A Encíclica é uma carta enviada pelo Papa a todos os bispos da Igreja Católica no mundo sobre um determinado assunto que deseja a atenção. A Laudato Si’, Louvado Seja, a primeira produzida integralmente pelo Papa Francisco e que neste mês de maio completa cinco anos de publicação, mostra a preocupação do pontífice com o meio ambiente. O título foi inspirado no “Cântico das Criaturas”, de São Francisco de Assis, conhecido mundialmente pelo amor aos animais e a natureza.
No texto, Francisco faz um diagnóstico dos males do planeta: poluição, mudanças climáticas, desaparecimento da biodiversidade. Na Encíclica, o pontífice pede ainda investimento na formação para uma ecologia integral e reitera que o cuidado começa nos pequenos gestos, como por exemplo, nos atos de não desperdiçar água e alimento. Em vídeo gravado sobre os cinco anos da Carta Encíclica, dom Walmor Oliveira de Azevedo, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), ressaltou que o documento é uma profética convocação para que a humanidade siga na direção de uma “ecologia integral”.
“Isso significa compreender a interdependência existente entre todos os seres vivos do planeta, é dever cristão buscar novos hábitos e modelos econômicos capazes de conciliar o consumo e o progresso com a preservação dos recursos naturais. A preservação da vida exige que todos sigam juntos na busca pela ecologia integral”, afirmou dom Walmor.
Assista em https://www.youtube.com/watch?v=yXaOOaXRayM&feature=youtu.be
A Laudato Si é dividida em seis capítulos, seguidos de duas orações escritas pelo próprio Papa (uma delas intitulada Oração pela Nossa Terra). No primeiro capítulo, o Papa faz um apanhado geral sobre “o que está acontecendo com a nossa casa”, resumindo as aflições ambientais do mundo amparado na ciência.
No segundo, “O Evangelho da Criação”, ele traça uma argumentação teológica sobre as ligações entre ser humano e natureza. No terceiro, aborda as raízes humanas da crise ecológica; no quarto, discorre sobre sua “Ecologia Integral”. No quinto, apresenta seu chamado à ação, inclusive política, no âmbito internacional, mas também no dos governos locais. No sexto, trata de educação, cultura e “espiritualidade ecológica”.
Celebrações
O Papa Francisco convidou os fiéis a celebrarem a Semana Laudato Si’, de 16 a 24 de maio de 2020, para marcar os cinco anos da publicação da Encíclica. No Brasil e no mundo, diversas iniciativas estão sendo preparadas para o momento de celebração do documento que convida a refletir sobre o futuro do planeta.
Entre os dias 16 e 25 de maio, a Comissão Episcopal Pastoral Especial para Ecologia Integral e Mineração da CNBB promove a ‘Semana Laudato Si’, 5 anos: Ecologia Integral e Mineração’. Será possível acompanhar as ações pela página da CNBB no Facebook e YouTube/cnbbnacional. Durante esses dias, a comissão vai realizar debates temáticos diários sobre a encíclica com representantes da comissão, professores e pesquisadores, membros do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Comissão Pastoral da Terra (CPT) e da Comissão Pastoral da Pesca (CPP). Saiba mais (aqui)!
A Comissão Episcopal Especial para a Amazônia da CNBB e a Rede Eclesial Pan-Amazônica/REPAM-Brasil estão organizando uma programação para ajudar as comunidades a viverem esse momento. Roteiros celebrativos e de reflexão, materiais para as redes sociais e podcasts com temas da encíclica estão sendo preparados e serão disponibilizados no site e mídias da REPAM-Brasil. Confira (aqui)!
Atendendo ao convite do Papa Francisco para participar da Semana Laudato Si’, a Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude da CNBB apresenta nas redes sociais testemunhos e reflexões para quem quiser conhecer melhor e vivenciar o cuidado com a Casa Comum. Saiba mais (aqui)!
Comissão para Ecologia Integral da CNBB envia carta ao Papa sobre cuidados para um planeta doente
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Andressa Collet – Cidade do Vaticano
O Brasil também está vivendo o apelo do Papa Francisco para celebrar os 5 anos da Encíclica Laudato si’, que aborda a dimensão socioambiental da fé e da evangelização e tem ajudado a valorizar ainda mais a Ecologia Integral, isto é, o cuidado com o meio ambiente, mas também com o ser humano, em especial, as populações que vivem na Amazônia. No contexto da pandemia da Covid-19, “a defesa integral e integrada da criação” enfrenta ainda o problema da crise econômica que se aproxima, reforçando negativamente o drama dos pobres.
Carta ao Papa Francisco
Essa preocupação faz parte de uma carta enviada ao Papa Francisco neste mês e assinada pelo presidente e secretário da Comissão Especial para a Ecologia Integral e Mineração da CNBB, respectivamente, dom Sebastião Lima Duarte, bispo da diocese de Caxias, no Maranhão; e por dom Vicente de Paula Ferreira, bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte. Afinal, como já alertava o Pontífice na Laudato si’, “é impossível sermos saudáveis em um planeta doente”.
O documento aprofunda o tema afirmando que “a pandemia não é um simples acidente de percurso na história socioambiental do nosso mundo globalizado. Ela é o resultado de um conjunto de opções feitas ao longo dos últimos anos”, conectadas, por exemplo, “a um modo de produção e consumo que desmata, polui e aquece o planeta, que também empobrece uma parte crescente da humanidade”. O texto ganhou o título de “Ecologia Integral: um caminho de vida e de cura para um planeta doente. Lições e desafios da Encíclica Laudato si’ depois de 5 anos de sua publicação”. O presidente, dom Sebastião, explica:
”O Papa Francisco, na Laudato si’, nos ajuda a mudar esse parâmetro de que não é a dominação do meio ambiente, simplesmente na exploração extrativista e predatória, mas é o cuidado que a gente deve ter com essa obra de Deus, para que a gente pudesse usufruir dela e, particularmente, todos os povos da terra – os pobres, os povos tradicionais.”
O Brasil a partir da Laudato si’
O presidente da Comissão, então, exemplifica o que está sendo feito a partir do Brasil para ajudar nesse “caminho de vida e de cura” do nosso planeta doente. A Encíclica tem sido lida nas paróquias de todo o país e colocada em prática nas comunidades através de práticas pastorais da Igreja. Uma mobilização em prol da Casa Comum que também tem sido acolhida nas universidades e em ambientes sociais.
O bispo também cita outros documentos importantes para serem usados nesse processo, como a carta baseada na Laudato si’ do Celam, “Guardiões da Casa Comum”, e a própria “Querida Amazonia”, do Papa Francisco, que reflete a urgência de colocar em prática a Encíclica em diferentes âmbitos, não apenas no eclesial. Dom Sebastião, assim, lembra que um dos momentos mais importantes vividos durante essa caminhada de 5 anos da Encíclica foi o próprio Sínodo para a Amazônia que, no seu Documento Final, propôs várias conversões, especialmente, “a cultural e a conversão para a sinodalidade”.
O debate da Ecologia Integral
“Que esses possam ser um sinal de Deus”, afirma dom Sebastião, nestes tempos difíceis e de várias crises, inclusive a política no Brasil, com “muitas controvérsias e até mesmo de acirramentos”. O próprio documento lembra que “a Ecologia Integral nos ensina que tudo está interligado na Casa Comum”. Trata-se de um longo processo para construir uma nova civilização, com “linhas de orientação e de ação para mudar a cultura pautada no consumismo” e “que deve contar com a colaboração de lideranças políticas e religiosas de todo mundo”.
“A tentativa de mineração em áreas indígenas, que o governo está querendo impor, e é claro que isso vai trazer para nós, não só uma reflexão, mas uma presença muito ativa e solidária da Igreja e da Comissão para Amazônia, mas também a Comissão para a Ecologia Integral e Mineração da CNBB que tem publicado textos e colaborado com esse debate de uma Ecologia Integral, onde o meio ambiente e o ser humano são importantes, onde a Amazônia não seja simplesmente objeto da ganância e do lucro e também da exploração predatória, mas que se valorize os povos que ali vivem e a própria natureza, também com o direito que a natureza tem por si mesma de existir.”
A Semana Laudato si’ no Brasil
A conversão é exigente e profunda, lembra o documento enviado ao Papa, através de “uma aliança coletiva”, aquela da Ecologia Integral. “Seja em relação ao minério, ao petróleo, à água ou às florestas, é urgente passarmos a uma forma de vida pós-extrativista, inclusive pela profecia de uma Igreja que ouse retirar seus investimentos financeiros de todo tipo de extrativismo predatório! Precisamos reaprender a respeitar as dinâmicas metabólicas do planeta, o ritmo e os ciclos das águas, das estações, da vida”, fala o texto. A obra da criação, finaliza dom Sebastião, precisa estar a serviço de todos e não apenas de alguns grupos. A Igreja, como uma das responsáveis em cuidar dela, tem proposto o debate da conversão ecológica numa semana intensa de reflexão sobre o tema no Brasil porque, celebrar a Laudato si’ significa trazer suas denúncias, sonhos, intuições e propostas para o cotidiano da vida litúrgica e pastoral de nossa Igreja, numa continuidade fluida entre a formação, a ação e a celebração cristã”.
“Nós enviamos uma carta ao Papa Francisco, um texto que já foi publicado, e também falando da nossa programação que temos pela frente. No dia 21, por exemplo, teremos uma live importante com os cientistas que se inspiram na Laudato si’ e que estão nos ciclos universitários, ajudando a atualizar e a tornar presente o pensamento do Papa Francisco em relação à Casa Comum.”