Indígenas são atacados pela polícia em Brasília durante protesto pacífico contra PL 490/2007

IHU

Crianças e idosos estavam entre os manifestantes, dois indígenas foram hospitalizados e outros 10 ficaram feridos com o ataque.

 

Foto: Andressa Zumpano/Articulação das Pastorais do Campo. 

A reportagem é publicada por Conselho Indigenista Missionário – Cimi, 22-06-2021.

 

Um grupo de indígenas, com crianças e pessoas idosas, foi atacado pela Polícia Militar, na tarde desta terça-feira (22), durante um protesto pacífico, em Brasília, contra a votação do Projeto de Lei (PL) 490/2007. A proposta que pode anular a demarcação de Terras Indígenas está na pauta da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados. Os ataques aconteceram no estacionamento do Anexo 2 da Câmara, com balas de borracha, bombas de gás lacrimogêneo e efeito moral.

Dois indígenas (um homem e uma mulher) estão sob observação no Hospital de Base em Brasília, com ferimentos graves. Uma dezena de crianças, idosos e mulheres tiveram ferimentos leves e estão em atendimento na tenda da saúde do Acampamento Levante pela Terra (ALT), ao lado do Teatro Nacional. O atendimento de urgência aos indígenas foi dificultado pela Tropa de Choque que estava no local, como registrado em alguns vídeos do momento do ataque.

Os manifestantes vinham em marcha pacífica pela Esplanada dos Ministérios, quando foram recebidos com bombas de gás e efeito moral, a partir de uma barricada montada pelo Batalhão de Choque na entrada do Anexo 2 da Câmara. Não houve nenhuma ação ou incidente da parte dos indígenas que justificasse a reação violenta dos policiais. Segundo informações, estavam no local equipes das polícias LegislativaMilitar e Batalhão de Choque, com forte aparato de repressão, inclusive presença de um ‘caveirão’ (carro blindado da Tropa de Choque) e cavalaria.

A marcha indígena faz parte do ALT, que está instalado ao lado do Teatro Nacional, há três semanas. Os cerca de 850 indígenas que participam da mobilização, de 48 povos diferentes de todas as regiões do Brasil, foram ao local para acompanhar a votação do projeto na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara.

“Os parentes só vieram manifestar para não ser aprovado o PL que vai acabar com a demarcação das terras indígenas, e a polícia já veio atirando bombas. Eles podem se reunir para tirar nossos direitos, mas quando a gente tenta se manifestar é tratado com truculência”, afirmou Alessandra Korap Munduruku. “Estamos aqui com crianças e idosos também, muita gente foi atingida, passou mal”, complementou.

“Fomos brutalmente atacados de forma covarde antes de chegarmos para acompanhar a votação. Nós temos indígena feridos e a polícia jogou bomba em cima dos paramédicos dificultando o atendimento”, ressaltou Dinamam Tuxá, coordenador executivo da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).

A luta continua

A sessão de hoje na CCJ foi adiada, com previsão de retorno para amanhã. Parlamentares aliados à causa índigena montaram um escudo humano e conseguiram conter o avanço das tropas, que seguiam ameaçando os indígenas que realizavam seus rituais e cantos. Em seguida, vários parlamentares da oposição reuniram-se com os manifestantes. Eles criticaram a ação das polícias Legislativa e Militar e prometeram denunciá-las ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PPAL).

PL 490 é uma bandeira ruralista e bolsonarista e, se aprovado, na prática vai inviabilizar as demarcações, permitir a anulação de Terras Indígenas e escancará-las a empreendimentos predatórios, como garimpo, estradas e grandes hidrelétricas. É uma medida inconstitucional representando um novo genocídio aos povos indígenas.

 

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fonte: http://www.ihu.unisinos.br/610424-indigenas-sao-atacados-pela-policia-em-brasilia-durante-protesto-pacifico-contra-pl-490-2007


Polícia reprime manifestação pacífica de indígenas em frente ao Congresso; veja vídeo

Idosos e crianças estavam no protesto, interrompido pela Tropa de Choque da Polícia Militar

Murilo Pajolla
Brasil de Fato | Lábrea (AM) |

 

Ouça o áudio

 
Idosos e crianças foram expostos a gás lacrimogênio e spray de pimenta – Mídia Ninja

Indígenas do “Levante pela Terra” foram novamente reprimidos pela polícia quando se aproximavam pacificamente do Congresso Nacional para protestar contra o Projeto de Lei (PL) 490, previsto para entrar em votação na manhã desta terça-feira (22). Esse PL pode alterar as atuais regras para demarcação de terras indígenas.

É o segundo episódio de repressão sofrido pela mobilização. Na última quinta-feira (17), representantes de mais 35 povos originários faziam uma manifestação em frente ao prédio da Funai, quando foram atacados pela Polícia Militar (PM).

:: No DF, indígenas aguardam julgamento que pode mudar regra das demarcações ::

Desta vez, o grupo, que se encontra desde a semana passada acampado na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, foi alvo de bombas de gás lacrimogênio e de efeito moral.

Imagens divulgadas pela Associação dos Povos Indígenas Brasileiros (Apib) mostram manifestantes correndo dos policiais, que disparavam contra a multidão. 

Há relatos de crianças e idosos que passaram mal ao inalar o gás lacrimogêneo. “Novamente fomos atacados com desrespeito, como se fossemos animais, uma discriminação muito grande contra os povos indígenas, afirmou Dário Vitório Kopenawa, do povo Yanomami, em transmissão ao vivo realizada pela Apib

:: Entenda o “bolo de retrocessos” contra os indígenas que o PL 490 carrega ::

O PL 490, proposto pela bancada ruralista, ameaça anular as demarcações de Terras Indígenas, e viabilizar a abertura dos territórios protegidos para o garimpo.    

Saiba mais sobre o Levante pela Terra:


 

fonte: https://www.brasildefato.com.br/2021/06/22/policia-reprime-manifestacao-pacifica-de-indigenas-em-frente-ao-congresso-veja-video

 


“Desrespeito aos direitos indígenas ameaça o futuro do Brasil”

IHU

Em entrevista, cacique Almir Suruí alerta para impactos do PL 490, que pretende rever a demarcação de terras indígenas, e fala sobre a criação do Parlaíndio, “parlamento indígena” que reúne 42 lideranças.

Sem perspectivas de novas demarcações de terras no atual governo, os povos indígenas lidam agora com uma ameaça à preservação dos territórios já reconhecidos. O Projeto de Lei (PL490, em tramitação na Câmara dos Deputados, prevê a revisão do usufruto exclusivo das terras pelos indígenas, previsto na Constituição.

Além disso, o projeto propõe a criação de um “marco temporal”, exigindo a presença física dos indígenas nos territórios demarcados em 5 de outubro de 1988. Na semana passada, indígenas foram reprimidos pela Polícia Militar de Brasília enquanto protestavam contra a iniciativa em frente à Funai.

A instituição, que tem o dever constitucional de coordenar e executar políticas indigenistas no Brasil, vem sendo criticada por sua atuação no governo de Jair Bolsonaro. Na visão das lideranças, o órgão tem atuado para proteger interesses de grupos econômicos interessados na exploração das terras indígenas.

Em meio a esse cenário, líderes tradicionais articularam a criação de um “parlamento indígena”, o Parlaíndio. A iniciativa, que tem como presidente de honra o cacique Raoni, será um espaço de discussão para lideranças de todo o Brasil. O grupo já reúne 42 nomes e tem como objetivo formular estratégias comuns para os problemas enfrentados nas aldeias.

Parlaíndio terá reuniões mensais, sob coordenação do cacique Almir Narayamoga Suruí, principal liderança do povo Paiter Suruí, de Rondônia. Nesta entrevista, ele conta que o PL 490 será o tema central do próximo encontro do grupo, ainda neste mês.

“O perigo não é só para os povos indígenas. É para o futuro mesmo, porque isso vai trazer uma destruição social e ambiental enormes para o Brasil. E pode afetar até mesmo a economia”, afirma.

Junto com outras lideranças indígenas críticas ao governo de Jair Bolsonaro, Suruí foi alvo de um inquérito da Polícia Federal no mês passado. O cacique se projetou nacionalmente por sua luta contra os projetos de usinas hidrelétricas em sua região, durante os governos petistas.

“A diferença entre os dois é que, quando a gente criticava bastante, o governo de esquerda abria diálogo. Agora, não tem nenhum espaço”, afirma.

Na entrevista a seguir, o coordenador-executivo do Parlaíndio detalha o funcionamento da iniciativa e analisa o cenário que se apresenta aos povos indígenas atualmente.

A entrevista é de João Pedro Soares, publicada por Deutsche Welle, 22-06-2021.

 

Eis a entrevista.

 

Qual pode ser o impacto do projeto em discussão na Câmara que propõe a revisão da demarcação de terras indígenas?

O perigo não é só para os povos indígenas. É para o futuro mesmo, porque isso vai trazer uma destruição social e ambiental enorme para o Brasil. E pode afetar até mesmo a economia, porque se o Brasil não respeitar os acordos estabelecidos dentro das convenções climáticas vai passar a mensagem de que não é um país de respeito, de compromisso. O Brasil vai ser visto como um país que está destruindo o futuro, desrespeitando o direito de viver das pessoas.

Você foi alvo de um inquérito da Polícia Federal, a pedido da Funai, por criticar o governo. Na semana passada, lideranças que protestavam em frente ao prédio da instituição indigenista foram reprimidos pela polícia. Qual é sua avaliação sobre a atuação do órgão durante o governo Bolsonaro?

Nesse governo, a gente vê um retrocesso nas políticas públicas e no respeito aos povos indígenas. Em relação ao presidente da Funai, ele já vinha atuando contra a questão indígena há muitos anos, como delegado da Polícia Federal. Não sei por que hoje ele está na presidência da Funai. Se a atitude dele é contra os indígenas, então o lugar dele não é na Funai. Por isso, o nosso repúdio, dizendo que ele tem que sair da Funai, dar o lugar da presidência da Funai a quem respeita os povos indígenas. O governo Bolsonaro está fazendo, na prática, o que ele deseja para os povos indígenas, expresso em seu preconceito e palavras de ódio. Mesmo que o governo não goste de nós, não pode ter essa postura. É inaceitável.

A criação do Parlaíndio busca preencher uma lacuna deixada pela Funai na proposição de políticas indigenistas?

Sim. A Funai é a instituição do Estado que tem o dever de implementar políticas públicas para povos indígenas. Nossos movimentos e ações se dão no sentido de fiscalizar, defender e propor o que o governo deve fazer, como garantir o direito conquistado pelos povos indígenas dentro da Constituição, além de assegurar melhor saúde e educação. Queremos também sugerir alternativas para a implementação de políticas de gestão dentro dos territórios indígenas. Nossas organizações e representações políticas não podem tirar o dever do Estado junto aos povos indígenas. A Funai e o governo precisam ter a consciência de que o Estado não faz um favor aos povos indígenas ao respeitar seus direitos. É um dever. Nossas organizações estão sempre dispostas a contribuir para que o governo implemente políticas públicas e traga serviços de melhor qualidade para o nosso território.

Como o diálogo entre as lideranças do Parlaíndio pode impulsionar as reivindicações dos povos indígenas?

Parlaíndio vai atuar para dar a voz a lideranças tradicionais, de longa data. O movimento indígena dá essa voz também, mas se empenha mais na atuação direto nas aldeias. A ideia é subsidiar, unir a força do movimento, das instituições que respeitam e defendem o direito coletivo dos povos indígenas, bem como as que implementam políticas indigenistas. É um espaço para as lideranças que não têm voz se expressarem, nesse espaço tão complexo das políticas públicas. Sabemos que cada povo tem suas histórias.

A partir disso, nós vamos refletir quais políticas serão realmente necessárias como coletivo. Também iremos tentar entender a situação de cada povo em cada estado, quais problemas eles enfrentam. Vamos dialogar e juntar aqueles que estão mais próximos de cada questão, para que a gente esteja junto lutando e visualizando estratégias de como combater ou buscar diálogo. Vai ter muito a ver com quais problemas que nós vamos identificar junto a esses povos. Sabemos que tem indígenas a favor do agronegócio e da mineração. Mas precisamos entender o desejo desse povo, se eles estão realmente conscientes do impacto que esses projetos podem trazer. No Parlaíndio, vamos precisar de muita análise para identificar os problemas que essas questões podem trazer, no futuro, para os direitos coletivos e o direito de viver de cada pessoa indígena.

A representatividade dos povos indígenas na política institucional é baixa. Como será o diálogo do Parlaíndio com o Congresso?

A gente sabe que o Congresso Nacional é formado pelos partidos. O parlamento indígena não quer seguir esse modelo, mas sim ampliar a voz dos povos indígenas para subsidiar os parlamentares que estão lá e defendem a questão indígena e a ambiental dentro do Congresso. Vamos trabalhar juntos, enviando os projetos desejados pelos povos indígenas, representados pelo Parlaíndio.

Você, o cacique Raoni e o Davi Kopenawa, que integram o Parlaíndio, têm visibilidade internacional, sobretudo na Europa. Como será a interlocução do Parlaíndio com governos de outros países?

A gente precisa analisar quais países têm compromisso e seriedade nesses temas maiores que são ameaçadores para o mundo, como a mudança climática, assim como o respeito pela biodiversidade e meio ambiente. A partir disso, podemos criar uma estratégia de como dialogar com esses países. Eu não vejo nenhum problema. Nós estamos dispostos a abrir esse diálogo do movimento indígena com outros países, falar do futuro e construir juntos estratégias, como um plano internacional para combater a mudança climática e demais ameaças que podem afetar o mundo no futuro.

Você se destacou como liderança indígena nacional ao lutar contra os projetos de hidrelétricas na sua região, durante os governos petistas. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, desponta como principal candidato de oposição a Bolsonaro em 2022. Você o apoiaria?

Eu trato o governo como governo. Não tenho esperança de Lula poder ser melhor que Bolsonaro. O que eu penso é que o governo tem que fazer o melhor para o seu país, senão eu não teria enfrentando o governo de esquerda, como a gente está enfrentando aqui também um governo de direita, do Bolsonaro. A diferença entre os dois é que, quando a gente criticava bastante, o governo de esquerda abria diálogo. Agora, não tem nenhum espaço. Se não tiver alternativas, a gente tem que escolher o “menos ruim”, mas espero que tenha mais alternativas em 2022 para a gente escolher melhor.

 

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fonte: http://www.ihu.unisinos.br/610426-desrespeito-aos-direitos-indigenas-ameaca-o-futuro-do-brasil


Apib divulga manifesto do Levante Pela Terra, mobilização que reúne centenas de indígenas em Brasília

Preocupados com os ataques contra seus direitos constitucionais e em seus territórios, mobilização já reúne 850 indígenas de 45 povos de todas as regiões do país em Brasília

Indígenas estendem faixa na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, no dia 15 de junho. Foto: Scarlett Rocha/Apib

Indígenas estendem faixa na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, no dia 15 de junho. Foto: Scarlett Rocha/Apib

POR ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO DO CIMI

Ontem (17), a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) divulgou o manifesto do acampamento Levante Pela Terra, mobilização que já reúne 850 indígenas de 45 povos em Brasília desde o dia 8 de junho. Preocupados com os ataques contra seus direitos constitucionais, povos indígenas de todas as regiões do país estão mobilizados na capital federal e vêm realizando diversos atos, marchas e manifestações.

Entre as principais pautas da mobilização estão a luta contra o Projeto de Lei (PL) 490/2007, que ataca os direitos territoriais indígenas e pode ser aprovado na Câmara dos Deputados, contra a tese ruralista do “marco temporal”, que pode ser votada no Supremo Tribunal Federal (STF), e por garantia de proteção aos povos que vêm sendo ameaçados por ataques de garimpeiros, fazendeiros, madeireiros e outros grupos que atuam ilegalmente em seus territórios.

“Nossas lideranças que já estão completamente imunizadas com a vacina contra o novo coronavírus se congregam neste momento para ecoar nossos maracás e reafirmar que, em meio a maior emergência sanitária e humanitária dos últimos anos, Vidas Indígenas Importam”, afirma o documento.

Leia o manifesto do Levante Pela Terra ou clique aqui para acessar o documento completo:

 

MANIFESTO PELO DIREITO À VIDA E AO TERRITÓRIO DOS POVOS INDÍGENAS

Nós, povos indígenas, vivemos em estado de constante ameaça, que nos exige estarmos em permanente vigília e mobilização. Neste momento, junho de 2021, ainda sob as restrições de uma pandemia devastadora que se aproxima de vitimar 500 mil brasileiras e brasileiros, dos quais mais de 1.110 parentes nossos fazem parte, nos vemos obrigados a intensificar as nossas lutas e a amplificar nossa voz de protesto para defender nossos direitos mais básicos: nossas vidas e nossos territórios.

A luta pela vida chamou, e nós viemos até Brasília para montar nosso acampamento Levante pela Terra em defesa dos nossos direitos, principalmente territoriais. Voltamos a ocupar os gramados da capital federal depois de dois anos sem mobilizações presenciais, sobretudo o Acampamento Terra Livre (maior assembleia dos povos indígenas do Brasil, que, devido à pandemia de Covid-19 foi realizado virtualmente em 2020 e 2021).

Nossas lideranças que já estão completamente imunizadas com a vacina contra o novo coronavírus se congregam neste momento para ecoar nossos maracás e reafirmar que, em meio a maior emergência sanitária e humanitária dos últimos anos, Vidas Indígenas Importam.

Reafirmamos nesse manifesto nossas bandeiras de luta e decretamos nosso ESTADO PERMANENTE DE MOBILIZAÇÃO.

PELA INTERRUPÇÃO IMEDIATA DE QUALQUER MEDIDA ANTI-INDÍGENA NO CONGRESSO NACIONAL!

  1. Retirada definitiva da pauta de votação da CCJC e arquivamento do PL (Projeto de Lei) 490/2007, que ameaça anular as demarcações de terras indígenas;
    2. Arquivamento do PL 2633/2020, conhecido como o PL da Grilagem, pois caso seja aprovado, o projeto vai anistiar grileiros e legalizar o roubo de terras, agravando ainda mais as violências contra os povos indígenas;
  2. Arquivamento do PL 984/2019, que pretende cortar o Parque Nacional do Iguaçu e outras Unidades de Conservação com estradas;
  3. Arquivamento do PDL 177/2021 que autoriza o Presidente da República a abandonar a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), único tratado internacional ratificado pelo Brasil que aborda de forma específica e abrangente os direitos de povos indígenas;
  4. Arquivamento do PL 191/2020 que autoriza a exploração das terras indígenas por grandes projetos de infraestrutura e mineração industrial;
    6. Arquivamento do PL 3729/2004 que destrói o licenciamento ambiental e traz grandes retrocessos para a proteção do meio ambiente e para a garantia de direitos das populações atingidas pela degradação ambiental de projetos de infraestrutura, como hidrelétricas.

Esses projetos genocidas e ecocidas se utilizam da pandemia de Covid-19 como cortina de fumaça, fazendo aumentar a violência contra povos indígenas, e os conflitos em nossos territórios, inclusive entre parentes. Esses conflitos são alimentados pelo Governo com objetivo de dividir, enfraquecer e desmobilizar os nossos povos, organizações e lideranças. Saibam que não deixaremos essa estratégia nos sobrepujar!

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL: NOSSOS DIREITOS PRECISAM SER VIGIADOS E PROTEGIDOS!

O STF julga o caso de repercussão geral sobre demarcações de terras indígenas, o conhecido Recurso Extraordinário (RE) 1.017.365 relacionado com o caso da Terra Indígena Xokleng-La Klanõ, do povo Xokleng, em Santa Catarina . O status de “repercussão geral” dado pelo STF ao caso significa que sua resolução servirá de diretriz para o governo federal e todas as instâncias do Judiciário no que diz respeito à demarcação de terras indígenas, além de servir para balizar propostas legislativas que tratam dos direitos territoriais dos povos originários – a exemplo do PL 490, que abre terras indígenas para a exploração predatória e inviabiliza, na prática, novas demarcações.

Este processo encontra-se suspenso por intervenção do ministro Alexandre Moraes. O STF tem o dever de proteger nosso direito constitucional a nossos territórios! O julgamento deve ser retomado!

Especialmente neste momento de ataques, a voz da Suprema Corte precisa ecoar forte e garantir aos povos Yanomami e Munduruku a retirada de invasores de suas terras. Essa mesma proteção deve ser estendida a outras cinco Terras Indígenas, também objeto de discussão no STF: Tis Karipuna e Uru-Eu-Wau-Wau, em Rondônia, Kayapó e Trincheira-Bacajá, no Pará e Araribóia, no Maranhão.

Isto é o que a Apib demanda neste momento, com o devido senso de urgência, às ministras e ministros do Supremo. Fazemos isto por meio deste documento, pelas vozes de nossas lideranças, a partir de nossos territórios em todo o Brasil, e também concentrados no acampamento Levante pela Terra, em Brasília. Também o fazemos judicialmente, no âmbito da Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 709/2020, de autoria da Apib e de diversas instituições nacionais solidárias aos povos indígenas. Esta ADPF está na pauta do STF, e deve ser debatida pelo plenário até 18 de junho.

Pela vida e continuidade histórica dos nossos povos, diga ao povo que avance!

Levante pela Terra

Brasília – DF, 17 de junho de 2021

Apib – Articulação dos Indígenas do Brasil

Organizações regionais de base da Apib:
APOINME – Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo
ARPIN SUDESTE – Articulação dos Povos Indígenas do Sudeste
ARPINSUL – Articulação dos Povos Indígenas do Sul
ATY GUASU – Grande Assembléia do povo Guarani
Comissão Guarani Yvyrupa
Conselho do Povo Terena
COIAB – Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira

Acesse o documento completo aqui

 fonte: https://cimi.org.br/2021/06/apib-divulga-manifesto-levante-pela-terra-mobilizacao-reune-centenas-indigenas-brasilia/


 

Pastorais Sociais do Campo lançam nota em denúncia aos Projetos de Lei da Morte

Regularização da grilagem de terras, devastação de terras indígenas, desmonte da fiscalização contra o trabalho escravo e do licenciamento ambiental correm risco de aprovação no Congresso

POR ARTICULAÇÃO DAS PASTORAIS DO CAMPO

Flexibilização e regularização da grilagem de terras, invasão de terras indígenas, desmonte da fiscalização contra o trabalho escravo e extinção do licenciamento ambiental no Brasil. Essas são as pautas que correm no Congresso Nacional neste primeiro semestre de 2021, repudiadas através de nota lançada hoje pela Articulação das Pastorais do Campo.

Estas organizações que lutam a favor da pauta ambiental e do bem-viver, trazem em sua missão pastoral apoio irredutível aos povos do campo, das águas e das florestas, que lutam e resistem em defesa de seus territórios contra o trator ruralista dirigido pelo Congresso Nacional.

Confira a Nota na íntegra:

 

NOTA DAS PASTORAIS SOCIAIS DO CAMPO CONTRA OS PROJETOS DE LEI DA MORTE

A Articulação das Pastorais Sociais com Campo, integrada pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Conselho Pastoral de Pescadores (CPP), Pastoral da Juventude Rural (PJR), Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM) e pela CÁRITAS Brasil, vem a público denunciar os interesses escusos que estão por trás de Projetos de Lei (PLs) em tramitação no Congresso Nacional relacionados a questões agrária e socioambiental, que ameaçam ainda mais a vida, o meio-ambiente, os povos e trabalhadores/as da terra, das florestas e das águas e toda a sociedade brasileira e mundial.

Dentre os PL’s da Morte destacamos o PL 510/2021, no Senado Federal e o PL 2633/2020, na Câmara dos Deputados, que objetivam instaurar novas regras para processos de regularização fundiária de modo a favorecer a prática reiterada do apossamento ilegal de terras públicas mediante fraudes cartoriais e violência contra antigos moradores e usuários (grilagem). O PL 3097/2020, na Câmara dos Deputados, privilegia os interesses empresariais nas parcerias agrícolas, agropecuárias e extrativas, e representa grave ameaça à política pública de erradicação do trabalho escravo. O PL 490/2007 que segue na Câmara visa, na prática, acabar com demarcações de terras indígenas e revelar às escâncaras a exploração de terras já demarcadas. A estes se soma o PL 3.729/2004, já aprovado na Câmara dos Deputados, que praticamente extingue o licenciamento ambiental no Brasil, nos deixando ainda mais expostos a crimes ambientais como aqueles ocorridos em Mariana e Brumadinho/MG.

É um assombroso pacote de retrocessos, revelando a desconstitucionalização de direitos conquistados historicamente, à custa de muita luta, sangue e sacrifícios. Se aprovados, esses PL’s comprometerão princípios basilares da Constituição Federal de 1988, dita “Cidadã”, no pós-Ditadura Militar de 1964-1985, afrontando diretamente a dignidade da pessoa humana e a defesa da vida, dos povos originários e comunidades tradicionais, dos/as trabalhadores/as rurais e do meio ambiente equilibrado; não só deles, porém, mas de todos e todas. Trata-se de um amplo processo de legalização de crimes contra o povo brasileiro. Uma volta – legislativa – à ditadura!

O atual contexto brasileiro da pandemia de Covid-19 – mal enfrentada pelo governo federal – é marcada por um elevado número de evitáveis mortes de brasileiros/as, além do desemprego e a fome crescentes, mas não só. Também deixam suas marcas nesse cenário de crise – ao contrário do necessário e urgente recomendado – o avanço dos negócios impostos pelo capital financeiro-agrário, nacional e estrangeiro, sobre terras públicas e territórios de vida – eco-sócio-sistemas -, com explícito incentivo à grilagem de terras e à legalização de terras griladas. A retomada e pauta sequente destes Projetos de Lei está a provocar ainda maior vulnerabilidade dos povos e territórios ainda preservados e de decisiva importância para o enfrentamento da crise ecológica, causando preocupações alarmantes para o conjunto da sociedade.

A atuação do governo federal e de vários governos estaduais tem sido causa de graves violações de direitos humanos – econômicos, sociais, culturais e ambientais (DHESCAs), como revelam os dados de conflitos no campo registrados pelo Centro de Documentação Dom Tomás Balduino (CEDOC), da CPT. Em 2020, foram 2.054 ocorrências de conflitos no campo, envolvendo quase um milhão de pessoas. Destes, 1.576 foram ocorrências de conflitos por terra, uma média de 4,31 conflitos por terra por dia; neles estiveram envolvidas 171.625 famílias e 77,4 milhões de hectares – números muito maiores que os de 2019; o de ocorrências o maior já registrado historicamente. O recorde maior de 2020 foi o de 81.225 famílias que tiveram suas terras e territórios invadidos, um aumento de 102,8% em relação a 2019 – o maior número da série histórica registrada pela CPT desse tipo de violência.

Este trágico quadro requer medidas para interromper os desmandos e garantir a proteção destes povos, comunidades e territórios, ao bem de todos e de toda a vida. No entanto, o que está em curso é exatamente o contrário disto. Projetos de Lei em tramitação no Congresso Nacional relacionados às questões agrária e socioambiental vão ao encontro da política governamental atual, focada na constante retirada de direitos constitucionais desses povos e comunidades tradicionais e camponesas, em favor de interesses de grupos econômicos minoritários poderosos.

Repudiamos os intentos e manobras subjacentes aos Projetos de Lei da Morte e exigimos sua imediata retirada da pauta do Congresso Nacional. Não passarão!

Ai daqueles que tramam maldades; que mesmo repousando em suas camas planejam crueldades. E, logo que o dia amanhece eles executam seus planos malignos, pois têm poder para isso. Eles cobiçam campos e terrenos, e tomam posse deles; invejam e desejam casas e propriedades de outros e acabam por apoderar-se delas. E não têm escrúpulos em agir com violência contra qualquer homem e sua família; agridem com impiedade o semelhante e os seus herdeiros. (Miquéias 2,1-2).

Brasília/DF, 18 de Junho de 2021

Articulação das Pastorais Sociais do Campo

fonte: https://cimi.org.br/2021/06/pastorais-sociais-campo-nota-denuncia-projetos-lei-morte/

 

 

 

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