NOTA DE REPÚDIO AO ATAQUE VIRTUAL SOFRIDO DURANTE A CELEBRAÇÃO EM HOMENAGEM A DOM PEDRO CASALDÁLIGA
A Celebração de homenagem a Dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia, falecido em 08 de agosto de 2020 em decorrência de uma infecção pulmonar, foi organizada pela Irmandade dos Mártires da Caminhada nesta sexta-feira, 14 de agosto. Estava começando quando a sala virtual, na plataforma Google Meet, foi invadida por três perfis desconhecidos que tumultuaram as falas e canções dos animadores do ritual online. Os invasores compartilharam cenas de filmes pornográficos, músicas com conteúdo sexual, hinos alusivos aos símbolos nacionais e imagens de líder alemão nazista Adolf Hitller.
A celebração que também estava sendo transmitida pelo canal da Pastoral da Juventude Leste 2 no YouTube, assim preparada em função da pandemia pela Covid-19, e seguindo as orientações pelo distanciamento social que reduz a transmissão do vírus, precisou ser cancelada porque os organizadores do evento não conseguiram retirar, após inúmeras tentativas sem sucesso, os invasores da sala virtual.
Este foi mais um dos episódios que têm sido recorrentes nas redes sociais e nas transmissões de conferências, reuniões e aulas públicas pela internet, no Brasil, orquestradas por grupos que se definem como de “extrema direita” e são responsáveis pela propagação de violência, expressos em conteúdo de ódio no espaço virtual.
O ódio a Dom Pedro Casaldáliga está relacionado à atuação do religioso catalão na Prelazia de São Félix do Araguaia, nordeste do Mato Grosso, onde exerceu, desde a década de 1970, um importante papel como mediador dos conflitos decorrentes da implementação de grandes projetos latifundiários na Amazônia brasileira. Dom Pedro foi responsável também por elaborar diversas denúncias sobre a violência praticada contra indígenas, peões e posseiros, migrantes submetidos a trabalho escravo em grandes fazendas, entre outros, razões pelas quais vinha sofrendo ameaças de morte diretas ou anônimas desde aqueles anos.
A intolerância desses invasores é mais uma faceta do esquema de impunidade de criminosos e da violação de direitos humanos praticada por oligarquias e grandes corporações, com a conivência e anuência de agentes do poder público, sobretudo, após a eleição de lideranças políticas de extrema direita para cargos do executivo estadual e federal que trazem para o cenário político nacional elementos próprios do fascismo, o que vem crescendo ao longo dos últimos anos.
Lideranças como Pedro Casaldáliga, Dorothy Stang, José Cláudio e Maria do Espírito Santo, Frei Henri des Roziers e Marielle Franco, entre outros, incomodam mesmo depois de mortos ou assassinados, por sua atuação política em defesa de melhores condições de vida, redução da pobreza e desigualdade e direitos coletivos de populações historicamente marginalizadas no Brasil.
Por isso continuaremos resistindo, fazendo memória da vida e das lutas destas lideranças tombadas enquanto lutavam por um mundo mais digno e menos desigual.
Pedro: semente!
Pedro: Presente!
Marabá-PA, 15 de agosto de 2020.
Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Mudança Social no Sudeste Paraense
(GEPEMSSP/UNIFESSPA)