Bahia é o estado mais letal do Nordeste e 100% dos mortos pela polícia em Salvador são negros

A cidade que mais matou pessoas pessoas negras no país foi Santo Antônio de Jesus, que fica no Recôncavo Baiano. O levantamento é da Rede de Observatórios da Segurança, e corresponde ao ano de 2020.

Por G1 BA

14/12/2021


Bahia é o estado mais letal do Nordeste e 100% dos mortos pela polícia em Salvador são negros — Foto: Divulgação/Rede de Observatórios da Segurança

Bahia é o estado mais letal do Nordeste e 100% dos mortos pela polícia em Salvador são negros — Foto: Divulgação/Rede de Observatórios da Segurança

A Bahia foi o estado mais letal da região Nordeste em 2020, segundo a pesquisa “Pele Alvo: A cor da violência policial”, da Rede de Observatórios da Segurança. O levantamento, divulgado nesta terça-feira (14) aponta ainda que todas as pessoas mortas pela força policial em Salvador, no último ano, eram negras.

Em 2020, houve um aumento de 21,08% de mortes por ações policiais, em comparação com 2019 – quando foram registrados 650 casos de mortos pela polícia. Só no último ano, 787 pessoas foram mortas pela polícia, no estado.https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

Desse total, apenas 606 tiveram identificação de raça, sendo 98% delas negras, ou seja pardas (515) ou pretas (80). As outras 11 pessoas eram brancas. Em todo o país, nos estados analisados, a cidade com maior letalidade policial para as pessoas negras é Santo Antônio de Jesus.

A cidade, que fica no Recôncavo Baiano, tem uma população estimada em 103.204 pessoas. Apesar de detalhar o percentual de pessoas negras mortas na capital da Bahia e em Santo Antônio de Jesus, a Rede não divulgou os números correspondentes a esses percentuais.

Bahia é o estado mais letal do Nordeste e 100% dos mortos pela polícia em Salvador são negros — Foto: Divulgação/Rede de Observatórios da Segurança

Bahia é o estado mais letal do Nordeste e 100% dos mortos pela polícia em Salvador são negros — Foto: Divulgação/Rede de Observatórios da Segurança

A pesquisa da Rede de Observatórios da Segurança é feita com base em metodologia de pesquisa rigorosa e monitoramento diário, por meio de dados divulgados pelas secretarias estaduais, via Lei de Acesso à Informação.https://229b232d0d2a9389e5626f188a01e946.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) informou que a polícia é treinada para usar armas letais somente em situações de legítima defesa, após esgotar todas as tentativas de prender suspeitos.

Acrescentou ainda que as operações e patrulhamento diário são promovidos levando em consideração a taxa de crimes e também denúncias de moradores.

Por fim, a SSP detalhou que tem investido em capacitação e está em fase de testes com câmeras corporais, que visam a registrar as ações nas ruas. O órgão de segurança afirmou ainda que as ações garantem transparência nas ocorrências para policiais e cidadãos.

A Rede de Observatórios da Segurança divulga o relatório sobre violência policial anualmente. O estudo, que já era feito com Bahia, Ceará, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo, agora passou a incluir também Maranhão e Piauí.

Casos de repercussão

Mulheres mortas no Curuzu em junho deste ano — Foto: Arquivo pessoa/Arte G1

Mulheres mortas no Curuzu em junho deste ano — Foto: Arquivo pessoa/Arte G1https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

Os organizadores também buscam e comparam as informações em reportagens e casos divulgados pela mídia. Um desses crimes foi contra o pequeno Railan Santos da Silva, de 7 anos. Ele morreu após ser baleado pela polícia enquanto assistia uma partida de futebol no bairro do Curuzu, em Salvador

Criança é morta a tiros no bairro do Curuzu, em Salvador  — Foto: Arquivo Pessoal

Criança é morta a tiros no bairro do Curuzu, em Salvador — Foto: Arquivo Pessoal

Também na pesquisa, os pesquisadores citaram um caso de grande repercussão midiática que aconteceu no mesmo bairro, mas já em 2021. Maria Célia de Santana, de 73 anos, e Viviane Soares, 40, duas mulheres negras, foram mortas por policiais militares na frente da casa.https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

Elas conversavam, quando os agentes públicos dispararam contra elas, durante uma suposta perseguição a homens que estavam em um carro.

Chacinas

Edson da Silva [canto superior esquerdo]; Aliete Mercês [canto superior esquerdo]; Gean Vieira e Aliete [canto inferior esquerdo] e Raleria, de 11 anos — Foto: Arquivo pessoal

Edson da Silva [canto superior esquerdo]; Aliete Mercês [canto superior esquerdo]; Gean Vieira e Aliete [canto inferior esquerdo] e Raleria, de 11 anos — Foto: Arquivo pessoal

O levantamento também aponta que a Bahia teve o maior índice de chacinas entre os estados do Nordeste monitorados pela Rede de Observatórios da Segurança nos últimos dois anos: 74 registros.

Entre os mais recentes estão um ataque armado a uma festa de rua deixou seis pessoas mortas e outras 12 feridas no bairro do Uruguai, em Salvador. Esse crime aconteceu na madrugada de 13 de outubro, na Rua Voluntários da Pátria, em uma localidade conhecida como Pistão. [Veja quem foram as vítimas da chacina]https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

As investigações do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) apontam que o ataque armado começou a partir de uma briga entre pessoas que estavam na festa, conhecida como “paredão”, por causa do uso de grandes equipamentos de som automotivos.

No mesmo mês, no dia 30, cinco pessoas morreram após terem sido baleadas dentro de um barraco, às margens da BR-101, no trecho de Itabela, extremo sul da Bahia. Ao todo, quatro pessoas foram presas.

fonte: https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2021/12/15/policia-federal-investiga-pagamento-de-r-11-milhoes-em-propina-na-obra-da-arena-castelao.ghtml

Negros são maioria dos mortos em ações policiais em seis estados

É o que revela pesquisa da Rede de Observatórios de Segurança

Publicado em 14/12/2021 – 17:28
Por Cristina Indio do Brasil – Repórter da Agência Brasil – Rio de Janeiro

A cada quatro horas uma pessoa negra é morta em ações policiais na Bahia, no Ceará, no Piauí, em Pernambuco, no Rio de Janeiro e em São Paulo. É o que mostra o estudo Pele alvo: a cor da violência policial elaborado pela Rede de Observatórios da Segurança, publicado nesta terça-feira (14). Os estados são seis dos sete que são monitorados pela rede. O sétimo é o Maranhão, onde o governo não acompanha a cor das vítimas da violência, o que para a entidade é “uma outra forma de racismo institucional”.

O trabalho é resultado de dados referentes ao ano de 2020, que foram obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação. Pela segunda vez, a Rede de Observatórios analisa os números das secretarias de segurança dos estados monitorados. A primeira foi no ano passado.

Conforme a pesquisa, mesmo “em um contexto de crise sanitária mundial, o racismo não dá trégua e, pelo contrário, mata ainda mais, tanto por vírus como por tiro”. O estudo apontou que, entre as 2.653 mortes provocadas pela polícia, com informação racial nos seis estados da rede, 82,7% delas eram pessoas negras.

O Rio de Janeiro mais uma vez foi o estado com mais mortes de pessoas negras em ações policiais. No caso dos 1.092 mortos que tiveram a cor/raça informada, 939 registros eram de pessoas negras. Apesar disso, a Bahia novamente apresentou a maior porcentagem de mortes de pessoas negras por agentes do estado, sendo a polícia mais letal do Nordeste. Pernambuco teve um aumento de 53% de mortes provocadas por ação de agentes do estado, passando de 93% para 97% de pessoas negras entre as vítimas de um ano para o outro.

Nesta edição, a Rede de Observatórios de Segurança, pela primeira vez, apresenta também os números das capitais e constatou que 100% dos mortos pela polícia em Recife, em Fortaleza e em Salvador eram pessoas negras. Em Teresina foram 94% e no Rio de Janeiro 90% de negros mortos pelas polícias.

Para a rede, a proporção de negros mortos pela polícia frente à sua proporção na população “é a imagem mais contundente do racismo que estrutura a atividade policial. Em todos os estados, a presença de negros entre os mortos pela polícia é bem maior do que na composição populacional dos estados, mostrando que a morte pela ponta de um fuzil carregado por um policial atinge de maneira desproporcional os negros em relação aos não negros”.

Bahia

De acordo com dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Santo Antônio de Jesus, na Bahia, é a cidade em que mais pessoas negras morrem em ações policiais no Brasil. Entre os que possuem o maior número de mortos, o estado ocupa a terceira posição (595 mortos). O Rio de Janeiro aparece em primeiro lugar (939) e, em segundo, São Paulo (488), que é o estado mais populoso do Brasil. A pesquisa mostrou ainda que a polícia da Bahia, entre todos os estados da rede, é a que apresenta o maior percentual de pessoas negras mortas em ações policiais, com 98%, enquanto que na capital Salvador todas as vítimas da polícia são negras.

Ceará

O estudo Pele alvo: a cor da violência policial indicou que, no Ceará, negros tem sete vezes mais chances de serem mortos do que os não negros. Lá, no percentual da população em geral, 62,3% correspondem a negros, mas entre as vítimas de agentes estatais, pessoas negras atingiram 87,2%. A rede destacou que a constatação ocorreu mesmo com o estado sendo “um dos que mais acumulam problemas com relação ao acompanhamento da cor das vítimas. São 106 vítimas incolores contra 39 com identificação racial”. Na capital Fortaleza, 100% dos mortos pela polícia com identificação racial são negros.

Maranhão

No Maranhão, A rede chamou atenção para a dificuldade em obter resultados no estado por causa da falta de acompanhamento da cor das vítimas de policiais. No entanto, foi possível verificar que o número de pessoas vitimadas por policiais no Maranhão, no total, subiu de 72, em 2019, para 97, em 2020. “A variação entre um ano e outro foi de 35%”.

Pernambuco

Em Pernambuco, 113 pessoas foram vítimas de ações policiais no estado. Entre elas, 109 eram pessoas negras, três brancas, e em um caso não foi identificada a cor da pele. Em 2019, o total de pessoas mortas pela polícia no estado atingiu 74 casos, dos quais 93% eram negras.

Piauí

No Piauí, o percentual de vítimas da violência letal da polícia, de pessoas negras, alcançou 91%. Com 94% de letalidade da população negra por atividade policial, a capital Teresina ficou em terceiro lugar entre as monitoradas.

Rio de Janeiro

Ainda que permaneça como o estado que mais registra mortes em ações e intervenções das polícias, o Rio de Janeiro anotou 1.245 mortes no ano de 2020, o que representa uma redução de 31% em relação a 2019. No entanto, “o valor é o terceiro maior registro de toda a série histórica”. As pessoas negras são 86% entre os mortos pela polícia. A capital também é a com o maior número total de mortes (415). No município, 90% dos mortos em ações policiais são negros.

São Paulo

Em 2020, São Paulo teve 814 mortos pela polícia. Do total de homicídios, 770 ocorrências tiveram registro de raça das vítimas e em 63,4% dos casos, eram negras. Outra informação que a pesquisa revelou é que a proporção de pardos (5,4%) e de pretos (29,4%) entre os mortos é quase o dobro do percentual desse mesmo grupo na população paulista. Já entre os brancos, que representam 64% da população de São Paulo, são 36% entre os mortos pela polícia. Na capital, o percentual de negros mortos pela polícia é de 69%, no entanto, em número de casos, o município (317) só perde para o do Rio de Janeiro (415).

Rede de Observatórios

Depois de fazer a produção de dados em cinco estados, a Rede de Observatórios, que é um projeto do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), com apoio da Fundação Ford, no segundo semestre deste ano, ampliou o estudo para o Maranhão e o Piauí. Para isso, se juntaram ao trabalho, a Rede de Estudos Periféricos, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e do Instituto Federal do Maranhão (IFMA); o Núcleo de Pesquisas sobre Crianças, Adolescentes e Jovens, da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e a Iniciativa Negra por uma Nova Política sobre Drogas (INNPD); além do Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop); do Laboratório de Estudos da Violência (LEV/UFC) e ao Núcleo de Estudos da Violência (NEV/USP).

Edição: Maria Claudia

FONTE: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2021-12/negros-sao-maioria-dos-mortos-em-acoes-policiais-em-6-estados

Um negro é morto pela polícia a cada quatro horas, aponta levantamento

Rede de Observatórios da Segurança mostra que RJ é o estado com o maior número de pessoas negras mortas pelos agentes de segurança

Lucas JanoneMylena Guedesda CNN

Rio de Janeiro 14/12/2021

Em pelo menos seis estados brasileiros, uma pessoa negra é morta em ações policiais a cada quatro horas. É o que aponta o estudo da Rede de Observatórios da Segurança, intitulado ‘Pele alvo: a cor da violência policial’, que foi divulgado nesta terça-feira (14), com dados obtidos via Lei de Acesso à Informação.

A pesquisa detalha a situação de cada região do Brasil. Foram 2.653 mortes provocadas pela polícia, sendo 82,7% delas de pessoas negras.

Entre os estados do país, o Rio de Janeiro é o que mais apresenta homicídios de pessoas negras, em números absolutos, durante ações policiais, com 939 registros entre os 1092 mortos que tiveram a cor informada. São Paulo, estado mais populoso do país, apresenta o segundo maior número de assassinatos de pessoas negras.

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Já o estado da Bahia, além de ser o terceiro que mais registrou homicídios de negros por policiais, em números absolutos, aparece como a região do Brasil com o maior percentual de pessoas negras mortas em ações policiais, com 98%.

A cidade em que mais pessoas negras morrem em ações policiais no Brasil fica no estado baiano, é Santo Antônio de Jesus, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

“Isso reflete uma persistente e aprofundada desigualdade na estrutura social brasileira, em que sistematicamente pretos são mortos com mais frequência que os brancos. Isso vem desde a escravidão, não é de hoje que esse padrão se repete. E se caso nada for feito, vamos permanecer com essa estatística”, enfatiza o cientista político e doutor em direito, Geraldo Tadeu.

Os estados do Ceará, Piauí e Pernambuco completam a lista das unidades da federação onde os agentes de segurança matam um negro a cada quatro horas. No Ceará, negros tem sete vezes mais chances de serem assassinados do que pessoas de pessoas brancas.

No Piauí, 91% das vítimas da violência letal da polícia no estado são negras. Por fim, em Pernambuco, as mortes por intervenção policial mais que dobraram (53%) em todo o estado e aumentou também a proporção de negros mortos nessas ações que chega a 97%.

fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/um-negro-e-morto-pela-policia-a-cada-quatro-horas-aponta-levantamento/

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