Jornais britânicos veem risco de Bolsonaro tentar golpe em 2022

Dois jornais britânicos, o Financial Times e o The Guardian, publicaram editorais na segunda-feira (05/04) que alertam para o risco de o presidente Jair Bolsonaro tentar dar um golpe para se manter no poder caso seja derrotado nas eleições de 2022.

A reportagem foi publicada por DW Brasil, 06-04-2021.

Ambos os veículos ressaltam, porém, que a crise aberta no final de março pela queda do ministro da Defesa e a troca dos três comandantes das Forças Armadas parece indicar que parte significativa dos militares está decidida a não apoiar uma maior escalada autoritária do presidente.

Os editorais criticam o gerenciamento da pandemia de covid-19 por Bolsonaro, que coloca hoje o Brasil na liderança mundial de novas mortes diárias e foi marcado por uma postura negacionista sobre a gravidade da doença e a importância do uso de máscaras e das vacinas, além do enfrentamento contra governadores e prefeitos que adotaram medidas de restrição à circulação de pessoas para reduzir a transmissão do vírus. Segundo o GuardianBolsonaro é “um perigo para o Brasil e para o mundo”.

Eles também lembram que a entrada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no páreo para a próxima eleição, possibilitada pela anulação de suas condenações pelo Supremo Tribunal Federal, é um obstáculo adicional à reeleição de Bolsonaro, que vem enfrentando aumento da sua rejeição.

Estabilidade democrática

Financial Times, veículo especializado em jornalismo econômico e respeitado por empresários e tomadores de decisão, afirma que a chance de Bolsonaro tentar algum tipo de golpe para afrontar a democracia e permanecer no poder a despeito do resultado eleitoral aumenta à medida que seu apoio popular e a chance de reeleição diminui.

Para o The Guardian, que tem linha editorial de centro-esquerda, mais do que “possível”, é “provável” que Bolsonaro tentará se manter no poder por meio do uso da força caso perca em 2022, e menciona os seguidos elogios do presidente à ditadura militar e a torturadores e seu uso recente da Lei de Segurança Nacional para tentar silenciar críticos.

invasão do Capitólio nos Estados Unidos por apoiadores de Donald Trump, que buscava deslegitimar o resultado da eleição que deu vitória a Joe Biden, serviria de inspiração a Bolsonaro, segundo o Guardian, que no seu editorial lembra que o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, criticou a desorganização e a falta de armas entre os invasores.

O jornal britânico transcreve ainda a fala de Eduardo sobre a invasão do Capitólio: “Foi um movimento desorganizado. Foi lamentável. Ninguém desejava que isso ocorresse (…) Se fosse organizada, teriam tomado o Capitólio e feito reivindicações que já estariam previamente estabelecidas pelo grupo invasor. Eles teriam um poder bélico mínimo para não morrer ninguém, matar todos os policiais lá dentro ou os congressistas que eles tanto odeiam. No dia em que a direita for 10% da esquerda, a gente vai ter guerra civil em todos os países do Ocidente”, disse o filho do presidente.

Papel dos militares

A crise entre Bolsonaro e os comandantes das Forças Armadas, a maior em décadas, foi definida pelo Financial Times como um motivo para comemoração. Segundo o diário, o episódio teria mostrado que os chefes militares escolheram “demonstrar sua lealdade à Constituição democrática” em vez de se manterem alinhados a um presidente “errático e imprevisível, que abertamente desdenha do Congresso e do Judiciário”.

Em 19 de março, Bolsonaro chegou a dizer que o “seu” Exército não iria contribuir para aplicar as medidas de restrição à circulação determinadas por alguns governadores do país, o que não foi bem recebido pelos militares. “O meu Exército não vai para a rua para cumprir decreto de governadores”, afirmou o presidente.

“Em uma atmosfera febril como essa, o comprometimento firme dos comandantes militares, do Congresso e do Judiciário para sustentar a quarta maior democracia do mundo é um sinal vital e positivo”, escreveu o Financial Times. Mas o jornal lembra que os militares receberam “centenas de cargos no governo – incluindo a vice-presidência e quase metade do ministério – além de aumentos generosos dos gastos militares”.

A possível mudança de posição entre dois pilares da vitória de Bolsonaro em 2018, os militares e a elite econômica, também foi considerada positiva pelo Guardian. Segundo o editorial do jornal, a gestão “desastrosa” da pandemia por Bolsonaro “parece estar deixando em dúvida a elite econômica que o apoiou anteriormente” e “alguns setores dos militares aparentemente sentem o mesmo desconforto”.

“Pode ser irritante ver aqueles que contribuíram para a sua [de Bolsonaro] ascensão se posicionarem como guardiões da democracia, em vez de dos seus próprios interesses. Mas a sua saída do poder seria de qualquer maneira bem-vinda, para os interesses do Brasil e do resto do planeta”, conclui o Guardian. “Um homem normalmente não pode causar tanto dano. Infelizmente, este homem é o presidente”, aponta o jornal.

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fonte: http://www.ihu.unisinos.br/608188-jornais-britanicos-veem-risco-de-bolsonaro-tentar-golpe-em-2022


Guardian: Bolsonaro é “um perigo para o Brasil e o mundo”

Enquanto tenta garantir um acordo ambiental com os EUABolsonaro continua sendo visto como uma das lideranças políticas mais irresponsáveis do mundo por conta do descaso de seu governo com o meio ambiente e a incompetência no enfrentamento à pandemia no Brasil. Em um editorial ácido, o Guardian acusou Bolsonaro de tornar o Brasil uma ameaça sanitária internacional e citou um tweet sugestivo do ex-presidente colombiano, Ernesto Samper, para resumir a situação dantesca do país nos últimos anos: “Bolsonaro conseguiu transformar o Brasil em um gigantesco buraco do inferno”.

A reportagem foi publicada por ClimaInfo, 07-04-2021.

Antecipando parte do abacaxi que terá que descascar nos próximos meses, o novo chanceler brasileiro, Carlos França, se distanciou o máximo possível (considerando as condições de um Planalto ocupado pela família Bolsonaro) da narrativa insana do antecessor Ernesto Araújo para defender uma política externa pautada pelo combate à pandemia e a promoção do desenvolvimento sustentável e da ação contra a mudança do clima. Em seu discurso de posse, França listou a questão climática – vista como uma conspiração marxista pelo negacionista Araújo – como uma das “urgências” da diplomacia do Brasil. O novo chanceler afirmou que é preciso “manter o Brasil na vanguarda do desenvolvimento sustentável e limpo” e que o Brasil “está na coluna das soluções” no que diz respeito a essa agenda. ÉpocaFolha e Valor deram mais detalhes da fala do chanceler França

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Acordo com Bolsonaro é endosso à tragédia, dizem ONGs a Biden

Em carta, quase 200 organizações brasileiras alertam presidente americano sobre risco de negociação a portas fechadas com o Brasil.

A reportagem é publicada por Observatório do Clima, 07-04-2021.

Um grupo de 199 organizações da sociedade civil brasileira publicou nesta terça-feira (6/4) uma carta ao governo americano, alertando sobre o risco que um acordo de cooperação iminente entre os Estados Unidos e o governo Bolsonaro traz para o meio ambiente, os direitos humanos e a democracia.

O governo de Joe Biden vem mantendo há mais de um mês conversas a portas fechadas com a administração de Jair Bolsonaro sobre meio ambiente. Um acordo entre os dois países deverá ser anunciado na cúpula sobre o clima convocada por Biden para os próximos dias 22 e 23. Fontes próximas à negociação afirmam que o acordo deve envolver transferência de recursos para o Brasil — na campanha, Biden chegou a falar em levantar US$ 20 bilhões para a Amazônia.

Segundo a carta, as negociações com Bolsonaro — negacionista da pandemia de Covid-19 que desmontou a política ambiental brasileira e que foi processado por indígenas no Tribunal Penal Internacional por crimes contra a humanidade — colocam sob teste a narrativa de Biden, que prometeu em sua gestão lidar com a pandemia, o racismo, a mudança do clima e o lugar dos EUA na promoção da democracia no mundo. “O presidente americano precisa escolher entre cumprir seu discurso de posse e dar recursos e prestígio político a Bolsonaro. Impossível ter ambos”, afirma o texto.

Ainda de acordo com a carta, qualquer negociação com o Brasil sobre a Amazônia deveria envolver a sociedade, os governos subnacionais, a academia e o setor privado. E nenhuma tratativa deveria prosseguir antes de o Brasil reduzir o desmatamento aos níveis determinados pela Política Nacional sobre Mudança do Clima e da retirada dos retrocessos ambientais encaminhados pelo governo ao Congresso. “Negociações e acordos que não respeitem tais pré-requisitos representam um endosso à tragédia humanitária e ao retrocesso ambiental e civilizatório imposto por Bolsonaro” dizem as ONGs. “Não é razoável esperar que as soluções para a Amazônia e seus povos venham de negociações feitas a portas fechadas com seu pior inimigo.”

“O governo Bolsonaro tenta a todo custo legalizar a exploração da Amazônia, trazendo prejuízos irreversíveis para nossos territórios, povos e para a vida no planeta. Estamos unidos para mobilizar todo o apoio nacional e internacional que fortaleça as lutas pela defesa das nossas vidas e da mãe Terra. Seguimos mobilizados contra o projeto genocida que tenta nos eliminar há mais de 520 anos no Brasil e que também destrói a nossa biodiversidade. E é por isso que jamais deixamos de afirmar: Sangue indígena, nenhuma gota a mais”, disse Alberto Terena, coordenador- executivo da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), uma das organizações signatárias da carta.

“Quando o Cerrado, a Amazônia ou o Pantanal queimam, é o nosso povo que queima. O governo Bolsonaro faz acordos bilaterais de destruição da natureza que não cumprem o que está na Constituição; ele não respeita e não demarca nossos territórios. Mesmo neste momento de pandemia, em que não podemos enterrar nem chorar nossos mortos, Bolsonaro continua a querer nos derrotar, destruindo nossa biodiversidade”, declarou Biko Rodrigues, articulador nacional da Conaq (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas).

“O Brasil é hoje um país dividido. De um lado, estão os indígenas, quilombolas, cientistas, ambientalistas e pessoas que atuam contra o desmatamento e pela vida. De outro, está o governo Bolsonaro, que ameaça os direitos humanos, a democracia e coloca em risco a Amazônia. Biden precisa escolher de que lado ficará”, afirmou Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima.

 

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fonte: http://www.ihu.unisinos.br/608170-acordo-com-bolsonaro-e-endosso-a-tragedia-dizem-ongs-a-biden-2

 

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