Coronavírus: Brasil pode se tornar país com mais mortos em 29/7 se nada mudar, diz projeção usada pela Casa Branca

Se não houver nenhuma mudança significativa no avanço da pandemia no país, o Brasil pode superar os Estados Unidos em número de mortes de covid-19 no dia 29 de julho, aponta a projeção de um dos principais modelos matemáticos usados pela Casa Branca para definir suas estratégias. Nesse dia, o Brasil teria 137,5 mil mortos e os EUA137 mil.

A reportagem é publicada por BBC News Brasil, 11-06-2020.

Para tal, o número atual de mortes precisaria quase quadruplicar nos próximos 50 dias. Um avanço com uma magnitude dessas ocorreu nos últimos 30 dias: havia 10 mil mortes registradas em 9 de maio e 38 mil em 9 de junho.

Ao atingir esse patamar, o Brasil teria tanto o recorde mundial de mortos por covid-19 quanto o do número de mortes em um dia. Seriam 4.071, quase o dobro do recorde atual, que ocorreu no pico da pandemia nos Estados Unidos, em 14 de abril, com 2.262 mortes registradas. Se for considerada a taxa de mortes por 100 mil habitantes, o Brasil deve superar os EUA em 10 de julho.

As projeções foram feitas pelo Instituto de Métricas e Avaliação da Saúde (IHME) da Universidade de Washington, mas não necessariamente vão se concretizar. Elas se baseiam em diversas variáveis que mudam ao longo do tempo, como o número de casos confirmados e a adesão ao distanciamento social. De todo modo, essas simplificações da realidade servem de baliza para autoridades traçarem suas estratégias.

O pesquisador Theo Vos, professor de ciências de métricas de saúde do IHME, explica que “quanto mais distantes no tempo as projeções são, mais incerteza haverá, tendo em vista a dinâmica da doença e a capacidade que as medidas de contenção adotadas terão para afetar o curso da covid-19”.

Ele explicou à BBC News Brasil que uma das variáveis usadas no modelo matemático do IHME é a do quanto a doença está se espalhando, mais especificamente, o número de pessoas que são contaminadas por alguém infectado com o Sars-CoV-2.

 

Projeção da Universidade de Washington aponta que Brasil deve ultrapassar EUA em número de mortes em 29/7. Reprodução

Para estimar essa taxa de contágio, Vos afirma que os cálculos são atualizados e ajustados diariamente a partir do “número oficial de mortes registradas e internações hospitalares e das estimativas do número real de casos na comunidade (que podem ser calculadas observando resultados dos levantamentos de anticorpos, que indicam quem, principalmente no passado, teve a doença”).

A qualidade dos dados tem influência direta na capacidade de previsão dos cálculos, e o país vive nessa área um apagão, segundo palavras de alguns especialistas. Há poucos testes e sobrecarga do sistema de análise e registro oficial de pessoas doentes ou mortas.

A tendência atual é de aceleração da pandemia, ou seja, o Brasil ainda não atingiu o pico de casos, algo que, segundo pesquisadores, deve ocorrer em meados de agosto.

Essas projeções matemáticas de diversas universidades ao redor do mundo que têm sido divulgadas durante a pandemia levam em conta os dados disponíveis naquele momento — e o grau de confiabilidade varia muito entre os países.

Além disso, esse número de mortes divulgado pela Universidade de Washington leva em conta os índices atuais de distanciamento social, que varia de 34% a 47% de adesão a depender do Estado, mas o Brasil parece seguir três caminhos diferentes: reabertura, quarentena flexível e bloqueio total.

Estimativas sobre situação do país

Antes de tentar projetar o mais provável trajeto do Brasil durante a pandemia, os pesquisadores tentam entender a dimensão da situação atual. Mas isso não é uma tarefa simples.

O governo brasileiro não sabe ainda quantos leitos estão ocupados no país por pacientes com covid-19 nas redes pública e privada. O levantamento foi iniciado em meados de março, quando Luiz Henrique Mandetta era ministro ainda.

Também não se sabe ao certo o atual número de pessoas infectadas e mortas por covid-19 no país.

Segundo o Ministério da Saúde, 739.503 pessoas foram diagnosticadas com o novo coronavírus e 38.406 morreram em decorrência da covid-19. O Brasil registrou mais de 1,2 mil mortes diárias em 5 dos 10 primeiros dias de junho.

Mas estudos liderados pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) apontam que o número de pessoas que contraíram o vírus, mas não entraram nas estatísticas porque não foram testadas, pode ser de sete infectadas não testadas para cada diagnóstico oficial.

Há também subnotificação no número de mortes, de pessoas que morreram em decorrência de uma síndrome respiratória aguda grave (srag, quadro de sintomas no qual a doença do novo coronavírus se enquadra, assim como a gripe sazonal), mas não foram testadas para covid-19 ou os resultados estão atrasados. Já há mais de 6 mil mortes acima da média histórica de srag.

Reaberturas e lockdowns

espalhamento da covid-19 no Brasil começou pelas capitais e agora ganha força no interior do país. Hoje, praticamente todos os municípios do país com mais de 20 mil habitantes já registraram casos da doença. O restante pode não ter pessoas infectadas de fato ou enfrentar também problemas de subnotificação.

Para pesquisadores da UFPel, “existem várias epidemias num único país”, com patamares bastante diferentes de espalhamento da covid-19.

Parte dos Estados e municípios decidiu reabrir a atividade econômica apesar do número de casos estarem em alta e sem implementar o modelo adotado por outros países, que fizeram o mesmo movimento utilizando testes em massa na população e rastreamento e isolamento de infectados e das pessoas com as quais tiveram contato.

O principal fator para a reabertura é o impacto econômico da pandemia, que destruiu quase 8,6 milhões de empregos formais e informais no Brasil. A atividade despencou também por causa do fechamento de empresas e lojas e do medo das pessoas de saírem às ruas.

Prefeitura de São Paulo, por exemplo, decidiu reabrir lojas de rua, imobiliárias e shoppings nesta semana. Até pouco tempo atrás, o governador paulista, João Doria, falava em adotar um bloqueio total da circulação de pessoas, mas mudou sua postura e passou a defender a reabertura.

Por outro lado, o Rio de Janeiro vive um vaivém de decretos e decisões judiciais que ora permitem a reabertura, ora determinar o bloqueio total. Praia pode, mas não banho de mar. O governador fluminense, Wilson Witzel, autorizou a reabertura de bares e restaurantes, mas o prefeito da capital do RJ, Marcelo Crivella, barrou a retomada desse segmento econômico.

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fonte: http://www.ihu.unisinos.br/599889-coronavirus-brasil-pode-se-tornar-pais-com-mais-mortos-em-29-7-se-nada-mudar-diz-projecao-usada-pela-casa-branca


Brasil pode abrigar maior cemitério de vítimas da Covid-19 até fim de julho

Descaso de Bolsonaro frente à pandemia do Covid-19 deve elevar número de mortos para 137,5 mil até dia 29, superando os EUA. É o que aponta estimativa da Universidade de Washington, cujo modelo matemático de projeções é utilizado pela Casa Branca para planejamento estratégico de combate à doença. País atingiu nesta terça-feira (11) a marca de 40 mil óbitos e já contabiliza um total de 787. 489 infectados
 11/06/2020 17h49 – atualizado às 22h54
Divulgação

O país atingiu nesta terça-feira (11) a marca de 40 mil óbitos e já contabiliza um total de 787. 489 infectados

A tragédia da crise sanitária no Brasil, cujo número de mortos por Covid-19 cresce de modo avassalador e em velocidade cada vez mais galopante, pode transformar em breve o país no maior cemitério de vítimas da pandemia no mundo. O descaso e a negligência do governo Bolsonaro devem levar os índices de mortalidade a superar o dos EUA até o fim do próximo mês, segundo as últimas projeções da Universidade de Washington. De acordo com o modelo de estimativas, que é utilizado pela Casa Branca para o planejamento estratégico de combate à doença, o Brasil poderá ter 137,5 mil óbitos até 29 de julho caso mantenha a tática da inércia em relação à doença. No cenário desenhado pelo instituto, os EUA aparecem atrás, com 137 mil mortos.

À primeira vista, a projeção poderia soar exagerada – ou “histérica”, como Bolsonaro costumava referir-se às autoridades de saúde – mas basta um olhar atento à trajetória da pandemia desde o início para se chegar à conclusão de que ela é assustadoramente realista. Há um mês, no dia 10 de maio, o país tinha pouco mais de 11 mortos. Sem planejamento por parte do governo e com um Ministério da Saúde sem comando, em 30 dias o número foi quadruplicado. Segundo o mais recente balanço feito por um consórcio de veículos de imprensa junto às secretarias de Saúde e divulgado nesta quinta-feira (11), o  Brasil bateu a casa dos 40 mil óbitos por causa do coronavírus. Com 40.276 vítimas fatais, o país contabiliza um total de 787. 489 infectados.

Pelas projeções, o Brasil terá uma média de mais de 4 mil mortes diárias, podendo atingir cerca de 5,2 mil já no início de agosto, outro recorde mundial. No dia 4 de agosto, a contagem poderá saltar para 165 mil mortes, apenas uma semana depois de o país ultrapassar os EUA, de acordo com as estimativas. No atual ritmo de inércia pelo qual o país passa, com as autoridades ignorando a necessidade urgente da aplicação de testes em massa, as subnotificações também seguirão em alta, dificultando ainda mais as estratégias de combate. Segundo o Instituto de Métricas e Avaliação da Saúde (IHME) da universidade, o Brasil não terá testado nem 30 mil pessoas até dia 4 de agosto.

Ainda de acordo com as estimativas de pesquisadores, o pico de contágio da pandemia no Brasil deve ser atingido até meados de agosto. Reportagem publicada pela ‘ BBC News’ destaca que o  número de mortes divulgado pela Universidade de Washington baseia-se nos índices de isolamento social, que podem variar, “mas o Brasil parece seguir três caminhos diferentes: reabertura, quarentena flexível e bloqueio total”.

Reprodução

Cemitério em Manaus (AM)

Reabertura

Os números assustam mas as projeções não foram suficientes para impedir que dois grandes epicentros do país,  Rio de Janeiro e São Paulo, iniciassem processos de reabertura do comércio. As medidas de reabertura podem resultar em um desastre ainda maior nas semanas que virão. Na capital paulista, comércio de rua e shoppings já retomaram atividades. Ônibus foram vistos circulando lotados.

“Todos os países que enfrentaram a pandemia tiveram o cuidado de flexibilizar a economia quando as curvas do número de casos e de óbitos já começavam a descer. E, mesmo assim, com muito cuidado. Alguns desses países experimentaram novo aumento do número de casos e reavaliam como vão seguir daqui para frente”, avalia Raquel Stucchi, professora da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em depoimento ao portal ‘ Brasil de Fato’. Para ela, este não é o momento de uma flexibilização das medidas de isolamento social.

Antecipação

Para piorar o quadro, especialistas da Fiocruz constataram que a população das grandes cidades voltou a circular pelas ruas cerca de duas semanas antes do início da flexibilização programada por governadores e prefeitos. Os pesquisadores do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict/Fiocruz) utilizaram a ferramenta MonitoraCovid-19, que disponibilizou dados sobre a intensidade do trânsito de veículos, com base no aplicativo Waze e em técnicas de Big Data.

Foram coletados dados registrados entre 9 de março e 1º de junho em cinco regiões metropolitanas com altas taxas de infecção: São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Manaus e Porto Alegre. O estudo revelou que nas últimas duas semanas, houve um aumento médio de 20% nos engarrafamentos de trânsito nas cinco localidades, em especial Manaus e Porto Alegre. O temor é que, com uma alta do fluxo de veículos nas grandes cidades, o vírus possa espalhar-se para as periferias.

“Essas capitais podem exportar o vírus e importar doentes graves nas próximas semanas, devido ao relaxamento no isolamento social, como mostram os mapas de fluxo de internação”, afirma Diego Xavier, epidemiologista da Fiocruz e integrante do projeto MonitoraCovid-19, em depoimento à ‘Agência Fiocruz de Notícias’.

Segunda onda

Ao mesmo tempo em que desenha um cenário desolador para o Brasil, a Universidade de Washington também traça um panorama sombrio para os EUA nos próximos meses, o que também pode ser um vislumbre do que vem por aí. Segundo as estimativas do IHME, os EUA podem passar por uma segunda onda de contaminações em breve. De acordo com o instituto, a taxa de óbitos permanecerá em média no mesmo ritmo até o final de agosto, quando poderá entrar em uma segunda onda de contaminações em setembro, devido ao aumento da mobilidade.

O instituto prevê 169.890 mortes nos EUA até 1º de outubro, com uma possível variação de 133.201 a 290.222 óbitos. Alguns estados poderão entrar nessa segunda onda até antes. “Olhando para a frente, podemos ver onde estados precisam começar a planejar-se para uma segunda onda de COVID-19″, afirmou o diretor do IHME, Christopher Murray, em depoimento ao portal do instituto.

“Esperamos que nosso modelo esteja errado em função de medidas rápidas que governos e indivíduos possam adotar para reduzir a transmissão”, diz Murrray. “Se os EUA não conseguirem controlar o crescimento em setembro, poderemos enfrentar tendências de piora em outubro, novembro e nos meses seguintes, se a pandemia, como esperamos, seguir a sazonalidade da pneumonia”, alerta o pesquisador.

Da Redação, com informações de ‘G1’, ’BBC News’, ‘Brasil de Fato’, Fiocruz e Universidade de Washington

fonte: https://pt.org.br/brasil-pode-abrigar-maior-cemiterio-de-vitimas-da-covid-19-ate-fim-de-julho/

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