Bahia homenageia Carlos Moura, ex-secretário executivo da CBJP

Júlia Moura – jornalista

O Teatro Castro Alves era um mar de pretos. Cadeira sim, cadeira não de diversos cabelos e penteados, vestimentas africanas, códigos da minha gente. Era uma noite pra celebrar.

O Bando de Teatro Olodum lembrou de onde viemos e o que fizeram antes de nós #Zumbi, #Dandara e outros líderes da luta negra no Brasil. Um espetáculo pra nos saudar, nos reverenciar e reverenciar os ancestrais. Lembraram dos navios negreiros aos dias de hoje, lutas e conquistas do nosso povo.

Meu pai subiu ao palco altivo como sempre e pouco conseguia disfarçar a vaidade da homenagem: 1º Prêmio Mérito da Igualdade Racial da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial do Governo da Bahia – “Com racismo, não há democracia” para o primeiro presidente da Fundação Cultural Palmares, meu pai Carlos Moura.

Eu me preocupava com a escada que levava ao palco enquanto ele subia, ficando grande, gigante, maior que o próprio teatro. Pegou o texto que preparara e discursou com a força de um homem da lei, um dominador da oratória. Lembrei das histórias que contavam de que seu pai biológico, que ele nunca conhecera, ia escondido à Praça Araribóia em Niterói pra ouvir seus discursos de líder do DCE da UFF, aspirante à política social e democrática.

As palavras que eu já sabia quase de cor foram saindo de sua boca embaixo da máscara, amplificadas pelo microfone, num êxtase da plateia. Citava grandes líderes do movimento negro da Bahia, a criação da Palmares, agradecia aos idealizadores do prêmio. Falava da nossa família, agradecia minha mãe Gloria e terminava numa mensagem de esperança pro Brasil e pra população negra. “Nosso encontro de hoje e de sempre significa que o movimento negro e seus aliados estão permanentemente juntos, de novembro a novembro”.

Aí eu vi, mais que nunca, o líder. Pediu licença e falou outros 3 minutos além dos 3 que lhe tinham concedido. Falou de um mundo novo, de paz, sem desigualdade. Falou do sonho e da certeza de que nós já começamos a construir o futuro e a viver esse sonho. Se disse iluminado por aquele momento, sentindo o pulsar dos corações ali presentes.
Pra nossa família o prêmio foi um reconhecimento inesquecível à contribuição de meu pai, à sua luta e à coerência de sua trajetória.

Antes dos aplausos finais, ele falou no resgate dos valores da negritude. Desceu do palco ovacionado. E eu embaixo, ainda preocupada com os degraus da escada, me enchia de orgulho. Meu pai era naquele momento um verdadeiro herói preto.

Terminamos ao som do Ilê, cantando e dançando em alegria e celebração. Certos da necessidade de nos conectarmos cada vez mais com nossa história e nossas vivências.


Plateia protesta durante entrega do Prêmio Mérito pela Igualdade Racial, a Carlos Moura

Plateia protesta durante entrega do Prêmio Mérito pela Igualdade Racial, a Carlos MouraFoto: Divulgação

A solenidade de entrega do Prêmio do Mérito pela Igualdade Racial a Carlos Moura, que aconteceu na segunda-feira (8), no Teatro Castro Alves, foi marcada por um protesto da plateia contra o atual presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio Camargo.

Durante as falas de Carlos, fundador e primeiro presidente da Fundação Cultural Palmares, e da secretária de Promoção da Igualdade Racial, Fabya Reis, o público reagiu com gritos em coro de “fora Bolsonaro”, após criticarem as ações do atual Governo.

Fabya se pronunciou a respeito do crescimento da intolerância, inclusive racial, estimulado por ações do presidente Jair Bolsonaro. Destacou também o aumento do desemprego e da pobreza, além do negacionismo que, segundo afirmou, foi responsável pela maioria das mais de 600 mil mortes, na pandemia do Covid-19.

Abrindo as comemorações do Novembro Negro, da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial do Governo do Estado (Sepromi), Carlos Moura também teve destacada a atuação na defesa da igualdade racial como diretor do Centro Nacional de Informação e Referência da Cultura Negra (Cnir) e como secretário executivo da Comissão Brasileira de Justiça e Paz.

A concepção do prêmio do Mérito pela Igualdade Racial é da WCMS Produções, em parceria com a Sepromi, destinado a homenagear anualmente personalidades e instituições que tenham se destacado na promoção da igualdade racial.

fonte: https://imagem.bahianoticias.com.br/cultura/noticia/42118-plateia-protesta-durante-entrega-do-premio-merito-pela-igualdade-racial-a-carlos-moura.html

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