Exército arquitetou conspiração para instalar o poder militar
Por Jeferson Miola, em seu blog
Estão dissipadas as dúvidas a respeito do papel das Forças Armadas no longo e secreto processo para a tomada de poder no Brasil por meio de um golpe de Estado “suave e silencioso”.
O general Villas Bôas confessou que a ameaça ao STF em 3 de abril de 2018 com o objetivo de emparedar a Suprema Corte para impedi-la de se decidir contra a prisão ilegal do Lula não foi uma decisão exclusiva dele, mas de todo Alto Comando do Exército, fato que é muito mais grave.
É uma decisão, portanto, institucional do Exército Brasileiro contra o Estado de Direito e a democracia.
Os comandantes se arvoraram, arbitrariamente, o direito de atuarem como um Poder acima do poder civil concebido na Constituição de 1988.
Numa democracia, tais comandantes militares estariam presos por sedição e atentado à ordem constitucional.
Os comandantes arquitetaram institucionalmente a conspiração contra o poder civil para instituírem no lugar um poder militar.
Tudo no modo neogolpista ao estilo século 21, sem disparar um único tiro de fuzil e sem ocupar as ruas com tanques.
Na visão delirante e auto-elogiosa que fazem de si mesmos, eles reivindicam que desta vez regressaram ao poder pela via eleitoral [sic], como se fosse constitucional a participação deles na política.
Daqui em diante, sentindo-se legitimados, não hesitarão em evoluir para uma “ditadura democraticamente eleita” [sic].
Pouco a pouco vai ficando comprovada e documentada a atuação conspirativa do Exército na dinâmica golpista que culminou na eleição do Bolsonaro à presidência para viabilizar a volta “democrática” dos militares ao poder.
Eleger Bolsonaro na eleição presidencial de 2018 era o projeto secreto acalentado pela cúpula militar desde muitos anos antes.
O fascista-miliciano do Escritório do Crime ofereceu a eles popularidade e voto. E eles sempre souberam que estavam enganchados num miliciano-raiz, mas isso não foi obstáculo para seguirem o plano.
Afinal, tratava-se de saquear um butim chamado Brasil.
Ainda não estão disponíveis estudos acerca da genealogia exata deste processo.
É sabido, entretanto, que a politização e ideologização com forte conteúdo antipetista e anticomunista nunca deixou de acontecer nos quarteis, mesmo depois do fim da ditadura em 1985.
A partir do período final do governo Lula e durante o governo Dilma, generais que hoje estão em postos de poder – como Augusto Heleno, Mourão e outros – esticaram a corda para testar a reação do poder civil à movimentação militar em marcha.
A impunidade os encorajou a seguirem o plano, esgarçando progressivamente os limites da ordem instituída.
Ainda está por ser desvelado como eles atuaram na espiral de desestabilização política do Brasil e na preparação da Lava Jato [2012, nas “jornadas” de 2013 e 2014].
Na despedida do Comando do Exército, em 11/1/2019, o general Villas Bôas curiosamente destacou Sérgio Moro/Lava Jato, junto com Bolsonaro e Braga Netto, como as “três personalidades que destacaram-se para que o ‘Rio da História’ voltasse ao seu curso normal” – ou seja, os heróis da libertação do Brasil do PT.
Um marco temporal do plano de poder dos militares é o dia 29 de novembro de 2014, quando Bolsonaro lançou-se candidato à presidência para a eleição de 2018 no pátio da AMAN [Academia Militar das Agulhas Negras].
Lá, ele foi ovacionado pelos aspirantes fardados com traje do Exército Brasileiro [EB] aos gritos de “líder!, líder!, líder!” [vídeo aqui]. Segundo a letra da Constituição e das Leis, trata-se de um crime.
Este ato político-partidário ilegal [ou criminoso] de militares, que tem o agravante de ter sido promovido numa unidade militar, jamais teria acontecido sem o consentimento ou sem o conhecimento dos comandos superiores do Exército e das Forças Armadas.
Assim como a participação do Bolsonaro, já presidente, nos atos terroristas que pediam o fechamento do Congresso e do STF na frente do Exército, em 19 de abril de 2020, foram consentidos pelo Comando do EB.
Os militares têm um projeto de poder militar. Eles voltaram dispostos a ficar no poder. Além de ministérios, estatais e empresas públicas, são mais de 11 mil militares comissionados em cargos e funções civis.
Hoje eles controlam instituições e poderes de Estado. Compraram a valores bilionários a maioria do Congresso corrupto que assegura a eles quórum para mudar a Constituição, como fizeram na aprovação da “independência” do Banco Central.
Além disso, os militares tutelam a PGR, a PF, o STF, os tribunais, as polícias militares estaduais etc. Enfim, tutelam todo poder judiciário.
O anúncio do ministro Gilmar Mendes de que a suspeição do Moro não abrange todos processos do Lula, com o que o ex-presidente continuará inelegível em 2022, é resultado do arranjo em construção pela magistocracia com os estamentos castrenses. É tutela do judiciário na veia!
A confirmação de que o Exército Brasileiro institucionalmente opera para avançar seu projeto de poder militar, obriga a esquerda e os setores democráticos a enfrentarem, com absoluta centralidade, a questão militar.
A escalada militar é uma realidade inexorável.
O risco do país evoluir para uma ditadura fascista-militar é rigorosamente concreto.
A confissão do general-conspirador Villas Bôas de que ele emparedou o STF com o respaldo de todo Alto Comando do Exército Brasileiro é sinal de que a realidade brasileira é mais aterrorizante que o pior dos piores pesadelos poderia sugerir.
A ameaça fascista no Brasil subiu de patamar com esta revelação.
Não se trata mais de uma disputa entre a democracia e a ditadura, mas de uma guerra de vida ou morte entre o poder civil e o poder militar.
O risco de uma regressão medieval de recorte militar-fascista no Brasil é muito real.
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Denise Assis
Jornalista. Passou pelos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Autora de “Propaganda e cinema a serviço do golpe – 1962/1964” e “Imaculada”. Membro do Jornalistas pela Democracia
Foi golpe! (E militar)
O general revelou como se deu um dos momentos mais emblemáticos da intervenção militar na vida política recente
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Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia
Matéria publicada pela “Redação DefesaTV”, que trata de assuntos afeitos à vida militar, nesta quarta-feira (10), e com crédito para o jornalista Leandro Melito, do Brasil de Fato, revela que o ex-comandante do Exército Brasileiro (EB) no período entre 2015 e 2019, o general Eduardo Dias da Costa Villas Bôas, prestou depoimento de 13 horas ao CPDOC, na Fundação Getúlio Vargas (FGV), rememorando episódios de sua passagem pelo cargo.
Villas Bôas conta detalhes sobre o “nebuloso” e ameaçador Twitter, que acabou levando o processo político para a eleição de Jair Bolsonaro. Revela, por exemplo, que a iniciativa foi uma represália de um grupo de militares contra o governo de Dilma Rousseff, pela criação da Comissão Nacional da Verdade e em represália à demarcação das terras indígenas “Raposa do Sol”, influenciados pela reação do general Heleno, que esperneou muito contra a medida. Comentou também a massiva presença de oficiais no atual governo, em todos os escalões. Com duração de 13 horas, a entrevista foi concedida pelo general ao diretor do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC), Celso Castro, e virou livro: “General Villas Bôas: conversa com o comandante”.
O general revelou a Castro como se deu um dos momentos mais emblemáticos da intervenção militar na vida política recente. Segundo descreveu, foi a postagem que ele fez no Twitter, em 2018, ainda na condição de comandante do Exército brasileiro, em tom de ameaça ao Supremo Tribunal Federal (STF), na véspera do julgamento do habeas corpus apresentado pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Era o seguinte, o texto da postagem: “o Exército “compartilha o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à Democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais”. Ele revela que obteve o apoio do então candidato Jair Bolsonaro. (Talvez seja este o grande segredo que os dois combinaram jamais revelar).
No livro – não há citação na matéria sobre data de lançamento -, Villas Boas conta um fato tão importante quanto preocupante. O post não foi apenas de sua autoria, mas escrito por sua equipe de oficiais. E, mais, que o texto obteve o aval de outros integrantes do Alto Comando do Exército residentes em Brasília antes de sua publicação. “Recebidas as sugestões, elaboramos o texto final, o que nos tomou todo o expediente, até por volta das 20 horas”, contou Villas Bôas na entrevista, de acordo com o autor da matéria do Brasil de Fato.
Ouvido por ele, o antropólogo Piero Leirner resume: “Significa que isso foi uma decisão do Exército, e não algo que partiu da cabeça do comandante”, aponta também o estudioso sobre os militares e autor do livro “O Brasil no espectro de uma guerra híbrida”. Para Leirner, a declaração de Villas Bôas “deixa claro um papel institucional de ingerência no Poder Judiciário”. Fato grave, sob qualquer aspecto. O antropólogo lembra um ponto importante: “Note que o general Ajax já estava lá no STF ‘assessorando’ a presidência [ministro Dias Toffoli], portanto o tuíte foi para deixar o STF de mãos atadas frente à opinião pública. Ou seja, fez-se política”.
Leirner mostrou-se surpreso quanto a uma das narrativas do general Villas Bôas impressa no livro: “é o peso que a “questão indígena” teve na articulação entre os militares para sua atuação na vida política do país. Talvez o antropólogo não tenha se dado conta de que no bojo desta questão que o surpreendeu, está o fator “mineração”, pois esta, sabidamente, é uma reserva onde se alardeia, há uma jazida de diamantes. Daí o interesse na discussão, que já foi incluída na pauta desse governo.
“A questão da Raposa Serra do Sol e TI Yanomami teve no mínimo tanto impacto como a CNV [Comissão Nacional da Verdade]. Meu faro de que a coisa começou com a rebelião do Heleno em 2008 estava certo, acho. Foi a partir daí que eles elaboraram um plano de longo prazo”, afirmou Leirner em uma publicação em seu perfil no Facebook.
O antropólogo ressalta que a “questão indígena” está no centro do ordenamento ideológico e doutrinário militar desde os anos 1990. “Eles transferiram muito do foco do ‘inimigo interno’ da ditadura para o problema da ‘cobiça internacional da Amazônia’, deslocando toda uma leitura da realidade e o consequente emprego das Forças Armadas para a Amazônia”, aponta, Leirner, na matéria de Melito. Ele destaca, ainda, que “a primeira liderança política a surgir entre os militares foi o general Augusto Heleno, após a demarcação da terra indígenas Raposa Serra do Sol em 2008, durante o segundo mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva”.
O antropólogo recorda que “Heleno começou a fazer críticas públicas, no Clube Militar, de forma que isso vazou para a imprensa e lançou um princípio que, lá dentro, foi tomado como um ‘papel de liderança’ lançado por ele, que começou a vocalizar contra Lula, esquerdas, PT”, explicou.
Nada, porém, alvoroçou tanto o meio militar para a ingerência na política, na opinião do antropólogo, quanto o a criação da Comissão Nacional da Verdade (CNV), quando Dilma Rousseff ocupava a Casa Civil e já havia lançado sua candidatura para as eleições presidenciais de 2010. “Houve um processo de ‘imitação’ por parte de outros militares. Um dos casos foi o do general Maynard Santa Rosa, e a eles se seguiram movimentos em série. Mourão foi isso”, aponta Leirner, como consta da matéria de Brasil de Fato.
A CNV foi instituída pelo governo para investigar as graves violações de direitos humanos cometidas pelo Estado brasileiro entre 18 de setembro de 1946 e 5 de outubro de 1988. O maior empenho nas questões relativas às violações ocorridas durante o período da ditadura instaurada pelo golpe de 1964, que durou 21 anos, deixou os militares indignados. Criada em novembro de 2011, no primeiro ano do governo da presidenta Dilma, os militares se uniram contra o que classificaram como “revanchismo” da esquerda brasileira.
Os trabalhos da comissão foram encerrados em dezembro de 2014, com a publicação do Relatório Final, em que foram apontadas as responsabilidades de agentes do Estado, em especial das Forças Armadas brasileiras, em episódios de sequestros forçados, tortura e morte de opositores ao regime.
De acordo com descrição de Leirner, “o pessoal lá do topo sabia do potencial político disso e, ainda em 2014, logo depois da reeleição, franquearam a entrada de Bolsonaro para dentro de instalações militares para fazer campanha. Toda essa coisa foi trabalhada por Villas Bôas, que ‘para fora’ tinha um discurso legalista, mas ‘para dentro’ deixou a política tomar altas doses de vitamina, seguindo o exemplo e a liderança de um Heleno da vida”.
fonte: https://www.brasil247.com/blog/foi-golpe-e-militar
Silêncio, medo e omissão diante da confissão do general Villas Bôas: assim morre a democracia e avançam as ditaduras
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Jeferson Miola – Integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial
Jeferson Miola avalia que, com o silêncio da oposição, dos partidos, movimentos sociais e instituições diante da confissão do general Villas Bôas dos atentados do Exército contra a democracia, “o Brasil dá passos largos no sentido de virar a chave do regime civil para o regime militar.”
No livro recém lançado – General Villas Bôas, conversa com o comandante, organizado por Celso de Castro [FGV Editora] – o ex-Comandante do Exército confessou que a decisão de emparedar o STF para forçar a Suprema Corte a manter a prisão ilegal do Lula sentenciada pelo então juiz Sérgio Moro não foi uma decisão exclusiva dele, mas de todo Alto-Comando do Exército Brasileiro [EB].
O general afirma que naquele 3 de abril de 2018 “tínhamos a consciência de estarmos realmente tangenciando o limite da responsabilidade institucional do Exército”, mas mesmo assim agiram como agiram “até porque o conteúdo foi discutido minuciosamente por todos nós”.
“Todos nós”, no caso, eram “os comandantes militares de área” que analisaram “o ‘rascunho’ [do conteúdo do twitter] elaborado pelo meu staff e pelos integrantes do Alto-Comando residentes em Brasília”.
“Recebidas as sugestões, elaboramos o texto final”, explicou o general, acrescentando que “a nota foi expedida às 20 horas e 20 minutos” de 3 de abril de 2018.
“Logicamente, desejávamos que a repercussão fosse imediata, mas fomos surpreendidos, sim, por ter sido veiculada logo em seguida, pelo Jornal Nacional”, explicou o “surpreso” general com a “incrível presteza” do principal noticiário da Rede Globo contra Lula.
Assumindo a prática de crime, Villas Bôas explicou que não consultou previamente o ministro da Defesa sobre a ameaça ao STF porque “se o informasse, ele se tornaria corresponsável” – no caso concreto, cúmplice do crime.
Villas Bôas justificou que também não consultou a Marinha e a Força Aérea porque “com ambos compartilhávamos total alinhamento de ideias”. O general relata que conversou “com o [general-ministro do GSI] Etchegoyen que já havia conversado com o presidente Temer, o qual se limitou a dizer ‘está bem’, aparentemente sem dar maior importância”.
Villas Bôas prevê que se o STF cumprisse a Constituição para impedir a prisão ilegal do Lula, haveria “uma enorme insatisfação da população”. Neste caso, disse ele, “é lógico que todos iriam olhar para o Exército, momento em que daríamos um exemplo de institucionalidade”; ou seja, interviriam ilegalmente na política.
Reinaldo diz que Lula foi quem mais investiu nas Forças Armadas e critica golpismo do general Villas-Boas
“Os tuítes de Villas Bôas marcaram o engajamento explícito das Forças Armadas na candidatura de Bolsonaro”, aponta o jornalista
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247 – O jornalista Reinaldo Azevedo criticou, em artigo publicado nesta sexta-feira, o golpismo das Forças Armadas, depois da confissão feita pelo general Villas-Boas, e disse que o ex-presidente Lula foi quem mais investiu no setor militar. “Pouco me importam os fantasmas que povoam a imaginação criativa do golpismo. Fato: Lula foi o presidente que mais investiu no reaparelhamento das Forças Armadas desde a redemocratização. E desafio que se evidencie o contrário. A ideia de que se forjou um espírito antipetista num ambiente de penúria e de política entreguista (ao onguismo internacional) vale uma dose do vermífugo do astronauta”, escreveu.
“Não tenho apreço por quem me ameaça. Os tuítes de Villas Bôas marcaram o engajamento explícito das Forças Armadas na candidatura de Bolsonaro. Um dos generais do poder organizou uma lista de compra de votos para eleger o presidente da Câmara. Outro, da ativa, poderá, no fim de fevereiro, discursar sobre 250 mil cadáveres. Seriam esses os ‘anseios dos cidadãos de bem?’ O depoimento de Villas Bôas tem óbvio interesse histórico. Merece um lugar na prateleira do lixo golpista”, escreveu ainda o colunista.
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Eric Nepomuceno é jornalista e escritor
A confissão do general golpista
Por Eric Nepomuceno, para o Jornalistas pela Democracia
“Villas Boas confirma que meus pesadelos se justificavam: os militares brasileiros continuam iguaizinhos. Portanto, qualquer distância deles é pouca”, escreve o jornalista Eric Nepomuceno sobre as revelações do general Eduardo Villas Villas Bôas. “Se necessário dialogar, que seja na velha e sólida base do confiar desconfiando o tempo todo”
São tempos estranhos, e em todos os sentidos.
Um dia depois de o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, perguntar onde foi que “erramos” – assim, no plural –, esquecendo da sua própria e decisiva contribuição para que chegássemos ao pior e mais abjeto presidente da história da República – e o primeiro Genocida –, aparece um livro com depoimentos do general Eduardo Villas Boas.
Pela notícia publicada pelo jornal O Globo, é com uma serenidade espantosa que o militar outrora falante, e que uma enfermidade especialmente cruel transformou em arfante, admite não apenas sua participação, mas de todo o Alto Comando do Exército na jogada que emparedou o omisso e poltrão STF para impedir que o julgamento de um pedido de habeas-corpus de Lula fosse aprovado.
Além disso, admite – com uma candidez cavernosa – o apoio não só dele, pessoal, mas de novo do Alto Comando do Exército, ao golpe institucional que tirou uma presidenta democraticamente eleita, Dilma Rousseff, para instalar em seu lugar uma mediocridade chamada Michel Temer, que tratou de adormecer a democracia e instaurar a cleptocracia.
No caso de Dilma, Villas Boas usa como argumento o mal-estar causado na tropa – leia-se: no generalato – pela instauração da Comissão de Verdade, que confirmou as barbaridades cometidas ao longo dos longos 21 anos em que o país viveu nas trevas da ditadura militar.
No caso de Lula, diz ele que o Exército decidiu emparedar os ministros do Supremo Tribunal Federal para impedir uma sublevação nacional.
De onde ele tirou semelhante argumento, ninguém sabe. Diz que empresários pediam intervenção militar, sem mencionar nomes ou, vá lá, setores: o agronegócio? A indústria pesada? A automobilística? Pequenos empresários donos de bordéis? Nunca se ouviu sequer rumor disso.
No famoso tuíte de 2018, Villas Boas diz que a claríssima ameaça à corte suprema do país ocorreu porque o Exército “julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade”.
Ora ora, general: e a impunidade que foi concedida aos seus colegas de farda e a todos os agentes públicos que cometeram torturas, assassinaram gente, vexaram e violaram mulheres, desapareceram com cadáveres, durante a ditadura militar?
Essa impunidade, por outra omissão covarde da corte suprema, continua assegurada.
Aliás, o senhor sabia que de todos – todos – os países da América Latina, sem nenhuma exceção, que padeceram brutalidades de ditaduras como a que encobriu o Brasil, o nosso país é o único – reitero: o único – em que não houve punição para os que cometeram crimes de lesa humanidade?
Essa impunidade, na sua visão canhestra e indigna, não merece repúdio. Ao contrário: merece permanecer intocada e intocável.
Ainda não li o livro. Como diria o ilegítimo que o Exército apoiou na hora de derrubar uma presidenta legítima, lê-lo-ei.
Mas o que li em O Globo, jornal que pode ser suspeito de tudo menos de ser objetivo e equilibrado, me bastou para confirmar um pensamento que desde antes do golpe contra Dilma Rousseff rondava minha cabeça e me causava pesadelos: a imagem de distanciamento que as Forças Armadas em geral e o Exército em particular haviam construído depois da retomada da democracia seria mais frágil do que parecia?
Sim, sim. Villas Boas confirma que meus pesadelos se justificavam: os militares brasileiros continuam iguaizinhos. Portanto, qualquer distância deles é pouca.
Se necessário dialogar, que seja na velha e sólida base do confiar desconfiando o tempo todo.
E mais: antes de confiar em seu equilíbrio e respeito à Constituição e aos três poderes que formam a República, melhor confiar na estabilidade psicológica e emocional de Jair Messias ou na decência de Donald Trump.
Augusto Heleno, Hamilton Mourão e Eduardo Pazuello, bem como todos os outros milhares de militares reformados ou na ativa que cercam o Genocida, não são exceção.
Longe, muito longe, nas longínquas memórias do tempo, ficaram figuras como a do marechal Henrique Lott ou do brigadeiro Casemiro Montenegro. Eles sim, honraram o uniforme.
Depois… bem, depois o que veio é o que temos aí. E o que temos aí é, além de indignante, assustador.
Tremendamente assustador.
fonte: https://www.brasil247.com/blog/a-confissao-do-general-golpista