Algo novo está nascendo, esta é a primeira e mais importante conclusão que podemos tirar da Assembleia Mundial pela Amazônia. Os povos indígenas estão cansados de serem atacados em seus territórios, memórias e culturas. E é por isso que eles dizem que chega de uma floresta derrubada, queimada, saqueada pelo extrativismo violador, que só obedece ao poder e à ganância.
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
As conclusões de tudo o que foi vivido nos dias 18 e 19 de julho, com uma participação numerosa e representantes de dezenas de países dos cinco continentes, nos fazem descobrir que a resistência das comunidades é cada vez mais organizada e tem mais apoio, também da Igreja Católica, através da Rede Eclesial Pan-Amazônica – REPAM, também do Irmão Francisco. Juntos, eles estão se organizando diante da devastação e da fome que podem chegar após esta pandemia, que tem mostrado que o ecocídio, o etnocídio e o terricídio estão avançando pior que o vírus.
Um novo tecido está surgindo, rebelde, que quer nos fazer ver que somos todas Amazônia. É agora ou nunca, porque a Assembleia Mundial pela Amazônia mostrou que não há mais tempo, que é hora de se unir, de amazonizar-se, de libertar a Amazônia e os povos que lá vivem, de mostrar que mais forte que todas as vozes da morte será o grito de vida que emerge da Amazônia e do Mundo.
Tudo isso em meio a uma pandemia que afetou decisivamente a Amazônia e seus povos, que já causou mais de 600 mil contágios e 18 mil mortes, gerando uma crise estrutural, com contágio descontrolado, falta de medicamentos e colapso dos sistemas de saúde, o que representa um perigo real para os povos e revela um etnocídio por parte dos Estados. Algo que não surgiu por acaso, que é uma consequência da mudança climática, da mudança em nossos hábitos alimentares, de animais altamente concentrados em fazendas industriais, do uso de transgênicos, do avanço do desmatamento, da mineração, que causam a destruição e o desequilíbrio da biodiversidade, de cidades maiores e mais povoadas. A isto se soma o crescente endividamento dos estados e o incentivo ao extrativismo.
Diante desta situação, a Assembleia Mundial pela Amazônia lançou suas demandas aos governos amazônicos, pedindo que as iniciativas e ações comunitárias sejam encorajadas em nível internacional. Há uma necessidade urgente de mais e melhores cuidados com a saúde, assim como uma garantia de alimentação, isolamento das comunidades e uma interrupção das atividades extrativistas nos territórios amazônicos, que atualmente estão sendo utilizados como vetores para a expansão da pandemia. Isto deve levar a reorientar políticas que reduzam as desigualdades sociais e fortaleçam o autocuidado da comunidade, promovendo suas iniciativas que estão ajudando a abordar a COVID-19.
Para isso, será necessário promover informação e comunicação alternativas, assim como iniciativas indígenas e populares de autogoverno como base para o autocuidado da saúde da comunidade, diante da negligência do Estado. A Assembleia Mundial da Amazônia também destacou a urgência de missões internacionais no campo da saúde, bem como de denunciar aos organismos internacionais o etnocídio estatal ao qual os povos estão sendo submetidos.
Os participantes da assembleia quiseram mostrar que é hora de mobilização para ação, reflexão e mudança, para entender que a Amazônia extrapola o estereótipo da floresta, que eles lutam pela Amazônia e por todos os outros lugares do planeta, porque lutam pela vida. A partir desta perspectiva, a Assembleia Mundial pela Amazônia pede uma mobilização global para uma solidariedade concreta com os povos da Pan-Amazônia que agora sofrem com a pandemia da Covid-19; para uma luta contra o ataque aos territórios e a destruição da vida, através do boicote às empresas e mercadorias que destroem a região; para a afirmação de novos padrões de consumo, novos modos e formas de vida, a partir da perspectiva do bem viver.
Três processos de auto-organização emergem da Assembleia para a mobilização das pessoas e dos povos, tanto dentro como fora da Amazônia. Este propósito deve contar com o protagonismo dos povos e organizações locais e regionais, assim como de todos aqueles que se preocupam com o futuro do planeta. Para este fim, já foi elaborado um calendário, já que a mobilização não termina na assembleia, ela está apenas começando, com a participação de todos, cada um na medida de suas possibilidades, mas convergindo para os objetivos gerais.
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