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Em fevereiro de 2020, o Brasil foi palco de um dos maiores eventos missionários do mundo. Autointitulado como um “movimento”, a edição brasileira do The Send lotou – de forma simultânea – um estádio em Brasília e dois em São Paulo, além de ter contado com a participação de figuras importantes da política nacional, como o próprio presidente Jair Bolsonaro e a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves.
O The Send tem como principal missão a evangelização em massa na América. Através de um discurso “pop” e descolado, o evento usa a juventude como massa de manobra para a propagação do movimento. “Estamos crendo e nos preparando para fazer o maior envio missionário da história: milhares de cristãos incendiados pelo amor de Deus, comprometidos a transformar universidades, escolas, nações e a realidade de crianças órfãs e em vulnerabilidade no nosso país”, diz o portal do The Send Brasil.
“Sem essa orientação, é bem mais difícil chegar a políticas públicas que satisfaçam a Deus e que sejam benéficas ao progresso da nação”, afirma Drollinger em um dos estudos em seu site. Segundo informações do El País, o pastor realizava encontros semanais com membros do alto escalão do governo de Donald Trump, incluindo o vice-presidente Mike Pence, e o secretário de Estado, Mike Pompeo.
Desde o ano passado, o vice-presidente dos EUA ajudou a financiar a expansão de ministérios do Capitol Ministries em cinco países latino-americanos: México, Honduras, Paraguai, Costa Rica e Uruguai. No Brasil, foram planejados “estudos bíblicos” no Senado e na Casa Civil.
Jocum e Damares Alves
Além de ser um dos idealizadores do The Send, o grupo norte-americano YWAM/Jocum também é parceiro da ministra Damares Alves e esteve envolvido em diversas polêmicas envolvendo a evangelização de indígenas no Brasil. A entidade, por exemplo, já foi expulsa do território suruwahá por praticar atividades “proselitistas e discriminatórias”, como escravizar indígenas e contrabandear sementes, segundo o Ministério Público Federal (MPF).
Apesar das represálias da Procuradoria, em fevereiro deste ano, a ministra tentou levar duas missionárias do grupo para uma expedição na aldeia do povo suruwahá na Amazônia. O objetivo da viagem, segundo a pasta, seria sanar uma “crise de saúde mental” entre os indígenas, que vivem em território isolado no bioma. A Secretaria Especial de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, no entanto, cancelou a expedição.
A ministra também participou da fundação da organização evangélica Atini – Voz Pela Vida, um dos braços da Jocum, e que já acusou indígenas de ser praticantes de infanticídio. Assim como a entidade norte-americana, a Atini também foi denunciada pelo MPF. Desta vez, por sequestrar e traficar crianças das aldeias, dizendo que iriam salvá-las.
fonte: https://revistaforum.com.br/politica/saiba-o-que-e-o-the-send-movimento-ultraconservador-dos-eua-que-damares-trouxe-ao-brasil/