Homenagem a Pedro. Simples, Pedro

 

 

Baixe, ouça e divulgue: Programa da Agência Rádioweb com depoimentos de Dom Walmor Oliveira e Daniel Seidel

 

 
 
Pedro poeta e profeta partiu, quando em nosso país surgiu, um grupo de mais de 150 bispos que retomaram a profecia.
 
Que sua presença junto ao Pai, nos braços da Mãe, nos faça ampliar nossos “ais” do tempo presente e nos dê a ousadia do Filho, para seguir no caminho… interceda por nós, São Pedro Casaldáliga!
 
Mandai-nos o Espírito necessário da sabedoria. Agradecemos o primeiro milagre, por sua intercessão: não deixemos morrer a profecia!
 
Coragem!
 
Daniel Seidel, Secretário Executivo da Comissão Brasileira Justiça e Paz – CBJP
 

Homenagem a Pedro, do Araguaia

 
Embora a comoção e a tristeza sejam imensas, o encantamento de D. Pedro Casaldáliga deveria ser celebrado como cântico de louvor por Deus ter agraciado ao mundo a existência dessa pessoa tão singular, tão excepcional. Um profeta-poeta que cumpriu sua vocação pastoral de forma tão apaixonada.
 
Pedro, como gostava de ser chamado, vivia de maneira simples, do jeito do povo a quem servia, mesmo podendo ser Dom, príncipe, e arrogar o poder se quisesse, na condição de bispo. Optou por praticar, na radicalidade evangélica, a humildade e as bem-aventuranças e, inspirado pela ira corajosa típica dos grandes profetas, enfrentou, com firmeza e poesia, fazendeiros, militares e outros poderosos para defender pobres, índios, posseiros, rios e florestas. Se por um lado, foi odiado, perseguido e caluniado, por outro, foi amado, admirado e serviu  de inspiração a gerações que buscaram no seu exemplo, nas suas palavras e na sua poesia referência e alimento para as lutas.
 
*_Malditas sejam todas as cercas… que nos privam de viver e amar_*, poetizou profetizando. Era amado pelo povo com quem viveu desde 1970 numa simples casa na Prelazia de São Felix do Araguaia.
 
Pedro é a expressão mais genuína dos valores civilizacionais e do sentido profundo de humanidade; da radical coerência entre o que acreditava e o que praticava; uma referência da luta democrática e pelos direitos do povo e da natureza. Por esse motivo, ele é universal e seu legado é atemporal.
 
Pedro, descanse em paz à sombra de um pequizeiro, que cresce e fecunda o fruto com as águas mornas do seu querido Araguaia. E do Paraíso que te acolhe em festa, inspira-nos a derrubar todas as cercas e todas as leis que fazem a terra escrava e escravos os humanos.
 
Pedro, Presente!
 
CESE – Coordenadoria Ecumênica de Serviço
8 de agosto de 2020

Monsenhor Casaldáliga – Pedro Liberdade

 
Dom Pedro, pastor, poeta, profeta,
Pedro irmão, amigo, defensor
De gente humilde, esquecida,
Como abandonado era o sertão onde ele foi morar
Viver, evangelizar.
E então ser bispo, articulador, semente de resistência.
São Félix do Araguaia nunca mais foi a mesma
Depois que ele chegou!
A carta de uma Igreja na Amazônia em conflito com o latifúndio
E a marginalização (1971)
Inaugurou um grito, instituiu o que mais tarde
Passaria a se chamar “uma igreja com rosto amazônico”.
Mas foi como uma senha,
Causou furor nos inimigos da gente pequena,
Espantou os governantes, fruto de um golpe militar e
Civil, apoiado pela elite de sempre.
O golpe outro, aquele que durou 21 anos,
Que hoje se repete no novo golpe deste século 21
E já nasce torto, obscuro, violento,
Dominado pelo conluio de forças
Midiáticas, parlamentares, judiciais,
Que agem amparadas na lei higienicamente burlada,
Forçada, quebrada ao sabor dos interesses.
Mas não menos covarde como outrora.
Pedro entre nós resiste, chora, ora, preservando
A mesma verve, embora o corpo sofra e grite.
A lucidez o mantém vivo, alerta, solidário sempre
Com a Amazônia, os povos da floresta,
O papa Francisco, o último Sínodo,
Aquele da ecologia integral
Que uniu num só espírito
A luta da terra e a luta dos pobres.
Pedro sonhou com este conclave maior fazia muito
E o viveu na solidão do sertão do Mato Grosso
Cercado pelo carinho do seu povo e da comunidade.
Teria estado lá com seus irmãos e irmãs
Não fosse a debilidade vivida no limite,
Na fé e na ousadia teimosa de quem aprendeu
– a duras penas – a dizer: Não!
À injustiça, à desigualdade, à violência, ao crime hediondo,
Diante da desfaçatez, ele foi sempre enfático: Não!
E pagou um alto preço pela ousadia.
Em seu lugar, pregou a união dos diferentes,
A comunhão dos pequenos, a partilha do pouco,
A vivência da fé na coragem de ser,
A alegria da festa comunitária, a criançada
A correr feliz na beira do grande rio
Que ele conheceu como poucos em suas muitas
Travessias, atento às margens, aos pássaros,
Às tartarugas e aos peixes voadores.
Nunca se furtou à conversa com os canoeiros,
Os peões de fazenda, as moças das vilas,
Os jovens das escolas,
As avós famintas, os lavradores sem terra
Que produziam feijão, macaxeira, banana,
As frutas do quintal.
Essa gente amiga que sempre o abrigou
Nas casas de palha, de barro batido,
Onde havia rede e um café passado na hora.
Por isso mesmo, casa fraterna e mesa repartida.
Pedro teve por báculo o remo tapirapé,
Como anel, o tucum dos povos indígenas,
Por mitra, o chapéu de palha
E por calçado a sandália de borracha.
Escândalo episcopal, profecia encarnada no corpo,
Na mente e no espírito inquieto da
Insurreição do evangelho.
Viveu a colegialidade do ministério com
O clero, as religiosas e o povo das comunidades
Sempre à escuta da sabedoria popular.
Hoje vive sua própria páscoa, travessia,
Na entrega do corpo, da vida, da inteligência,
Da fé, dos sonhos que sonhou
de olhos abertos e espírito apaixonado.
Uma entrega que se mostra símbolo de utopia
E do compromisso maior
Na senda aberta pelo Senhor dos Passos,
O Cristo Jesus de Nazaré e de todos os povos.
Em comunhão com Pedro, seguiremos seu caminho
Na unidade do Espírito da Liberdade.
O Deus de toda paz o cubra de bênção, de amor
De misericórdia e de compaixão.
A alegria do evangelho vencerá,
Ah, vencerá mesmo, Pedro,
Ainda que a maldade pareça infinita.
Vem, Senhor Jesus!
No fim, permanecem a fé, a esperança e o amor.
Mas o maior é e sempre será o Amor!
 
Pelotas, 
Roberto E. Zwetsch
Pastor luterano
 

Pedro, alguém que nos fez acreditar na grandeza de sermos Rede

“A confiança em Deus sempre foi a força motriz de Dom Pedro Casaldáliga, de alguém que deu sua vida em favor da Amazônia e seus povos, de alguém que sempre compreendeu, assumiu e pregou que juntos somos mais e podemos sonhar mais alto. Pedro Casaldáliga, ou Dom Pedro, ou simplesmente Pedro, como ele gostava de ser chamado, sempre se sentiu um poeta. Suas palavras encantaram e continuarão a encantar, porque a memória dos justos é eterna. Elas até encantaram o Papa Francisco, que se lembrou de um de seus poemas para iluminar suas reflexões na Querida Amazônia“.

 

O artigo é de Luis Miguel Modino juntamente com a Secretaria Executiva e toda a Rede Eclesial Pan-Amazônica – REPAM.

 

Eis o artigo.

 

“Bastar-me-á saber que Tu me conheces inteiramente, ainda antes dos meus dias” (Querida Amazônia, 73).

 

“A confiança em Deus sempre foi a força motriz de Dom Pedro Casaldáliga, de alguém que deu sua vida em favor da Amazônia e seus povos, de alguém que sempre compreendeu, assumiu e pregou que juntos somos mais e podemos sonhar mais alto. Pedro Casaldáliga, ou Dom Pedro, ou simplesmente Pedro, como ele gostava de ser chamado, sempre se sentiu um poeta. Suas palavras encantaram e continuarão a encantar, porque a memória dos justos é eterna. Elas até encantaram o Papa Francisco, que se lembrou de um de seus poemas para iluminar suas reflexões na Querida Amazônia

Amazônia sempre foi uma terra querida por Pedro, mas na verdade era mais do que uma terra, era uma vida, sua vida. Ninguém duvida que Pedro é um daqueles de quem o Papa Francisco diz:

 

“Muitas pessoas consagradas gastaram as suas energias e grande parte da sua vida pelo Reino de Deus na Amazônia” (Querida Amazônia, 95).

 

Ele gastou suas energias para ser a voz daqueles que ninguém queria ouvir, e começou a criar redes que fortificassem uma luta, conquistassem aliados e plantassem sementes, que um dia brotaram e deram frutos.

Se hoje a Igreja da Pan-Amazônia sente o desejo de caminhar junto, é porque ao longo de décadas, ao longo de séculos, muitos Pedros têm atado nós para tecer uma rede. Se hoje, na Igreja, a Amazônia, a periferia, tornou-se o centro, é porque muitos Pedros mostraram a riqueza que ela contém. Foram eles que nos ensinaram a olhar a Amazônia e seus povos como uma fonte de vida no coração da Igreja e do mundo, que está inundando as entranhas de tantos homens e mulheres que continuam a sonhar com o Reino.

A morte de Pedro é um momento para continuar sonhando, para continuar apostando nas causas que marcaram sua vida, sim, naquelas causas que ele sempre disse que valiam mais do que sua própria vida. De fato, a fé no Deus da Vida de alguém que sempre foi ameaçado, perseguido, que viu quantos de seus companheiros de luta e utopias estavam caindo, vítimas daqueles que apostaram e continuam apostando em uma economia que mata, que destrói a vida da Amazônia e de seus povos, deveria ser um motivo para continuar caminhando.

Somos chamados a continuar acompanhando a vida desses povos, dos últimos, a permanecer entre eles, mesmo além da morte, a não ter problema, até mesmo a desejar, ser enterrados entre um peão e uma prostituta, entre os últimos, porque queríamos estar entre eles enquanto estávamos vivos. Somos chamados a ser uma casa, uma Igreja, com as portas abertas, onde todos podem entrar sem bater, porque eles sabem que serão bem-vindos e para eles será oferecido o que temos à nossa disposição nesse dia. Aquela casa de tijolos, sem luxos, mas sempre acolhedora para todos os que vêm.

Somos uma rede, somos uma Igreja que quer caminhar junto, companheira e aliada dos últimos, aprendiz, feliz por escutar quem fala do coração, com aquele olhar limpo e firme, que denuncia e deixa claro que estamos ao lado dos favoritos de Deus, daqueles que o mundo colocou no último lugar. Por tudo isso, assumamos as palavras do Papa Francisco, deixemos claro que “tudo isso nos une”, e que a partir daí não podemos parar de nos perguntar. 

“Como não lutar juntos? Como não rezar juntos e trabalhar lado a lado para defender os pobres da Amazônia, mostrar o rosto santo do Senhor e cuidar da sua obra criadora?” (Querida Amazônia, 110).

Que nunca nos falte o incentivo para continuar avançando, para fazer todo o possível para “transformar a realidade da Amazônia e libertá-la dos males que a afligem” (Querida Amazônia, 111).

Estas foram as causas de Pedro, de Francisco, de tantos homens e mulheres que se tornaram sementes de vida em abundância para todos. Que elas nunca deixem de ser nossas causas. 

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fonte: http://www.ihu.unisinos.br/601688-pedro-alguem-que-nos-fez-acreditar-na-grandeza-de-sermos-rede


Pedro Casaldáliga, presente!

Pedro Casadáliga, santo, profeta e poeta nos acompanha agora na casa do Pai.

O último da grande geração dos Padres da Igreja que marcaram com luz a América Latina.

Está sendo velado na casa dos seus claretianos em Batatais, depois passará por Ribeirão Cascalheira, onde enfrentou a repressão, para dormir definitivamente em São Félix, às margens de seu mágico Araguaia.

A informação é de Luiz Alberto Gomez de Souza, sociólogo.

E tempo de festa na sua chegada aos céus. Lembramos um poema de Manuel Bandeira, Pedro abrindo de par em par as portas das quais é guardião: “Entra Pedro, tua casa te espera.”.

Foi ficando leve, leve, como uma pétala levada pelo vento da história.

Não é necessária confirmação canônica, ele é e já era em vida, Santo.

Soam suas duras palavras:

“Malditas sejam todas as cercas!

Malditas todas as propriedades privadas que nos privam de viver e amar!

Malditas sejam todas as leis amanhadas por umas poucas mãos para ampararem cercas e bois, fazerem a terra escrava e escravos os humanos”.
 

Nada como relembrar o soneto em que revela sua identidade:

 
“Si no sabeis quien soy. Si os desconcierta
la amálgama de amores que cultivo:
una flor para el Che, toda la huerta
para el Dios de Jesús. Si me desvivo
por bendecir una alambrada abierta
y el mito de una aldea redivivo.
Si tiento a Dios por Nicaragua alerta,
por este Continente aún cautivo.
Si ofrezco el Pan y el Vino en mis altares
sobre un mantel de manos populares
sabed del Pueblo vengo, al Reino voy.
Tenedme por latinoamericano,
tenedme simplemente por cristiano,
si me creéis y no sabéis quien soy!”

 

Vida sem fronteiras, derramando misericórdia, clamando por justiça, em união mística com o Pai.

Dali nos acompanhe nesta quadra triste de nossa história.

Não rezamos por ele, que vive a plenitude. Pedimos que reze por nós e pela América Latina ferida.

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fonte: http://www.ihu.unisinos.br/601689-pedro-casaldaliga-presente

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