Conhecendo melhor o Texto-Base da Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021. Para não se deixar enganar pelas fake news dos falsos profetas

“Um texto cheio de espiritualidade, que nos conduz ao encontro com o Senhor na oração pessoal e comunitária, colocando no centro da reflexão a necessidade de conversão, que nos provoca a pensarmos e repensarmos cotidianamente nossa forma de estar no mundo. Sendo espiritual sem ser ‘espiritualista’, o texto nos leva a questionarmos sobre como nos envolvemos com as transformações sociais, econômicas, espirituais, ecológicas, individuais e coletivas, a fim de que sejamos, cada vez mais coerentes com os ensinamentos de Jesus nos Evangelhos. De fato, a CF quer nos ajudar a reconhecer que ‘o caminho para a maturidade cristã respeita e acolhe a diversidade e só alcança a plenitude mediante a cooperação mútua’ (Texto-base 138).”, escreve P. Adelson Araújo dos SantosSJ, Doutor em Teologia Espiritual e Professor na Pontifícia Universidade GregorianaRoma.

 

Eis o artigo.

Uma das primeiras coisas que aprendemos durante as aulas de Lógica, quando estudamos Filosofia, é a identificar quando alguém está a dizer uma verdade, ou quando o seu discurso é baseado somente em falácias, palavra de origem latina (do verbo fallere), cujo significado é enganar os outros com argumentos falsos. 

Pois bem, existem diversos tipos de falácias, mas uma das mais usadas é aquela conhecida como Argumentum ad personam  – ataque pessoal –, ou seja, quando alguém procura negar a veracidade de um discurso atacando, não o seu conteúdo, mas a pessoa que escreveu ou proferiu tal discurso. É o que temos visto acontecer nos últimos dias, em relação a um excelente documento apresentado pelos bispos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, o texto-base da Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2021, que está sendo violentamente atacado na internet, por pessoas e grupos que se apresentam como defensores da verdadeira doutrina católica, porque tal documento teria sido escrito por uma pastora protestante feminista, defensora do aborto, etc. 

Em outras palavras, os que acusam o texto da CF não apontam as falhas do documento em si – porque provavelmente nunca o leram – mas atacam somente quem, segundo eles, o escreveu. Fica evidente que estamos diante de um clássico caso de acusações falaciosas e logicamente incoerentes, porque não provam o que alegam, isto é, não mostram no texto onde está a heresia ou doutrina contra a fé. Assim, sem entrar na análise do conteúdo do texto-base da Campanha da Fraternidade, querem com suas falácias parecer convincentes para grande parte do público, que acaba acreditando, por não perceber que está sendo enganado com falsos argumentos. 

Não vale a pena, portanto, perder muito tempo com quem se utiliza de argumentos falsos para defender suas ideologias que, aliás, pouco tem de religiosas, espirituais e verdadeiramente cristãs e católicas. Pois, qualquer pessoa com um mínimo de formação teológica e honestidade intelectual que ler o texto-base da CF2021, ficará encantado com a riqueza da sua fundamentação na Sagrada Escritura e no magistério da Igreja Católica, que fala pela voz do Santo Padre Papa Francisco e de seus antecessores, como João XXIIIPaulo VIJoão Paulo II e Bento XVI.

O texto da Campanha da Fraternidade deste ano começa nos recordando, por exemplo, que a Quaresma, na tradição cristã, é um período de conversão e de autorreflexão. São 40 dias dedicados à oração, ao jejum, à partilha do pão e à conversão pela revisão de nossas práticas e posturas diante da vida, do Planeta e das pessoas. 

Em seguida, somos convidados ao arrependimento dos pecados cometidos e o reconhecimento de que esses pecados são uma ofensa ao Deus amor. O texto explica que a contrição não tem relação com o medo de ser castigado por Deus, mas é resultado da graça de Deus, que nos permite o reconhecimento de nossos pecados e o sincero arrependimento, Deus nos perdoa porque é amor misericordioso. 

Com o lema “Cristo é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade” (Ef 2,14),  frase que é uma “confissão de que a fé em Jesus Cristo não é motivo para divisões e conflitos, mas é a inspiração maior para a convivência e o diálogo” (Texto-Base 114), o texto valoriza o jejum como parte integrante da espiritualidade quaresmal, recordando que há muitas formas de jejuar, mas o jejum que agrada a Deus é apresentado pelo profeta Isaías, que nos questiona se jejuar é não “desatar os laços provenientes da maldade, desamarrar as correias do jugo, dar liberdade aos que estavam curvados, em suma, que despedaceis todos os jugos? Não é partilhar o teu pão com o faminto? E ainda? Os pobres sem abrigo tu os albergarás; se vires alguém nu, cobri-lo-ás: diante daquele que é a tua própria carne, não recusarás. Então a tua luz despontará como a aurora, e o teu restabelecimento se realizará bem depressa. Tua justiça caminhará diante de ti e a glória do Senhor será a tua retaguarda” (Is 58,6-8).

Com profundidade teológica, o texto-base destaca a importância do Espírito Santo como o grande animador e vivificador das comunidades cristãs, pois é ele “que nos movimenta para realizar gestos concretos em favor da paz que já temos em Cristo. É o Espírito Santo que abre nossos olhos, mentes e corações para que percebamos o sentido da afirmação da Carta aos Efésios que diz: ‘Assim, não sois mais estrangeiros nem migrantes; sois concidadãos dos santos, sois da família de Deus’ (2,19). Essa nova humanidade que floresce sob o mesmo Espírito fez com que ‘fostes integrados na construção que tem como fundamento os apóstolos e os profetas, e o próprio Jesus Cristo como pedra mestra’ (2,20a), ‘É nele que toda a construção se ajusta e se eleva para formar um templo santo no Senhor’ (2,21). Participantes na Criação e também frutos dela, em Cristo, que é a nossa paz e une os grupos humanos que estavam separados (Texto-Base 137). O elemento cristológico da nossa fé é também explicitado, quando o texto afirma que “em Cristo, recebemos essa abundância de bênçãos, que nos torna herdeiros e herdeiras do Mistério revelado de ser um só povo unido em diversidade. Ser integrados e integradas na construção do Reino de Deus aponta para a unidade, que se realiza na oferta da diversidade dos dons concedidos por Cristo a cada pessoa, para que a casa comum seja um ambiente seguro e feliz para todos os seres vivos” (Texto-Base 137). 

Trata-se, portanto, de um texto cheio de espiritualidade, que nos conduz ao encontro com o Senhor na oração pessoal e comunitária, colocando no centro da reflexão a necessidade de conversão, que nos provoca a pensarmos e repensarmos cotidianamente nossa forma de estar no mundo. Sendo espiritual sem ser “espiritualista”, o texto nos leva a questionarmos sobre como nos envolvemos com as transformações sociais, econômicas, espirituais, ecológicas, individuais e coletivas, a fim de que sejamos, cada vez mais coerentes com os ensinamentos de Jesus nos Evangelhos. De fato, a CF quer nos ajudar a reconhecer que “o caminho para a maturidade cristã respeita e acolhe a diversidade e só alcança a plenitude mediante a cooperação mútua” (Texto-base 138). 

Mesmo se tratando de um documento ecumênico, em relação aos temas sociais, o texto-base da CF em nada se diferencia da Doutrina Social da Igreja, assumida já pelas anteriores Campanhas da Fraternidade e pelos Papas. E cheio de espiritualidade profética e samaritana, denuncia os males sociais que afligem os filhos e filhas de Deus e se solidariza com os que mais sofrem e são vítimas da injustiça e violência, convidando-nos a que nos perguntemos ao longo dos 40 dias da Quaresma, se a nossa prática cristã promove a paz ou potencializa o ódio. Esperamos que este seja um tempo que nos ajude a testemunhar e anunciar com a própria vida que Cristo é a nossa paz, adotando comportamentos de acolhida, de diálogo, de não violência e antirracistas” (Texto-base 14).

Falando, por exemplo, do racismo, o texto relembra que “os índices de homicídio revelam o racismo que vigora no Brasil. Os índices de violência letal atingem mais a população negra do que a branca. Os jovens negros são as principais vítimas de homicídios no Brasil. A taxa de assassinatos de pessoas negras apresenta crescimento significativo no transcorrer dos anos” (Texto-base 60). 

Ora, quem discorda da presença deste tema em um documento pastoral como este, ainda não entendeu as palavras de São João Paulo II, proferidas em 24 de outubro de 2002, na sua mensagem “Por um empenho para vencer o racismo, a xenofobia e o nacionalismo exagerado”. Com vários dados e exemplos de casos ocorridos recentemente, o texto recorda que “os choques entre comunidades, grupos e organizações sociais têm como um de seus fundamentos a questão do preconceito étnico e racial. O ódio ao diferente, dirigido contra pessoas por causa de traços físicos, expressões culturais, vestimentas, língua, vocabulário, dança e religião, encontra nessas características justificativa suficiente para a violência e para a perseguição (Texto-base 85).

Além disso, o texto da CF se opõe frontalmente contra o avanço do feminicídio no Brasil, mostrando dados concretos que denunciam o sistema de violência que no qual “as mulheres, em especial as negras e indígenas, são impactadas em todas as dimensões da sua existência” (Texto-base 67). Ora, em recente vídeo publicado no dia 1º deste mês, o Papa Francisco também denuncia que “ainda hoje existem mulheres vítimas da violência: violência psicológica, violência verbal, violência física, violência sexual. É impressionante, o número de mulheres afetadas, ofendidas, violentadas. As várias formas de maus-tratos que muitas mulheres padecem são uma perversidade e uma degradação para a humanidade inteira. Para os homens e para toda a humanidade. Os testemunhos das vítimas que têm a coragem de quebrar o silêncio são um pedido de ajuda que não podemos ignorar e olhar para o outro lado”. 

Em relação à nossa casa comum (o planeta em que vivemos) e à Amazônia, em especial, a Campanha da Fraternidade se une à voz do Papa e do Sínodo sobre a Amazônia, quando chama a atenção de todos, denunciando que “entre agosto de 2018 e julho de 2019, houve um aumento de 29,5% do desmatamento na Amazônia. Foi desmatada uma área de 9762 km², a maior em mais de uma década. As queimadas, invasões e o extrativismo ilegal violentam a vida na região e alteram todo o ecossistema local e os regimes de chuvas e equilíbrio climático no território nacional e em territórios estrangeiros”. Toda essa situação afeta diretamente os povos tradicionais, “que têm uma vida ligada à convivência com a natureza”, quando são forçados a deixar “seus territórios de origem, seja pelos resultados dos crimes ambientais, seja para que grandes empresas desenvolvam atividades de extração mineral ou florestal e agora, mais recentemente, são entregues à própria sorte, abandonados quanto aos cuidados e prevenção do novo coronavírus” (Texto-base 79).

Enfim, esses são alguns dos graves pecados sociais contra os quais os cristãos devem se posicionar claramente contra, como sempre fizeram os nossos últimos Papas, fazendo prevalecer a paz, que significa “tanto superação das violências e das discriminações, quanto a plenitude de vida, consequência de relações equânimes entre o ser humano e a natureza, o ser humano e seus semelhantes e o ser humano e Deus”. Ao longo de todo o documento se evoca o nome de Cristo, como “aquele que garante as relações de equidade e acolhida entre todos os povos”, uma vez que “a afirmação ‘Cristo é a nossa paz’ confessa que em Cristo não há lugar para a violência e o racismo, para o ódio e a discriminação” (Texto-base 68). Citando sempre os textos paulinos, a CF nos orienta que “a paz que brota da fé em Cristo é a superação da inimizade e do ódio. Ela promove a unidade (Ef 4,1- 6), enquanto o ódio provoca inimizades e agressões e a guerra mata e destrói. A paz permite cuidar e reconstruir a convivência social – ‘sois da família de Deus’ – irmãos e irmãs (Ef 2,19)!” (Texto-base 131). 

Como se vê, trata-se de um texto que, não obstante o seu caráter ecumênico (e talvez por isso omite a menção a Nossa Senhora, como outros documentos ecumênicos o fazem), é rico de conteúdo doutrinal e espiritual para nos ajudar a viver intensamente esse período da Quaresma, razão pela qual os nossos bispos nos convidam a usá-lo.

Quanto a ser um texto que defende o aborto, a prática LGBT, a ideologia de gênero, como dissemos acima, são discursos falaciosos que querem no fundo atacar a Igreja, sob o pontificado de Francisco, por não aceitarem as reformas que ele está fazendo, na direção de uma Igreja cada vez mais em saída, samaritana e sinodal. Não há nada escrito no texto da CF que confirme essas falsas acusações – fake news. 

De fato, na única vez que o texto-base e refere à população LGBT é para denunciar, como faz em relação às mulheres, negros e povos indígenas, o aumento exponencial da violência contra esses nossos irmãos e irmãs, com centenas de casos de homicídios, “efeitos do discurso de ódio, do fundamentalismo religioso, de vozes contra o reconhecimento dos direitos dessas populações e de outros grupos perseguidos e vulneráveis” (Texto-base 68). E mesmo as inúmeras “mortes provocadas pela pandemia não contribuíram para que repensássemos nossas relações. A violência também aumentou nas casas. Entre março e abril de 2020, meses em que o isolamento social esteve mais forte, os casos de feminicídio aumentaram 5% em relação ao mesmo período de 2019. Somente nesses dois meses, 195 mulheres foram assassinadas” (Texto-base 34). Como não se preocupar e ficar calado diante de tamanha ofensa a Deus e ao ser humano, criado à sua imagem e semelhança? 

Portanto, estamos diante de um texto e de uma campanha que nos faz, verdadeiramente, mais amigos de Deus, amigos entre nós e amigos da criação-natureza, entendendo que “fraternidade e diálogo são desafios de amor. Devemos nos engajar agora, na comunidade e no lugar onde vivemos. Acreditamos que Cristo é a esperança do estabelecimento definitivo da fraternidade e da paz” (Texto-base 19).

Para concluir, vale a pena citar a bela oração do Cardeal José Tolentino Mendonça, incluída no texto da CF2021:

“Livra-nos, Senhor, deste vírus,
mas também de todos os outros
que se escondem dentro dele.

Livra-nos do vírus do pânico disseminado,
que em vez de construir sabedoria nos atira
desamparados para o labirinto da angústia.

Livra- nos do vírus do desânimo
que nos retira a fortaleza de alma
com que melhor se enfrentam as horas difíceis.

Livra-nos do vírus do pessimismo,
pois não nos deixa ver que, se não pudermos abrir a porta, t
emos ainda possibilidade de abrir janelas.

Livra-nos do vírus do isolamento interior que desagrega,
pois o mundo continua a ser uma comunidade viva.

Livra-nos do vírus do individualismo
 que faz crescer as chagas do silêncio.

Livra-nos do vírus da impotência,
pois uma das coisas mais urgentes a aprender
é o poder da nossa vulnerabilidade.

Livra-nos, Senhor, do vírus das noites sem fim,
pois não deixas de recordar que tu mesmo nos colocaste
como sentinelas da aurora”
(Texto-base 56).

 

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fonte: http://www.ihu.unisinos.br/606822-conhecendo-melhor-o-texto-base-da-campanha-da-fraternidade-ecumenica-2021-para-nao-se-deixar-enganar-pelas-fake-news-dos-falsos-profetas


Campanha da Fraternidade Ecumênica: “diálogo e construção de pontes de amor e paz em lugar dos muros de ódio”

“A Campanha da Fraternidade, que ao longo da Quaresma acompanha a vida da Igreja do Brasil desde o início da década de 1960, tem neste ano um caráter ecumênico, algo que começou no ano 2000 e que “representa uma das experiências mais valiosas de missão evangelizadora em nosso país”, segundo a pastora luterana Romi Márcia Bencke, Secretária-Geral do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs – CONIC.

O comentário é de Luís Miguel Modino.

Estamos ante um chamado a afirmar que “a fraternidade e o diálogo são compromissos de amor, porque Cristo fez uma unidade daquilo que era dividido”, como recolhe o hino da campanha. A Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2021 é um desafio “para o diálogo e a construção de pontes de amor e paz em lugar dos muros de ódio”, mostrando que é possível “viver em comunhão”, superando “as polarizações e violências através do diálogo amoroso”, o que é expressado nos objetivos da campanha.

A Campanha, que foi organizada quase que inteiramente on-line, faz a proposta de conversão ao diálogo e ao compromisso de amor, afirmando que “a conversão é um processo permanente e diário”, que nos leva a “repensarmos cotidianamente nossa forma de estar no mundo”. Daí nasce “a possibilidade de novas formas de relações humanas e sociais”, de assumir “um jejum que agrada a Deus e que conduz à superação de todas as formas de intolerância, racismo, violências e preconceitos”.

Texto Base da Campanha tem como elo a história dos discípulos de Emaús, fazendo um chamado a refletir a partir de quatro paradas: ver, julgar, agir e celebrar, uma metodologia que acompanha a vida da Igreja latino-americana nas últimas décadas.

pandemia da Covid-19 e suas consequências é o ponto de partida do ver, afirmando que, no Brasil, onde tem morrido 10% das vítimas mundiais, “a pandemia dilacerou famílias e deixou espaços vazios na cultura nacional”. O texto reflete sobre “a incerteza, a insegurança, o descaso político para com as pessoas, a desestruturação repentina de nosso modo de vida”, provocando sensação de medo e impotência. Também aparecem relatos sobre diferentes reações diante da pandemia nas igrejas.

A reflexão em torno da Campanha, denuncia que “no Brasil, a pandemia escancarou as desigualdades e a estratificação racial, econômica e social”, refletindo sobre a resistência ao isolamento, o negacionismo, a volta da fome, a continuação da violência policial, doméstica e do racismo. Também aparece a análise das tensões e conflitos, das reformas, do aumento do desemprego, da pobreza, das desigualdades os das notícias falsas nos últimos anos. O Brasil se tornou uma sociedade cheia de muros, com muitas crises que afetam a todos, também àqueles que fazem parte das Igrejas.

Diante disso, a Campanha chama a interpretar a realidade, em uma sociedade onde “ainda permanecem as estruturas racistas e excludentes”, que beneficia os poderosos e ignora as políticas públicas. Isso gera insatisfação, que se transforma em ódio contra o diferente, relações injustas, destruição da Casa Comum, novas cruzes que não são respostas para a paz, “necropolítica”, onde o Estado se julga soberano para escolher quem morre e quem vive. Isso é algo que se faz presente de diferentes modos no Brasil, através da violência, que nunca será a saída, e de leis que acabam com direitos históricos conquistados.

A reflexão sobre a catástrofe ambiental, uma realidade muito presente no Brasil, que atinge especialmente os povos tradicionais, grandemente afetados pela pandemia da Covid-19, também está presente na Campanha da Fraternidade de 2021. O Texto Base denuncia que “a violência contra a terra e os povos originários é, muitas vezes, legitimada por um discurso religioso reativo”, que manipula a religião. Também é colocada a reflexão sobre o racismo contra negros e indígenas, que se traduz em intolerância religiosa, algo que tem uma raiz histórica e que se perpetua, criando muros que demandam “rever a forma como vivemos a nossa fé”.

A segunda parada, identificada com o julgar, faz uma análise desde a perspectiva bíblica. O texto afirma que “a fé é diretriz de conduta, tanto para o bem quanto para o mal”. Nesse sentido, as origens do cristianismo nos mostram que “a opção pelo Evangelho trazia consigo a busca pela compreensão mútua e um processo de conversão”, algo recolhido nas cartas paulinas. Isso levava a derrubar “o muro da separação” e construir “um mundo de comunhão na gratuidade do amor de Deus, que acolhe e perdoa”. Eram comunidades diversas, mas que procuravam a unidade, a partir da fé em Jesus Cristo, “vínculo que une a comunidade e garante que experimentemos os sinais do Reino de Deus”.

Isso é recolhido no lema da Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2021: “Cristo é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade”. O apóstolo Paulo faz um testemunho conciliador e promotor da unidade na diversidade, que não é razão para conflitos. Tudo em vista da paz, que para a cultura hebraica, “é sinônimo de vida plena”, sinal do Reino de Deus, algo que as comunidades indígenas chamam de “bem viver”. Uma Igreja que nasce “da graça misericordiosa de Deus revelada em Cristo”, imagem do Evangelho da graça e da misericórdia, que “revela-se como a força de Deus, que derruba os muros do preconceito que separam”.

paz “é um tema genuinamente bíblico”, uma paz que “brota da fé em Cristo” e provoca “a superação da inimizade e do ódio”, permitindo “cuidar e reconstruir a convivência social”. Frente a isso, a Campanha nos faz ver que o orgulho religioso, que é contrário ao Evangelho, levanta muros, derrubados por Cristo, que constrói uma nova humanidade, “animada e alicerçada no amor, na graça de Deus e na unidade que se realiza pelo Espírito Santo”. Daí surge a maturidade cristã, que “respeita e acolhe a diversidade e só alcança a plenitude mediante a cooperação mútua”.

No agir, a terceira parada, seguindo o caminho dos discípulos de Emaús, surge o compromisso de derrubar “os muros das divisões”, algo concretizado em boas práticas ecumênicas. O texto mostra alguns exemplos, como a Semana de Oração pela Unidade Cristã, a convivência inter-religiosa, as missões ecumênicas, realizadas em diferentes locais do Brasil, os encontros ecumênicos de mulheres, em vista da superação da violência contra as mulheres, o cuidado da casa comum, um tema abordado na Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2016, que provocou o envolvimento do CONIC  em muitas ações e iniciativas voltadas para o direito ao acesso à água potável de qualidade.

Essas são práticas assumidas por “muitas comunidades, grupos ecumênicos, pastorais e serviços diaconais”, enfatiza o Texto Base, que na quarta parada faz uma proposta celebrativa ecumênica.

Finalmente, é explicado o significado da Coleta da Solidariedade, “um gesto concreto da fraternidade, partilha e solidariedade, realizado em âmbito nacional, em todas as comunidades cristãs, paróquias e dioceses”, rebatida nas últimas semanas por diferentes grupos e que provocou uma mensagem da presidência do episcopado brasileiro.

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Bispo alemão diz que Igreja deve mudar sua postura sobre a homossexualidade

 

O bispo Peter Kohlgraf, de Mainz, na Alemanha, defende as bênçãos para casais do mesmo sexo e uma revisão do Catecismo.

A reportagem é de Christa Pongratz-Lippitt, publicada em La Croix International, 12-02-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Igreja Católica deveria adotar uma nova abordagem pastoral para os casais homossexuais, acompanhando-os e abençoando aquilo que há de bom nas suas vidas, de acordo com o bispo Peter Kohlgraf, de Mainz, na Alemanha.

Bispo Peter Kohlgraf, de Mainz, na Alemanha (Foto: Wikimedia Commons)

Em sua coluna semanal no jornal diocesano Glaube und Leben, o bispo de 53 anos explicou como chegou a se convencer de que a Igreja deve mudar a sua postura sobre a homossexualidade.

Ele disse que, depois de se tornar bispo em 2017, ele logo foi informado de que muitas formas diferentes de bênçãos para casais homossexuais já existiam “e continuariam a existir”.

Abençoar o que há de bom em suas vidas

“Elas não seguem o modelo das cerimônias litúrgicas de matrimônio católicas, nem visam a alcançar uma liturgia padronizada. Os padres que acompanham esses casais abençoam aquilo que há de bom em suas vidas”, explicou.

Foi por isso que ele apoiou a publicação de uma coleção de cerimônias de bênção para casais gays intitulada “Casais, ritos, Igreja”, que membros da Diocese de Mainz, junto com a Sociedade Alemã para o Planejamento Familiar Católico, compilaram e publicaram em novembro de 2020.

Kohlgraf reconheceu que a maioria dos cerimoniais de bênção descritos no livro são “contrários à lei da Igreja”. Mas ele disse que já estão sendo usados e continuarão sendo usados.

O bispo, que foi ordenado padre em 1993 pela Arquidiocese de Colônia, disse que achava que não faria muito sentido se ele, como bispo responsável, anulasse as bênçãos.

“Eu realmente quero quebrar tantos pratos assim com pessoas que são fiéis?”, perguntou ele.

Um Catecismo nada delicado ou respeitoso

Ele destacou que, quando a Conferência dos Bispos da Alemanha realizou uma série de discussões sobre a homossexualidade em dezembro de 2019, especialistas médicos relataram que “a porcentagem de pessoas que se sentem orientadas para a homossexualidade na sociedade não é de forma alguma pequena, e a homossexualidade é um fenômeno relevante no mundo animal”.

Ele disse que sempre se fazia perguntas como: “As pessoas que se sentem orientadas à homossexualidade foram criadas de forma imperfeita? Deus cometeu um deslize?”.

Kohlgraf admitiu que, pessoalmente, achava difícil imaginar que algo tivesse dado errado na ordem da criação.

Ele disse que muito poucos homossexuais consideram “delicada e respeitosa” a orientação do Catecismo da Igreja Católica de que eles pratiquem a castidade.

O bispo assinalou que o Catecismo também afirma que a inclinação deles não é da sua própria escolha.

E observou que o apelo do Catecismo à compaixão pelos homossexuais pode soar condescendente.

“De modo geral, estou surpreso com o modo como a questão da homossexualidade ganhou ferocidade nos debates da Igreja”, disse Kohlgraf.

Bispos alemães favoráveis à bênção para casais homossexuais

Ele disse que o foco nas bênçãos para casais homossexuais aumentou significativamente na Igreja alemã nos últimos anos.

O bispo Franz-Josef Bode, de Osnabrück, foi o primeiro bispo alemão a falar abertamente a favor da prática. Isso foi em 2018.

“Ficar em silêncio ou transformar o assunto em tabu não nos leva a lugar algum”, disse o bispo de 70 anos na época, enquanto exigia mais debate sobre o assunto.

Naquele mesmo ano, o cardeal Reinhard Marx, de Munique, se pronunciou a favor da bênção para casais homossexuais em casos individuais, depois de serem acompanhados por um padre.

E, então, em 2020, o bispo Heinrich Timmerevers, de Dresden, disse à agência de notícias católica KNA que acolheria as bênçãos para casais homossexuais.

Ele disse ser contrário à exclusão das pessoas e que podia entender por que os casais gays querem uma bênção.

 

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fonte: http://www.ihu.unisinos.br/606816-bispo-alemao-diz-que-igreja-deve-mudar-sua-postura-sobre-a-homossexualidade

 

 

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