Defensores dos LGBTQ agradecem ao papa Francisco por sua mais recente declaração em apoio ao reconhecimento da união civil de casais do mesmo gênero.
A reportagem é de Robert Shine, publicada por New Ways Ministry, 23-10-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
A irmã Jeannine Gramick, co-fundadora do New Ways Ministry, saudou o Papa por suas palavras inclusivas, chamando-as de “um passo na direção correta”, de acordo com o National Catholic Reporter.
“Essa é uma notícia maravilhosa para a comunidade LGBT e para suas famílias”, disse Jeannine Gramick, uma irmã de Loretto, que esteve engajada no ministério pastoral para católicos gays e lésbicas desde 1971. “O que o papa Francisco está nos dizendo é que as pessoas gays e lésbicas são parte da família. Ele está sustentando os valores da famílias e isso é muito importante”.
Gramick disse ao NCR que os comentários do papa foram em resposta a uma “bela carta” de um casal gay que lhe escreveu perguntando como deveriam criar seus filhos e viver como um casal em uma igreja que, em última análise, não aceita seu casamento.
“Vocês são uma família normal. Vocês têm que fazer o que os católicos fazem”, foi efetivamente a resposta do Papa, disse ela ao descrever o contexto.
“Estou exultante que o papa Francisco esteja fazendo esta declaração pública. Ele está falando com o coração. Se deixarmos nosso coração falar, então nossas mentes mudarão. Temos que liderar com o coração e é isso que ele está fazendo”.
Lisa Fullam, uma teóloga e contribuinte do Bondings 2.0, disse ao NCR que as pessoas “veem isso como uma mudança no ensinamento, embora o Papa tenha falado sobre isso no passado”. Mas Fullam alerta contra a atribuição de muito pessoa à entrevista de Francisco, a qual não é um documento de doutrina papal, e aborda sobre o potencial que a afirmação do Papa tem para desvantagens às uniões civis.
A Rede Global de Católicos Arco-Íris emitiu uma declaração de seus codiretores Chris Vella e Ruby Almeida. Vella descreveu as palavras do Papa como “até certo ponto, inovadoras”, mas advertiu que o conteúdo do filme deve ser visto para entender o que exatamente o Papa disse. Almeida comentou:
“As muitas declarações condenatórias negativas e destrutivas recentemente feitas por vários bispos dos Estados Unidos e da Polônia sobre as comunidades LGBTIQ deixaram nossas comunidades feridas e violadas. Portanto, esta é uma boa notícia”.
Mas Vella deixou claro que as uniões civis não eram suficientes, e os católicos LGBTQ em todo o mundo ainda buscam uma igreja que “celebre seus relacionamentos como sinais sagrados e sacramentais do amor manifesto e da presença de Deus no mundo”.
O padre James Martin, jesuíta, também apontou os comentários do Papa desde um contexto mais global. Chamando o momento de “histórico”, Martin escreveu sobre no Facebook:
“Para aqueles que pensam que os comentários do papa Francisco sobre uniões civis do mesmo sexo hoje não são tão importantes: talvez isso possa ser verdade em algumas partes, e algumas pessoas, nos EUA e Europa Ocidental. Mas em locais como a Polônia, onde os bispos são virulentamente anti-LGBT, chamando a população LGBTQ de ‘peste do arco-íris‘ e comparando com os nazistas; ou em locais como Uganda, onde muitos bispos apoiam as leis repressivas que criminalizam a homossexualidade; por isso sim é tão importante. Nós sempre precisamos relembrar como isso será recebido pela Igreja de todo mundo. Então novamente, são muito importantes”.
Marianne Duddy-Burke, diretora executiva da DignityUSA, disse que a organização estava “cautelosamente otimista” enquanto espera para ver o filme completo e o contexto em que os comentários do Papa são feitos. Duddy-Burke comentou em uma declaração:
“Se for verdade, os comentários do Papa podem representar uma virada de jogo internacional e um grande passo à frente para igualdade LGBTQI. Isso removeria um obstáculo importante à inclusão LGBTQI em muitos lugares ao redor do mundo, especialmente em áreas onde as pessoas LGBTQI são especialmente vulneráveis à discriminação e à violência. As leis das uniões civis podem fornecer proteções legais essenciais para casais LGBTQI e seus filhos… Os católicos em muitas partes do mundo já foram além da Igreja oficial e abraçaram totalmente as pessoas LGBTQI, suas famílias e a igualdade do casamento em suas comunidades. Esperamos e oramos para que as autoridades católicas sigam seu exemplo”.
O Instituto Wijngaard de Pesquisa Católica pediu “para que o papa Francisco dê início a um processo de revisão do ensino e da prática católica oficial, de modo que suas últimas aberturas para a aceitação sejam transformadas em mudanças concretas”, observando que, embora as observações informais do Papa sejam bem-vindas, o ensino oficial da igreja continua a machucando.
J.R. Zerkowski, diretor executivo da Fortunate Families, disse ao NCR que estava “encantado” com as palavras do Papa, que “não são nada fora do ensino social católico”. Zerkowski acrescentou: “Por mais chocante que sejam, não é tão chocante também”.
Aaron Bianco, um professor de teologia gay que uma vez foi forçado a deixar o trabalho pastoral devido a ataques de católicos anti-LGBTQ, disse ao Gay City News:
“É um passo colossal para o pontífice apoiar as uniões civis. Ao fazê-lo, mostra que ele, e por sua vez, a Igreja, procuram caminhos para ser um lugar acolhedor para todos os católicos LGBT. Todos os católicos deveriam aplaudir este avanço”.
Mais vozes seculares também contribuíram para os comentários do Papa. Samantha Power, ex-embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, tuitou:
“O tempo dirá, mas acredito que o apoio do Papa Francisco às uniões entre pessoas do mesmo sexo terá um impacto profundo em como gays e lésbicas são tratados em todo o mundo. As opiniões do Papa, ouvidas por mais de 1 bilhão de católicos em todo o mundo, têm um poder incrível”.
Luz Elena Aranda, secretária-geral da ILGA World, disse à Reuters que o grupo sabe “como será uma mudança de vida para dezenas de milhões de pessoas LGBTI em todo o mundo – tanto os próprios católicos LGBTI como aqueles que vivem em sociedades tradicionalmente católicas – ao ouvi-lo reconhecendo-nos e nosso direito a uma família”.
Antonio Guterres, secretário-geral das Nações Unidas e católico, disse por meio de um porta-voz que as palavras do Papa foram um “movimento muito positivo”, acrescentando: “O secretário-geral falou com muita força contra a homofobia em favor dos direitos LGBTQ, que as pessoas nunca devem ser perseguidas ou discriminadas apenas por quem amam”.
Alphonso David, presidente da Human Rights Campaign (HRC), chamou as palavras do Papa de um “passo significativo”, mas disse que a HRC “continuaria a pressionar a Igreja Católica, e todos os líderes religiosos, a abraçar plenamente as pessoas LGBTQ e endossar a igualdade no casamento para pessoas do mesmo sexo, nosso direito de ter uma família e de ser membros plenos de nossas comunidades de fé”.
“Estamos testemunhando a superação da estagnação que arrasta a Igreja desde o Iluminismo”, escreve José María Castillo, teólogo espanhol, em artigo publicado por Religión Digital, 22-10-2020.
Eis o artigo.
A decisão do papa Francisco, segundo a qual os homossexuais podem contrair matrimônio civil, já que o Direito Canônico (cân. 1055) define o citado matrimônio como “o consórcio de um homem e uma mulher para toda a vida”, foi uma das grandes notícias do momento, em um mundo tão agitado de notícias sensacionais, como estamos vivendo.
Como é lógico, interessou especialmente aos homossexuais. Mas, se esse assunto for pensado de forma mais lenta, podemos e devemos dizer que estamos vivenciando um acontecimento que transcende o problema da homossexualidade. Isso claro, mas não só. Sem exagero nenhum, podemos garantir que estamos testemunhando a superação da estagnação que desde o século XVIII tem arrastado a Igreja, que foi ultrapassada pelo Iluminismo.
Na verdade, e por incrível que pareça, a Igreja foi marginalizada, na sociedade e na cultura moderna, desde a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789-1791). Declaração à qual o papa Pio VI se opôs fortemente, em 29 de março de 1790, em uma assembleia de cardeais, na qual o Papa afirmou que os direitos humanos eram um atentado e uma ferida que foi feita à religião e para os direitos da Santa Sé. E assim o papado se manteve firme desde Pio VI, em 1790, até Pio X, em 1906. Aí veio a formulação do Direito Canônico, como já disse. Além disso, quando em 10 de dezembro de 1948 a “Declaração Universal dos Direitos Humanos” foi assinada em Roma, Pio XII, poucos dias depois, fez um discurso, dirigido a toda a humanidade, no qual falou dos grandes acontecimentos do ano, mas nem mencionou “Direitos Humanos”.
A primeira consequência de tudo isto, é que naquela hora o Estado da Cidade do Vaticano não poderia assinar – agora e depois de tantos anos – a Declaração Universal dos Direitos Humanos. E a primeira coisa que ocorre a qualquer um é pensar: uma instituição que não pode assinar os Direitos Humanos, com que autoridade pode pregar o amor mútuo e universal como o primeiro e maior mandamento que o Senhor Jesus nos deixou em seu Evangelho? Isso, antes de tudo.
Mas há, em tudo isso, algo muito mais sério. Algo que a teologia cristã não leva a sério. Refiro-me ao Mistério da Encarnação. Qual é o evento da Humanização de Deus. Dizer que Deus se encarnou em Jesus é dizer que “o divino” se fundiu com “o humano”. A tal ponto que, de acordo com os Evangelhos, quando o evento do juízo final chegar na realidade, e como é dito que Karl Rahner afirmou, tal juízo será um “juízo ateu”. Porque a ninguém vai ser perguntado se fez ou não fez tal coisa para Deus, mas eles vão nos dizer: “O que fizestes a um destes, tu fizestes a mim” (Mt 25, 40). Além disso, quando Jesus se despediu dos discípulos, deu-lhes “um novo mandamento” (Jo 13, 34-35). Que eles se amassem. Qual foi a novidade desta missão definitiva? Em que Deus não é mencionado.
Termino com uma pergunta que nos obriga a pensar: Se o mais importante e decisivo é que nos amemos, será o que os altos funcionários da Cúria decidirem em Roma, que terá mais importância, mais peso e mais valor que o mais elementar e básico do amor, que é aceitar e viver a igualdade de todos em nossos direitos mais comuns, básicos e elementares?
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O “elogio da fraternidade” por parte de Francisco torna-se um novo paradigma eclesial, uma nova disciplina cultural e também uma nova interpretação da relação, tanto pessoal quanto sexual.
A opinião é do teólogo italiano Andrea Grillo, professor do Pontifício Ateneu Santo Anselmo, em artigo publicado em Come Se Non, 23-10-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
As poucas frases com as quais o Papa Francisco respondeu a algumas perguntas em maio de 2019, repercutidas em um recente documentário, não têm as costas suficientemente largas para resistir a uma “mudança de paradigma”.
No entanto, sem exagerar, elas podem ser consideradas um indício bastante autorizado de uma “passagem” que não é um exagero definir como “epocal”. Elas podem ser assim consideradas se comparadas à persistência, ao longo dos últimos dois séculos, de uma abordagem muito diferente às questões relativas ao exercício da sexualidade, às formas da convivência e da vida familiar, às separações e aos divórcios, pensados muitas vezes como “alterações” da doutrina matrimonial.
De fato, desde o início, deve-se reconhecer que a “matéria” em torno da qual se exercita a discussão – ou seja, identidade sexual, família, matrimônio – não pode ser compreendida de forma “cindida”. A abstração de uma “competência eclesial” e de uma “competência civil” é – de fato – apenas a abstração que inventamos (e sofremos) a partir do Código de Direito Canônico de 1917. Uma invenção do século XX não é nem de direito divino, nem uma prova da existência de Deus. É, antes, a tentativa antimodernista (mas produzida com instrumentos rigorosamente modernos) para superar um “conflito de competências” sobre a vida dos sujeitos.
Quem decide sobre a união? Quem decide sobre a geração? Deus ou o ser humano? A essa pergunta drástica demais – e equivocada demais – demos respostas inevitavelmente exageradas, tanto do lado eclesial, quanto do lado civil.
Daí nasceu o imaginário difundido – e não muito escondido – de uma espécie de “revanche” contra a “brecha da Porta Pia”, que iludiu a Igreja de poder definir um âmbito de autoridade – matrimônio e família – sobre o qual poderia se declarar como a única competente. Quase uma resistência de uma pequena fatia de “poder temporal”.
Foi assim desde o fim do século XIX, passando pelo Código, até os anos 1920. Depois, já naquela década, com a Concordata, foi preciso renunciar à exclusividade e chegar a um acordo com o diabo… que, depois, não era assim tão diabólico, mesmo que, nesse caso, era precisamente um Estado “não liberal”. E a aposta em unir dois “antiliberalismos” – um antimoderno e outro hipermoderno – não durou sequer 20 anos.
Apesar da Segunda Guerra Mundial, do Concílio Vaticano II e do início da reforma da Igreja, a abordagem sobre a doutrina matrimonial permaneceu muito encastelada e se fortaleceu com os choques sobre as duas leis civis, primeiro sobre o divórcio e depois sobre a interrupção da gravidez. Duas leis que foram vividas como “traumas”.
Essa leitura unilateralmente pedagógica da lei civil estendeu-se ao longo do século, até a Familiaris consortio, em 1981, e mais adiante, até os dois Sínodos de 2014 e 2015. Mas, com a Amoris laetitia, as coisas mudaram. Não tanto no plano da imediata operatividade de novas disciplinas, mas precisamente no coração de uma doutrina identificada com a “lei objetiva”.
A esperança de poder “juridicizar” cada questão, para torná-la um exercício de autoridade formal, e a consequente confusão entre prerrogativas civis e prerrogativas eclesiais, cessa ao se chocar com as palavras límpidas com as quais a Amoris laetitia redefine, ao mesmo tempo, o papel do magistério, o fenômeno familiar e a relação com a lei.
a) o magistério não deve definir tudo, mas sabe escutar;
b) a família é acima de tudo um fato a ser reconhecido, formas plurais que vivem de comunhão;
c) A conformidade com a lei objetiva não implica necessariamente em conformidade com a vontade de Deus.
A esse desenvolvimento, deve-se acrescentar, mais recentemente, com a encíclica Fratelli tutti, a capacidade do magistério eclesial de falar no mesmo registro da Gaudium et spes, em um elogio à fraternidade humana e à amizade social, que não deve necessariamente partir da destruição da liberdade e da igualdade.
A cena muda porque o campo não é mais dividido em duas partes contrapostas, entre verdade e liberdade, entre dever e direito, mas se busca, em vez disso, ilustrar os limites das conquistas de liberdade e de igualdade – que não devem ser rejeitadas como tais – porque devem ser relidos em chave fraterna, dialógica, filial e paterna.
Esse “elogio da fraternidade” torna-se um novo paradigma eclesial, uma nova disciplina cultural e também uma nova interpretação da relação, tanto pessoal quanto sexual.
Não seria arriscado pensar que, com base nesses dois faróis magisteriais, a reconsideração das questões relativas às “uniões civis” pode ser orientada de um modo mais articulado – e mais refinado – de considerar precisamente o papel da lei civil.
Que fique claro: a ideia de uma “resistência eclesial” à lei civil – algo totalmente compreensível e também desejável em muitas circunstâncias –, se for estendida a “juízo geral” sobre tudo o que diz respeito à ampliação da proteção dos direitos dos sujeitos, corre o risco de se basear em um conceito unicamente “pedagógico” de lei.
Mas a lei só pode ser concebida de modo exclusivamente pedagógico quando não se admite a liberdade de consciência dos sujeitos humanos. Ora, não há dúvida de que só uma leitura equilibrada do humano permite conciliar a liberdade originária e a liberdade como tarefa. Ai de nós se nos esquecermos da pedagogia. Mas a aquisição de uma “relevância incontornável” do sujeito e da sua liberdade constitui um dos sinais decisivos do nosso tempo.
A fraternidade implica o respeito radical pelo outro como diferente, precioso precisamente na sua alteridade. Essa perspectiva transforma o mundo e também a intimidade: não porque a torne “política” e desminta a sua profundidade, mas porque a coloca em uma proximidade com a identidade que não pode mais ser contornada. E também por isso, depois de tantas angústias conturbadas e de tantas lutas exasperadas, “gaudet mater ecclesia”!
As repercussões dessa abordagem diferente são numerosas e surpreendentes, tanto nas relações extraeclesiais quanto nas intraeclesiais. Seria diplomacia fácil tentar demonstrar que aquilo que foi afirmado pelo Papa Francisco sobre a “proteção das uniões civis” não afeta minimamente a doutrina católica sobre o matrimônio e a sexualidade. Mas seria um grave erro subestimar o fato de que o matrimônio, precisamente como sacramento eclesial, é síntese de natureza, cultura e fé, e não pode se desinteressar de nenhum desses três níveis pelos quais que é constituído.
Uma Igreja que aceita verdadeiramente reconhecer o “bem possível” de uma união civil – hetero ou homossexual, com as devidas diferenças – deve estar pronta para pensar mais a fundo aquele “mistério de amor entre Cristo e a sua Igreja”, que se manifesta, surpreendentemente, onde um homem ou uma mulher pode começar a viver não mais para si mesmo, mas para o outro.
A fraternidade e a alegria com que sabemos acolher uma boa notícia nesse fenômeno natural, cultural e eclesial também podem nos fazer reconhecer que muitas das nossas categorias tradicionais, com toda a sua história notável, assemelham-se agora apenas a majestosos amontoados de palha.