Diante disso, e do apelo por oxigênio, o arcebispo da capital do estado do Amazonas, enfatiza que “as pessoas não podem continuar a morrer por falta de oxigênio, por falta de leitos nas UTIs”. A situação só será superada na medida em que todos tomarem consciência da necessidade de união. Por isso, ele faz o pedido para “deixar de lado as agressões, os negacionismos, deixar de lado a política que divide, que corrompe, deixar de lado os lucros acima da pandemia”.
Ao mesmo tempo, dom Leonardo insiste: “coloquemos a serviço de todos a nossa humanidade melhor, e coloquemos também a serviço de todos as nossas forças espirituais”. O arcebispo também faz um chamado para que “cuidemos do distanciamento, usemos máscara e não nos descuidemos da saúde”. Ele reconhece com pesar que “nós estamos num momento difícil, nós estamos num momento de pandemia, quase sem saída”. Para superar esse momento tão grave e trágico, ele faz um último apelo para “que todos nós possamos dar a nossa contribuição e nos engajar solidariamente no cuidado da vida de todas as pessoas”.
Presidentes da CNBB e da REPAM-Brasil pedem ajuda para o Amazonas
Vatican News
Seguindo o apelo dos bispos do Regional Norte 1 da CNBB, o presidente do episcopado brasileiro, dom Walmor Oliveira de Azevedo, e o presidente da REPAM-Brasil, dom Erwin Kräutler, pronunciaram-se em vídeo sobre a necessidade de ajuda imediata diante da grave situação que está sendo vivida no Estado do Amazonas, especialmente em Manaus. As últimas horas têm sido particularmente graves na capital amazonense, como demonstra o fato desta sexta-feira, 15 de janeiro, ter havido 213 sepultamentos na cidade, um número nunca antes visto, uma vez que a média diária de mortes na cidade é de cerca de 30. Dentre essas mortes, 30 pessoas morreram em casa, sem atendimento médico, por falta de vaga nos hospitais.
Dom Walmor afirmou que ante “a gravíssima situação da cidade de Manaus é urgente a convocação dos cristãos e de todas as pessoas sensíveis diante do sofrimento do próximo; é tempo de ajudar”. “A CNBB – disse dom Walmor – dará sua colaboração para levar oxigênio aos hospitais da capital do Amazonas”, pedindo aos líderes empresariais, empreendedores, classe política, que ofereçam seu auxílio. Nas suas palavras, mais uma vez, como já fez várias vezes nas últimas semanas, renovou o pedido de vacinação urgente e denunciou “os especuladores que ganham com as perdas dos outros”, algo que também se verifica em Manaus, onde o preço do oxigênio nas últimas horas atingiu níveis exorbitantes.
Como reconhece o presidente do episcopado brasileiro, o agravamento da pandemia em todo o Brasil, “evidencia a fragilidade em planejamentos, em ações do poder público”. Por esta razão, salientou que somos chamados a agir, “a que cada pessoa seja corresponsável pelo próximo, usando máscara, cultivando o distanciamento social, evitando aglomerações”. Dom Walmor apelou a “um novo estilo de vida, sem ufanismos nem negacionismos”. Finalmente, pediu a Deus “que proteja a cada um dos brasileiros, com especiais cuidados com os pobres, indígenas, quilombolas, idosos, enfermos e vulneráveis”.
No seu pronunciamento, o bispo emérito da Prelazia do Xingu ecoou o apelo de dom Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus, em nome dos bispos do Regional Norte 1, pedindo que fosse enviado oxigênio “pelo amor de Deus”. O clamor do povo e dos profissionais de saúde inundou os meios de comunicação e as redes sociais nas últimas horas. Um deles foi referido por Dom Erwin: “Ouvi uma profissional de saúde, num hospital, que chorando expressou seu desespero pela falta de oxigênio”.
O presidente da REPAM-Brasil, que também falou em nome do cardeal Claudio Hummes, presidente da Comissão Episcopal da Amazónia da CNBB, manifestou o seu apoio aos apelos angustiantes para que “o governo providencie imediatamente cilindros de oxigênio para os hospitais de Manaus e da Amazônia”. Estamos, segundo dom Erwin, vendo como “irmãs e irmãos nossos estão falecendo por asfixia, uma morte terrível”.
Alguém que é missionário na região há mais de 50 anos denunciou que “não é possível que o Brasil se esqueça dos povos da Amazônia numa hora tão cruel, e feche os ouvidos diante do clamor de pessoas que estão morrendo, e de suas familias e dos profissionais de saúde, que não podem cuidar dos doentes por falta de oxigênio e têm que olhar passivos como doentes morrem sufocados por falta de oxigênio, em terríveis condições”.
A Amazónia é uma região que muitas vezes tem sido vista como uma fonte de recursos pelos diferentes governos, uma atitude que tem aumentado nos últimos tempos, especialmente durante a pandemia da Covid-19, na qual a falta de fiscalização facilitou a exploração ilegal de matérias-primas, aumentando os incêndios e a poluição ambiental. Estamos falando de um território onde os direitos fundamentais da população muitas vezes não são cobertos. Face a esta situação, o presidente da REPAM-Brasil clamou: “Pelo amor de Deus e de Nossa Senhora, Manaus, a Amazônia, é Brasil. Por favor acordem, para os povos que aqui vivem e querem sobreviver a esta pandemia”, disse dom Erwin.
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Regional Norte 1 da CNBB: nota de solidariedade pela crise sanitária no Amazonas
Vatican News
O Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB lançou uma nota neste 15 de janeiro diante da crise sanitária no Amazonas, provocada “pela segunda onda da pandemia da Covid-19, que está acontecendo no estado do Amazonas, sobretudo em Manaus”. No texto, assinado pela Presidência do Regional, dom Edson Tasquetto Damian, bispo de São Gabriel da Cachoeira, presidente do Regional Norte I – CNBB, dom Edmilson Tadeu Canavarros dos Santos, bispo Auxiliar da arquidiocese de Manaus, vice-presidente do Regional, e dom Zenildo Luiz Pereira da Silva, bispo da Prelazia de Borba, secretário do Regional, “manifesta-se a preocupação e solidariedade para com as pessoas que estão sofrendo as consequências da falta de leitos hospitalares, atendimento médico e oxigênio”.
O aumento dos números de contagiados e falecidos vem sendo uma constante nas últimas semanas, especialmente desde o dia 1° de janeiro. Em Manaus, os sepultamentos nos últimos dias estão sendo os mais altos desde o início da pandemia, crescendo o número de pessoas que tem falecidos nas suas casas. Tudo isso tem como causa, segundo a nota do Regional, “o relaxamento das medidas de distanciamento e a falta de cuidado pessoal, sobretudo o uso de máscara e álcool gel”. Além disso, os bispos mostram “indignação diante da situação que estamos vivenciando, dado que os informes dos cientistas e epidemiologistas, que há vários meses vem anunciando a chegada de uma segunda onda, nem sempre tem sido escutado, não sendo tomadas as medidas sanitárias cabíveis”.
A nota pede das autoridades “empenho para evitar o maior número de mortes possíveis, e da população amazonense, que os cuidados e o respeito pelos decretos promulgados sejam assumidos por todos e todas, como instrumento que ajude a conter os efeitos da segunda onda da pandemia”. O Regional Norte 1 faz “um apelo para a prioridade do Amazonas na vacina”, manifestando “solidariedade e oração para com aqueles que vivem momentos de dor e sofrimento”.
O Regional Norte 1 está promovendo uma campanha solidária, que leva por nome “Amazonas e Roraima contam com sua solidariedade”, que possa ajudar nas diferentes dioceses e prelazias diante das necessidades que estão surgindo neste momento de grave dificuldade. As doações, em nome da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – Regional Norte 1 (AM – RR) podem ser realizadas na conta do Banco Bradesco Agência: 0320, C/C: 0541104-4, CNPJ: 33.685.686/0012-03, Chave PIX – CNPJ: 33685686001203.
Fonte: Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB
origem: https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2021-01/regional-norte-1-da-cnbb-nota-de-solidariedade-crise-amazonas.html
MANAUS DE HOJE PODE SER BRASIL DE AMANHÃ
De Manaus, Ennio Candotti, presidente de honra da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, fala ao TUTAMÉIA:
“A situação é trágica. É uma oportunidade para pensar se hoje somos o Brasil de amanhã. As origens dessa tragédia têm nomes e sobrenomes. Têm culpados, têm responsabilidades: Pazzuello, o presidente Bolsonaro e seus quatro valetes. A batalha de Manaus é provavelmente uma das decisivas. Dependerá da nossa capacidade de mobilização para dizer: O Brasil é Manaus! Vamos defender oxigênio para todos. E, com isso, chegar às últimas consequências, no Congresso Nacional, no STF, nas instituições que possam nos ajudar a evitar o colapso mais amplo. Enquanto esse grupo não for retirado das posições de poder vai continuar e vai se espalhar. Isso é o que deve ficar claro com o exemplo de Manaus. Não imaginem que Manaus ficará em Manaus”.
Para o cientista, deve haver uma ruptura: “Deve haver um júri popular que condene o ministro Pazzuello e sua equipe pelos desastres que cometeu. Que condene o presidente da República pelos desastres que incentivou. Da mesma maneira com que incentivou as queimadas na Amazônia. Faz parte do mesmo pacote. [Para eles] não interessa a biodiversidade, o papel floresta no estudo da evolução humana e da natureza. O interessa é produzir soja e quatro cabeças de gado. Não há meio termo. Os militares argentinos se retiraram apenas quando perderam a Guerra das Malvinas. E a Malvinas brasileira é a batalha de Manaus”.
Físico e diretor do Museu da Amazônia, ele ressalta que a mortandade em Manaus, acentuada pela carência de oxigênio dos hospitais, reflete a política que está sendo implementada no país e contém um aspecto militar:
“Essa é a batalha da cloroquina. E, nessa batalha, o primeiro general foi derrotado. Claramente, do ponto de vista militar, o quadro é de uma derrota militar do sr. Pazzuello. É indiscutível. Entregaram o Ministério da Saúde a um grupo de militares, bem ou mal intencionados, deu no que deu. É como a derrota do exército argentino nas Malvinas. São as Malvinas do nosso exército. Importantes figuras do exército estão tentando se desvencilhar dessa cilada, para evitar que o exército seja confundido [com a derrota]. Mas ficaram apenas nas declarações. O sr. Pazzuello é ainda da ativa. E ainda propaga a cloroquina. Não há meios termos para ver isso. Não podemos imaginar que com rezas e com boas intenções se possa resolver essa trágica situação. Estamos sob bombardeios. Não temos armas para nos defender. Está acontecendo algo que temos que contar a todos de modo que em outros centros se prepare uma resistência um pouco mais articulada”.
Nessa resistência, Candotti afirma que é preciso articular “o que nos resta das instituições de regulação da vida social no país para colocar um pouco de ordem nessa confusão gerada pelas agressões da política do Planalto”. Na sua visão, o impeachment é uma medida muito suave.
“Deveria ser uma criminalização pura e simples. Há crimes em jogo. É preciso um tribunal de guerra. É preciso que um júri popular condene, o que também que estão querendo fazer com o Trump. Não é apenas um impeachment. É algo mais. É uma condenação após uma devida avaliação dos males que essa política causou. Já vimos essa política em relação às queimadas nos meses passados na Amazônia e no Pantanal. Isso foi proposital, deliberado, agravado pelas mentiras. Mentira como meio de comunicação, que é transformada em política de governo, ou de desgoverno. Dizem não ser verdade que a floresta não foi incendiada por milícias a soldo de presidente e de seus articuladores de políticas públicas. Da mesma forma foi mantida a cloroquina como solução, enquanto se sabia que iria faltar tubos de oxigênio se a situação se agravasse”.
Nesta entrevista (acompanhe a íntegra no vídeo acima e se inscreva no TUTAMÉIA TV), o cientista analisa o fato de que tubos de oxigênio terem sido escondidos em Manaus. “São a fotografia mais significativa do quadro que encontramos em Manaus e no Brasil. Tenho certeza de que em muitos outros Estados fotografias como essas estão presentes, mais ou menos envergonhadas. O quadro que o Planalto está favorecendo é o quadro da devastação, é o quadro em que as milícias financeiras, econômicas e políticas estão preparando para o nosso convívio social”.
Na avaliação de Candotti, “Manaus está ocupada por milícias administrativas ou de interesses alheios à Amazônia ou à uma vida civilizada. Milícias que buscam lucros imediatos. É a mesma que quer substituir florestas por boi ou por venda de madeira. Que diferença há entre os tubos de oxigênio e as toras que são contrabandeadas ao arrepio da lei? São as mesmas elites do atraso”.
Nesse ambiente de salve-se quem puder, de todos contra todos ou de “agrida quem puder” –como aponta o cientista—a valorização da ciência é ponto central.
“Eu me dedico à divulgação científica há 50 anos e me considero muito mal sucedido nessa batalha. O grande público responde hoje com as mesmas respostas de 1300, 1500, 1600. Giordano Bruno foi queimado em praça pública; Galileu foi confinado. Por serem contrários à cloroquina. Dito de maneira simples, é isso. É preciso acabar com esse reinado de desmoralização da civilidade. Não só da ciência, mas de todos os direitos conquistados. Imaginar que em 2021 tenhamos que discutir conquistas da Revolução Francesa é tragicômico. Não imaginava que fosse possível retrocesso desse tipo. Daqui a pouco vamos discutir trabalho escravo”.
Nesta entrevista ao TUTAMÉIA, Candotti trata dos cortes nos investimentos para a ciência e ataca a mercantilização da saúde:
“A mercantilização da saúde em casos de pandemia é um escândalo. Tem a ver com a própria credibilidade da ciência. Mina a credibilidade. São empresas que têm interesses próprios acima dos interesses coletivos, da humanidade. Estamos nas mãos de quatro, cinco ou seis grandes empresas que não escondem seus interesses comerciais, de vendas e de sucesso econômico. E as bolsas de valores é que têm o pulso da situação. Isso é um escândalo imenso! Minam a credibilidade das instituições científicas, permitindo que os monstros possam ser gerados. Os monstros são filhos do segredo e o segredo é filho dos interesses privatistas das empresas. As empresas nos contam o que querem porque são donas do desenvolvimento, e nós ficamos calados. Com isso, a credibilidade da ciência vai competir com a terra plana. Construímos em centenas de anos uma credibilidade da ciência que hoje vem sendo desmoralizada por medidas relativizantes. Ah, minha opinião é que a cloroquina funciona. E isso é crime. Esse crime está se espalhando, e a crise de Manaus é um bom exemplo para a gente repensar isso”.
Em Manaus, retrato de um país que deixou de respirar
Como se armou a tragédia do Amazonas. Por que ela pode se repetir pelo Brasil e expressa um governo em sabotagem contra a Saúde e uma sociedade ainda incapaz de reagir contra quem a sequestrou. E mais: a Anvisa envenena seu jardim
Publicado 15/01/2021 às 08:15 – Atualizado 15/01/2021 às 10:09
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O COLAPSO SE CONFIRMA
Faz pelo menos um mês que uma grande tragédia em Manaus – e mesmo no Amazonas como um todo – se anuncia. Desde setembro e outubro, especialistas já observavam uma tendência de crescimento nos casos e internações e pediam medidas preventivas. Em meados de dezembro, o Hospital Delphina Aziz, referência para covid-19 na capital, já atingira quase 100% da ocupação de seus leitos de UTI. Na rede privada a situação era a mesma. No dia 26 de dezembro – portanto, logo após aquele que costuma ser um dos períodos de maior movimento nas cidades –, um decreto estadual proibiu o funcionamento de atividades não-essenciais por 15 dias, e foi seguido pelos protestos de uma multidão no centro de Manaus. O governo do estado cedeu: shoppings, bares e o comércio em geral reabriram no dia 28.
Naquele mesmo momento, não só os hospitais estavam lotados, como também os cemitérios. Em vez de tomar as rédeas da situação e garantir que os casos não aumentassem, o governo do estado começou a instalar contêineres com câmaras frias para abrigar os cadáveres recolhidos nos hospitais de referência. A prefeitura de Manaus começou a abrir novas covas.
Na última edição da news,alertamos que conseguir um leito de UTI em Manaus já não era garantia de atendimento, pois faltava oxigênio em várias unidades. Na semana passsada, o governo do Amazonas já tinha começado a usar o apoio da FAB para levar cilindros do gás. Mas ontem o problema se agravou e começou a mobilizar a atenção em todo o país (e também da imprensa estrangeira). Talvez a primeira manchete a ilustrar com dureza o que está acontecendo em Manaus tenha sido a da colunista Monica Bergamo, na Folha: “‘Oxigênio acabou e hospitais de Manaus viraram câmara de asfixia‘, diz pesquisador da Fiocruz”.
O governador Wilson Lima, que não teve capacidade para evitar o caos, afirmou que ontem foi o dia mais difícil de sua vida. Disse que o estado fez sua “lição de casa” durante a primeira onda (quando, não nos esqueçamos, o vírus correu solto no estado), mas que agora a situação é “fora do comum“.
A REALIDADE AGORA
“Pensa no pior cenário possível. A situação aqui está dez vezes pior“, disse à BBC, ainda no dia 12, o médico Daniel Fonseca. Ele dirige o grupo Samel, que controla cinco hospitais e centros médicos particulares de Manaus. No El País, um médico do Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV) diz que os pacientes estavam recebendo uma fração mais baixa de oxigênio do que o necessário, porque os estoques só cobririam algumas horas.
A unidade ficou sem o insumo durante quatro horas ontem. “Colegas perderam pacientes na UTI por causa da falta de oxigênio. Eles ainda tentaram ambuzar (ventilar manualmente), mas foi só para tentar até o último recurso mesmo, porque é inviável manter isso por muito tempo. Cansa muito, tem que revezar os profissionais. Chamaram residentes para ajudar na ventilação manual. A vontade que dá é de chorar o tempo inteiro. Você vê o paciente morrendo na sua frente e não pode fazer nada. É como se ver numa guerra e não ter armas para lutar”, disse outra médica do HUGV, no Estadão.
Os médicos começaram a fazer pedidos na internet para que quem tivesse cilindros em casa doasse aos hospitais. Pode soar estranho, mas há algum tempo pessoas começaram a tentar estocar esses cilindros em seus domicílios, já que os doentes são recusados nos hospitais por falta de leitos.
No mesmo jornal há um relato mais longo de uma dessas médicas residentes, também do HUGV, que não trabalha diretamente com pacientes com covid-19 mas se voluntariou para ajudar na ventilação manual. “Um deles [dos pacientes], de 50 anos, morreu na minha frente. Quando a gente vê que não tem mais jeito, iniciamos a morfina, para dar algum conforto. Tivemos que fazer isso com ele. Demos morfina e midazolam (sedativo). A gente já chorou e não sabe mais o que fazer. Só no Getúlio Vargas, foram pelo menos cinco óbitos pela falta de oxigênio”.
Mais de 700 pacientes devem ser transferidos a outros estados. De início, 235 pessoas serão enviadas a hospitais do Maranhão, Piauí, Rio Grande do Norte, Goiás e Distrito Federal. O problema é que, embora Manaus seja o caso mais crítico no momento, a pandemia recrudesce no país inteiro ao mesmo tempo. Vários estados estão com ocupação de UTIs acima de 70% e até de 80%, e ainda assim não parecem dispostos a reduzir o contágio. Nesse ritmo, talvez não seja tão simples realocar tanta gente.
CORRENDO ATRÁS
O MPF e outros quatro órgãos públicos decidiram pedir na Justiça Federal que a União apresente um plano de abastecimento, promova a transferência de pacientes para outros estados e requisite cilindros, tanto da indústria nacional quanto de outros estados. O documento ainda pede que o governo federal reative usinas localizadas no Amazonas para produzir oxigênio e apoie o estado nas medidas de contenção da covid-19. “A gente tem oxigênio pelo país, a gente não tem uma logística estabelecida porque tem um vácuo no governo federal. As pessoas são tiradas do oxigênio, elas sufocam e morrem. Elas são colocadas em máscaras e essas máscaras duram pouquíssimo tempo. Basicamente é isso”, diz o procurador Igor da Silva Spindola, no Estadão, ressaltando que cabe à União coordenar a entrega do insumo.
Para apagar esse incêndio, a corrida agora é pelo envio de mais cilindros. O transporte é complicado: como há risco de explosão, não é qualquer avião que pode fazê-lo. E, segundo a Procuradoria da República no Amazonas, o fim do oxigênio ontem aconteceu devido a problemas na aeronave que levaria o insumo, identificados pela manhã.
O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello,disse que seis aeronaves da FAB vão ser usadas nesse transporte, mas há que se confirmar se isso vai mesmo acontecer. Segundo o Estadão, há menos aviões disponíveis do que deveria, por pura falta de manutenção. “Dos 12 aviões cargueiros Hércules C-130 que a FAB tem, uma média de apenas três ou quatro estão voando. No momento, um está efetivamente em operação e o segundo, saindo da fase de manutenção, possivelmente ainda esta noite, para também fazer o transporte de cilindros de oxigênio de São Paulo para Manaus”, diz a reportagem. No fim da noite, o G1 informou a decolagem desses dois aviões. Ao todo, eles vão transportar 386 cilindros.
A White Martins, que produz oxigênio hospitalar em Manaus, já está com sua produção no limite e mesmo assim só consegue metade da quantidade necessária para atender à cidade hoje. Disse, aliás, que já havia comunicado formalmente a situação tanto ao governo do estado como ao governo federal, solicitando apoio. Segundo a empresa, a demanda cresceu cinco vezes em apenas duas semanas. O volume necessário hoje é de 75 mil metros cúbicos por dia – mais que o dobro dos picos de abril e maio, quando nos chocamos com o colapso na cidade pela primeira vez. E ainda há uma demanda diária de outros 15 mil metros cúbicos no resto do estado.
A empresa afirmou que buscaria o estoque de suas operações na Venezuela. Sim, a Venezuela de Nicolás Maduro. O presidente orientou que sua diplomacia atendesse ao pedido. A remessa está confirmada, mas ainda não sabemos que volume de oxigênio será conseguido nela. Além disso, o governo do Amazonas requisitou o estoque de outras 11 empresas, via notificação extrajudicial. E o governo federal pediu que um avião dos Estados Unidos ajude no transporte.
Os cilindros extras que estão chegando podem ajudar a segurar a situação por alguns dias, mas, como o número de pessoas necessitando de internação não para de aumentar, já existe a preocupação com o que vai acontecer quando essas novas remessas acabarem também.
Verdade seja dita, a falta de oxigênio só confirma o que se sabe desde o começo da pandemia: quando a circulação do coronavírus é muito alta, não há sistema de saúde que dê conta – muito menos em locais onde os serviços já eram precários. Para estancar os novos casos, o governador Wilson Lima finalmente emitiu um novo decreto restringindo a circulação de pessoas e permitindo apenas as atividades essencias nos próximos dias. Será que agora vai vingar?
RESPOSTA-PADRÃO
Eduardo Pazuello tem algumas explicações para o que anda acontecendo em Manaus, e avaliou a situação em transmissão ao vivo com o presidente Jair Bolsonaro. Falou sobre algumas obviedades, como a precariedade na infraestrutura hospitalar, mas também culpou as chuvas. E, é claro: a falta de “tratamento precoce”… Porque tudo poderia ter sido evitado com um fajuto kit-covid. Já o presidente gastou pouca saliva falando do problema na cidade, restringindo-se à defesa da cloroquina.
Pois é. Na mesma live, Pazuello disse que a ciência não comprovou a eficácia do uso de máscaras e do isolamento social. E arrematou, cravando que sol, felicidade, boa alimentação e esporte ajudam a combater a doença.
Em tempo: o Ministério lançou um aplicativo para orientar profissionais de saúde no manejo dos casos. Poderia ser bom, mas é só mais um estímulo à prescrição de remédios sem eficácia comprovada: hidroxicloroquina, cloroquina, ivermectina, azitromicina e doxiciclina.
A prefeitura de Manaus e o governo do Amazonas se renderam. Segundo o Estadão, recomendaram ontem, pela primeira vez, o tal “tratamento precoce”.
O PAPEL DA NOVA VARIANTE
N’O Globo, o médico intensivista Thales Stein chama a atenção para outro fator: uma mudança no perfil das vítimas. “A covid-19 mudou, está evoluindo mais rápido. Estamos vendo um altíssimo número de óbitos em pessoas de 40 e 50 anos, isso não acontecia antes. Só havia complicações entre pessoas com doenças pré-existentes. O número de jovens internados também cresceu bastante”. A diferença é notada por outros profissionais, em outras reportagens. “A gente recebe agora famílias inteiras com comprometimento pulmonar que necessitam de internação de uma só vez. Há também um alto número de pacientes jovens acometidos“, diz a médica Uildeia Galvão.
Sabendo que uma nova variante foi identificada em pacientes do Amazonas, a tentação é a de atribuir logo uma relação direta entre as duas coisas. Ao menos por enquanto, não é possível fazê-lo – não há nada indicando que a variante leve a uma piora dos quadros em qualquer idade. Mas há, sim, algumas indicações de que ela tenha maior potencial de transmissão e de reinfecção. A matéria de Júlio Bernardes, no Jornal da USP, explica o trabalho recente que fez essa descoberta. Se isso se confirmar, é uma preocupação não só para o Amazonas mas para todo o país.
A Fiocruz Amazônia encontrou o primeiro caso confirmado de reinfecção com essa nova variante (e sabemos que o estado faz poucos testes PCR, de modo que não deve ser fácil fazer os sequenciamentos genéticos que confirmem as reinfecções).
NADA DISSO
Se você leu a news de ontem, viu que estranhamos uma discrepância entre o número de seringas que o Ministério da Saúde disse haver nos estados, e o número que as próprias secretarias de Saúde haviam informado anteriormente ao Estadão. Pois durante o dia os governos estaduais reclamaram: de acordo com eles, Eduardo Pazuello enviou dados errados ao STF.
Agora o ministro Ricardo Lewandovski, do STF, determinou que os estados e o Distrito Federal têm cinco dias para fornecer as informações corretas.
NO LAÇO
A Anvisa prometeu discutir no domingo a aprovação da vacinas de Oxford/AstraZeneca e a da CoronaVac. Porém, segundo a agência, ainda falta receber documentos sobre os dois imunizantes. Como se sabe, depois que um fabricante entra com o pedido de uso emergencial há um prazo de dez dias para que o órgão responda. Mas esse prazo é interrompido quando a agência faz exigências – e, se os papéis não forem entregues, há o risco de as autorizações afinal não sairem no domingo.
A propósito: a viagem do avião que irá buscar as doses prontas da vacina de Oxford/Fiocruz na Índia foi adiada mais uma vez. Ia ser na quarta-feira, depois passou para ontem e agora ficou para hoje à noite. Não foi informado o porquê. Coincidentemente, o jornal The Times of India indica que o governo indiano pode ter dado para trás na decisão de exportar essas duas milhões de doses para o Brasil. Segundo a matéria, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores Anurag Srivastava disse ser “cedo demais” para garantir que a Índia vá conseguir disponibilizar esse imunizante a outros países…
PARA LER COM CALMA
Se você acha que o uso de agrotóxicos está restrito ao campo e que, nas cidades, só chegam os resíduos por meio de alimentos, está enganado. Na reportagem d’O Joio e o Trigo, nossa editora Maíra Mathias investiga o uso doméstico de herbicidas como o glifosato. O problema remonta aos anos 1990, quando o Ministério da Saúde passou a aceitar esses venenos como “produtos para jardinagem amadora”. Hoje, um mesmo produto (o glifosato, por exemplo) é considerado pela Anvisa como agrotóxico quando para uso rural, e como “saneante domissanitário” na jardinagem amadora – no mesmo balaio de cosméticos, perfumes e produtos de higiene.
Nas cidades, qualquer pessoa pode comprar esses venenos sem ter que apresentar nenhum documento. Os produtos são vendidos até pela internet, em sites de jardinagem e supermercados. “Tenho uma clientela firme. Hoje em dia todo o mundo está preguiçoso, o serviço aumentou”, comenta um entrevistado que há 28 anos trabalha como “mata mato”, ou seja, fazendo a capina química de quintais e terrenos urbanos. Ele não usa proteção alguma.
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fonte: https://outraspalavras.net/outrasaude/historia-se-repete-em-manaus/
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VIoMUNDO – 14/1/21
Como Osmar Terra, Bia Kicis e Eduardo Bolsonaro colaboraram com o caos em Manaus
A situação de Manaus deixa as claras as prioridades de Bolsonaro: falta oxigênio nos hospitais enquanto ele oferece cloroquina para o tratamento da Covid. Um crime que está sendo praticado durante o mandato. Impeachment! Paulo Teixeira, deputado federal (PT-SP)
É criminoso. O oxigênio acabou nos hospitais de Manaus. O pesquisador da Fiocruz Jesem Orellana fez um relato dramático dizendo que os leitos viraram câmara de asfixia. E Pazuello lança um aplicativo na cidade orientando as pessoas a tomarem cloroquina. Já acionei o MPF. Marcelo Freixo, deputado federal (Psol-RJ)
Pessoas morrendo sufocadas em Manaus por falta de oxigênio nos hospitais e em vez de prestar ajuda federal, Bolsonaro politiza as mortes e critica as autoridades locais por não terem adotado tratamento com cloroquina, que não tem eficácia pra covid. É um ser desprezível! Gleisi Hoffmann, presidenta do PT
Da Redação
O deputado federal e ex-ministro Osmar Terra (MDB-RS) é médico. Por isso, deveria agir com muita responsabilidade em suas manifestações públicas.
Em novembro do ano passado, o parlamentar, de 70 anos de idade, ficou 12 dias internado por causa da covid-19, sete deles na UTI.
Ao sair do hospital, retomou exatamente o mesmo discurso negacionista, que já o havia desmoralizado anteriormente.
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No ano passado, ele chegou a escrever que a pandemia terminaria em junho, mas sete meses se passaram e estamos na segunda onda.
Outra famosa previsão de Terra, em entrevista gravada: “Vai morrer menos gente de coronavírus em todo o Brasil do que vai morrer gente… de que gaúcho de gripe sazonal”.
O Brasil já atingiu mais de 200 mil mortes por coronavírus, enquanto a gripe sazonal no Rio Grande do Sul matou 70 pessoas no estado em 2019.
O médico bolsonarista é defensor da imunidade de rebanho, ou seja, contra o isolamento social.
Em janeiro deste ano, ele fez um comentário específico sobre Manaus:
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Foi no último dia 4 de janeiro. Dias antes, o governador do estado, Wilson Lima (PSC), havia voltado atrás depois de anunciar medidas para tentar controlar o recrudescimento da pandemia, por causa das festas de fim de ano.
Comerciantes protestaram e Wilson Lima recuou, reabrindo o comércio e outras atividades no dia 28 de dezembro.
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O deputado federal Eduardo Bolsonaro comemorou a decisão do governador, fazendo referência a protestos de empresários de Búzios, no Rio de Janeiro, que mantiveram a cidade aberta apesar do risco causado pelas aglomerações costumeiras no fim de ano.
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A deputada federal Bia Kicis (PSL-SP) também comemorou a “vitória do povo”.
Uma “vitória” à custa de doença e mortes.
Osmar Terra, Bia Kicis e Eduardo Bolsonaro não consideraram que a curva de contaminação no Amazonas já apresentava alta alarmante nos últimos dias do ano.
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Na semana epidemiológica 52, de 20 de dezembro, foram registrados 4.333 casos no estado.
Na semana 53, de 27 de dezembro, houve um salto para 5.860.
Na semana epidemiológica 2, de 3 de janeiro de 2021, foram 11.129 casos, chegando muito perto do recorde de 11.758 casos registrados no pico, em maio do ano passado, sempre de acordo com dados da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas.
Ou seja, mais uma vez a pressão de bolsonaristas contra medidas de autoridades locais acabou contribuindo com o colapso sanitário e o aumento do número de casos e mortes — quando as estatísticas já apontavam o caminho da cautela.
Apesar de desmoralizados com os cientistas, Terra, Kicis e o filho do presidente da República dispõem de megafones bancados com dinheiro público para disseminar suas teses negacionistas.
A partir de hoje, começaram a funcionar as câmaras frigoríficas que a Prefeitura de Manaus instalou no cemitério de Tarumã, para abrigar até 40 caixões à espera de sepultamento.
“O pior de tudo em Manaus é a sensação de impotência”
Cilindros que chegam de outros estados não aplacam a crise. Médicos e enfermeiros relatam estarem mantendo pacientes vivos com ventilação manual: “É inviável do ponto de vista físico e emocional”.
A reportagem é de Nádia Pontes, publicada por Deutsche Welle, 15-01-2021.
Nem a estruturada Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, criada há mais de quatro décadas, escapa da crise em Manaus provocada pela falta de oxigênio. “Eu me formei há 47 anos, passei por algumas epidemias aqui no estado, mas nunca tinha visto algo dessa natureza. O pior de tudo é a sensação de impotência”, desabafa o diretor Marcus Vinítius de Farias Guerra.
O aumento em 150% de sua capacidade desde janeiro para atender pacientes com covid-19 não foi suficiente. Voltados até então para tratar pacientes de HIV infectados com o novo coronavírus, a fundação teve que receber qualquer um que chega pedindo socorro.
Todos os leitos estão lotados, o setor de emergência também abriga doentes por covid-19, e novos casos não param de surgir. Muitos estão em estado grave e precisam do reforço externo para respirar.
O tanque de oxigênio do hospital não foi reabastecido. Alguns cilindros, com capacidade menor de armazenamento, chegaram de outros estados transportados pela Força Aérea.
As balas de oxigênio estão interligadas por uma tubulação no hospital, e todas saídas do gás foram inspecionadas. O mínimo desperdício pode custar uma vida.
“O tanque seria suficiente para abastecer os pacientes por quatro dias. As balas são suficientes por algumas horas”, detalha Guerra. “Quando acabar, não sabemos o que vai acontecer. Enquanto isso estamos correndo atrás de outros cilindros”.
Nos postos públicos de saúde e nos hospitais da rede privada, a lotação não é diferente. A cidade de Manaus conta com apenas um fornecedor de oxigênio, a empresa White Martins. O agravamento da pandemia no estado fez com que o consumo do gás essencial à vida humana produzido artificialmente seja cinco vezes maior que a capacidade da unidade local.
“O oxigênio acabou”
Na rede particular, os pronto-socorros estão fechados, sem condições de atender, informou o sindicato que representa hospitais, clínicas e demais serviços de saúde do setor privado. Em todo o estado, 500 mil pessoas pagam por um plano de saúde.
Dois hospitais, dos 12 da rede, entraram com ações judiciais para garantir o abastecimento e aumento de volume de oxigênio. “As UTIS oscilam a ocupação entre 95% a 100%. Todos aumentaram a capacidade de leitos, mas rapidamente lotaram”, informou à DW.
O cenário é pior para a rede pública nesse momento. Do hospital Getúlio Vargas, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), há relatos de cenas de horror, como numa guerra. Com o suprimento zerado, funcionários tentaram de tudo para manter pacientes vivos por meio de ventilação manual.
“Isso gerou um grande estresse, um grande problema, porque ficar fazendo isso manualmente por horas e horas a fio sem perspectiva de resolver é inviável do ponto de vista físico e emocional”, afirma Mário Vianna, presidente do Sindicato dos Médicos do Amazonas (Simeam). As mãos do executor da ventilação manual entram em estafa, sentem cãibra, e a vida do paciente fica por um sopro.
Vianna confirma que os cilindros que vêm de outros estados não bastam. “Eles chegam e acabam. Chegam e acabam. Os cilindros não têm grande capacidade. As centrais de oxigênio dos hospitais são tanques enormes”, explica.
Enfermeiros, que preferem não ter o nome revelado, contam sobre o desespero de pessoas em frente aos postos de saúde e hospitais que aguardam informações de familiares. “Como eu vou dizer para essa pessoa que o familiar dele morreu porque o oxigênio acabou? É desolador, nunca imaginei passar por isso”, descreve.
“Política negacionista”
Como forma de amenizar a crise, o estado iniciou na manhã desta sexta-feira (15/01) o transporte de mais de 200 pacientes de covid-19 para outros estados. Até o governo da Venezuela ofereceu ajuda.
Por decreto estadual, um toque de recolher para evitar aglomerações foi imposto na quinta. Entre 19h e 6h, ninguém está autorizado a circular pelas ruas, excesso trabalhadores de serviços essenciais. Apenas farmácias podem funcionar.
Enquanto isso, a capital Manaus, que recebe todos os casos graves do vasto estado, tem batido recorde de enterros. Só na quinta, foram 186. Em todo o Brasil, mais de 207 mil pessoas já morreram de covid–19 desde o início da pandemia.
“A politica negacionista do governo que sabotou as politicas públicas para conter o vírus provocou um tragédia sem precedentes. E as consequências são terríveis. Em Manaus está faltando leitos e oxigênio para atender as pacientes mais graves. Os profissionais de saúde denunciam que os doentes em estado grave estão morrendo por falta de oxigênio”, afirma Moacir Lopes, diretor da Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Saúde, Trabalho e Assistência Social (Fenasps).
Para Marcus Vinítius de Farias Guerra, diretor da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, a situação nunca foi confortável desde o início da pandemia. A queda no número de casos nos meses passados trouxe uma falsa sensação de alívio.
“Depois do processo eleitoral, os feriados de festas de final ano em que houve flexibilização, as pessoas entenderam como liberação. A cidade ficou lotada de gente. Isso resultou nesse número excessivo de pacientes internados com forma grave, com baixa saturação e que necessitam de oxigênio”, avalia.
Sem ter como resolver definitivamente a crise, Guerra tenta de tudo para cuidar dos pacientes e de toda a equipe – muitos estão infectados por covid-19 e internados no hospital. “Você ajeita uma situação na área física e instrumental e daí falta oxigênio. Não ter um leito já é difícil demais, dói não poder servir alguém que está precisando. Mas não ter oxigênio é infinitamente pior”, diz à DW.
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fonte: http://www.ihu.unisinos.br/606206-o-pior-de-tudo-em-manaus-e-a-sensacao-de-impotencia