Receita da companhia dos herdeiros de dom Pedro foi de R$ 5,1 milhões em 2020, revelam documentos obtidos pelo Metrópoles
Metrópoles 22/02/2022 11:56
Luciano Belford/Especial Metrópoles
A Companhia Imobiliária de Petrópolis (CIP), empresa dos herdeiros da família imperial do Brasil que administra a chamada “taxa do príncipe” cobrada em Petrópolis, no Rio de Janeiro, teve faturamento de R$ 5,161 milhões em 2020.
Desse total, R$ 4,883 milhões foram das chamadas receitas operacionais, provenientes da atividade principal da empresa.
O valor é cerca de 3% maior que o de 2019. Naquele ano, a companhia teve receita anual de R$ 5,028 milhões, sendo R$ 4,827 milhões da área operacional. Apenas nos dois últimos anos, portanto, a empresa faturou R$ 10,189 milhões. Os dados fazem parte do balanço mais recente da CIP, segundo registros da Junta Comercial do Rio de Janeiro, ao qual o Metrópoles teve acesso.
A “taxa do príncipe”, ou laudêmio, é recolhida no centro e em alguns bairros mais valorizados de Petrópolis, cidade que tem sofrido uma tragédia devido às chuvas nas últimas semanas. Ao menos 180 pessoas morreram e 116 estão desaparecidas.
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Na prática, quem comercializa imóvel na área da antiga Fazenda Imperial deve repassar uma taxa de 2,5% do valor da venda aos descendentes da família.
Desde a vigência do Império no Brasil até os dias atuais, alguns moradores de Petrópolis (RJ), região atingida por fortes chuvas, pagam uma taxa imobiliária à família real brasileiraAline Massuca/Metrópoles0
Hoje, a companhia imobiliária é presidida por Afonso de Bourbon de Orleans e Bragança. A diretoria da empresa também é composta por Francisco de Orleans e Bragança e Pedro Carlos de Bourbon de Orleans e Bragança, segundo dados públicos da Receita Federal.
Juntos, eles recebem R$ 100,9 mil por mês apenas de honorários, o equivalente a R$ 1,21 milhão por ano.
Francisco Orleans e BragancaReprodução/ Redes sociais0
Esse valor foi definido na última Assembleia Geral Ordinária, realizada em 17 de março de 2021. A definição do honorário, em vigor até abril deste ano, gerou controvérsia na família. Os sócios minoritários votaram contra a bolada de R$ 100,9 mil por mês para os diretores da companhia.
Não se sabe qual o valor exato arrecadado pelos descendentes da antiga família imperial por meio da “taxa do príncipe”, mas a receita operacional da empresa pode dar uma dimensão disso. A Prefeitura de Petrópolis informou que não tem qualquer ingerência ou participação na arrecadação do valor.
Ao Metrópoles o ex-vereador de Petrópolis Anderson Juliano afirmou ter tentado de várias maneiras obter a quantia, mas nunca teve sucesso.
Nas notas explicativas às demonstrações contáveis da empresa, os diretores da CIP não detalham o faturamento específico com o laudêmio. No entanto, a receita operacional engloba a exploração de imóveis e “direitos reais sobre eles”; a locação de parte da sede da empresa para eventos; e o aforamento de terras.
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Como mostrou o jornal Folha de S. Paulo, a gestão da taxa do príncipe rachou a autointitulada família imperial, e a briga chegou à Justiça.
Quatro herdeiros tentam obrigar os demais sócios da empresa a comprar suas partes do patrimônio, cujo valor ainda não foi estimado. As divergências sobre a administração da empresa ocorrem há décadas. Eles criticam as contas da empresa e a atuação dos sócios majoritários.
O bisneto da princesa Isabel e chefe da Casa Real de Portugal, dom Duarte Pio de Bragança, está entre os sócios minoritários insatisfeitos.
Outro lado
Procurado, o advogado da Companhia Imobiliária de Petrópolis (CIP), Arthur Tostes, afirmou que a reportagem deveria contatar a diretoria da empresa.
O Metrópoles não conseguiu, no entanto, contato com o diretor-presidente da empresa, Afonso de Bourbon de Orleans e Bragança, mesmo tendo ligado diversas vezes no telefone da companhia desde a última sexta-feira (18/2).
O mesmo direcionamento foi dado pelo presidente do Conselho Fiscal da companhia, Jarbas Barsanti. Ele afirmou não poder repassar informações sobre a CIP.
Representante dos sócios minoritários da empresa, o advogado Felipe Hermanny foi procurado, mas não retomou contato da reportagem. O advogado Marcelo Pedrosa, representante de dom João Orleans e Bragança, também não atendeu o pedido de entrevista.
Colaborou Claudia de Jesus, pós-graduanda em jornalismo investigativo pelo IDP.
fonte: https://www.metropoles.com/brasil/taxa-do-principe-empresa-da-familia-imperial-faturou-r-5-milhoes
“Herdeiros imperiais” ganham R$ 100 mil/mês para gerenciar laudêmio
Diretores da empresa que administra a “taxa do príncipe” em Petrópolis recebem R$ 100,9 mil, revelam documentos obtidos pelo Metrópoles
22/02/2022 2:00,atualizado 22/02/2022 11:09Aline Massuca/Metrópoles
Apenas de honorários, três descendentes da antiga família imperial do Brasil, que compõem a diretoria da Companhia Imobiliária de Petrópolis (CIP) – empresa responsável pelo recolhimento da chamada “taxa do príncipe”, o laudêmio –, ganham R$ 100,9 mil mensais, o equivalente a R$ 1,21 milhão ao ano.
Esse valor foi definido na última Assembleia Geral Ordinária (AGO) da companhia, realizada em 17 de março de 2021. O Metrópoles teve acesso à ata do encontro, que também tratou dos rendimentos da empresa. Só em 2020, a CIP faturou R$ 5,161 milhões. Desse total, R$ 4,883 milhões se referem às chamadas receitas operacionais, provenientes da atividade principal da empresa (explorar imóveis e direitos reais, locação de parte da sede e aforamento de terras).
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Pedro Carlos de Bourbon de Orleans e BragançaReprodução/ Secretaria de Esportes do RJ
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Francisco Orleans e BragancaReprodução/ Redes sociais
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Pedro Carlos de Bourbon de Orleans e BragançaReprodução/ Secretaria de Esportes do RJ
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Francisco Orleans e BragancaReprodução/ Redes sociais1
Hoje, a empresa é presidida por Afonso de Bourbon de Orleans e Bragança. A diretoria da companhia imobiliária também é composta por Francisco de Orleans e Bragança e Pedro Carlos de Bourbon de Orleans e Bragança, de acordo com registros públicos da Receita Federal.
Criada em 1847 por dom Pedro II, a “taxa do príncipe”, ou laudêmio, é recolhida no centro e em alguns bairros mais valorizados de Petrópolis, cidade que tem enfrentado uma tragédia devido às chuvas nas últimas semanas. Ao menos 176 pessoas morreram e 116 estão desaparecidas. Na prática, quem comercializa um imóvel na área da antiga Fazenda Imperial deve pagar uma taxa de 2,5% do valor da venda aos descendentes da família.
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Os honorários são pagos mensalmente aos diretores da CIP e independem da existência de lucros. Em 2020, a imobiliária da autointitulada família imperial lucrou R$ 59.354,84. Não houve distribuição de dividendos, porém, devido a “prejuízos fiscais de exercícios anteriores a serem compensados”.
Em 2019, o lucro da imobiliária dos descendentes da antiga família imperial foi de R$ 313,1 mil, segundo o balanço da empresa.
Racha
A definição dos honorários, em vigor até abril deste ano, expôs um racha entre os herdeiros de dom Pedro, o primeiro imperador do Brasil.
Isso porque os acionistas minoritários – dom Miguel de Bragança, dom Duarte Pio de Bragança, dom Elizabeth Maria de Orleans e Bragança e Martorell e dona Francisca Joana de Orleans e Bragança de Martorell –, acompanhados por João Henrique de Orleans e Bragança, votaram contra o valor.
Por outro lado, votaram a favor os acionistas majoritários, que incluem a Companhia Administradora Giralda, o espólio de dom Pedro de Orleans e Bragança, além dos três diretores (Afonso de Bourbon de Orleans e Bragança, Francisco de Orleans e Bragança e Pedro Carlos de Bourbon de Orleans e Bragança).
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Na Câmara dos Deputados, tramitam alguns projetos de lei que tentam acabar com a cobrança. Um dos mais recentes é o PL 553/2020 do deputado federal Rogério Correia (PT) Divulgação
Desde a vigência do Império no Brasil até os dias atuais, alguns moradores de Petrópolis (RJ), região atingida por fortes chuvas, pagam uma taxa imobiliária à família real brasileiraAline Massuca/Metrópoles
Criado pelo imperador dom Pedro II, em 1847, o laudêmio ou “taxa do príncipe” é um imposto recolhido em alguns pontos da localidade fluminense
A taxa foi instituída quando o imperador teve a ideia de distribuir lotes de terra da região a imigrantes alemães. O objetivo era colonizar as terras da então Fazenda do Córrego Seco, comprada em 1830 por seu pai, dom Pedro I
O tributo determina que quando um imóvel localizado no terreno onde ficava a Fazenda do Córrego Seco muda de dono, uma taxa de 2,5% do valor da venda deve ser paga aos descendentes de parte da antiga família imperial Orleans e Bragança no Brasil
A cobrança do laudêmio é destinada aos habitantes do centro e de outros bairros mais valorizados de Petrópolis, onde foi enterrado o ex-imperador do BrasilReprodução
O valor tem de ser pago à vista à Companhia Imobiliária de Petrópolis, entidade administrada pelos descendentes de dom Pedro II. Caso contrário, o comprador, a quem cabe o pagamento da taxa, não recebe a escritura definitiva do imóvel adquiridoReprodução
Segundo o site de Luiz Philippe de Orleans e Bragança, o valor tem um investimento específico. “Boa parte do laudêmio pago ao ramo de Petrópolis é utilizado na conservação de prédios históricos e públicos de Petrópolis, como o Palácio Imperial”Divulgação/Museu Imperial
Em entrevista ao site Aventuras na História, o ex-vereador de Petrópolis Anderson Juliano disse que a existência da taxa é respaldada pela legislação federalReprodução/TV Globo
O laudêmio não é uma exclusividade da família imperial nem cobrado apenas em Petrópolis. Em outras regiões do Brasil, há quem tenha que pagar taxa à Igreja Católica ou à UniãoPrefeitura de Petrópolis
Na Câmara dos Deputados, tramitam alguns projetos de lei que tentam acabar com a cobrança. Um dos mais recentes é o PL 553/2020 do deputado federal Rogério Correia (PT)
Desde a vigência do Império no Brasil até os dias atuais, alguns moradores de Petrópolis (RJ), região atingida por fortes chuvas, pagam uma taxa imobiliária à família real brasileira
Como mostrou o jornal Folha de S. Paulo, a gestão da taxa do príncipe rachou a autointitulada família imperial, e a briga chegou à Justiça.
Quatro herdeiros tentam obrigar os demais sócios da empresa a comprar suas partes do patrimônio, cujo valor ainda não foi estimado. As divergências sobre a administração da empresa ocorrem há décadas, diz o jornal. Eles criticam as contas da empresa e a atuação dos sócios majoritários.
O bisneto da princesa Isabel e chefe da Casa Real de Portugal, dom Duarte Pio de Bragança, está entre os sócios minoritários insatisfeitos.
Outro lado
Procurado, o advogado da Companhia Imobiliária de Petrópolis (CIP), Arthur Tostes, afirmou que a reportagem deveria contatar a diretoria da empresa.
O Metrópoles não conseguiu, no entanto, contato com o diretor-presidente da empresa, Afonso de Bourbon de Orleans e Bragança, mesmo tendo ligado diversas vezes no telefone da companhia desde a última sexta-feira (18/2).
O mesmo direcionamento foi dado pelo presidente do Conselho Fiscal da companhia, Jarbas Barsanti. Ele afirmou não poder repassar informações sobre a CIP.
Representante dos sócios minoritários da empresa, o advogado Felipe Hermanny foi procurado, mas não retomou contato da reportagem. O advogado Marcelo Pedrosa, representante de Dom João Orleans e Bragança, também não atendeu o pedido de entrevista.
Colaborou Claudia de Jesus, pós-graduanda em jornalismo investigativo pelo IDP.
fonte: https://www.metropoles.com/brasil/herdeiros-imperiais-ganham-r-100-mil-mes-para-gerenciar-laudemio