Frei Beto, frade dominicano e escritor, assessor da FAO e de movimentos sociais, pede, em ‘Carta Aberta ao Mundo’, intervenção contra Bolsonaro ao Tribunal de Haia em ‘Carta Aberta ao Mundo’.
“É preciso que as denúncias do que ocorre no Brasil cheguem à mídia de seu país, às redes digitais, ao Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, e ao Tribunal Internacional de Haia, bem como aos bancos e empresas que abrigam investidores tão cobiçados pelo governo Bolsonaro“, diz em trecho do documento.
Leia a seguir:
“No Brasil ocorre um genocídio! No momento em que escrevo, 16/7, a Covid-19, surgida aqui em fevereiro deste ano, já matou 76 mil pessoas. Já são quase 2 milhões de infectados. Até domingo, 19/7, chegaremos a 80 mil vítimas fatais. É possível que agora, ao você ler este apelo dramático, já cheguem a 100 mil.
Quando lembro que na guerra do Vietnã, ao longo de 20 anos, 58 mil vidas de militares USAamericanos foram sacrificadas, tenho o alcance da gravidade do que ocorre em meu país. Esse horror causa indignação e revolta. E todos sabemos que medidas de precaução e restrição, adotadas em tantos outros países, poderiam ter evitado tamanha mortandade.
Esse genocídio não resulta da indiferença do governo Bolsonaro. É intencional. Bolsonaro se compraz da morte alheia. Quando deputado federal, em entrevista à TV, em 1999, ele declarou: “Através do voto você não vai mudar nada nesse país, nada, absolutamente nada! Só vai mudar, infelizmente, se um dia partirmos para uma guerra civil aqui dentro, e fazendo o trabalho que o regime militar não fez: matando uns 30 mil”.
Ao votar a favor do impeachment da presidente Dilma, ofertou seu voto à memória do mais notório torturador do Exército, o coronel Brilhante Ustra.
Por ser tão obcecado pela morte, uma de suas principais políticas de governo é a liberação do comércio de armas e munições. Questionado à porta do palácio presidencial se não se importava com as vítimas da pandemia, respondeu: “Não estou acreditando nesses números” (27/3, 92 mortes); “Todos nós iremos morrer um dia” (29/3, 136 mortes); “E daí? Quer que eu faça o quê?” (28/4, 5.017 mortes).
Por que essa política necrófila? Desde o início ele declarou que o importante não era salvar vidas, e sim a economia. Daí sua recusa em decretar lockdown, acatar as orientações da OMS e importar respiradores e equipamentos de proteção individual. Foi preciso a Suprema Corte delegar essa responsabilidade a governadores e prefeitos.
Bolsonaro sequer respeitou a autoridade de seus próprios ministros da Saúde. Desde fevereiro o Brasil teve dois, ambos demitidos por se recusarem a adotar a mesma atitude do presidente. Agora, à frente do ministério, está o general Pazuello, que nada entende de questão sanitária; tentou ocultar os dados sobre a evolução dos números de vítimas do coronavírus; empregou 38 militares em funções importantes do ministério, sem a requerida qualificação; e cancelou as entrevistas diárias pelas quais a população recebia orientação.
Seria exaustivo enumerar aqui quantas medidas de liberação de recursos para socorro das vítimas e das famílias de baixa renda (mais de 100 milhões de brasileiros) jamais foram efetivadas.
As razões da intencionalidade criminosa do governo Bolsonaro são evidentes. Deixar morrer os idosos, para economizar recursos da Previdência Social. Deixar morrer os portadores de doenças preexistentes, para economizar recursos do SUS, o sistema nacional de saúde. Deixar morrer os pobres, para economizar recursos do Bolsa Família e de outros programas sociais destinados aos 52,5 milhões de brasileiros que vivem na pobreza e aos 13,5 milhões que se encontram na extrema pobreza. (Dados do governo federal).
Não satisfeito com tais medidas letais, agora o presidente vetou, no projeto de lei sancionado a 3/7, o trecho que obrigava o uso de máscaras em estabelecimentos comerciais, templos religiosos e instituições de ensino. Vetou também a imposição de multas para quem descumprir as regras e a obrigação do governo de distribuir máscaras para os mais pobres, principais vítimas da Covid-19, e aos presos (750 mil). Esses vetos, no entanto, não anulam legislações locais que já estabelecem a obrigatoriedade do uso de máscara.
Em 8/7, Bolsonaro derrubou trechos da lei, aprovada pelo Senado, que obrigavam o governo a fornecer água potável e materiais de higiene e limpeza, instalação de internet e distribuição de cestas básicas, sementes e ferramentas agrícolas, para aldeias indígenas. Vetou também verba emergencial destinada à saúde indígena, bem como facilitar o acesso de indígenas e quilombolas ao auxílio emergencial de 600 reais (100 euros ou 120 dólares) por três meses. Vetou ainda a obrigação de o governo oferecer mais leitos hospitalares, ventiladores e máquinas de oxigenação sanguínea a povos indígenas e quilombolas.
Indígenas e quilombolas têm sido dizimados pela crescente devastação socioambiental, em especial na Amazônia.
Por favor, divulguem ao máximo esse crime de lesa-humanidade. É preciso que as denúncias do que ocorre no Brasil cheguem à mídia de seu país, às redes digitais, ao Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, e ao Tribunal Internacional de Haia, bem como aos bancos e empresas que abrigam investidores tão cobiçados pelo governo Bolsonaro.
Muito antes de o jornal The Economist fazê-lo, nas redes digitais trato o presidente por BolsoNero – enquanto Roma arde em chamas, ele toca lira e faz propaganda da cloroquina, remédio sem nenhuma eficácia científica contra o novo coronavírus. Porém, seus fabricantes são aliados políticos do presidente…
Agradeço seu solidário interesse em divulgar esta carta. Só a pressão vinda do exterior será capaz de deter o genocídio que assola o nosso querido e maravilhoso Brasil.
There is a genocide going on in Brazil! At the time of writing this letter- July 16th -Covid-19, which emerged here in February, has already killed 76,000 people. There are almost 2 million infected. By Sunday, July 19th, we will have reached 80,000 fatalities. It is possible that, when you read this dramatic appeal, there will be 100 thousand dead here.
When I remember that in the Vietnam War, over 20 years, 58,000 lives of US military personnel were sacrificed, I have the scope of the seriousness of what happens in my country. This horror causes outrage and revolt. And we all know that precautionary and restrictive measures, adopted in so many other countries, could have prevented such a death toll.
This genocide is not the result of the indifference of Bolsonaro’s government. This genocide is intentional. Bolsonaro is pleased with the death of others. When he was a House Representative, in a TV interview in 1999, he declared: “You will change nothing by voting in this country, nothing, absolutely nothing! Things will only change, unfortunately, if one day we go to a civil war here, and do the work that the military regime did not do: kill some 30 thousand people ”.
When voting in favor of President Dilma’s impeachment, he offered his vote in memory of the most notorious torturer in the Brazilian Army during the military dictatorship, Colonel Brilhante Ustra.
He is so obsessed with death, that one of his main government policies is the liberation of gun and ammunition sales. Asked, outside the presidential palace, if he did not care for the victims of the pandemic, he replied: “I do not believe these numbers” (March 27th, 92 deaths); “We will all die one day” (March 29th, 136 deaths); “So what? What do you want me to do?” (April 28th, 5,017 deaths).
Why this necrophilic policy? From the beginning, he declared that the important thing was not to save lives, but the economy. Hence his refusal to declare a lockdown, comply with WHO guidelines and import respirators and personal protective equipment. The Supreme Court had to delegate this responsibility to governors and mayors.
Bolsonaro did not even respect the authority of his own ministers of health. Since February, Brazil has had two ministers, both fired for refusing to adopt the same attitude as the president. Now, at the head of the ministry is General Pazuello, who understands nothing about the health crisis. He tried to hide the data on the evolution of Coronavirus victims’ numbers; he employed 38 military personnel in key ministry functions, without the required qualifications; and canceled the daily interviews through which the population received guidance.
It would be exhaustive to list the actions needed to provide resources to help victims and low-income families (more than 100 million Brazilians) that have never been implemented here.
The criminal intent of the Bolsonaro government is evident: to let the elderly die to save Social Security resources, to let pre-existing illnesses sufferers die to save resources from SUS, the national health system and to let the poor die to save the resources of “Bolsa Família” and other social programs for the 52.5 million Brazilians living in poverty and the 13.5 million who live in extreme poverty. (Federal government data).
Not satisfied with such lethal measures, the president has now vetoed, in a bill sanctioned on July 3rd, the instruction that requires the use of masks in commercial establishments, religious temples and educational institutions. He also vetoed the imposition of fines for those who break the rules, and the government’s obligation to distribute masks to the poorest, the main victims of Covid-19, and to prisoners (750 thousand). These vetoes, thankfully, do not override local laws that already establish the mandatory use of masks.
On July 8th Bolsonaro overturned parts of the Senate-approved law that required the government to provide drinking water and hygiene and cleaning materials, internet facilities and the distribution of food, seeds and agricultural tools to indigenous villages. He also vetoed emergency funds for indigenous health, as well as easier access by indigenous and quilombolas (African Brazilian communities) to the emergency aid of 600 reais (100 euros or 120 dollars) for three months. He also vetoed the government’s obligation to offer hospital beds, ventilators and blood oxygenation machines to indigenous and quilombola peoples.
Indigenous and quilombola communities have been decimated by the growing socio-environmental devastation, especially in the Amazon.
Please spread the word about this crime against humanity as much as possible. The denunciation of what happens in Brazil must reach the media in your country, digital networks, the UN Human Rights Council in Geneva, the International Court of The Hague as well as banks and companies that are the investors the Bolsonaro government so covets.
Before The Economist magazine did it, I nicknamed Brazil’s president – in my digital network – BolsoNero: while Rome burns, he plays the lyre and advertises chloroquine, a drug with no scientific efficacy against the new coronavirus. (Its manufacturers are his political allies …)
I thank you for your sympathetic interest in spreading this letter. Only pressure from abroad will be able to stop the genocide that is plaguing our beloved and wonderful Brazil.
Fraternally,
Frei Betto
Frei Betto is a Dominican friar and writer, advisor to FAO and social movements.
Français – Versão em Francês
LETTRE AUX AMIS ET AMIES DE L’ÉTRANGER
Frère Betto
Chers amis et amies :
Au Brésil, il y a un génocide ! Au moment où j’écris, 16/7, le Covid-19, qui est apparu ici en Février de cette année, a tué 76.000 personnes. C’est près de 2 millions de personnes infectés. D’ici dimanche 19 juillet, nous atteindrons 80 000 morts. Il est possible qu’aujourd’hui, en lisant cet appel dramatique, il atteigne 100 000 morts.
Quand je me souviens que pendant la guerre du Vietnam, pendant plus de 20 ans, 58 000 vies de militaires américains ont été sacrifiées, je saisie l’étendue de la gravité de ce qui se passe dans mon pays. Cette horreur provoque l’indignation et la révolte. Et nous savons tous que les mesures de précaution et de restriction, adoptées dans tant d’autres pays, auraient pu empêcher une telle mortalité.
Ce génocide n’est pas le résultat de l’indifférence du gouvernement Bolsonaro. C’est intentionnel. Bolsonaro se complait de la mort des autres. Lorsque le député, dans une interview télévisée en 1999, il a déclaré: « Grâce au vote, vous ne changerez rien dans ce pays, rien, absolument rien! Cela ne changera, malheureusement, que si un jour nous entrons dans une guerre civile ici, et faisons le travail que le régime militaire n’a pas fait : tuer quelque 30 000 personnes. »
Votant en faveur de la destitution du président Dilma, il a offert son vote à la mémoire du tortionnaire le plus notoire de l’armée, le colonel Brilhante Ustra.
Parce qu’il est tellement obsédé par la mort, l’une de ses principales politiques gouvernementales est la libération du commerce des armes et des munitions. Interrogé à l’extérieur du palais présidentiel s’il ne se souciait pas des victimes de la pandémie, il a répondu : « Je ne crois pas à ces chiffres » (27/3, 92 morts); « nous mourrons tous un jour » (29/3, 136 décès); « et quoi? Qu’est-ce que tu veux que je fasse? ( 28/4, 5 017 décès).
Pourquoi cette politique nécrophile ? Dès le début, il a déclaré que l’important n’était pas de sauver des vies, mais de sauver l’économie. D’où son refus de décréter le confinement, de se conformer aux directives de l’OMS et d’importer des respirateurs et des équipements de protection individuelle. Il a été nécessaire que la Cour suprême délégue cette responsabilité aux gouverneurs et aux maires.
Bolsonaro n’a même pas respecté l’autorité de ses propres ministres de la Santé. Depuis février, le Brésil en a eu deux, tous deux démis pour avoir refusé d’adopter la même attitude que le président. Maintenant, à la tête du ministère, est nommé le général Pazuello, qui ne sait rien sur la santé. Il a essayé de cacher les données sur l’évolution du nombre de victimes du coronavirus ; il a désigné 38 militaires dans des fonctions importantes du ministère, sans la qualification requise; et il a annulé les entretiens quotidiens par lesquels la population recevait des conseils.
Il serait fastidieux d’énumérer ici combien de mesures pour libérer des ressources pour aider les victimes et les familles à faible revenu (plus de 100 millions de Brésiliens) n’ont jamais été mises en œuvre.
Les raisons de l’intention criminelle du gouvernement Bolsonaro sont évidentes. Que les personnes âgées meurent, pour sauver les ressources de la sécurité sociale. Que les personnes atteintes de maladies préexistantes meurent, pour sauver des ressources du SUS, le système de santé national. Laisser mourir les pauvres, pour économiser les ressources de Bolsa Família et d’autres programmes sociaux destinés aux 52,5 millions de Brésiliens vivant dans la pauvreté et aux 13,5 millions qui sont dans l’extrême pauvreté. (Données du gouvernement fédéral).
Insatisfait de ces mesures létales, le président a mis son veto le 3/7 au projet de loi qui imposait l’utilisation de masques dans les établissements commerciaux, les temples religieux et les établissements d’enseignement. Il a également opposé son veto à l’imposition d’amendes à ceux qui enfreignent les règles et à l’obligation du gouvernement de distribuer des masques aux plus pauvres, les principales victimes de Covide-19, et aux prisonniers (750 000). Ces vetos, cependant, ne l’emportent pas sur les lois locales qui établissent déjà l’utilisation obligatoire des masques.
Le 8/7, Bolsonaro a annulé certaines parties de la loi, adoptée par le Sénat, qui obligeait le gouvernement à fournir de l’eau potable et des matériaux d’hygiène et de nettoyage, à installer l’accès à internet et distribuer des paniers de base, des semences et des outils agricoles, aux villages autochtones. Il a également opposé son veto au financement d’urgence pour la santé des autochtones, ainsi que la facilitation de l’accès pour les autochtones et les quilombolas à une aide d’urgence de 600 reais (100 euros ou 120 dollars) pendant trois mois. Il a également mis son veto à l’obligation du gouvernement d’offrir plus de lits d’hôpitaux, de ventilateurs et de machines d’oxygénation du sang aux peuples autochtones et aux quilombolas.
Les peuples indigènes et les quilombolas ont été décimés par la dévastation socio-environnementale croissante, en particulier en Amazonie.
S’il vous plaît, divulguer autant que possible ce crime de lèse-humanité. Il est nécessaire que les dénonciations de ce qui se passe au Brésil atteignent les médias de votre pays, les réseaux numériques, le Conseil des droits de l’homme de l’ONU à Genève et la Cour internationale de La Haye, ainsi que les banques et les entreprises qui hébergent des investisseurs si convoités par le gouvernement Bolsonaro.
Bien avant the Economist, dans les réseaux numériques, je traite le président de BolsoNero – alors que Rome est en flammes, il joue de la lyre et fait la promotion de la chloroquine, un remède sans efficacité scientifique contre le nouveau coronavirus. Cependant, ses fabricants sont des alliés politiques du président…
J’apprécie votre intérêt sympathique à diffuser cette lettre. Seule la pression de l’étranger sera en mesure d’arrêter le génocide qui afflige notre bien-aimé et merveilleux Brésil.
Fraternellement
Frère Betto
Frei Betto est un frère dominicain et écrivain, conseiller de la FAO et des mouvements sociaux.
CASTELLANO – VERSÃO EM CASTELHANO
CARTA A AMIGOS Y AMIGAS EN EL EXTRANJERO
Frei Betto
Queridos amigos:
¡En Brasil hay un genocidio! Al momento de escribir, 16/7, Covid-19, que surgió aquí en febrero de este año, ya ha matado a 76,000 personas. Ya hay casi 2 millones de infectados. Para el domingo 19 de julio, alcanzaremos 80,000 muertes. Es posible que ahora, cuando leas este llamamiento dramático, ya alcances los 100 mil.
Cuando recuerdo que en la Guerra de Vietnam, durante más de 20 años, se sacrificaron 58,000 vidas del personal militar de EE. UU., Tengo el alcance de la seriedad de lo que está sucediendo en mi país. Este horror causa indignación y revuelta. Y todos sabemos que las medidas cautelares y restrictivas, adoptadas en tantos otros países, podrían haber evitado tal número de muertos.
Este genocidio no es el resultado de la indiferencia del gobierno de Bolsonaro. Es intencional. Bolsonaro está satisfecho con la muerte de otros. Cuando un diputado federal, en una entrevista televisiva en 1999, declaró: “¡Al votar no cambiarás nada en este país, nada, absolutamente nada! Desafortunadamente, solo cambiará si un día vamos a una guerra civil aquí, y hacemos el trabajo que el régimen militar no hizo: matar a unos 30 mil ”.
Al votar a favor del juicio político del presidente Dilma, ofreció su voto en memoria del torturador más notorio del ejército, el coronel Brilhante Ustra.
Debido a que está tan obsesionado con la muerte, una de sus principales políticas gubernamentales es liberar el comercio de armas y municiones. Cuando se le preguntó en la puerta del palacio presidencial si no le importaban las víctimas de la pandemia, respondió: “No creo en estos números” (27/03, 92 muertes); “Todos moriremos algún día” (29/3, 136 muertes); “¿Y qué? ¿Qué quieres que haga?” (28/4, 5,017 muertes).
¿Por qué esta política necrofílica? Desde el principio, declaró que lo importante no era salvar vidas, sino la economía. De ahí su negativa a declarar un cierre, cumplir con las pautas de la OMS e importar respiradores y equipo de protección personal. La Corte Suprema tuvo que delegar esta responsabilidad a los gobernadores y alcaldes.
Bolsonaro ni siquiera respetó la autoridad de sus propios ministros de salud. Desde febrero, Brasil ha tenido dos, ambos despedidos por negarse a adoptar la misma actitud que el presidente. Ahora, al frente del ministerio, está el general Pazuello, que no entiende nada sobre el tema de la salud; trató de ocultar los datos sobre la evolución del número de víctimas del coronavirus; empleó a 38 militares en funciones clave del ministerio, sin las calificaciones requeridas; y canceló las entrevistas diarias para las cuales la población recibió orientación.
Sería exhaustivo enumerar aquí cuántas medidas para liberar recursos para ayudar a las víctimas y las familias de bajos ingresos (más de 100 millones de brasileños) nunca se han implementado.
Las razones de la intención criminal del gobierno de Bolsonaro son evidentes. Dejar morir a los ancianos para ahorrar recursos de la Seguridad Social. Dejar morir las enfermedades preexistentes para ahorrar recursos del SUS, el sistema nacional de salud. Permitir que los pobres mueran para ahorrar recursos de Bolsa Família y otros programas sociales para los 52.5 millones de brasileños que viven en la pobreza y los 13.5 millones que están en la pobreza extrema. (Datos del gobierno federal).
Mucho antes de que lo hiciera el periódico The Economist, en las redes digitales trato al presidente como BolsoNero, mientras Roma arde, él toca la lira y anuncia cloroquina, una droga sin eficacia científica contra el nuevo coronavirus. Sin embargo, sus fabricantes son aliados políticos del presidente …
Le agradezco su amable interés en difundir esta carta. Solo la presión del exterior podrá detener el genocidio que está asolando a nuestro amado y maravilloso Brasil.
Fraternalmente,
Frei Betto
Frei Betto es un fraile dominico y escritor, asesor de la FAO y los movimientos sociales.
ITALIANO – Versão em Italiano
LETTERA AGLI AMICI E AMICHE ALL’ESTERO
Frei Betto
Care amiche e cari amici,
in Brasile si sta consumando un genocidio! Mentre vi scrivo, 16 luglio, il Covid-19, apparso da queste parti nel febbraio di quest’anno, ha già ucciso 76mila persone. Sono già 2 milioni le persone contagiate. Entro domenica prossima, 19 luglio, arriveremo a 80 mila vittime. È verosimile che in questo momento, mentre state leggendo questo mio drammatico appello, si raggiunga la soglia dei 100mila morti.
Quando penso che nella guerra del Vietnam, durata 20 lunghi anni, sono state sacrificate le vite di 58 mila militari statunitensi, mi rendo conto della gravità di quanto sta accadendo nel mio paese. Questo orrore è causa di indignazione e ribellione. E sappiamo tutti che le misure precauzionali e restrittive, adottate da tanti altri paesi, sarebbero state in grado di evitare un così elevato numero di perdite.
Questo genocidio non scaturisce dall’indifferenza del governo Bolsonaro. È intenzionale. Bolsonaro si compiace dell’altrui morte. Quando era deputato federale, durante un’intervista per la televisione, nel 1999, aveva dichiarato: “Con il voto, non cambierete niente in questo paese, niente, assolutamente niente! Purtroppo, qualcosa cambierà solo se un giorno inizieremo una guerra civile, svolgendo il lavoro che il regime militare non ha fatto: ossia uccidendo circa 30mila persone”.
Ha dedicato il suo voto a favore dell’impeachment della presidente Dilma, alla memoria del più noto torturatore dell’esercito, il colonnello Brilhante Ustra.
È talmente ossessionato dalla morte, che una delle sue principali politiche di governo è la liberalizzazione del commercio di armi e munizioni. Interrogato, sulla porta del palazzo presidenziale, se non fosse dispiaciuto per la morte delle vittime della pandemia, ha risposto: “Non credo a questi numeri” (27/3, 92 morti); “Un giorno moriremo tutti” (29/3, 136 morti); “E allora? Cosa volete che faccia?” (28/4, 5.017 morti).
Ma perché questa politica di morte? Fin dall’inizio, Bolsonaro dichiarava che l’importante non era salvare vite, ma l’economia. Da qui il suo rifiuto a decretare il lockdown, a recepire le linee guida dell’OMS, a importare respiratori e dispositivi di protezione individuale. È dovuta intervenire la Suprema Corte, delegando tali responsabilità a governatori degli stati e sindaci.
Bolsonaro non ha rispettato nemmeno l’autorità dei suoi stessi ministri della Sanità. Da febbraio il Brasile ne ha avuti due, entrambi dimessi per essersi rifiutati di adottare lo stesso atteggiamento del presidente. A capo del ministero c’è oggi il generale Pazuello, che non capisce niente in materia di salute; che ha cercato di occultare i dati sull’evoluzione del numero di vittime da coronavirus; che ha introdotto 38 militari a ricoprire importanti ruoli all’interno del ministero, senza che avessero le qualifiche necessarie; e ha cancellato le conferenze stampa quotidiane, attraverso cui la popolazione era informata e riceveva orientamenti.
Basterebbe enumerare qui i molti provvedimenti per destinare risorse in favore delle vittime e delle famiglie di basso reddito (oltre \100 milioni di brasiliani) mai messi in atto.
I motivi dell’intenzionalità criminale del governo Bolsonaro sono evidenti. Lasciar morire gli anziani, per risparmiare risorse della Previdenza Sociale. Lasciar morire i portatori di pregresse patologie, per risparmiare risorse del SUS, il Sistema nazionale sanitario pubblico. Lasciar morire i poveri, per risparmiare risorse destinate al programma Bolsa Família e agli altri programmi sociali rivolti ai 52,5 milioni di brasiliani che vivono in povertà, e ai 13,5 milioni che si trovano in situazione di povertà estrema (dati del Governo federale).
Non pago di tali funesti provvedimenti, il presidente ha ora stralciato, dal decreto emanato il 3 luglio, l’articolo che introduceva l’uso obbligatorio delle mascherine negli esercizi commerciali, nei luoghi di culto e nelle scuole. Ha inoltre eliminato l’obbligo di multa per il mancato rispetto delle norme e l’obbligo da parte del governo di distribuire mascherine ai più poveri, principali vittime del Covid-19, e ai detenuti (750mila). Tali emendamenti non annullano tuttavia le legislazioni locali che hanno già previsto l’uso obbligatorio delle mascherine.
L’8 luglio, Bolsonaro ha stralciato degli articoli dalla legge, approvata dal Senato, che prevedevano per il governo l’obbligo di fornire acqua potabile e prodotti per igiene e pulizia, l’installazione di internet e la distribuzione di beni di prima necessità, semi e attrezzi agricoli, ai villaggi indigeni. Ha inoltre cancellato i fondi per l’emergenza destinati alla salute dei popoli indigeni, oltre che per facilitare l’accesso di indigeni e popolazioni quilombola, al bonus emergenza di 600 real (circa 100 euro) per tre mesi. Ha ancora cancellato l’obbligo a carico del governo di offrire un maggior numero di posti letto negli ospedali, ventilatori e macchinari per l’ossigenazione del sangue ai popoli indigeni e quilombola.
Indigeni e quilombola sono stati decimati dalla crescente devastazione socioambientale, in particolar modo in Amazzonia.
Vi prego di divulgare al massimo questo crimine contro l’umanità. Bisogna che queste informazioni raggiungano la stampa dei vostri paesi, le reti sociali, il Consiglio per i diritti umani delle Nazioni Unite a Ginevra, e la Corte internazionale di giustizia dell’Aia, nonché le banche e le imprese che accolgono investitori, molto ambiti dal governo Bolsonaro.
Da molto prima di The Economist, sono solito chiamare BolsoNero il presidente – mentre Roma brucia, lui suona la lira, facendo propaganda alla clorochina, rimedio senza alcuna efficacia scientificamente provata contro il nuovo coronavirus. Ma i produttori sono i suoi alleati politici…
Vi ringrazio della vostra solidarietà e vi prego di divulgare questa lettera. Solo una pressione dall’estero potrà riuscire ad arrestare il genocidio che si sta consumando nel nostro amato e meraviglioso Brasile.
Fraternamente,
Frei Betto
Frei Betto è frate domenicano e scrittore, consulente della FAO e di movimenti sociali.