Menina estuprada e grávida, sem proteção

Leonardo Boff
 
O que aconteceu com essa menina de 10 anos é algo muito triste e muito difícil.
 
Claro que todos nós somos a favor da vida, o ideal seria que nunca fosse negado o direito de nascer. A situação em questão, porém, está toda muito distante do ideal, infelizmente.
 
É preciso levar em conta também a vida da menina que já foi tão violentada, com apenas 10 aninhos. Uma gestação é um processo muito complexo que envolve não só questões biológicas, riscos à gestante, sobretudo quando ainda é imatura, e transformações no corpo da mulher, mas também questões psicológicas. É muito exigente.
 
Uma situação como essa, deve ser avaliada de maneira multidisciplinar, com médicos, psicólogos e outros profissionais que lidam com a questão. A partir de seu credo, a família deve receber também orientação e apoio espiritual de alguém que tenha perícia e competência para lidar com esse assunto tão específico.
 
Essa gestação não pode ser considerada como uma gravidez comum, como se não houvesse o abuso e como se não se tratasse de uma criança de apenas 10 anos, que sofreu violência sexual desde os 6 anos de idade.
 
Deve-se fazer o que o bom senso e a consciência de todos, profissionais e responsáveis, indicar como o mal menor, como ensina a moral da Igreja.
 
Quanto a esses fanáticos religiosos, deveriam ser processados por expor a criança a uma situação ainda mais traumática, promovendo essa histeria na porta do hospital, perturbando os enfermos. São desumanos.
 
Fatos com essa gravidade devem ser enfrentados com serenidade e com a maior discrição possível.
 
A decisão deve ser de foro íntimo, da família e dos profissionais envolvidos, após um sério discernimento que leve em conta as diversas questões envolvidas, e deve ser respeitada.
 
Ninguém deveria dar pitaco nisso.
 
Geralmente essa gente fanática é assim, se preocupa com a vida dentro da barriga mas despreza a vida de tantas crianças que vivem de modo indigno, privadas, não raramente, do essencial. Devemos nos preocupar com a vida no útero, mas também com a vida que é tão ameaça numa sociedade injusta como a nossa. Há muita incoerência e hipocrisia nessas manifestações inadequadas e escandalosas.

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