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Com o desejo de reavivar o espírito de Aparecida e com o Jubileu Guadalupano em 2031 e o Jubileu da Redenção em 2033 no horizonte, a Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe emitiu uma mensagem na qual a experiência desde 21 de novembro se reflete em um evento histórico e sem precedentes.
Padre Modino – CELAM
Miguel Cabrejos, presidente do Conselho Episcopal Latino-americano (Celam), começa por confessar que “é Jesus Cristo Ressuscitado que nos convocou mais uma vez” para “comunicar por um transbordamento de alegria a alegria do encontro com Ele, para que nele tenhamos vida plena”, como nos diz Aparecida.
Sentindo a companhia de Jesus na “tarefa empreendida de repensar e relançar a missão evangelizadora”, a mensagem final reconhece a necessidade de “um caminho de conversão resolutamente missionário”, que tem como pressuposto a necessidade de “maior responsabilidade pastoral”.Ouça e compartilhe
A Assembleia foi vivida, o documento afirma, como “uma verdadeira experiência de sinodalidade, em escuta mútua e discernimento comunitário do que o Espírito quer dizer a sua Igreja”. Da “diversidade multifacetada”, os participantes da Assembleia “voltaram-se para as realidades do continente, em suas dores e esperanças”.
O texto observa e denuncia a dor “dos mais pobres e vulneráveis que sofrem o flagelo da miséria e da injustiça”; também “o grito de destruição da casa comum” e a “cultura descartável” que afeta sobretudo as mulheres, migrantes e refugiados, os idosos, os povos indígenas e afrodescendentes”. A Assembleia diz sentir a dor provocada “pelo impacto e pelas consequências da pandemia que aumenta ainda mais as desigualdades sociais, comprometendo até mesmo a segurança alimentar de uma grande parte de nossa população”.
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Assembleia Eclesial
Os pecados intra-eclesiais também provocam dor, como “o clericalismo e o autoritarismo nas relações, o que leva à exclusão dos leigos, especialmente das mulheres, no discernimento e na tomada de decisões sobre a missão da Igreja, constituindo um grande obstáculo à sinodalidade”. Junto com isso, é expressa a preocupação com “a falta de profetismo e de solidariedade efetiva com os mais pobres e vulneráveis”.
Mas também há esperança, nascida da “presença dos sinais do Reino de Deus, que levam a novas formas de escuta e de discernimento”. A mensagem mostra o caminho sinodal como “um espaço significativo de encontro e abertura para a transformação das estruturas eclesiais e sociais que permitem um renovado impulso missionário e uma proximidade com os mais pobres e excluídos”. A vida religiosa, “mulheres e homens que, vivendo contra a maré, dão testemunho da boa nova do Evangelho”, e a piedade popular são também um motivo de esperança.
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Assembleia Eclesial – Missa de abertura
Vivemos “um Kairos, um tempo favorável à escuta e ao discernimento” que se conecta com o Magistério e “nos impele a abrir novos caminhos missionários em direção às periferias geográficas e existenciais e aos lugares próprios de uma Igreja em saída”.
A partir daí ele pergunta sobre os desafios e orientações pastorais a serem assumidos, dizendo que “a voz do Espírito ressoou em meio ao diálogo e ao discernimento”, pedindo uma maior encarnação, acompanhamento e promoção dos jovens, atenção às vítimas de abusos, participação ativa das mulheres nos ministérios e nos espaços de discernimento e tomada de decisões eclesiais.
Também a promoção da vida em sua totalidade, a formação em sinodalidade para erradicar o clericalismo, a participação leiga em espaços de transformação, a escuta e o acompanhamento do grito dos pobres, dos excluídos e dos descartados. Foi apontada a necessidade de novos programas de formação nos seminários, de dar valor aos povos nativos, de inculturação e interculturalidade, de lidar com questões sociais e de formação em sinodalidade.
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Assembleia Eclesial – trabalhos
Na longa lista de elementos a serem levados em conta, não é fácil resumir as contribuições de tantas pessoas, foi lembrada a importância da experiência do Povo de Deus, de viver os sonhos da Querida Amazônia, de acompanhar os povos originários e afrodescendentes na defesa da vida, da terra e de suas culturas.
A sinodalidade é o caminho, algo que pertence à essência da Igreja, e é por isso que se insiste que “não é uma moda passageira ou um slogan vazio”. É algo que nos fez aprender a caminhar juntos, envolvendo a todos. Agora é uma questão de levá-lo às comunidades, às bases, e assim se mostra o compromisso de seguir o caminho, aprendendo e criando, em um itinerário pastoral que busca a conversão missionária e sinodal. Podemos dizer que o caminho foi traçado, agora precisamos da coragem de enfrentá-lo, sem esquecer algo que não é negociável: todos temos que estar juntos.
fonte: https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2021-11/assembleia-eclesial-mensagem-final-sinodalidade-pertence-igreja.html
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Última coletiva de imprensa: continuar a escutar o Espírito de Deus que nos nutre e nos guia
Dom Miguel Cabrejos não hesitou em dizer que “realizamos um exercício sinodal”, reconhecendo que não foi fácil “colocar um continente em movimento por um ano”.
Padre Modino – CELAM
A última coletiva de imprensa da Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe foi um momento para uma primeira avaliação das experiências da semana, sabendo que nos próximos dias essas avaliações, em diferentes áreas e de diferentes maneiras, serão repetidas. Dom Miguel Cabrejos, dom Rogelio Cabrera, irmã Liliana Franco, padre Pedro Brassesco e Mauricio López se reuniram para uma coletiva de imprensa lotada, como foi durante toda a semana, com a participação de cerca de 50 jornalistas por dia.
A primeira palavra foi para o presidente do Celam, que começou por destacar a visão profética do Papa Francisco ao convocar a Assembleia Eclesial, algo sobre o qual ele insistiu que “isto não há volta atrás”, implicando que as Conferências Gerais do Episcopado podem ser uma coisa do passado. Dom Miguel Cabrejos não hesitou em dizer que “realizamos um exercício sinodal”, reconhecendo que não foi fácil “colocar um continente em movimento por um ano”.
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Dom Miguel – coletiva de imprensa
O arcebispo peruano destacou a importância da tecnologia a serviço da comunicação e da comunhão. Ele também destacou que a grande riqueza desta Assembleia tem sido a grande escuta. Ele nos convidou a continuar a escutar o Espírito de Deus que nos nutre e nos guia.
O anfitrião, dom Rogelio Cabrera, expressou sua alegria por esta Assembleia ter sido realizada no México, agradecendo ao Papa Francisco por isso, o que ele disse não ser mérito dos mexicanos, mas de Nossa Senhora de Guadalupe. O presidente do episcopado mexicano refletiu sobre a tragédia e as dificuldades da pandemia de Covid-19, que mostrou nossos limites, causando dor, lágrimas e problemas no campo da saúde, miséria e violência. Mas também a esperança, porque demonstrou a grandeza do coração humano e a generosidade do povo.
“Se o coração estiver limpo, nunca poderemos ficar presos pela noite intransitável”. Estas são as palavras de Pedro Casaldáliga com as quais a presidente da CLAR iniciou um discurso no qual manteve a certeza de que o protagonista deste processo tem sido o Espírito. Em uma Assembleia cheia de nomes, histórias, contos, realidades, feridas e esperança. A religiosa salientou a necessidade de pertencer, participar e ter paciência, mostrando o que isto implica.
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Coletiva de imprensa
Sua presidente disse que “os religiosos e religiosas do continente fazem um ato de fé que queremos continuar remando nesta Igreja de forma sinodal”, para o qual ela disse que somos animados por três palavras: profetismo, misticismo e comunhão. Ela também insistiu que nesta Assembleia “a ação profética veio nos jovens e nas mulheres”.
O coordenador do Centro de Redes e Ação Pastoral do Celam, ele começou fazendo perguntas sobre como fomos transformados pela experiência, onde respondi a Deus e os novos caminhos que se abrem. Mauricio Lopez disse ficar com a possibilidade de poder voltar até as pessoas que participaram do processo de escuta e dizer-lhes “carregamos com honestidade e coragem essas palavras vivas e voltamos a vocês para continuar caminhando juntos”. Ele também insistiu que numa Assembleia tão diferente e inovadora teve a sensação de uma única Assembleia.
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Mauricio – Coletiva de imprensa
Com o coração cheio de alegria, gratidão e também de desafios, o padre Pedro Brassesco chegou ao final da Assembleia, um ponto de chegada e de partida. O secretário adjunto do Celam fez uma leitura do processo a partir do que ele havia vivido em sua pequena paróquia de Ibicuy, na Conferência Episcopal Argentina e nesta semana na comissão de síntese, o que lhe permitiu ver que o que ele havia ouvido ressoava na Assembleia Eclesial. Esta Assembleia reafirmou a sinodalidade como um modo essencial da Igreja, lembrando que Aparecida nos exorta à missão.
Liliana Franco afirmou que “as mulheres não são objetos para se ter, somos irmãs com quem caminhar”, citando os nomes das mulheres presentes na Assembleia, tanto pessoalmente quanto virtualmente, ela colocou as mulheres no lugar da espiritualidade, onde o caminho de Jesus está encarnado de uma forma nova, criativa, simbólica e atualizada. Também nas periferias, entre migrantes, afrodescendentes, no lugar da misericórdia e da transformação, no lugar da reflexão teológica, da nova hermenêutica, e na linha da resistência e do profetismo.
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Dom Cabrera – Coletiva de imprensa
O coordenador do Centro de Redes e Ação Pastoral apontou a necessidade do Celam ser uma escola de sinodalidade, embora com limitações, e perguntou se a Assembleia era um momento de projeção de novos dinamismos sinodais, ao que ele respondeu que era. Ele também lembrou os rostos periféricos e a maneira de se aproximar delas como Celam, em que passos estão sendo dados. Ao mesmo tempo, ele falou de novidades explícitas, como o método tradicional latino-americano de ver, julgar e agir, que foi enriquecido e ampliado pela escuta, pelo encontro para poder ver, pelo discernimento para poder julgar, e por uma ação que não pode ser autônoma ou de grupos fechados, mas sinodal.
Quando perguntados sobre o que haviam aprendido na Assembleia, dom Miguel Cabrejos enfatizou o espírito de oração, comunhão, fraternidade e eclesialidade. A irmã Liliana aprendeu e concordou que “ouvir leva à conversão”. Mons. Rogelio salientou que todos têm o direito de falar e todos têm o dever de ouvir, vendo a jornada sinodal como um trabalho que nos custa a todos, tendo como resultado a comunhão.
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Irmã Liliana – Coletiva de imprensa
Padre Brassesco disse que tinha aprendido o quanto precisamos de “entusiasmo como a presença de Deus dentro de nós”. Finalmente, Mauricio Lopez falou do momento decisivo em que vivemos para transformar a eclesiologia conciliar do Povo de Deus e que a sinodalidade sem escuta continua sendo um belo conceito e a escuta sem novos caminhos permanece retida.
Houve também uma oportunidade de responder aos erros cometidos. Sobre este ponto, Mauricio López disse que acreditava ter ficado “com uma grande dívida em termos de alcance”, porque as periferias e o improvável não foram alcançados como deveriam ter sido, e não estavam presentes no grupo pessoalmente. Sobre este ponto, dom Miguel Cabrejos disse que via os fracassos como um motivo para agradecer a Deus.
Para irmã Liliana Franco, as falhas são uma consequência do fato de que “não estamos no lugar da perfeição, mas no lugar da vulnerabilidade”. Ela também convidou todas as Conferências Episcopais a assumirem que são responsáveis por ajudar nesta mobilização do espírito sinodal. Ela também sentiu que faltava um impacto maior na base, nos movimentos populares, nas paróquias, nos pastores. Finalmente, Pedro Brassesco, da comissão de síntese, reconheceu que talvez devido a um uso muito cuidadoso da linguagem, eles não viram todas as instâncias e questões levantadas nos grupos representados.
fonte: https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2021-11/ultima-coletiva-de-imprensa-continuar-a-escutar-o-espirito.html
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Dom Cláudio: “tempos difíceis, mas também abertos a inovações e novos sonhos”
Uma Igreja sinodal, “uma instituição pastoral e missionária, constituída não somente de bispos, mas também de representantes das demais categorias do povo de Deus”. O cardeal Hummes lembrou o longo processo para chegar nesta Assembleia, lembrando do processo vivido no Sínodo para a Amazônia.
Padre Modino – CELAM
Uma mensagem inspiradora, de alguém a quem Mauricio López se referiu como “um embaixador do transbordamento do Espírito”. Dom Cláudio Hummes se dirigiu neste sábado aos participantes da Assembleia Eclesial reconhecendo que “os tempos atuais são difíceis, desafiadores, mas também abertos a inovações e novos sonhos”. Um exemplo desses novos sonhos é esta Assembleia Eclesial, insistiu o presidente da CEAMA.
Dom Cláudio lembrou a homilia da missa que o Papa Francisco celebrou logo após sua eleição com os cardeais do Conclave, que teve como fundamento as palavras caminho e caminhar. O Papa insistiu em derrubar muros e construir pontes para sair, para ir ao encontro das periferias e com elas construir “caminhos eclesiais, caminhos sinodais”. Caminhos que fizeram parte da Igreja primitiva, retomados no Concílio Vaticano II e sustentados no sensus fidei e sensus fidelium.
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Assembleia Eclesial
Uma Igreja sinodal, “uma instituição pastoral e missionária, constituída não somente de bispos, mas também de representantes das demais categorias do povo de Deus”. O cardeal lembrou o longo processo para chegar nesta Assembleia, lembrando do processo vivido no Sínodo para a Amazônia onde o povo foi “ao encontro de todos, mas especialmente dos mais sofridos e pobres das periferias geográficas e existenciais da Panamazônia com o objetivo de escutar, escutar e escutar”.
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Assembleia Eclesial
O presidente da CEAMA também lembrou as palavras do Papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude, em 2013, onde falou que “a Igreja está na Amazônia não como aqueles que tem as malas na mão para partir depois de ter explorado tudo que puderam”. O Papa chamou a consolidar “o rosto amazônico da Igreja”, pedindo para isso ousadia e coragem. Tudo isso foi se concretizando com a criação da REPAM, um processo que foi explicitado pelo cardeal Hummes, e que o purpurado vê como semente desta Assembleia Eclesial, “em que não participam e decidem apenas os bispos, mas todo o povo de Deus, segundo o Concílio Vaticano II”.
Seu presidente, também lembrou da criação da CEAMA, aprovada canonicamente pelo Papa Francisco em 9 de outubro, que Dom Cláudio define como “aquele ponto firme irreversível”, para toda a Igreja. “O Papa pode agora constituir Conferências eclesiais em qualquer outra parte da Igreja no mundo”, insistiu. Isso é visto como “um avanço extraordinário!”, mostrando o desejo da CEAMA de “participar plenamente desta nova fase da Igreja na América Latina e Caribe em termos de uma Igreja Sinodal, que se alimenta das grandes propostas de Aparecida e do Vaticano II”.https://www.youtube.com/embed/vDKVNJ07XZY?wmode=opaque&rel=0&autohide=1&showinfo=0&wmode=transparent&modestbranding=1&enablejsapi=1&origin=https://www.vaticannews.va&start=&end=Cardeal Hummes
Eis a íntegra da mensagem do Cardeal Claudio Hummes:
Mensagem do Cardeal Claudio Hummes
Aos Participantes da Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe
Cidade do México – 27/11/2021
Senhoras e senhores,
Irmãos e irmãs,
Os tempos atuais são difíceis, desafiadores, mas também abertos a inovações e novos sonhos, tanto para a família humana global como para a Igreja e a sua missão. Exemplo disto é esta Assembleia Eclesial do Celam que estamos realizando. Podem inspirar-nos hoje palavras do Papa Francisco na homilia da missa que ele celebrou logo após sua eleição com os cardeais do Conclave. Trata-se das palavras caminho e caminhar. A Igreja não pode ficar sentada em casa confiando na segurança dos muros que construiu para se preservar. É preciso derrubar os muros e construir pontes para sair. A Igreja em saída, como se diz! Ir ao encontro dos povos, das comunidades e das pessoas, ao encontro de todos, mas especialmente ao encontro das periferias geográficas e existenciais, para escutá-las e com elas construir novos caminhos. Sim, novos caminhos. Para a missão da Igreja no mundo de hoje, esses caminhos serão caminhos eclesiais, caminhos sinodais. Aliás, a palavra sínodo significa: um caminho feito juntos.
Esses caminhos foram praticados já na Igreja primitiva. Em que à luz do Espírito Santo as comunidades inteiras, pastores e leigos, participavam na construção do caminho. Por exemplo, nos Atos dos Apóstolos se diz: Então, pareceu bem aos apóstolos e aos anciãos de acordo com toda a Igreja e decidimos o Espírito Santo e nós. E nos tempos modernos foi o Concílio Vaticano II que renovou esta eclesiologia. A renovou com o conceito de Igreja, povo de Deus. Esse conceito sabemos se baseia na doutrina do sensus fidei (o sentido da fé), o sensus fidelium (o sentido dos fiéis), significando com isso que todos os cristãos, pastores, religiosos e leigos, pela fé e o batismo recebem do espírito Santo esta qualificação do sensus fidei. Ou seja, o simples cristão, não bispo, também tem o farol para ajudar a identificar o rumo a seguir para viver autenticamente o evangelho hoje e para anunciá-lo hoje. Portanto, cada cristão também tem esse faro e deve poder ajudar a Igreja. Assim se superava a concepção de uma Igreja piramidal, na qual a hierarquia dos pastores é quem dirige e os demais fiéis apenas obedecem.
O Papa Francisco remota essa doutrina do Vaticano II e resgata de forma inovadora a prática do caminhar juntos. Essa prática da, então, chamada sinodalidade. Na construção dos rumos da Igreja hoje e no futuro, dando a este caminhar juntos o nome de eclesial. Uma instituição eclesial significa, portanto, uma instituição pastoral e missionária, constituída não somente de bispos, mas também de representantes das demais categorias do povo de Deus. E assim chegamos à nossa Assembleia Eclesial do CELAM, composta não somente de bispos, mas também de representantes das demais categorias do povo de deus na América Latina e Caribe.
Contudo, na caminhada para chegarmos a esta Assembleia eclesial houve um longo processo, um longo processo, iluminado pelo Espírito Santo e que vale a pena recordar. Esse processo iniciou com uma prática de uma Igreja em saída que derrubou muros e construiu pontes para ir ao encontro de todos, mas especialmente dos mais sofridos e pobres das periferias geográficas e existenciais da Panamazônia com o objetivo de escutar, escutar e escutar. E então, com eles construir novos caminhos.
O Papa Francisco, no início do seu pontificado, esteve no Rio de Janeiro, como todos lembramos, na Jornada Mundial da Juventude, em 2013. E alí em seu discurso aos bispos brasileiros ele disse: a Amazônia é teste decisivo, banco de prova para a Igreja e para a sociedade brasileira. A igreja está na Amazônia não como aqueles que tem as malas na mão para partir depois de ter explorado tudo que puderam. Não! A Igreja desde o início está presente na Amazônia com missionários, congregações religiosas, sacerdotes e leigos e bispos e lá continua presente e determinante no futuro daquela área. Mas gostaria, diz o Papa, de acrescentar que deveria ser mais incentivada e relançada a obra da Igreja ali na Amazônia para consolidar os resultados no campo da formação de um clero autóctone. E consolidar, vejam, consolidar, por assim dizer, o rosto amazônico da Igreja. E sobre isso, dizia o Papa, por favor, peço para serem corajosos, para serem ousados. Ora, esse impulso do Papa foi decisivo para o que viria daí para frente.
Um processo se pôs em marcha por meio de diversas iniciativas e projetos de reunir a Igreja da Panamazônica no tal caminhar juntos. Contudo, o projeto de unir as igrejas particulares, dioceses, vicariatos, prelazias da Amazônia latino-americana, a Panamazônia, já estava em evolução há mais tempo. Pensava-se em reuni-las todas, essas Igrejas, em rede. Reuni-las em rede para que não se sentissem isoladas em seus esforços de evangelizar o seu respectivo território. Situação agravada pela solidão da floresta e a beira dos rios bem como pela enorme quantidade e diversidade de culturas dos povos originários, os indígenas. Os impulsos vinham principalmente de três pontos: a Caritas do Equador, com Mauricio Lopez, depois o Departamento de justiça e solidariedade (DEJUSOL) do CELAM, com seu então presidente, Mons. Pedro Barreto, hoje cardeal e a Comissão Episcopal para a Amazônia, a cuja frente estava eu desde 2011, da CNBB.
Essa Comissão brasileira começou a visitar sistematicamente, uma por uma, as circunscrições eclesiásticas da Amazônia brasileira, começando por aquelas da floresta. Porém, três grandes reuniões foram também decisivas para encaminhar o processo: a reunião da rede amazônica da caritas do Equador, em Puyo, em abril de 2013; a reunião do DEJUSOL do CELAM y CELAC para proporá criação da possível Rede Pan-Amazônica, feita em Lima – Peru, essa reunião em julho de 2013; e a terceira, a reunião da Comissão Episcopal para a Amazônia brasileira com a participação do DEJUSOL e do CELAC em Manaus, no Brasil, em outubro de 2013; e assim se chegou finalmente à Criação da REPAM, Rede Eclesial Pan-Amazônica, em 12/09/2014 numa reunião em Brasília, da qual participaram e assinaram juntos, como co-fundadores, não somente DEJUSOL, CELAC e Comissão Episcopal para a Amazônia brasileira da CNBB, mas também a CLAR, Confederação Latino-americana e Caribenha dos Religiosas e religiosos. Todos eles, esses quatro assinaram a fundação da REPAM. Foi certamente um momento histórico da Igreja na Pan-amazônia.
Esse fato histórico é que nos fez chegar a este novo momento de estarmos realizando agora não uma VI Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e Caribenho, mas por orientação do Papa Francisco, estamos realizando uma Assembleia Eclesial do CELAM, em que não participam e decidem apenas os bispos, mas todo o povo de Deus, segundo o Concílio Vaticano II.
E dentro desse percurso, o período mais recente nos trouxe também a CEAMA, a Conferência Eclesial da Amazônia, que recebeu do Papa, como sabemos, a sua aprovação canônica agora no dia 09 de outubro passado. Eu percebo a partir daí a CEAMA como aquele ponto firme. A aprovação canônica da CEAMA pelo Papa, a CEAMA tornou-se aquele ponto firme irreversível, não apenas para a missão da Igreja na Pan-amazônia, mas para a Igreja universal global. Ou seja, o Papa pode agora constituir Conferências eclesiais em qualquer outra parte da Igreja no mundo. É um avanço extraordinário! E para terminar quero finalmente confirmar que a CEAMA deve e quer participar plenamente desta nova fase da Igreja na América Latina e Caribe em termos de uma Igreja Sinodal, que se alimenta das grandes propostas de Aparecida e do Vaticano II.
Agradeço-vos pela atenção.
fonte: https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2021-11/dom-claudio-tempos-dificeis-mas-tambem-abertos-a-inovacoes.html