O prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral apresentou a “Plataforma de Ação Laudato si” na Sala de Imprensa da Santa Sé, um projeto que durante sete anos envolverá dioceses, institutos religiosos, empresas, escolas e hospitais a fim de adotar estilos de vida sustentáveis. “Esperamos que o Papa participe da Cop26 em Glasgow”.
Salvatore Cernuzio/Mariangela Jaguraba – Vatican News
A Santa Sé dá início à “Plataforma de Ação Laudato si'” (LSAP) em meio a uma pandemia global da qual estamos lutando para sair, e o grito da Terra e dos pobres se torna cada vez mais comovente, e os cientistas e os jovens dão um alarme claro: “Estamos destruindo o nosso futuro”. Um percurso, na conclusão do Ano especial convocado em 24 de maio de 2020 para o quinto aniversário da encíclica do Papa Francisco, que para os próximos sete anos envolverá dioceses, paróquias, grupos eclesiais e laicais, assim como hospitais e centros de atendimento, empresas, empresas agrícolas, escolas e universidades, institutos e ordens religiosas, todos chamados a adotar estilos de vida sustentáveis.
Não se trata de uma iniciativa em seu próprio benefício, mas de um projeto necessário, considerando os dados recentes que falam de graves riscos para o planeta e seus habitantes. “A nossa família humana, em sua totalidade, está em grande perigo, não temos mais tempo para esperar ou adiar”, disse o prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, cardeal Peter Appiah Turkson, promotor da Plataforma, apresentando a iniciativa na Sala de Imprensa da Santa Sé, nesta terça-feira (25/05). “É fundamental limitar o aumento da temperatura média global dentro do limite crucial de 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, pois excedê-la seria catastrófico”, disse ele.
O Papa convidado para a Cop26 em Glasgow
Ainda há uma saída que é a indicada pelo Papa em sua mensagem de vídeo transmitida na Sala de Imprensa: agir em conjunto para garantir a nossos filhos e aos filhos de nossos filhos “um futuro justo e sustentável”. O cardeal Turkson observou que o Papa Francisco é atualmente a voz mais influente sobre este tema. De fato, o Pontífice foi convidado a participar da próxima Cop26 agendada para novembro próximo em Glasgow, na Escócia. “Uma eventual presença do Papa”, disse o cardeal, supondo também a presença do Patriarca Ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I, “seria um sinal fundamental para os participantes do encontro”. “Os governos precisam se comprometer com este problema”, disse ao Vatican News. “Desde a Cop21, em 2015, em Paris, cada país foi convidado a desenvolver seu próprio compromisso, cada um foi deixado à sua disposição. O que falta é alguém que possa mostrar sua seriedade na questão da Criação. Como o Papa escreveu na Laudato si’, no parágrafo 19, não se trata de recolher informações, mas de compartilhar e compadecer o sofrimento com os pobres. É isso que, com a possível presença do Papa, se espera que os líderes políticos possam entender e não só.
As 700 mil árvores de Bangladesh e o projeto para impedir o avanço do Saara
“Temos que pensar em novos modelos, rejeitar comportamentos de vida questionáveis e nos engajar em novos”, insistiu Turkson durante a coletiva de imprensa. “Devemos reconhecer o nosso papel de transformar em sofrimento pessoal o que acontece no mundo”. Algo já começou seis anos após a publicação da encíclica social: projetos e colaborações, iniciativas e novas ideias que começaram nos últimos meses. Um grande exemplo, o da Igreja em Bangladesh que plantou mais de 700 mil árvores durante o ano, e o da jovem Vivianne Harr que obteve um milhão de dólares do cofundador do Twitter para plantar árvores a fim de impedir o avanço do Saara. “Primeiros frutos visíveis”, sublinhou o cardeal.
“Laudato si’ Reader”, um livro com experiências no mundo
Muitos outros estão planejados. Alguns teriam iniciado no ano passado para o Ano especial “Laudato si”, mas foram freados pela pandemia. No entanto, “a recepção mundial da proposta e a celebração de um Ano especial da Laudato si” foram fabulosas e generosas”, assegurou o cardeal. Isto é demonstrado pelas experiências de várias pessoas nos cinco continentes, recolhidas pelo Dicastério no livro “Laudato si’ Reader”. Este é o caminho a partir do qual começar: a experiência das pessoas, a vida daqueles que, diariamente, lutam contra as crises ambientais que muitas vezes são a razão da migração. Por isso, não estão previstas ações diplomáticas com os governos, mas espera-se que um “movimento de baixo” possa de alguma forma influenciar as decisões “do outro lado”. “Devemos escutar a frustração e a raiva dos jovens contra a nossa geração. Devemos ouvir sua mensagem de esperança e criatividade e agir agora para garantir um futuro melhor para eles e para as gerações vindouras”, disse Turkson.
Kureethadam: sete anos para alcançar os sete objetivos da Laudato si’
Esta exortação foi reiterada pelo pe. Joshtrom Isaac Kureethadam, coordenador da Seção “Ecologia e Criação” do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, que explicou como a Plataforma irá se desenvolver. O primeiro ano será dedicado às três tarefas fundamentais de construção da comunidade, da partilha de recursos e a elaboração de planos de ação para realizar os sete objetivos da Laudato si’, ou seja, a resposta ao grito da Terra, a resposta ao grito dos pobres, a economia ecológica, a adoção de estilos de vida simples, a educação ecológica, a espiritualidade ecológica, o engajamento da comunidade e ação participativa. Isto será seguido por cinco anos de ações concretas. O último ano será “sabático”.
Irmã Kinsey: o mundo religioso envolvido no processo
O mundo religioso será totalmente envolvido no processo, como explicou a irmã Sheila Kinsey, co-secretária da Comissão Justiça, Paz e Integridade da Criação da UISG. Três pilares guiarão a ação: primeiro, encorajar as Congregações a se comprometerem com a criação de acordo com seu próprio carisma; depois, a transição para uma ecologia integral através de um processo de discernimento e escuta das vozes locais; por fim, o trabalho em parceria, baseado nos princípios da não-violência.
A voz dos jovens: “Levem a crise ecológica a sério”
Não faltou, na coletiva de imprensa, a voz dos jovens animadores na pessoa de Carolina Bianchi, representante do Movimento Católico Global pelo Clima, estritamente envolvida na preparação da Plataforma Laudato si’. A jovem fez um apelo à geração mais velha, mas também à sua geração: “Levem a crise ecológica a sério. O nosso futuro está em jogo. Precisamos de ação urgente”.
fonte: https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2021-05/turkson-plataforma-laudato-si-cop26.html
O Dicastério para o Serviço de Desenvolvimento Humano Integral do Vaticano lançou a Plataforma de Ação Laudato si’, um longo caminho de 7 anos de iniciativas à luz da ecologia integral. O objetivo é criar “um movimento popular, a partir de baixo, para o cuidado da Casa Comum”, segundo o coordenador do setor de Ecologia e Criação do Dicastério para o Serviço de Desenvolvimento Humano Integral, dom Joshtrom Isaac Kureethadam.
A conclusão do Ano Especial de Aniversário da Encíclica Laudato si’ do Papa Francisco marca um “desafio” e, ao mesmo tempo, um “início de uma nova jornada” com a participação na Plataforma de Ação Laudato si’, um longo caminho de 7 anos: é “a viagem de uma vida, da realização para todos nós que devemos fazer algo juntos” para o cuidado da Casa Comum.
A “Living Laudato si’” das Filipinas está entre os grupos de jovens que promovem a iniciativa. Rodne Galicha é o diretor-executivo da “Living Laudato si’” das Filipinas, uma organização de leigos católicos que nasceu em 2018 em Manila e está espalhada por todo o país, cujo objetivo é capacitar cidadãos e instituições a adotar estilos de vida e comportamentos à luz da salvaguarda da Criação, promovendo um desenvolvimento sustentável e um profundo compromisso contra a mudança climática.
A “Living Laudato si’” das Filipinas é uma das realidades juvenis que anima a Plataforma de Ação Laudato si’ (LS Action Platform), a ferramenta de iniciativas que o Dicastério para o Serviço de Desenvolvimento Humano Integral está lançando no encerramento da Semana de Laudato si’ – organizada para celebrar o final do ano desejado pelo Pontífice “para refletir sobre a encíclica” de 2015 e fazer um balanço do progresso feito pela Igreja e pelos católicos em todo o mundo no caminho da conversão ecológica.
Conheça a experiência “Living Laudato si’” no vídeo abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=_xl3txSt8PE
No Regina Coeli de 24 de maio do ano passado, 5 anos após a publicação do documento, Francisco tinha de fato convidado todas as “pessoas de boa vontade” a cuidar concretamente da “nossa Casa Comum e de nossos irmãos e irmãs mais frágeis”. Agora “a Plataforma de Ação Laudato si’ procura traduzir em ação o sonho do Papa Francisco”, explica dom Joshtrom Isaac Kureethadam, coordenador do setor de Ecologia e Criação do Dicastério para o Serviço de Desenvolvimento Humano Integral.
“Na sua encíclica, o Pontífice propôs que criássemos um movimento popular, a partir de baixo, para o cuidado da nossa Casa Comum. Ao final do Ano Laudato si’ pensamos que o momento chegou, seja pela urgência daquele duplo grito da Terra e dos pobres de que fala a encíclica, que se tornou ainda mais forte e doloroso nestes anos, seja porque é isso que a atual pandemia destaca. Eu não diria que estamos começando algo novo”, reflete o salesiano, “porque, graças à ação do Espírito Santo, em muitas partes do mundo comunidades, líderes, paróquias, escolas, universidades e ordens religiosas estão em movimento e já estão tão empenhados em colocar em prática a encíclica”.
Comunidades sustentáveis
A Plataforma Laudato si’, continua dom Kureethadam, procura assim “dar uma estrutura, um espírito comum a todas as iniciativas, com um objetivo muito específico: tornar as nossas comunidades totalmente sustentáveis, de acordo com o espírito da ecologia integral, em um percurso de 7 anos. Identificamos muitos setores, começando por nossas famílias, depois paróquias e dioceses, escolas e universidades, hospitais e centros de saúde, o mundo econômico com as empresas – incluindo aquelas agrícolas, o setor de grupos, movimentos e ONGs católicas, e depois o das ordens religiosas”, acrescentou ele. Colaboram no projeto com o Dicastério Vaticano, a Caritas Internacional, o Movimento Católico Global pelo Clima (GCCM), a União de Superiores e Superioras Gerais, a rede Cidse – Juntos pela Justiça Global e vários grupos de jovens, entre eles, a Aliança Verde Dom Bosco, e também grupos eclesiais, como a Repam.
Gerar uma massa crítica
A urgência, acrescenta o coordenador do setor de Ecologia e Criação, é “responder ao grito da Terra, pela energia, pela água, pela biodiversidade e pelo grito dos pobres, porque em tudo o que fazemos colocamos no centro, como o Papa nos convida a fazer, os mais vulneráveis; não porque sejam vítimas, mas como protagonistas desta jornada”. Também se visa uma economia, educação e espiritualidade ecológicas, a adoção de estilos de vida simples e o compromisso comunitário.
Milhares de pessoas já usaram as iniciativas da Plataforma Laudato si’: “a nossa esperança”, diz dom Joshtrom, “é que a cada ano possamos ao menos dobrar o número de comunidades aderindo a este caminho e assim alcançar a ‘massa crítica’, que é o verdadeiro objetivo”. Começamos como Igreja Católica, mas esperamos que ela possa se tornar um caminho ecumênico, inter-religioso, de outras realidades; o importante é ter um diálogo entre todos nós para reconstruir nossa Casa Comum”.
A Experiência de Filipinas
Em relação à economia ecológica proposta na Plataforma, a organização “Living Laudato Si’” das Filipinas, nos últimos dois anos, explica Rodne Galicha, tem se concentrado, por exemplo, “na campanha de desinvestimento, porque realmente precisamos considerar como gastamos nossos recursos financeiros e como respondemos ao desafio da Laudato si’, particularmente em depósitos financeiros, porque no final das contas é como gastamos o nosso dinheiro e apoiamos as indústrias e atividades que se pode danificar a Casa Comum”, acrescenta ele. O foco da realidade filipina é também a campanha #LS211, que incentiva jovens e adultos a serem, através de “pequenos atos de amor”, “ecocidadãos em qualquer lugar, a qualquer hora, na escola, em casa ou no trabalho”. Particularmente nas escolas e universidades católicas, “Living Laudato Si’” propõe o conhecimento da encíclica “não apenas integrando a Laudato si’ no currículo”, aponta Galicha, “mas em todas as facetas dos planos de atividades das instituições educacionais”.
Em nível de comunidades de fiéis, em duas paróquias da diocese filipina de Romblon, a de Santo Niño na aldeia de Danao, na ilha de Cebu, e a de Santo Tomás de Villanova na ilha de Tablas, também foram construídas uma Capela Viva e os Jardins Laudato si’. Só em São Tomás, “os paroquianos estão construindo uma escada de 500 degraus, que do Jardim Laudato si’ leva à Capela Viva: queremos comemorar”, recorda Rodne, “os 500 anos da chegada do cristianismo nas Filipinas”, que cairá neste ano de 2021, demonstrando que a Igreja continua sendo “um lar para os marginalizados e oprimidos”, cujo grito escutamos e ao qual respondemos.
Por outro lado, o Ano Laudato si’, reflete dom Kureethadam, “foi verdadeiramente um momento de graça em meio à crise da pandemia que ainda vivemos: acredito que nossos fiéis e o povo viram com alegria e entusiasmo a proposta de implementar essa mudança para uma ecologia integral que a pandemia também exige de nós”. A “boa notícia”, ecoa Rodne Galicha, é que “estamos entrando em um novo caminho, em todos os níveis da nossa sociedade”.
Com informações VaticanNews
fonte: https://www.cnbb.org.br/o-dicasterio-para-o-servico-de-desenvolvimento-humano-integral-lancou-a-plataforma-de-acao-laudato-si/