A Amnistia Internacional (AI) considera que continua distante a justiça para as vítimas do conflito militar envolvendo as Forças de Defesa e Segurança moçambicanas (FDS) e os terroristas, e que há três anos prevalece na região norte da província de Cabo Delgado.
Hermínio José – Maputo, Moçambique – Vatican News
Através de um ofício dirigido à comunicação social, emitido nesta quarta-feira (7), a Amnistia Internacional, através da sua delegação para a África Oriental e Austral, acusa as autoridades da justiça nacional de letargia.
Levar à barra da justiça os suspeitos
“As autoridades continuam a não levar à justiça todos os suspeitos da autoria de crimes à luz do direito internacional e de violações de direitos humanos”, classifica aquele organismo internacional, no seu comunicado.
Segundo a nota, pelo menos duas mil pessoas já perderam a vida em Cabo Delgado, como resultado do conflito em curso desde 2017, e salienta que as vítimas do conflito “não parecem estar mais próximas de conseguir justiça, verdade e reparação”.
AI contabiliza pelo menos 2 mil mortos
A Amnistia Internacional contabiliza mais de 300 mil deslocados desde o início dos ataques. As famílias afectadas vivem, segundo a fonte, um sofrimento sem precedentes, provocado pelos terroristas.
“Este grupo armado é responsável por um sofrimento indescritível em Cabo Delgado. Os seus membros reduziram os lares das pessoas a cinzas através de ataques incendiários coordenados, mataram e decapitaram civis, pilharam alimentos e bens e forçaram centenas de milhares de pessoas a fugir de suas casas,” explicou Deprose Muchena, director Regional da Amnistia Internacional para a África Oriental e Austral, citado no comunicado.
AI volta a criticar actuação das Forças de Defesa e Segurança
Por outro lado, aquela organização volta a criticar a actuação das Forças de Defesa e Segurança, por alegados envolvimentos na violação de direitos humanos.
“Há provas de que as Forças de Segurança cometeram, também, crimes à luz do Direito Internacional e violações de direitos humanos, nomeadamente, desaparecimentos forçados, tortura e execuções extrajudiciais. Estes crimes são agravados pelo facto de as autoridades moçambicanas não permitirem que os jornalistas e investigadores nacionais e internacionais documentem esta situação sem repercussões”, apontou Muchena.
A finalizar, o comunicado exorta as autoridades nacionais a travarem todas as arbitrariedades e levar à barra da justiça, todos os prevaricadores.
Falta de políticas de inclusão e justiça social gera descontentamento
Entretanto, o académico moçambicano, Professor Brazão Mazula, afirma que os conflitos internos em Moçambique resultam da injustiça social e falta de políticas de inclusão que resvalam num descontetamento generalizado da população.
De referir que os ataques terroristas em Cabo Delgado, sem um fim à vista, continuam a fazer centenas de mortos, milhares de deslocados, empurrando a população para um sofrimento agudizado, numa altura em que Moçambique assinala neste ano os 28 anos da Assinatura do Acordo Geral de Paz, mas sem paz efectiva, em algumas regiões do centro e norte do País.
Moçambique: União Europeia vai apoiar combate ao terrorismo no norte do País
Hermínio José – Maputo, Moçambique
A 16 de setembro, a Ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Moçambique, Verónica Macamo, escreveu um ofício ao Alto Representante da UE para a Política Externa, Josep Borrell, pedindo apoio na logística e no treino especializado das forças governamentais para travar as incursões armadas de grupos classificados como terroristas em Cabo Delgado.
Fortalecer capacidades das forças governamentais
O Embaixador Antonio Sánchez-Benedito Gaspar explicou que a ideia é fortalecer as capacidades de resposta de Moçambique. Esclarecendo, no entanto, que “não está na agenda a vinda de militares europeus ao País”.
Bispos classificam a violencia de “verdadeira barbárie”
Entretanto, a Conferência Episcopal de Moçambique (CEM) classifica a violência armada e a crise humanitária em Cabo Delgado de verdadeira barbárie. O Porta-Voz da CEM, D. João Carlos, refere no entanto que a Igreja Católica manifesta solidariedade e proximidade para com as vítimas do terrorismo naquela região nortenha de Moçambique.
D. João Carlos apela à sensibilidade dos fiéis
Dom João Carlos, que é igualmente Bispo de Chimoio, na Província central de Manica, apela aos fiéis para que sejam sensíveis e solidários à situação penosa e desastrosa de Cabo Delgado.
De salientar que a Província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, é palco há três anos de ataques armados desencadeados por forças classificadas como terroristas. A violência provocou uma crise humanitária com cerca de dois mil mortos e mais de 300 mil deslocados internos.