A vitória do amor!

 Chico Alencar
(breve reflexão para cristãos ou não)
Foi ao amanhecer – hora em que tudo se renova e recomeça.
Foram, como no anúncio do Natal de Jesus, as mulheres as primeiras a saber: antes, Maria de Nazaré; nesse agora, Maria Madalena, Joana, Maria mãe de Tiago (Lucas, 24. 1-12).
Levavam perfumes, que, como as flores, são, presenteados, sinal  de ternura e cuidado. Temos distribuído assim?
Encontraram a pesada pedra do túmulo removida. Quantas pedras precisamos remover para entrar na gruta dos nossos medos, das nossas fraquezas, das nossas mesquinharias, na esperança de vencê-las?
Duas figuras luminosas indagaram e esclareceram: “por que vocês procuram entre os mortos aquele que vive? Ele não está aqui, ressuscitou!” Quantas vezes colocamos nossos desejos e aspirações no que está velho, ultrapassado e, ao fim, só traz angústia e insatisfação?
A pulsão da morte condiciona nossos afetos, limitados pelo egoísmo, pela ilusão de colocar em bens perecíveis o sentido da existência. Pela indiferença ou passividade diante de tantas coisas de “não”: injustiça, exploração, opressão.
Mas a ânsia da vida, felizmente, afeta e inquieta nossos olhos, corpo e alma. A Páscoa se manifesta até quando o afã do lucro inventa coelhinhos e ovos de chocolate, coisificando a fertilidade e a energia – que nos habitam. Páscoa é também redescoberta do sentido maior de tudo o que criamos.
Páscoa é dialética comum à Humanidade, e está presente em todas as religiões, e em todas as pessoas de boa vontade: vida, morte e ressurreição. É possível recomeçar, renascer, reavivar!
Quando aprendemos a nos doar, a morte, ao chegar para reclamar sua propriedade, nada encontra para tomar: como aconteceu com Jesus, tudo já terá sido dado, repartido, compartilhado, Assim, sua boca devoradora não é alimentada.
Estamos, a um só tempo (atemporal) dissolvidos e integrados em tudo o que brilha, pulsa e é manifestação do divino, da Eternidade: AMOR, AMOR, AMOR, o Todo Poderoso jeito de ser que sempre liberta e supera a alienação da morte (aquela que entra devagarinho na vida da gente e precisa ser identificada ecombatida).
Não nascemos para morrer; morremos para transvivenciar, para ressuscitar, ensinam teólogos como Boff e Betto. Até lá, que pode estar logo ali, creiamos, em nossa prática cotidiana, na vida ANTES da morte.
Adélia Prado, poeta e mística, nos convoca à Páscoa:
“o ovo não cabe em si, túrgido de promessa,
a natureza morta palpitante.
Branco tão frágil guarda um sol ocluso.
O que vai viver, espera”
Feliz Páscoa/Pessach, isto é passagem, superação, transformação, mudança, novos caminhos.
Travessia! (C.A.)

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