“A decisão da Assembleia legislativa do Estado do Amazonas é realmente muito grave”. O padre jesuíta Paulo Tadeu Barausse, coordenador do serviço de ação e educação socioambiental da Amazônia, não usa meias palavras ao falar com o SIR desde Manaus, capital do Amazonas. O religioso está indignado, como muitos cidadãos de Manaus, com a votação com a qual a Assembleia local decidiu atribuir o título de “cidadão da Amazônia” ao Presidente da República, Jair Bolsonaro. Votação feita de forma repentina, com 11 votos a favor e um contra, no momento em que os ausentes eram numerosos. “Bolsonaro não é amigo nem de Manaus nem da Amazônia”, disse o deputado Serafim Correa, motivando seu voto contrário.
A reportagem é publicada por Serviço de Informação Religiosa – SIR, 22-04-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
De acordo com o programa das autoridades locais, Bolsonaro é esperado em Manaus nesta sexta-feira, 23 de abril, embora a visita possa ser adiada, já que o presidente está em envolvido em conversas com o presidente norte-americano Joe Biden, justamente sobre políticas climáticas. “É uma escolha paradoxal – continua o padre Barausse – que esse título seja atribuído a quem teve tão grave responsabilidade pelo que aconteceu em Manaus. Todos temos presente a crise ligada à pandemia, de natureza sanitária, econômica, social e ambiental. Lembramos as inúmeras vítimas, os 370 mil infectados em um estado de 4 milhões de habitantes, as 12.500 vítimas, a falta de oxigênio. E foi decidido dar um título justamente a quem teve responsabilidade por isso. Parece-me uma grande contradição, inclusive levando em consideração o fato de que dos 62 municípios do estado, apenas 4 deram a maioria ao Bolsonaro nas últimas eleições”.
O jesuíta espera que haja espaço para que a Assembleia revise suas decisões: “Estamos tentando pressionar para que isso aconteça”. De fato, muitas organizações da sociedade civil expressaram sua contrariedade à decisão da Assembleia do Estado, também por meio de uma dura nota assinada por dezenas de organizações. Existe também a possibilidade de que a decisão seja contestada do ponto de vista legal, visto que uma lei proíbe a atribuição de títulos honoríficos a titulares de cargos públicos.
Entretanto, após semanas em que a situação dos contágios se manteve sob controle, os números voltam a subir, ainda que moderadamente. “Sim, nos últimos dias houve um aumento – conclui o padre Barausse -, estamos preocupados que, depois das duas primeiras ondas dramáticas, possa chegar uma terceira, enquanto as vacinações continuam lentamente”.
Leia mais
- Reunião com Biden e o embaraço brasileiro de R$ 2,9 bilhões
- Acordo com Bolsonaro é endosso à tragédia, dizem ONGs a Biden
- Bolsonaro implantou “república da morte”, diz comissão da OAB
- Como a CPI do Genocídio pode alcançar Bolsonaro
- Pesquisa mostra relação entre falas de Bolsonaro e o “Dia do Fogo” na Amazônia
- Ações de Bolsonaro podem caracterizar genocídio, apontam pesquisadores
- Aliar-se ao coronavírus é o maior erro de Bolsonaro na pandemia, diz sanitarista
- Guardian: Bolsonaro é “um perigo para o Brasil e o mundo”
- Novo relatório da ONU sobre conservação das florestas “ressalta e evidencia tudo o que é negado por Bolsonaro”, diz líder indígena
- Bolsonaro tornou-se disfuncional
- Na ONU, entidades denunciam governo Bolsonaro por ‘devastadora tragédia humanitária’
- Colapso da saúde em Manaus revela crises sistêmicas e históricas no coração do Amazonas. Entrevista especial com Wilton Abrahim
- Manaus deverá chegar à terceira onda de contaminação, dizem pesquisadores
- ‘Se não impusermos medidas mais restritivas, não só Manaus, mas outras cidades entrarão em colapso’. Entrevista com Julio Croda
- Momento de lamento e dor que continua assolando a cidade de Manaus
- “Manaus está dizendo para o Brasil: ‘Cuidado, sou você amanhã’”, alerta Nicolelis
- Elementos importantes para compreender o contexto trágico que vivemos na cidade de Manaus