Duas crianças Yanomami aparecem mortas depois de ataque de garimpeiros

IHU

Duas crianças Yanomami foram encontradas mortas após a investida armada de garimpeiros contra a comunidade Palimi ú. Para se proteger do intenso tiroteio na segunda-feira (10), os indígenas, assustados, se refugiaram na mata. Dois meninos de 1 e 5 anos, segundo as lideranças Yanomami, se perderam e, embora a comunidade tenha realizado buscas nos dias seguintes, seus corpos só foram encontrados boiando no rio Uraricoera em 12 de maio.

A reportagem é de Emily Costa, publicada por Amazônia Real, 15-05-2021.

“No dia 11, eles (Yanomami) começaram a procurar as crianças. Acharam várias, mas sobraram duas. Então no dia 12 as duas crianças começaram a boiar no rio grande (rio Uraricoera)”, disse Dário Yanomami, presidente da Hutukara Associação Yanomami. Os corpos das crianças estão no mato, no jiral, secando, de acordo com o ritual dos povos Yanomami. O relato das mortes foi feito pelas lideranças ao Ministério Público Federal (MPF), na tarde deste sábado (15), em Boa Vista, capital de Roraima.

Pouco antes, os indígenas Yanomami da comunidade Palimi ú falaram à imprensa pela primeira vez em uma coletiva na sede da Caritas Diocesana de Roraima. Eles foram até a capital para pedir proteção às autoridades e relatar os ataques que estão sofrendo, cada vez mais violentos.

A própria vinda de uma comitiva de oito lideranças de Palimi ú (cinco homens e três mulheres) foi cercada pelo pânico. Antes de sair da comunidade para pegar o voo de uma hora com destino à Boa Vista, os indígenas relataram que precisaram se esconder quando garimpeiros armados invadiram a comunidade às margens do Uraricoera. Este tipo de ação tem ocorrido todos os dias desde o dia 10. A Polícia Federal investiga a participação de garimpeiros ligados à facção PCC nos dois ataques (do dia 10 contra os Yanomami e no dia 12 contra os agentes da PF).

No relato dos Yanomami, nas primeiras horas da manhã deste sábado, um grupo de garimpeiros desembarcou na comunidade Palimi ú e os indígenas se refugiaram na mata. Os invasores chegaram a entrar nas casas e depois foram embora. Mas deixaram rastros de sua passagem. “Tinha munição deles caída, tudo assim, o pacote deles, caíram lá, a gente trouxe para cá, para mostrar”, disse Ricardo Palimithëri, outra liderança.

Segundo Dario Yanomami, “de segunda (dia 10) até sábado a intimidação continua lá (em Palimi ú), não passou, o clima continua tenso, ameaça, a rotatividade lá do garimpo, chegando, todo dia, de 45 e 40 barcos chegando”.

 

Proteção urgente

 

Timóteo Palimithëri disse que são os próprios Yanomami que precisam proteger Palimi ú de novos ataques, já que não há a presença de forças federais na comunidade. Ele pediu proteção urgente.

 

Timóteo Palimithëri durante a coletiva de lideranças Yanomami na sede da Cáritas em Boa Vista (Foto: Yolanda Mêne/Amazônia Real)

 

“Nós mesmos, Yanomami, de segurança, estamos lá. Nós mesmos. Não é Exército, Polícia Militar. Não estão mesmo. Por isso estamos aqui falando, vocês tem que aproveitar isso para ter segurança lá, hoje mesmo, tem que mandar. Nós, Yanomami, mesmo estamos vigiando as crianças, os idosos, para toda maloca”, disse Timóteo.

“Estamos com sono, não estamos quase aguentando, por favor, urgente, vocês vão ver agora, tá? E Polícia militar também, Funai também tem que ter força e atender o nosso sofrimento”, acrescentou Timóteo. “Se não tiver Exército, Polícia, vai morrer bastante indígenas, vai morrer mesmo, com certeza, e nós não queremos.”

Ricardo Palimithëri disse que o clima na comunidade é de permanente tensão. Durante a madrugada deste sábado, a comunidade relatou ter visto 45 barcos passando pelo rio no mesmo local dos recentes tiroteios entre 20 horas de sexta-feira e 5 horas deste sábado. O relato é semelhante ao da noite de quarta-feira (12). Ele destacou que os garimpeiros envolvidos nos ataques a tiros são “seguranças” de garimpeiros e andam com armamentos pesados.

“Eles começam sete horas da noite, carregando os karts. Têm muitas armas, assim, não sei quando eles voltam, na mesma hora, eles voltam de novo de noite. Eles não têm armas leves não, arma pesada. Eles são arma pesada”, descreveu Ricardo.

 

Direito à vida

 

Na língua Yanomami, Fernando Palimithëri, outra liderança de Palimi ú, afirmou que a comunidade tenta proteger mulheres e crianças, retirando-as da margem do rio Uraricoera, por onde passam os garimpeiros armados. “Não queremos que eles morram na frente do tiroteio, que as metralhadoras matem nossas crianças. É direito à vida”, disse, conforme a tradução de Dário Yanomami. Fernando é pai do menino de 5 anos que morreu depois da invasão de garimpeiros.

 

Fernando Palimithëri durante a coletiva de lideranças Yanomami na sede da Cáritas em Boa Vista (Foto: Yolanda Mêne/Amazônia Real)

 

As três mulheres Yanomami presentes na coletiva, que foi acompanhada por representantes do Instituto Socioambiental, também falaram. “Não queremos mais tomar água suja (poluída pela atividade do garimpo). Eu estou muito revoltada, muito brava, essa é a minha mensagem”, disse Celia Yanomami, em sua língua nativa, também com tradução de Dário.

Os Yanomami também negaram que estivessem cobrando pedágio para passagem de pessoas e cargas na barreira instalada no rio Uraricoera, próximo à comunidade Palimi ú, conforme afirmam os garimpeiros. E afirmaram que o estopim para o primeiro ataque à comunidade foi a apreensão de 990 litros de combustível que seriam levados mais para cima no rio Uraricoera, em um garimpo na região da cachoeira do Tucuxi.

Durante a coletiva à imprensa, foi apresentado um documento de 10 de fevereiro de 2021 que, segundo Dário, foi entregue ao MPF. No ofício, a comunidade já solicitava atenção urgente para a retirada dos garimpeiros, que estão ilegalmente na terra indígena.

“Nós, povos indígenas, viemos sempre denunciando desde 2012, até hoje, morreram 578 parentes Yanomami contaminados, e nenhuma medida foi tomada até hoje, onde estão destruindo nossos rios, poluindo águas, peixes e todos os animais que vivem ali além do nosso povo”, diz trecho do documento da comunidade também endereçado à Polícia Federal (PF).

Assessoria de Imprensa da PF informou que o foco da ação policial é promover a retirada de garimpeiros da Terra Indígena Yanomami. E que já havia uma tropa de Manaus destinada a realizar essa operação, mas que agora “uma tropa do nosso grupo de intervenção da Superintendência de Roraima está em condições de ir fazer o mesmo trabalho de desintrusão. Desde ontem estão esperando o tempo abrir para irem”, informou o órgão.

https://www.youtube.com/watch?v=qEs1gywxQ70
 

 

 

Leia mais

fonte: http://www.ihu.unisinos.br/609346-duas-criancas-yanomami-aparecem-mortas-depois-de-ataque-de-garimpeiros


 

Após ataque a bomba de garimpeiros, Yanomamis enviam 4º pedido de socorro ao Exército

Duas crianças da comunidade Palimiu morreram durante atendado sofrido na segunda-feira passada (10) 

Martha Raquel
Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

 

Mães com filhos no colo e crianças fogem quando garimpeiros ilegais começam a atirar – Reprodução /Divulgação

Após uma semana de ataques intensos de garimpeiros ilegais contra a comunidade Palimiu, em Roraima, que resultaram na morte de duas crianças, a Hutukara Associação Yanomami (HAY) enviou um novo ofício à Fundação Nacional do Índio (Funai), à Polícia Federal em Roraima (PF/RR), à 1ª Brigada de Infantaria da Selva do Exército (1ª Bis) e ao Ministério Público Federal em Roraima (MPF-RR), pedindo segurança para o local, conhecido como Base dos Americanos. 

É o quarto pedido de socorro desde o início do mês. Os Yanomami vêm sofrendo ataques diários de garimpeiros ilegais que juram vinganças após os indígenas interceptarem uma carga de quase mil litros de combustível no final de abril. 

::Yanomamis denunciam morte de duas crianças durante ataque de garimpeiros em Roraima::

No último 11 de maio, agentes da Polícia Federal estiveram na comunidade localizada na Terra Indígena Yanomami para verificar a situação e foram recebidos por tiros pelos garimpeiros que espreitavam na região. 

No vídeo gravado pelos indígenas, é possível ouvir os disparos contra a comunidade. 


 

Garimpeiros jogaram bombas de gás lacrimogêneo e alvejaram comunidade 

Segundo Dário Kopenawa, vice-presidente da associação, os indígenas da comunidade Palimiu estão fracos e ainda sentem os impactos das bombas de gás lacrimogêneo jogadas pelos garimpeiros no domingo (16). 

No documento, a entidade reitera o pedido de apoio logístico e instalação de posto emergencial na comunidade de Palimiu para manutenção da segurança na região.

No dia 16 de maio, pela noite, às 21:40, recebemos ligação da comunidade de Palimiu comunicando novo ataque de garimpeiros à comunidade. Segundo disseram os Yanomami, eram 15 barcos de garimpeiros se aproximando contra a comunidade. 

Os Yanomami disseram que além dos tiros, havia muita fumaça e que seus olhos estavam ardendo, indicando o disparo de bombas de gás lacrimogêneo contra os indígenas. Os Yanamami estavam muito aflitos, e gritavam de preocupação ao telefone. Ao fundo, era possível escutar o som dos tiros. A situação era grave. 

Reiteramos o pedido aos órgãos que atuem com urgência dentro de seu dever legal para impedir a continuidade da espiral de violência no local e garantir a segurança para a comunidade Yanomami de Palimiu, antes que conflitos de mais grave natureza ocorram.

Em particular, solicitamos que urgentemente:

(i) Proceda-se com a instalação de um posto avançado emergencial na comunidade de Palimiu, com o objetivo manter a segurança no local e no rio Uraricoera,

(ii) O Exército brasileiro, por meio da 1ª Brigada de Infantaria da Selva, promova apoio logístico imediato para ações dos demais órgãos públicos para garantir a manutenção da segurança no local“, diz o ofício. 

Comunidade também solicita segurança para os isolados Moxihatëtëa

A Hutukara solicita segurança não só para a comunidade Palimiu, mas, também, para os isolados Moxihatëtëa. Segundo a organização, uma base de garimpo ilegal está localizada a 15 km da comunidade, também situada em Roraima, e coloca em risco os indígenas, que negam contato com qualquer pessoa externa.

Assim, o pedido por garantia de segurança, da lei e da ordem por parte do Estado, segundo a associação, é total, já que indígenas de todo o território Yanomami estão vulneráveis aos ataques dos garimpeiros. 

::Ameaças, estupros e prostituição: os impactos do garimpo ilegal para as mulheres::

A expectativa dos indígenas é que o Exército atenda à solicitação por segurança, já que mulheres e crianças estão na rota de tiro do garimpo ilegal. 

Segundo membros da comunidade, até o momento não há qualquer logística de segurança operando na defesa dos indígenas. Questionados por e-mail, o Exército, a FunaiI e nem a Polícia Federal responderam quais medidas estão sendo tomadas. 

Com base em pedido do Ministério Público Federal em Roraima, a Justiça Federal determinou na última sexta-feira (14) que a União mantenha efetivo armado, de forma permanente, na comunidade Palimiú, na Terra Indígena Yanomami em Roraima, para evitar novos conflitos e garantir a segurança de seus integrantes.

Na decisão, foi estabelecido prazo de 24 horas para que a União informe e comprove nos autos o envio de tropa para a comunidade sob pena de multa a ser fixada. Também foi determinado à Funai que auxilie as forças de segurança no contato com os indígenas e no gerenciamento das relações interculturais.

O pedido foi feito pelo Ministério Público Federal na quarta-feira (12), na ação civil pública ajuizada no ano passado, na qual pediu a total desintrusão de garimpeiros na região.

Outro lado

Brasil de Fato procurou o Exército Brasileiro, o ministério da Saúde, a PF, a Funai, o MPF-RR e o Ministério da Defesa pra comentar o assunto. Até a publicação desta reportagem, apenas os dois primeiros haviam respondido. Veja abaixo.

Ministério da Saúde
 

O Ministério da Saúde, por meio do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Yanomami, informa que os profissionais da Equipe Multidisciplinar de Saúde Indígena (EMSI) que se encontravam no Polo Base da comunidade Palimiú, na Terra Indígena Yanomami, foram retirados, pelo DSEI, por falta de segurança no local, na terça-feira, 11 de maio. 

A retirada foi  acompanhada por agentes da Polícia Federal e pelo Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi) Yanomami para garantir a integridade física dos profissionais de saúde. A unidade de atendimento será reaberta tão logo seja possível atuar em segurança na localidade. Em caso de urgência ou emergência durante este período, o DSEI realizará atendimento pontual e a comunidade não ficará desassistida.

Exército Brasileiro

Este Comando Militar de Área informa:

O Exército Brasileiro ainda não tem informações precisas sobre o incidente, pois o mesmo encontra-se em investigação pelas autoridades competentes.

O Exército Brasileiro, quando acionado, prestou apoio logístico e de segurança à ação da Polícia Federal e da FUNAI – Fundação Nacional do Índio. No momento, aguarda-se novas demandas dos órgãos responsáveis para prosseguir no apoio.

O helicóptero solicitado pela Polícia Federal foi prontamente disponibilizado e a missão dos agentes da Polícia Federal foi cumprida.

A partir de agora, o Exército Brasileiro aguarda as investigações das autoridades competentes e novas demandas dos órgãos responsáveis para prosseguir no apoio.

Atenciosamente, 

Seção de Comunicação Social do Comando Militar da Amazônia

 

Edição: Vinicius Segalla

fonte: https://www.brasildefato.com.br/2021/05/17/apos-ataque-a-bomba-de-garimpeiros-yanomamis-enviam-4-pedido-de-socorro-ao-exercito

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *