Mortes de ciganos precisam ser apuradas

 

01.08.2021

No dia 13 de junho, dois policiais militares foram assassinados durante uma diligência, em Vitória da Conquista (BA). O crime foi atribuído a integrantes de uma comunidade cigana. Desde então, 7 irmãos foram assassinados e o pai deles foi ferido e hospitalizado, após confrontos com a polícia. O Instituto Cigano do Brasil e a União Cigana do Brasil estão chamando atenção da sociedade civil e das autoridades para a práticas de racismo e extermínio de ciganos.

No dia 30 de julho, a Comissão Arns enviou ofício ao governador do Estado da Bahia, Rui Costa dos Santos, solicitando providências para apuração de violações contra comunidades ciganas. “Destaca-se, embora óbvio, que os membros das comunidades ciganas devem ter garantidos os direitos fundamentais, como de resto a qualquer do povo, ainda que sobre alguém deles possa pender a acusação de cometimento de algum crime, devendo ser repudiada e responsabilizada toda e qualquer forma de execução sumária”, diz o documento.

Foto: https://rrinterativo.com.br

fonte: https://comissaoarns.org/blog/2021-08-01-mortes-de-ciganos-precisam-ser-apuradas/


Por G1 BA


O tenente Luciano Libarino Neves (à esquerda) e o soldado Robson Brito de Matos (à direita) foram mortos em Vitória da Conquista — Foto: Arquivo pessoal

O tenente Luciano Libarino Neves (à esquerda) e o soldado Robson Brito de Matos (à direita) foram mortos em Vitória da Conquista — Foto: Arquivo pessoal

Ao menos sete pessoas da mesma família de ciganos foram mortas desde o assassinato dos policiais Luciano Libarino Neves, de 34 anos, e Robson Brito de Matos, de 30 anos, no dia 13 de julho em Vitória da Conquista, no sudoeste da Bahia.

Além disso, uma pessoa está custodiada no hospital – o pai dos sete mortos – e outras duas ainda não foram localizadas.

No dia 19 de julho, o Instituto Cigano do Brasil (ICB) emitiu uma nota pedindo intervenção do poder público, em Vitória da Conquista, após a morte dos dois policiais. A comunidade afirmou que sofre represálias desde então.

De acordo com a delegacia que investiga o caso, a suspeita é de que o assassinato dos PMs tenha sido cometido por pessoas que fazem parte da comunidade cigana. Por causa disso, os povos de pelo menos três etnias têm sofrido represálias de policiais militares e a situação tem causado pânico entre eles.

Veja abaixo o que se sabe e o que falta esclarecer sobre o caso:

 

Quem morreu? 

Dois policiais militares, identificados como Luciano Libarino Neves, de 34 anos, tenente, e Robson Brito de Matos, de 30 anos, soldado, foram mortos a tiros no dia 13 de julho, no distrito de José Gonçalves, na zona rural de Vitória da Conquista, no sudoeste da Bahia. As armas e os telefones celulares foram roubados pelos suspeitos.

No mesmo dia, a polícia realizou buscas para localizar os autores do crime e, durante troca de tiros, um homem identificado como Ramon da Silva Matos, foi baleado. Ele foi encaminhado para um hospital, mas não resistiu.

Outros dois suspeitos morreram no dia 14 de julho, na cidade de Itiruçu, também no sudoeste. Eles foram identificados como Dalvan da Silva Matos e Arlan da Silva Matos.

Um adolescente de 13 anos, que fazia parte de uma família cigana, foi baleado dentro de uma farmácia no centro da cidade, na noite de 14 de julho, e morreu no hospital no sábado (24).

No dia 28 de julho, três homens suspeitos de envolvimento nos assassinatos dos policiais morreram em confronto com a polícia, na cidade de Anagé, cidade que também fica no sudoeste da Bahia e a cerca de 50 km de Vitória da Conquista.

Nesta sexta-feira (30), mais um cigano suspeito de envolvimento na morte dos PMs foi morto em confronto com a polícia na cidade de Anagé. Ele foi identificado como Lindomar da Silva Matos, de 17 anos, segundo informações do Instituto Cigano do Brasil (ICB). A 10ª Coordenadoria de Polícia do Interior (Coorpin/Conquista), no entanto, não confirmou se há parentesco entre ele e as outras vítimas que morreram em confrontos com policiais. 

Aonde as mortes aconteceram?

A morte dos dois policiais militares aconteceu no distrito de José Gonçalves, na zona rural de Vitória da Conquista, no sudoeste da Bahia.

Já os assassinatos dos ciganos ocorreram em municípios diferentes do sudoeste baiano. São eles: Vitória da Conquista, Itiruçu e Anagé.

Quem matou os policiais? 

A Delegacia de Homicídios de Vitória da Conquista apurou que o crime contra os policiais foi cometido por dez pessoas: um pai e nove filhos. 

O que os PMs faziam quando foram mortos?

Segundo a Polícia Civil, eles estavam realizando diligências na região quando foram cercados por homens armados e atingidos por disparos de arma de fogo. 

Quem já foi preso?

Um homem identificado como sendo pai dos suspeitos, e que também teria participado da ação, está preso. Ele foi baleado em uma ação policial no mês de julho, está custodiado no Hospital de Base da cidade e já teve prisão preventiva decretada. 

O que diz a SSP-BA sobre o caso?

Por meio de nota, a Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA) informou que pauta suas ações dentro da legalidade e, neste contexto, está adotando todas as medidas para elucidar os assassinatos do soldado Robson Brito Marques e do tenente Luciano Libarino Neves, mortos em serviço, em Vitória da Conquista.

A pasta disse ainda que não compactua com excessos e que está à disposição para recepcionar qualquer tipo de denúncia sobre má conduta policial por meio das Corregedorias, Ouvidorias e também do Disque Denúncia da SSP-BA, através do 181.

Por determinação da SSP-BA, todas as resistências ocorridas contra ciganos após a morte dos policiais estão sendo acompanhadas pela Corregedoria da PM.

O que diz o ICB?

O Instituto de Ciganos do Brasil (ICB) emitiu uma nota pedindo intervenção do poder público, em Vitória da Conquista, sudoeste da Bahia, após a morte de dois policiais. A comunidade vem sofrendo represálias desde então.

Por meio de nota, o ICB disse que a comunidade está sendo “caçada como animais pelas milícias da Bahia”. Disse ainda que não compactua com atos ilícitos de pessoas que cometem ilegalidades, e que o ICB respeita os órgãos de segurança, que trabalham dentro da lei.

Ainda em nota, o instituto declarou que repudia os canais de informação que estão generalizando atos ilícitos pessoais, e associando esses crimes com as comunidades ciganas. O ICB avalia que esse comportamento está contribuindo e excitando a violência contra a população.

A nota foi assinada por mais de 60 líderes ciganos, autoridades do poder público, presidentes de associações de todo o Brasil.

O documento foi direcionado para o governo da Bahia, o Ministério Público Federal (MPF), o Ministério Público da Bahia (MP-BA), as Comissões de Direitos Humanos do Senado e da Câmara Federal e a Organização das Nações Unidas.

 
NOTA DE SOLIDARIEDADE
 
Recebemos com indignação a triste noticia da morte de dois agentes da polícia Militar e de 4 ciganos, na região de Vitória da Conquista – BA, fato gerador de um ambiente de insegurança e um sentimento de injustiça para as famílias dos envolvidos.
 
Em nota de pesar, a Pastoral dos Nômades do Brasil, se solidariza ante a morte dos policiais e dos ciganos que foram vitimados. Violência gera violência. Confiamos na ação investigativa da polícia que chegará à verdade dos fatos que que se faça justiça e impere a paz.
 
Em face de tantas versões, incriminando e inocentando os envolvidos, a Pastoral dos Nômades pede ao Estado que a ação policial seja direcionada para identificar e responsabilizar os culpados, sem excessos e sem vitimar inocentes.
 
Eunápolis, BA, 21 de julho de 2021.
 
Dom José Edson Santana Oliveira
Bispo referencial da Pastoral dos Nômades


 

Ciganos no Brasil: violações e resistência, as mortes precisam cessar!

André Alcântara e Bruna Lavinas Falleiros

02.08.2021

Banidos de Portugal após leis que impunham que aqueles não integrados à sociedade deveriam ser expulsos para as colônias, ciganos começam a chegar ao Brasil em 1574. De lá pra cá, a história de perseguição e marginalização dessa comunidade permanece. Ainda não incluídos no censo populacional brasileiro, estima-se que cerca de 800 mil ciganos de três ramificações étnicas distintas vivam por aqui, os Kalon, os Rom e os Sinti. Mais conhecidos por ser um povo nômade, vivem em acampamentos provisórios, mas também é comum que fixem seus acampamentos ou tenham domicílio permanente nos bairros das cidades.

A única estatística oficial existente sobre eles é da Pesquisa de Informações Básicas Municipais (Munic) do IBGE, que apresenta informações sobre seus acampamentos. Na última, de 2014, foram identificados acampamentos desses grupos em 337 municípios do país (73 em áreas públicas destinadas para esse fim). Desses, a maioria estaria localizada no litoral das regiões Sul, Sudeste e Nordeste, destacando-se o estado da Bahia.

Desde 13 de julho, ciganos da região de Vitória da Conquista (Bahia) vivem tempos de medo e violência. O clima instaurado é fruto de uma retaliação, após dois policiais militares morrerem em confronto com uma família da comunidade – um pai e seus filhos. Nos últimos dias, sete dos filhos suspeitos foram mortos em distintos confrontos com a polícia. Mais um irmão, de 13 anos, recebeu um tiro de uma pessoa não identificada, em um comércio local. O pai foi baleado e está em custódia hospitalar.

Em nenhum desses confrontos houve policiais feridos ou mortos. Há também suspeitas que um homem foi carbonizado em seu carro, confundido com um dos ciganos.

Relatos de diversas pessoas da comunidade cigana da região, divulgados pela imprensa e nas redes sociais, dão a dimensão da situação. Na busca dos suspeitos após a morte dos dois agentes do estado, pessoas ciganas foram paradas e intimidadas em barreiras oficiais nas estradas, rondas ostensivas em frente às suas casas passaram a ser cotidianas e suas residências foram invadidas durante a madrugada por agentes da Polícia Militar, quando passaram por interrogatórios sobre os suspeitos com os quais não tinham nenhuma relação. Muitas dessas pessoas e famílias deixaram a região, sem saber quando terão segurança para voltar.

Diversas organizações do movimento cigano, nacionais e internacionais, pedem providências às autoridades públicas, para que os governos atuem imediatamente de modo a fazer cessar as violências, realizar a apuração e responsabilização pelas violações cometidas e efetivar os direitos fundamentais da comunidade cigana. Também levam ao conhecimento da opinião pública as arbitrariedades e homicídios cometidos contra eles. Essa é uma forma de superar a invisibilidade e preconceitos históricos contra os ciganos no Brasil.

Foto: Rogério Ribeiro, presidente do Instituto Cigano do Brasil (Divulgação)

fonte: https://comissaoarns.org/blog/2021-08-02-ciganos-no-brasil-viola%C3%A7%C3%B5es-e-resist%C3%AAncia-as-mortes-precisam-cessar/

 

 

 

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