Indicadores analisam o epicentro de disseminação, a taxa de mortalidade e a disponibilidade de leitos de UTI.
A reportagem é de Luanda Nera, publicada por EcoDebate, 08/06/2020.
Durante a pandemia do Covid-19, o Programa Cidades Sustentáveis apresenta uma série de dados e indicadores que ajudam a entender a relação entre as causas estruturantes da desigualdade e a doença.
Nos últimos meses, as capitais se tornaram o epicentro da disseminação do novo coronavírus no Brasil. 60% das mortes e casos de Covid-19 estão nas capitais, onde 22% dos brasileiros moram. A mortalidade nas capitais é quase 3x maior do que a média do país. Ao mesmo tempo, esses são locais de atração de muitas pessoas que buscam tratamento para a doença, principalmente nas regiões Norte e Nordeste.
Fortaleza, Recife e São Luís são as cidades que, nesta ordem, apresentam a maior taxa de incidência do novo coronavírus – ou seja, a relação entre o número de casos confirmados e o total da população. São dados que se tornam ainda mais preocupantes quando se observa que essas cidades também têm muitas pessoas morando em favelas e outros assentamentos precários.
Como muitos especialistas vêm alertando, a falta de emprego, renda e acesso a bens e serviços básicos e à infraestrutura urbana de qualidade aumentam substancialmente a vulnerabilidade dessas populações aos efeitos do novo coronavírus.
As capitais brasileiras que têm mais pessoas abaixo da linha da pobreza também apresentam uma elevada taxa de mortalidade por Covid-19. Em São Luís, Recife e Manaus, onde mais de 30% da população vive abaixo da linha da pobreza (conforme definição do Banco Mundial), foram registrados mais de 40 óbitos para cada 100 mil habitantes.
Mais de 52 milhões de pessoas (25% da população) vivem em situação de extrema pobreza. Nas capitais, são mais de 8,2 milhões de pessoas em vulnerabilidade (18% da população dessas cidades). As 16 capitais com o maior percentual de pessoas abaixo da linha da pobreza concentram 27% dos casos e 28% dos óbitos pela doença no Brasil.
Além disso, a capacidade de atendimento das UTIs também tem relação direta com a mortalidade nas capitais brasileiras. O acesso à infraestrutura dos sistemas de saúde e as grandes distâncias agravam a situação da população onde a oferta de leitos de UTI é menor.
As três capitais com menor oferta de leitos de UTI estão na Região Norte, onde também se concentra grande parte das comunidades tradicionais e indígenas do país.
Boa Vista, Rio Branco e Macapá são as três capitais com a pior relação de leitos de UTI por 100 mil habitantes. Boa Vista é a capital que registrou o maior aumento da mortalidade em apenas um mês: 1.975% entre os dias 27 de abril e 27 de maio. Belém (1.684%) e Porto Velho (1.200%) aparecem em seguida e em Rio Branco o crescimento do número de óbitos foi de 880%.
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