O “não” do Vaticano à bênção dos casais homossexuais continua a alimentar fortes tensões entre os católicos, especialmente na Alemanha. Ao lado dos diversos movimentos leigos, padres e bispos que expressaram oposição às posições rigorosas da Congregação para a Doutrina da Fé (obviamente, por trás do placet papal) mediante o Responsum divulgado há duas semanas, o presidente da Conferência Episcopal alemã, Georg Bätzing(na foto com o Papa Francisco), também assumiu uma posição. Novamente o arcebispo disse ser a favor de promover um confronto entre Roma. Impossível ignorar o desejo de tantos casais homossexuais de receber a bênção para a sua união. Na maioria das vezes, são casais consolidados, unidos por uma convivência de década.
A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada por Il Messaggero, 19-04-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
“Pessoas em uniões homossexuais querem a bênção da Igreja, uma bênção que não esteja escondida. Querem que a sua vida de casal seja reconhecida como um valor tal que lhes dê a bênção de Deus e não a negue”, explicou o bispo de Limburg ao grupo de jornais alemães “Rnd“. Não é a primeira vez que Bätzing intervém com todo o seu peso e autoridade para buscar uma mediação, um compromisso entre a linha intransigente do magistério contida no documento de Roma e no Catecismo e os pedidos urgentes provenientes dos fiéis.
“Temos que enfrentar esse desejo. Para isso, precisamos de um confronto intenso. Não podemos mais responder a essas perguntas com um simples sim ou não. Isso não é possível”, enfatizou Bätzing. “Acho que precisamos avaliar de uma nova maneira a homossexualidade e as uniões de vida fora do matrimônio. Não podemos mais partir apenas do pressuposto da lei natural, mas devemos pensar muito mais fortemente em categorias como o cuidado e a responsabilidade pelo outro”.
Em suma, é um pedido implícito de mediação com Roma, depois que muitos párocos expressaram seu desejo de desobedecer a essa proibição, continuando a dar bênçãos aos casais homossexuais. Evidentemente, Bätzing está tentando sensibilizar a Igreja sobre a importância de refletir sobre a moral católica que proíbe explicitamente aos homossexuais católicos de fazer sexo e viver a própria homossexualidade sob a proteção da castidade. No passado, alguns bispos da Alemanha expressaram sua perplexidade a respeito de algumas passagens contidas no Catecismo Universal da Igreja, pedindo sua revogação ou modificação substancial.
Por fim, o bispo de Limburg acrescentou que entende o “não” da Congregação mesmo que “isso não ajude, porque há muito tempo há um desenvolvimento pastoral que vai além. E isso significa: espera-se uma mudança”. Quem sabe se há ouvidos em Roma prontos para escutar os pedidos de mudança.
Justamente nestes últimos dias, um teólogo de Bonn, Ulrich Berges, interveio no debate para lembrar que a homossexualidade não é condenada no Antigo Testamento. “O Antigo Testamento e o mundo oriental antigo não conhecem as relações homossexuais no sentido de uniões de vida iguais e legalmente reconhecidas”, escreveu o professor de estudos do Antigo Testamento em um comentário no site kirche-und-leben.de. Portanto, em sua opinião, essas escrituras não podiam proibir nem aprovar as relações homossexuais.
Berges acrescentou que as proibições bíblicas de atos homossexuais se referem apenas a atos violentos. “Não se trata de práticas homossexuais e certamente não de homossexualidade, mas da mais brutal humilhação.”
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