das mulheres do Amazonas e da Amazônia ao histórico processo de exclusão a que estão submetidas no país, principalmente no Brasil profundo. Hoje agudizado pelo desmonte realizado pelo Governo Federal das políticas públicas para as mulheres, fruto de lutas por elas travadas, e o recrudescimento da violência e do feminicidio. Eis a carta:

“Nós, mulheres e homens participantes do I Seminário da Mulher do Médio Amazonas, realizado no município de Itacoatiara (AM), nos dias 26, 26 e 28 de setembro de 2003, apresentamos, por meio deste documento, nossas reivindicações às autoridades no âmbito Municipal, Estadual e Federal e às organizações partícipes, principalmente aquelas responsáveis por áreas tais como: Saúde, Educação, Transporte, Habitação, Emprego e Geração de Renda.

O desafio colocado diante de nós é diversificado e longa duração. Estamos dispostas e animadas em enfrenta-lo aprendendo, na diferença que carregamos e na luta de todos os dias e de todas nós, a arte da solidariedade, temperada pelo respeito e a determinação. Quando exigimos às autoridades implantação de novas políticas públicas e a renovação das já existentes reafirmamos a nossa vontade de ampliar a participação e dar visibilidade à presença feminina nos diferentes fóruns governamentais.

É nessa luta que nos (re)organizamos, a cada dia, para enfrentar e denunciar as diferentes formas de violência, como a de ser única responsável pela manutenção da família sem dispor de uma estrutura oficial de apoio. Nessa situação, estão milhares de mulheres brasileiras, com maior intensidade nas regiões Norte e Nordeste. É um quadro que reforça a outra violência imposta por um modelo econômico excludente, gerador de subemprego e do desemprego e de uma relação de submissão, mendicância e de gradativa perda da dignidade.

Reagimos, mais uma vez, contra essa prática e conclamamos toda a sociedade a ser parte na luta pela implementação de um programa que tenha em essência o reconhecimento da indivisibilidade e universalidade dos direitos humanos das mulheres.

No Amazonas, essa é uma construção árdua diante da gigantesca desigualdade historicamente presente no Estado e silenciada por décadas. Estremos em sintonia com mulheres de todo o Brasil e de outros países, para criar um mundo novo que se baseia na repartição da riqueza coletiva- patrimônio material e cultural da humanidade – pois, queremos que cada ser humano tenha do que e como viver de forma digna.

Como atitudes iniciais no processo de enfrentamento propomos:

1) Criação de emprego para todas e todos com aumento real do salário mínimo e que o governo tome medidas concretas para eliminar a diferença de rendimentos médios entre mulheres e homens e entre mulheres brancas, negras e indígenas; sim como redefinir a política de microcrédito incluindo nela as diferentes ações e produções de mulheres, desenvolvendo também programas de capacitação voltados a melhor qualificação da mulher;

2) A demarcação das terras indígenas, valorização da agricultura familiar através do crédito, da pesquisa e da extensão rural e de políticas públicas, principalmente de regularização das terras para todas e todos que nela trabalham, vivem e produzem;

3) Que todas as crianças, de zero a 6 anos, filhas de mães e pais não assalariados tenham acesso à creche, paga pelo governo e que as mulheres tenham acesso à educação laica e gratuita. Que todas as mulheres rurais tenham acesso facilitado à documentação e a uma renda que assegure a manutenção de sua família;

4) O fim da destruição da natureza – como o desmatamento desenfreado e a poluição ao meio ambiente. Que a água seja um bem público, utilizado de forma democrática e responsável pela população e, principalmente, pelas empresas que exploram o serviço, e pelas instituições governamentais que têm a responsabilidade de fiscalizar a exploração e formas de uso desse bem vital;

5) Que o Sistema Único de Saúde (SUS) e seus princípios de gratuidade e universalidade sejam realidade em nosso País;

6) Efetivação do Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM) e que o governo desenvolva ações emergenciais para diminuir a mortalidade materna, assegurar a prevenção e o tratamento do câncer de mama, assim como as doenças sexualmente transmissíveis, em particular a AIDS;

7) Que sejam instalados nos municípios do Estado (não só na capital, Manaus), serviços que atuem de forma satisfatória no apoio às mulheres vítimas de violência, como Delegacia de Defesa da MulherCasa Abrigo… sob responsabilidade de uma Secretaria de Estado da Mulher. Que seja revista a lei que pune os que cometem crime de violência contra a mulher, pois, hoje a punição se resume apenas em cestas básicas e serviços prestados à sociedade (neste item, a Lei nº 11.340 – Lei “Maria da Penha” – de 6 de agosto de 2006, estabelece que todo caso de violência doméstica ou intrafamiliar é crime e deve ser julgado pelos Juizados Especializados de Violência Doméstica contra a Mulher);

8) Que seja discutido, exaustivamente, com as forças representativas de nossa sociedade, a patente de seres vivos e o plantio de culturas transgênicas em nosso solo;

9) Lutar pelo fim de toda discriminação e exclusão social, racial e étnica.

Somos herdeiras de 500 anos de resistência e estamos, hoje, unidas, solidárias, marchando contra a pobreza e pela distribuição justa e equitativa de nossa riqueza; contra a violência sexista e pelo respeito à integridade física e mental das mulheres do Amazonas, da Amazônia, do Brasil e do Planeta

Nota:

O seminário foi realizado pelo PT-Mulher de Itacoatiara, Movimento de Mulheres Solidárias (MUSAS/ACCM), com apoio da Secretaria Estadual da Mulher do Acre (Maria das Dores Miranda Lima); CFMEA-DF, Giani Boselli; CONAMA-DF/Muriel Saragoussi; UFAM/Drª Heloisa Helena Corrêa; Seminf-Manaus/Graça Prola; CUT-AM: e SECT-AM.

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fonte: http://www.ihu.unisinos.br/607315-memoria-de-lutas-das-amazonas-artigo-de-ivania-vieira


Núcleo de Mulheres da REPAM, espaço de encontro, de confiança e de escuta das mulheres amazônicas

Dia Internacional da Mulher tem sido oportunidade para o Núcleo de mulheres da Rede Eclesial Pan-Amazônica – REPAM, apresentar um calendário elaborado em conjunto entre as mulheres da Pan-Amazônia. O grupo, que vem refletindo sobre o papel e a importância da presença da mulher na Igreja, está formado por mulheres que tem “a consciência de um território onde estamos pisando, um território específico onde realizamos as ações, e isso nos leva a um caminho sinodal”, segundo Dorismeri Almeida de Vasconcelos.

A reportagem é de Luis Miguel Modino.

Tendo como fundamento sua identidade, conhecimento e liderança, as mulheres, que na Pan-Amazônia, segundo a auditora sinodal, assumem 70% do trabalho social e missionário, tem encontrado no grupo, um espaço de encontro, de confiança e de escuta, garantindo a presença para todas as mulheres da Pan-Amazônia. Não podemos esquecer que “elas são vítimas de uma alta taxa de violência, de sobrecarga laboral e afetiva, são vitimadas com a violação de seus direitos”.

O grupo surgiu dentro do processo sinodal, “a partir da nossa diversidade cultural, da nossa organização social e da nossa experiência de Igreja, tanto como leigas quanto consagradas”, afirma Dorismeri. Ela destaca entre as propostas realizadas, refletir as realidades e experiências concretas das mulheres na Pan-Amazônia e projetar uma leitura teológica contextual, do modo que foi feito no Sínodo, que permita resgatar as vozes, propostas e apostas das mulheres neste território.

O núcleo está dividido em cinco subcomissões internas, pós-pandemia e pós-sínodomulheres e violênciasteologia e espiritualidade, formação sociopolítica pastoral, diaconato e ministérios, para estudar os documentos da Igreja buscando elaborar linhas de ação para o trabalho em diferentes áreas, descobrindo as ações das mulheres nos territórios em defesa da vida, no anúncio da Boa Nova, no acompanhamento e enfrentamento dos desafios da realidade nos diferentes contextos, semeando sempre sinais de esperança.

Trata-se, segundo Dorismeri, “de consolidar um espaço de reflexão, articulação e ação das mulheres da Pan-Amazônia, que ofereça respostas às principais preocupações que ameaçam a vida e subsistência das mulheres”. Junto com isso, “buscar encarnar os diferentes rostos ancestrais e construir um sentimento e pensamento coletivo desde seu ser mulheres, conectado à Criação, fortalecendo a missão social e eclesial das mulheres, prevenindo a violência e garantindo os direitos, aportando uma mudança de paradigma desde a lógica do cuidado”.

 

Live Núcleo de Mulheres da REPAM (Foto: Reprodução/Youtube)

dia 8 de março é momento de “fazer memória” segundo Tania Ávila. A teóloga boliviana, que foi perita no Sínodo para a Amazônia, vê essa data como “um dia que nos toca seguir resistindo e reclamando para que tenha vida digna para as mulheres”. Ela destacava a importância das vozes de mulheres da Amazônia, recolhidas num vídeo. São mulheres que vão “somando, nos dando força, fluindo”.

Núcleo de Mulheres da REPAM também conta com a presença de mulheres indígenas. Uma delas, Anitalia Pijachi, relatava as dificuldades vividas na Amazônia colombiana durante a pandemia, mostrando as dificuldades de acesso aos direitos básicos. Tem sido um tempo para “aprender a saber resistir na nossa selva”. Estamos diante de um momento que mostra a “necessidade de estar mais unidos em comunidade, de procurar a sabedoria dos anciãos”. Ela denunciava o governo, “que não escuta o que acontece na Amazônia colombiana”, enfatizando que estamos vivendo “um tempo de incerteza”.

“Esta pandemia tem mostrado, mais uma vez, que somos os mais esquecidos pelo Estado”, afirmava Yessica Patiachi desde a Amazônia peruana, denunciando a “falta de política clara de saúde para as comunidades indígenas”. Ela lembrava que os povos originários “temos levantado nossa voz de protesto e denunciamos quando nossos direitos são vulnerados”. Ao mesmo tempo denunciava as ameaças e perseguições, “só por defender e proteger a floresta”, o que tem provocado a morte de muitos indígenas no Peru. A líder indígena faz um chamado à luta, a não se deixar enganar pelas falsas promessas das grandes empresas, que só deixam consequências fatais.

Yessica Patiachi destaca a grande capacidade de resiliência, o que a leva afirmar que “vamos continuar defendendo nossa floresta diante de grandes interesses, mesmo que o Estado faça a vista grossa diante de grandes concessões extrativistas, reclamando a necessidade de consulta prévia aos povos indígenas”. No tempo de pandemia, as comunidades têm voltado à medicina tradicional, destacando “a participação da mulher indígena, que junto com os anciãos são a parte vital da transmissão de conhecimentos ancestrais”. Ela, que tem sido escolhida como conselheira, querendo “ser uma voz importante para mostrar o sentir e as demandas das mulheres indígenas”, destaca a importância da REPAM como aliado importante para a resistência indígena.

8 de março é momento de “fazer memória das lutas”, segundo Rose Bertoldo, que apresentava e compartilhava o calendário, “que as mulheres da Pan-Amazônia têm construindo coletivamente”. Segundo a auditora sinodal, estamos diante de “um material de formação e informação que nos inspira passar por todo o ano como uma presença criativa e propositiva”. O calendário tem sido construído a partir de palavras, mandalas, frases, cores e fotos, tendo a terra, o fogo, a água e o ar “como elementos que nos sustentam nessa caminhada, nessa construção”, segundo a religiosa.

“O calendário recolhe a inspiração que cada mulher teve nessa construção coletiva, recolhe muitos sinais dos povos da Amazônia, que tem grande diversidade”, afirma Rose Bertoldo. Estamos diante de um instrumento que teve a capacidade de “incluir muitos olhares da Pan-Amazônia, que nos possibilita ampliar para outras mulheres”. Por isso, ela ressalta que “o que aprece no calendário é expressão dessa presença do Espírito que habita na Amazônia e está presente e ativa em cada ser”. Daí a religiosa coloca como objetivo “que esta rica diversidade nos impulsione a continuar a cuidar de todas as formas de vida na nossa casa comum”.

Núcleo de Mulheres REPAM é “um espaço que tem a fortaleza de nos permitir pensar juntas, sonhar juntas e construir juntas”, afirma Maria Eugenia Carrizo. Ela define o futuro “como tempo para pensar juntas que Igreja sonhamos, o que pensamos como futuro de nossa Igreja, qual o rosto amazônico que desejamos que ela tenha e em função disso a mirada ministerial, numa região com muita riqueza de diversidade de ministérios”.

Trata-se de um instrumento que permite “sonhar com um espaço de encontro e reflexão entre mulheres, onde possam ser compartilhados seus aprendizados, vivências, histórias, e suas lutas do dia a dia”. Daí, ela insistia em que “queremos seguir unidas, seguir construindo juntas, seguir desenvolvendo projetos comuns, num espaço onde todas temos voz, onde todas podemos compartilhar as dores e esperanças”.

 

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fonte: http://www.ihu.unisinos.br/607341-nucleo-de-mulheres-da-repam-espaco-de-encontro-de-confianca-e-de-escuta-das-mulheres-amazonicas

 

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