“A crise já acabou para os ricos, mas os pobres vão esperar mais 10 anos”

relatório da Oxfam abre o Fórum de Davos: o Covid aumenta as disparidades.

A reportagem é de Fabrizio Goria, publicada por La Stampa, 25-01-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.

pandemia de Covid-19 acelerou e aumentou as desigualdades. Com a consequência de que, para grande parte da população mundial, o risco é levar dez anos para voltar ao normal. O Fórum Econômico Mundial em Davos abre com o alarme da ONG internacional Oxfam, que destaca o gap entre os “mega-ricos” e o resto do mundo. As mulheres e os países em desenvolvimento são os mais afetados pelas repercussões econômicas do Sars-Cov-2. E, alerta a Oxfam, para evitar tensões sociais e geopolíticas a prioridade é agir imediatamente.

Nove meses. Esse foi o tempo que a parte mais rica do globo levou para compensar as perdas que enfrentou de março passado até hoje. Por outro lado, pode levar até 126 meses, dez anos e meio para os mais pobres. Este é um dos resultados da última pesquisa da Oxfam, conduzida em uma amostra de 295 economistas de 79 diferentes países. Verificou-se que 87% dos entrevistados esperam um “aumento” ou “grande aumento” na desigualdade de renda em seu país como resultado da pandemia de Covid-19. Para a Oxfam, “a recessão acabou para os mais ricos”, mas não para os demais.

Uma gap cada vez maior está no horizonte. Entrando nos detalhes do estudo, a Oxfam observa que “os dez homens mais ricos do mundo viram sua riqueza total aumentar em meio trilhão de dólares desde o início da pandemia, mais do que o suficiente para pagar uma vacina contra a Covid19 para todos no mundo e para garantir que ninguém seja empurrado para a pobreza pelo Sars-Cov-2”.

Mas, enquanto isso, a pandemia “inaugurou a pior crise de empregos em mais de 90 anos, com centenas de milhões de pessoas subempregadas ou desempregadas. E os 305 bilionários europeus viram suas fortunas aumentarem em quase 500 bilhões desde março, o suficiente para assinar um cheque de 11.092 euros para cada um dos 10% mais pobres dos cidadãos da UE”.

Números que se prestam a críticas, como costuma acontecer no caso da Oxfam, de muitos economistas. Mas que podem ser o ponto de partida para uma reflexão mais ampla. Os agentes econômicos que mais sofreram ao longo de 2020 e que registrarão as maiores dificuldades para voltar aos níveis anteriores à Covid são as mulheres e os países mais pobres. Um fenômeno que, como a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico e o Fundo Monetário Internacional também vêm apontando há algum tempo, deve ser enfrentado o quanto antes. A Oxfam faz isso com uma ideia que gerará discussão.

“Um imposto temporário sobre os lucros excedentes das 32 empresas globais que mais lucraram durante a pandemia poderia ter levantado US $ 104 bilhões em 2020”, provoca a Oxfam. E não é certo que não se possa chegar a medidas semelhantes.

 

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fonte: http://www.ihu.unisinos.br/606410-a-crise-ja-acabou-para-os-ricos-mas-os-pobres-vao-esperar-mais-10-anos


 

O vírus da desigualdade. A recessão já acabou para os super-ricos

As 1.000 pessoas mais ricas do mundo recuperaram em apenas nove meses todas as perdas que haviam acumulado devido à emergência Covid-19, enquanto os mais pobres para se recuperarem das consequências catastróficas da pandemia podem levar mais de 10 anos.

A reportagem é publicada por Oxfam Itália, 25-01-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.

É o que emerge de O vírus da desigualdade, o novo relatório publicado pela Oxfam, organização empenhada no combate às desigualdades por ocasião da abertura dos trabalhos do Fórum Econômico Mundial de Davos, que este ano será realizado de forma virtual.

Pela primeira vez em um século, poderia se registrar um aumento na desigualdade econômica em quase todos os países ao mesmo tempo. Uma pesquisa global da Oxfam com 295 economistas em 79 países – entre os quais Jeffrey SachsJayati Ghosh e Gabriel Zucman – reforça essas previsões, com 87% dos entrevistados esperando “um aumento” ou “um aumento significativo” na desigualdade de renda em seu país devido à pandemia. Na ausência de uma ação adequada e coerente por parte dos governos, o Banco Mundial também prevê que em 2030 mais de meio bilhão de pessoas viverão na pobreza, com uma renda inferior a US$ 5,50 por dia.

O vírus da desigualdade mostra como a pandemia exacerbou as desigualdades econômicas e sociais, raciais e de gênero pré-existentes: graças a um sistema econômico injusto, uma elite de bilionários continuou a acumular riqueza durante a pior crise desde a Grande Depressão, enquanto bilhões de as pessoas foram empurradas para a beira da pobreza. Alguns dados:

· A recessão acabou para os super-ricos: Os 10 homens mais ricos do mundo viram sua riqueza aumentar em US $ 540 bilhões desde o início da pandemia. Esta é uma soma que seria mais do que suficiente para pagar a vacina para todos os habitantes do planeta e garantir que nenhum caia na pobreza devido ao vírus. Basta dizer que entre março e dezembro de 2020, enquanto a pandemia desencadeava a pior crise de emprego dos últimos 90 anos, deixando centenas de milhões de pessoas desempregadas ou subempregadas, o patrimônio líquido de Jeff Bezos aumentou US $ 78,2 bilhões. Na Itália, a riqueza de 36 bilionários italianos aumentou em mais de 45,7 bilhões de euros desde março: uma soma que equivale a 7.570 euros para cada um dos 6 milhões de italianos pertencentes aos 10% na camada mais pobre.

· Mulheres, mais uma vez, são as mais afetadas: Globalmente, as mulheres são empregadas principalmente nos setores profissionais mais afetados pela pandemia. Se o nível de emprego entre homens e mulheres fosse igual nesses setores, 112 milhões de mulheres não correriam mais o risco de perder o emprego e, portanto, a renda. Isso é evidente no Oriente Médio e no Norte da África, onde as mulheres representam apenas 20% da força de trabalho, mas estima-se que as perdas de empregos devido à Covid-19 afetem o emprego feminino em 40%. As mulheres representam mais de 70% da força de trabalho empregada em profissões da saúde ou empregos sociais e de cuidados. Isso as expõe a riscos maiores em tempos de pandemias – para a saúde, mas também para tutela da renda. Hoje, na Itália, uma enfermeira teria que trabalhar 127 anos para ganhar o mesmo que um CEO de uma grande empresa ganha em um ano.

· A pandemia mata de forma desigual: Os brasileiros de ascendência africana têm 40% mais probabilidade de morrer de COVID-19 do que a população branca; nos Estados Unidos, 22.000 cidadãos afro-americanos e latino-americanos ainda estariam vivos se sua taxa de mortalidade fosse iguais à dos brancos.

· A recuperação da Covid envolve a criação de sistemas econômicos mais justos: Um imposto temporário sobre os superlucros acumulados por 32 multinacionais durante a pandemia teria gerado 104 bilhões de dólares em 2020, montante de recursos equivalente ao necessário para garantir seguro-desemprego para todos os trabalhadores e apoio financeiro para crianças e idosos em todos países de baixa e média renda.

“Poderíamos assistir a um aumento exponencial da desigualdade como nunca foi visto antes – disse Gabriela Bucher, diretora da Oxfam International – Uma distância tão profunda entre ricos e pobres que é mais letal do que o próprio vírus. Enquanto uma elite de poucos bilionários obteve enormes lucros com a pandemia, as pequenas e médias empresas lutam para resistir, e cada vez mais pessoas estão perdendo seus empregos, acabando na pobreza. Entre todos, são as mulheres e as minorias étnicas que suportam o impacto maior da crise. Em muitos países, eles são os primeiros a correr o risco de padecer fome e perder a assistência sanitária”.

Com a recuperação das bolsas, as fortunas dos bilionários atingiram recordes históricos: em dezembro sua riqueza total havia chegado a 11,950 bilhões de dólares, o equivalente aos recursos alocados por todos os países do G20 para responder aos efeitos da pandemia. A recuperação para aqueles em dificuldade mesmo antes da Covid será dura e longa: antes de o vírus chegar, metade dos trabalhadores nos países mais vulneráveis estavam na pobreza e três quartos da força de trabalho não usufruía de qualquer forma de proteção social, como benefício por doença e abono desemprego.

“O aumento das desigualdades não é um fenômeno inevitável, mas depende das escolhas políticas dos governos. – acrescenta Bucher. A crise gerada pelo Covid-19 oferece aos governos em todo o mundo a oportunidade de adotar políticas aptas a promover sistemas econômicos mais justos e inclusivos. Combater as causas estruturais da desigualdade para a Oxfam significa principalmente investir na cobertura universal e gratuita sanitária, na educação e outros serviços públicos que possam reduzir as desigualdades; promover o trabalho digno, livre de exploração, também incentivando modelos de empresa que distribuam o valor de forma mais equitativa entre todos os stakeholders e não centrados na mera maximização dos lucros para os acionistas; implementar políticas voltadas para a justiça fiscal; reorientar os nossos modelos de produção e consumo para conter a severa crise climática. Hoje, mais do que nunca, precisamos enfrentar a emergência, mas ao mesmo tempo começar a adotar políticas estruturais capazes de promover um novo sistema econômico que não seja mais para a vantagem de poucos, mas para todos”.

Um apelo para colocar um fim às desigualdades acentuadas pela pandemia Covid-19, que pode ser apoiado assinando a petição #STOPDISUGUAGLIANZE

 

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Oito empresas de alimentos pagaram US$ 18 bi a acionistas

 
 

O impacto da pandemia sobre empregos e meios de subsistência expandiu, de forma rápida e significativa, a crise alimentar. O Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas (PMA) estimou que o número de pessoas que passam fome aumentaria para 270 milhões no fim de 2020 por causa da pandemia, um aumento de 82% em comparação a 2019. A ONG britânica Oxfam avalia que isso poderia significar entre 6 mil e 12 mil pessoas morrendo a cada dia de fome.

“Enquanto uma em cada dez pessoas vai para a cama com fome, as oito maiores empresas de alimentos e bebidas do mundo pagaram mais de US$ 18 bilhões a seus acionistas entre janeiro e julho de 2020. Isso é cinco vezes mais do que os valores arrecadados pela ONU, em novembro de 2020, com a chamada para doações para a Covid-19”, diz relatório da Oxfam divulgado nesta segunda-feira no Fórum Econômico Mundial, em Davos, Suíça.

As mulheres são as que mais sofrem, conforme o documento. Elas são maioria nos empregos mais precários, que foram os mais impactados pela pandemia. Em todo o mundo, 740 milhões de mulheres trabalham na economia informal e, durante o primeiro mês da pandemia, sua renda caiu 60%, o equivalente a uma perda de mais de US$ 396 bilhões, segundo informações da Agência Brasil a partir de dados apresentados pela Oxfam.

Nos Estados Unidos, 22 mil pessoas negras e hispânicas ainda estariam vivas, até dezembro do ano passado, se tivessem a mesma taxa de mortalidade por Covid-19 que as pessoas brancas. O relatório diz ainda que, no Brasil, pessoas negras têm 40% mais chance de morrer devido ao coronavírus do que pessoas brancas. Se as taxas de mortalidade da doença nos dois grupos fossem as mesmas até junho de 2020, a entidade estima que mais de 9.200 negros estariam vivos.

Ainda segundo a Oxfam, as taxas de contaminação e mortes por Covid-19 são maiores em áreas mais pobres de países como França, Espanha e Índia. Na Inglaterra, essas taxas são o dobro nas regiões mais pobres em comparação com as mais ricas.

“Em todos os países, os mais pobres sofreram os maiores impactos, perdendo emprego e renda, enquanto os mais ricos conseguiram se recuperar em tempo recorde. A pandemia expôs, alimentou e aumentou as desigualdades econômicas, de raça e gênero por toda a parte”, destaca a Oxfam.

A ONG defende que a luta por um mundo mais justo e menos desigual tem que ser prioridade dos esforços de recuperação econômica. “Os governos têm que garantir que todas e todos tenham acesso à vacina contra a Covid-19 e apoio financeiro para lidar com os efeitos da pandemia. É preciso investir em serviços públicos, criar milhões de empregos e assegurar que todas e todos tenha educação e saúde de qualidade”, assinala a Oxfam.

“É preciso também que os mais ricos e as grandes corporações paguem uma parte justa em impostos. As economias têm que funcionar para todas e todos, não apenas para um pequeno grupo de privilegiados”, destaca a entidade britânica.

fonte: https://monitormercantil.com.br/oito-empresas-de-alimentos-pagaram-us-18-bi-a-acionistas/

 

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