Inesc lança campanha “Escola dos sonhos”

INESC – 15/03/2021, às 14:14 

Construída por adolescentes e jovens do projeto Onda, a iniciativa provoca reflexões sobre a construção de um novo tipo de escola

 

Qual seria sua escola dos sonhos? Movidos por essa provocação, adolescentes e jovens do projeto Onda construíram uma campanha lançada hoje (15/3), no Dia da Escola, pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc). Precedida por oficinas e lives, a iniciativa também contará com outras atividades, como rodas de conversa com organizações estudantis e poder público sobre o modelo de educação atual e seus obstáculos.

“A campanha Escola dos Sonhos é uma importante provocação para pensarmos coletivamente na escola, é uma conclamação para que se escute as vozes dos/as estudantes que querem participar da construção da escola como espaço de livre debate, espaço de cuidado e de alegria, onde o respeito às diversidades seja mais do que retórica, mas experiência de vida”, explicou Márcia Acioli, assessora política do Inesc. “No contexto da pandemia, a escola deve ser melhor ainda, já que o apelo para o trabalho infantil é grande”, ressaltou.

As oficinas de vídeo, de cards e de campanha aconteceram semanalmente e em parceria com as escolas Centro Educacional 01 (Paranoá) e Centro de Ensino Fundamental Zilda Arns (Itapoã). Nessas atividades, remotas e virtuais, as/os adolescentes e jovens aprenderam técnicas de gravação e edição; utilizar aplicativos de arte digital; e desenvolver e analisar uma pesquisa, entre outros conteúdos.

“Com o contexto da pandemia, surgem desafios para repensarmos as nossas práticas pedagógicas, tendo o distanciamento físico enquanto prioridade essencial. Verificamos a disponibilidade das/os adolescentes e jovens para participarem das atividades em modo remoto e pensamos em estratégias para contornar o problemas com internet e ausência de celulares”, explica Eulla Brennequer dos Santos Alves, educadora do projeto.

A educadora lembra que a iniciativa é formada por alunas e alunos do ensino regular, técnico e superior, possibilitando a criação de uma extensa lista de temas para a construção de uma nova escola. “Com o objetivo de mostrar para o poder público e para gestões escolares a voz das diversas adolescências e juventudes, a campanha traz possibilidades comunicativas para expor a realidade que se encontram as escolas públicas do Distrito Federal”, conclui.

A escola dos sonhos

A campanha foi construída a partir de uma série de atividades, entre elas, a aplicação de um questionário para as/os adolescentes e jovens. O resultado dessa pesquisa indicou alguns pontos essenciais para a construção da escola dos sonhos, como uma boa estrutura; comida gostosa e saudável; metodologias eficientes; intervalo mais agradável; aulas mais práticas e um ambiente sem violência.

O questionário também levantou questões sobre problemas recorrentes. Vários entrevistados e entrevistadas responderam que já sofreram ou sofrem algum tipo de violência no seu ambiente escolar ou até mesmo antes de chegar na unidade educativa. “Os professores puxam o saco dos melhores alunos e fazem diferenciação entre cor, raça e intelectos”,  respondeu um participante, deixando evidente a urgência do debate sobre o tema.

Direitos humanos nas escolas

Por meio de ações educativas e culturais, o projeto Onda – Adolescentes em Movimento Pelos Direitos introduz os temas direitos humanos e orçamento público nas escolas públicas do Distrito Federal. Em mais de 10 anos de existência, o projeto acumula reconhecimento nacional e internacional. Em 2018, o Onda venceu o Prêmio Itaú-Unicef, que identifica projetos que trabalham pela garantia de direitos de crianças, adolescentes e jovens em todo Brasil.

fonte: https://www.inesc.org.br/inesc-lanca-campanha-escola-dos-sonhos/

 


E a educação pública poderá ir para o ralo…

24/02/2021, às 11:57 
 
Por Cleo Manhas, assessora política do Inesc
 
Como fica a educação pública brasileira se a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 186, que acaba com vinculações orçamentárias de saúde e educação, for aprovada.

Foto: EBC

Final de 2020, em meio a tantas notícias ruins, houve vitória do movimento social pela educação, com a aprovação de um Fundeb permanente e com potencial de mais recursos de 2021 até 2025. No entanto, há uma crença popular de que quem muito ri, em seguida há de chorar. E não é que a pequena vitória está se voltando contra nós, com a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 186, que acaba com vinculações orçamentárias de saúde e educação? Ainda com a falsa premissa que sem isso não é possível oferecer o auxílio emergencial.

Como linguista de formação, mas não de profissão, fico triste com os usos que muitas pessoas têm feito da língua, significado e significante não se juntam mais nem no infinito. Além disso, não há compromisso com a verossimilhança: fala-se o que quer, sem que o dito tenha lastro com o que de fato é. O presidente da Câmara dos Deputados, por exemplo, falou para o Portal UOL que muitos prefeitos jogam dinheiro fora para cumprir com os mínimos constitucionais, quando se sabe que os mínimos não são suficientes nem para educação, nem para a saúde; e que há tempos gasta-se além dos mínimos.

Com relação à educação, sabe-se que as escolas públicas estão longe de serem centros de excelência, ou mesmo de oferta da educação de qualidade que se quer; não por falta de empenho dos profissionais da educação, mas porque o cobertor é curto. Os recursos não são suficientes para que tenhamos escolas com quadras cobertas, laboratórios, bibliotecas equipadas com computadores, menos alunos por sala de aula. Há, até mesmo, 2 milhões de estudantes sem acesso à água potável em suas escolas. Uma educação mais voltada para o século XXI e menos século XIX.  No entanto, foi a partir da Constituição de 1988 que o direito a educação para todas as pessoas tornou-se real.

Até então, as escolas públicas eram para poucos, que conseguiam aprovação em seleções difíceis, ou sorteio de vagas, ou mesmo por indicação de alguém do andar de cima, afinal, sempre fomos o país do “sabe com quem está falando?”. Desse período sobrou uma lembrança idílica de que as escolas públicas eram maravilhosas e hoje são péssimas. Às vezes cansa repetir que direito restrito a poucos, não é direito, mas sim privilégio. E quando é para poucos, fica mais fácil ser de excelência.

Então, quando o acesso foi universalizado caiu a qualidade, porque as redes públicas cresceram vertiginosamente. E é por isso que lutamos por mais recursos, com a aplicação do Custo Aluno Qualidade- CAQ, criado e defendido pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação, que estabelece referenciais para que alcancemos a educação de qualidade, onde quer que as escolas estejam. Leva-se em consideração o tamanho das turmas, infraestrutura das escolas, salários dos profissionais da educação compatíveis com outras carreiras de nível superior, formação continuada para professoras e professores. O CAQ inverte a lógica da política orçamentária de partir do que se tem disponível para decidir o quanto vai para cada área, propondo que se veja o valor necessário para se ter educação de qualidade e aplicar.

Plano Nacional de Educação, aprovado em 2014, Lei 13.005/2014, parece peça de museu guardada dentro de uma redoma, amarelado pelo tempo e esquecido por aqueles que deveriam cumpri-lo, em especial, o Ministério da Educação (MEC). Na meta 20, que se refere ao financiamento da educação, as estratégias 20.7 e 20.8 mencionam o CAQ, estabelecendo que este seja o referencial para financiamento de todas as etapas da educação básica, implantado em 3 anos, ou seja, deveria ser 2017, acompanhado pelo Fórum Nacional de Educação (FNE).  Moral da história, até mesmo o FNE foi extinto, bem como todas as instâncias de participação popular no atual governo.

Então, a expectativa apresentada com a aprovação do PNE, de que teríamos 7% do PIB para a educação pública até 2019 e 10% até 2024 virou fumaça e dispersou-se antes mesmo de 2019. E agora, em 2021, com a situação precária de todas as políticas públicas realizadoras de direitos, educação e saúde públicas estão em risco de extinção.

E é isso que precisa ficar nítido para toda a população brasileira. Há um projeto neoliberal de acabar com políticas públicas. Reduzindo o Estado ao mínimo que garanta boa vida a grandes empresários, agronegócio, privilégios aos de sempre. Não podemos esquecer que um dos grandes incômodos provocados pelos governos do PT foi a ampliação de vagas nas universidades para pessoas negras e oriundas das escolas públicas.  Além de ampliar significativamente as universidades públicas em número e tamanho.

Neste momento estão negociando o fim do financiamento obrigatório para as universidades e institutos federais. Pode ser a pá de cal que faltava para acabar com ensino superior público, nos assemelhando aos Estados Unidos, onde as melhores universidades são pagas e os valores acessíveis apenas para a elite econômica. Se já somos um dos países mais desiguais do mundo, talvez agora cheguemos em primeiro lugar no ranking do horror.

Ao que parece estamos presenciando um momento verdade daqueles que sempre foram os donos do poder, que financiaram a escravidão, que fazem casas e apartamentos com “dependência completa para empregadas”, que dizem que índios e quilombolas são preguiçosos, que colocam no paredão qualquer pessoa negra, mas preservam os seus, mesmo que assassinos, milicianos, genocidas…

 

fonte: https://www.inesc.org.br/e-a-educacao-publica-podera-ir-para-o-ralo/

 

 

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