À medida que as emissões aumentam, mais partes da Amazônia devem secar. Uma parte maior da floresta amazônica pode cruzar um ponto crítico onde pode se tornar um ecossistema do tipo savana mais do que se pensava.
A reportagem é publicada por Stockholm Resilience Centre e reproduzida por EcoDebate, 06-10-2020. A tradução e edição são de Henrique Cortez.
As florestas tropicais são muito sensíveis às mudanças que afetam as chuvas por longos períodos. Se a precipitação cair abaixo de um certo limiar, as áreas podem mudar para um estado de savana.
“Em cerca de 40 por cento da Amazônia, a precipitação está agora em um nível em que a floresta poderia existir em qualquer estado – floresta tropical ou savana”, diz Arie Staal, ex-pesquisador de pós-doutorado no Centro de Resiliência de Estocolmo e no Instituto Copernicus da Universidade de Utrecht.
Ele é o autor principal de um estudo publicado na revista Nature Communications. Os colegas do centro, Lan Wang-Erlandsson e Ingo Fetzer, estavam entre os co-autores.
Tendência deve piorar
As conclusões são preocupantes porque partes da região amazônica estão recebendo menos chuva do que antes e essa tendência deve piorar à medida que a região esquenta devido ao aumento das emissões de gases de efeito estufa.
Staal e colegas se concentraram na estabilidade das florestas tropicais nas Américas, África, Ásia e Oceania.
A equipe explorou a resiliência das florestas tropicais examinando duas questões: e se todas as florestas nos trópicos desaparecessem, onde elas voltariam a crescer? E o inverso: o que aconteceria se as florestas tropicais cobrissem toda a região tropical da Terra?
• Os pesquisadores fizeram simulações começando sem florestas nos trópicos na África, Américas, Ásia e Austrália. Eles viram as florestas surgirem com o tempo nos modelos. Isso permitiu que explorassem a cobertura florestal mínima para todas as regiões;
• A equipe executou os modelos uma segunda vez, desta vez em um mundo onde as florestas tropicais cobriam inteiramente as regiões tropicais da Terra. Este é um cenário instável porque em muitos lugares não há chuva suficiente para sustentar uma floresta tropical. Em muitos lugares, as florestas encolheram devido à falta de umidade;
• Por fim, os pesquisadores exploraram o que aconteceria se as emissões continuassem aumentando neste século ao longo de um cenário de emissões muito altas usado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
Alteração da histerese da cobertura florestal nos trópicos durante o século XXI. a) Distribuições florestais mínima (verde) e máxima (bege) sob o clima recente. b) Distribuições florestais mínima (verde) e máxima (bege) sob o clima do final do século 21 (2071−2100). c) Mudanças no potencial da floresta entre os climas recente e final do século 21. As áreas vermelhas são florestas estáveis sob o clima recente, mas cruzam o ponto crítico para a faixa de chuvas não florestadas sob o clima do final do século 21; as áreas azuis são muito secas para a floresta no clima recente, mas cruzam o ponto de inflexão para a faixa de precipitação de floresta estável no clima do final do século 21. (Fonte: Nature Communications)
Emissões crescentes, floresta tropical encolhendo
No geral, os pesquisadores descobriram que, à medida que as emissões aumentam, mais partes da Amazônia perdem sua resiliência natural, tornam-se instáveis e têm maior probabilidade de secar e se transformar em um ecossistema do tipo savana. Eles observam que mesmo a parte mais resiliente da floresta tropical diminui de área.
“Se removêssemos todas as árvores da Amazônia em um cenário de alta emissão, uma área muito menor voltaria a crescer do que seria o caso no clima atual”, diz o coautor e pesquisador do centro Lan Wang-Erlandsson.
Os pesquisadores concluíram que a menor área que pode sustentar uma floresta tropical na Amazônia contrai substanciais 66% no cenário de altas emissões.
Na bacia do Congo, a equipe descobriu que a floresta continua em risco de mudar de estado em todos os lugares e não crescerá novamente depois de desaparecer, mas que, em um cenário de altas emissões, parte da floresta se torna menos propensa a cruzar um ponto crítico.
Mas Wang-Erlandsson acrescenta “Esta área onde a regeneração natural da floresta é possível permanece relativamente pequena”.
Décadas para retornar
“Entendemos agora que as florestas tropicais em todos os continentes são muito sensíveis às mudanças globais e podem perder rapidamente sua capacidade de adaptação”, diz o coautor Ingo Fetzer.
“Uma vez perdidos, sua recuperação levará muitas décadas para retornar ao seu estado original. E dado que as florestas tropicais hospedam a maioria de todas as espécies globais, tudo isso estará perdido para sempre. ”
Os acadêmicos descobriram que as extensões mínima e máxima das florestas tropicais da Indonésia e da Malásia são relativamente estáveis porque suas chuvas dependem mais do oceano ao seu redor do que da chuva gerada como resultado da cobertura florestal.
Referência:
Staal, Arie, Fetzer, Ingo, Wang-Erlandsson, Lan, Bosmans, Joyce H.C., Dekker, Stefan C., van Nes, Egbert H., Rockström, Johan & Tuinenburg, Obbe A. (2020). Hysteresis of tropical forests in the 21st century. Nature Communications. Disponível aqui.
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“O capitalismo entrará em colapso por esgotamento”. Entrevista com Santiago Niño-Becerra
Em 2050, nada será como agora, mas a mudança já está acontecendo, afirma Santiago Niño–Becerra, doutor em Economia e professor de Estrutura Econômica da IQS School of Management (Universidade Ramon Llull), que antecipou o crash de 2010 e conta os dias (os anos) que restam para o sistema atual em seu novo livro: “Capitalismo 1679-2065”. À crise, destaca, surgiu um “cisne negro”, o imprevisto da pandemia de covid–19.
A crise será resolvida em um período de dois a quatro anos, mas o diagnóstico do economista assusta: “Por quê? Porque o que vem é novo. Se for para fazer uma comparação, estamos como em 1785. Foi um momento com uma crise agrária forte, uma paralisação total da economia em toda a Europa e uma situação de grande incerteza. Como agora”.
A entrevista é de Ana Abelenda, publicada por La Voz de Galicia, 06-10-2020. A tradução é do Cepat.
Eis a entrevista.
Como a covid agravou e acelerou a crise que enfrentamos há uma década?
A pandemia nos tornou conscientes de coisas que eram sabidas ou de ferramentas que existiam e não eram utilizadas. Foi por necessidade. Já temos uma novidade que se chama teletrabalho. O teletrabalho veio para ficar. Agora, o que os estudos mostram é que existem pessoas que preferem não teletrabalhar, é um assunto pessoal. Mas para a empresa média, teletrabalhar sai muito mais barato que o trabalho presencial.
Então, o inimigo do teletrabalho é mais social que econômico?
Sim. Mas a realidade é indiscutível: antes do vírus, na Espanha, pouco mais de 5% da população estavam teletrabalhando, hoje, são 26%. Isto, claro, tem consequências. Outro dia fui abastecer a moto e perguntei ao frentista se a venda havia se recuperado. Disse-me: “Que!!!, estamos com 30% a menos”. Muito menos pessoas estão transitando.
Isso mudará após a pandemia?
Em 2019, cerca de 1 bilhão de pessoas transitou no mundo. Estou convencido que jamais 1 bilhão de pessoas voltará a transitar. Uma das consequências do vírus é que influencia nosso modo de agir. Muitas pessoas aproveitam tais momentos para fazer reformas em casa. Não sei o que aconteceu, que todo mundo está trocando as janelas. Busca-se o conforto em casa, e isto terá algumas consequências. E sobretudo em um país como a Espanha, que é, ou era, de sair muito…
A crise climática não será resolvida porque todos nós nos tornamos bons de repente, mas por puro interesse – Santiago Niño-Becerra
Há prognósticos mais otimistas que o seu em relação ao que vem, com confiança em uma mudança social e empresarial que atenuará a crise climática.
Estou certo que a crise climática será resolvida. Grande parte da culpa pela crise climática é do sistema produtivo, um imenso esbanjador de recursos. A fumaça que sai de uma chaminé ocorre porque o sistema produtivo não aproveita os recursos 100%. A tecnologia irá resolver a crise climática. Mas é preciso haver um interesse. Dois elementos poderosos lutam quando podem tirar algo, mas quando se chega a um equilíbrio de poder, nenhum vencerá, então, melhor pactuar. A crise climática não será resolvida porque todos nós nos tornamos bons de repente, mas por puro interesse.
A chave da mudança estará na inteligência artificial, afirma.
Sem dúvida. Cuidado, o que nós estamos chamando de inteligência artificial não é autêntica inteligência artificial. A inteligência artificial será um sistema que funcionará sem que ninguém o controle, sozinho. Ele se regulará, aprenderá, chegará à conclusão de que necessita disto e não daquilo. Será positivo, buscará o processo idôneo, mas, claro, a pessoa passará para um segundo plano.
Darwin disse que na evolução sobrevive a espécie que consegue se adaptar. Mas, agora, sobrevive aquilo que se decide que deve sobreviver. “Blade Runner 2049” explica isto bem: o humano como tal está em retrocesso. Há uma espécie nova, evoluída, que assumiu o protagonismo. As pessoas da geração T (as que tem hoje menos de 12 anos), dentro de 40 anos, como serão, como viverão? Não terão conhecido outra coisa…
Sua tese neste livro é que verão o fim do sistema capitalista.
Sem dúvida. Mas eu não digo que haverá uma guerra…
Nossos filhos viverão pior que nós e nós pior do que viveram nossos pais? Consideremos que me refiro a alguém entre 40 e 50 anos.
Sim. Uma pessoa entre 40 e 50 anos, quando tiver 65 anos viverá pior do que vive hoje uma pessoa de 65. Porque as pessoas que hoje têm 65 anos podem desfrutar de um modelo de proteção social sólido, inclusive agora têm acesso a ele. Os que hoje têm de 20 a 25 anos, em 2060, estarão piores do que seus pais. Os resquícios que restarem do modelo de proteção social serão, então, insuficientes.
Alerta que o problema específico da Espanha é a estrutura do PIB, formada a partir de um modelo produtivo muito limitado e muito dependente do turismo e o lazer.
Pense que 28% do PIB na Espanha é gerado pelo turismo, mais lazer, restauração, hotelaria e transporte. São atividades que requerem socialização e movimentação. A pergunta é: o que fazemos para substituir isso que parte?
Mudar o modelo produtivo?
Sim, mas para isto é necessário tempo, investimento. Recordo que houve um ministro da Indústria na democracia, na Espanha, que disse que a melhor política industrial é a que não existe.
Agora, a preocupação é quando chegarão os fundos europeus.
Os famosos 140 bilhões, dos quais, dizem, 60 bilhões vão nos presentear por nossa cara bonita e o resto serão empréstimos, não será assim. Esses fundos estarão sujeitos a alguns projetos (de coisas como digitalização, avanço tecnológico, meio ambiente… não serão para regularizar um hotel) que terão que ser apresentados a Bruxelas, e ver o retorno que esse investimento terá. A Dinamarca irá aproveitá-los, mas a Espanha tem atividades muito tradicionais. Estes fundos não vão salvar a nossa vida.
Chegamos ao ponto em que quando uma empresa decide absorver a outra, o preço não importa. No mundo sobra dinheiro. O difícil é encontrar quota de mercado, valor agregado – Santiago Niño-Becerra
Veremos cada vez mais desemprego?
Mais gente parada? Muito poucas mais, ou nada mais. Veremos crescer muito o subemprego. Um contrato por duas horas diárias, durante um mês, coisas assim. A tecnologia, na medida em que se sofistique, irá substituir muito trabalho, mas será dentro de 15 anos, quando começaremos a ver substituição em massa de trabalho por tecnologia. E isto favorecerá o subemprego.
Quem serão os beneficiados?
O grande capital das grandes corporações, que estão se concentrando cada vez mais. O setor bancário é um exemplo. Chegamos ao ponto em que quando uma empresa decide absorver a outra, o preço não importa. No mundo sobra dinheiro. O difícil é encontrar quota de mercado, valor agregado…
A Amazon será a dona do mundo?
A Amazon será dona de uma parte do mundo. Acredito que o mundo é das grandes plataformas, as que existem e as que estão sendo criadas, como Walmart. E relaciono isto ao tema climático. Em outubro do ano passado, começou-se a acusar a Amazon de que com tanta entrega estava poluindo. A Amazon disse que compraria 100.000 caminhonetes elétricas. A mensagem: “Poluo? Não tem problema, já corrijo”.
Foi necessário ceder liberdade, primeiro, pelo terrorismo, agora, pela pandemia (que não a nego), e depois será pela necessidade diante da escassez de recursos – Santiago Niño-Becerra
A liberdade está realmente ameaçada pelas medidas anti-covid?
A liberdade individual e a privacidade declinam. O sistema, através do Estado e os poderes públicos, oferece maior segurança, mas o preço é a liberdade. Foi necessário ceder liberdade, primeiro, pelo terrorismo, agora, pela pandemia (que não a nego), e depois será pela necessidade diante da escassez de recursos.
A liberdade depende da renda?
Sim, mas até certo ponto. Hoje, nem o mais bilionário pode correr em uma pista a 300 por hora. Há coisas que nem com a renda. O exemplo é a China.
Um modelo com grandes defensores…
Porque garante uma ordem.
A nova normalidade já estava aqui anos antes da covid, alerta.
Sim, usar máscara não é a nova normalidade. A nova normalidade é a inteligência artificial, a concentração de capital… tudo isto que vem de trás, mas a dinâmica vai se acelerando.
Haverá maior expectativa de vida?
Não. A expectativa de vida foi crescendo, graças à extensão da saúde pública universal, porque interessava. Quanto mais pessoas existiam, mais PIB gerava. Cada vez há uma população excedente maior, não é ‘necessário’ que as pessoas vivam muito, se não são úteis. A expectativa de vida irá reduzir na medida em que o modelo de proteção social retroceder.
Fala apenas de duas classes no futuro, alta e baixa.
Sim, a classe média está retrocedendo, desde fins dos anos 1980. Isto influencia, claro, na redistribuição da renda.
O que acredita que acontecerá em novembro, nos Estados Unidos?
Mudará a linguagem, porque tudo indica que a Administração Trump sairá e entrará a de Biden. Mas em nível econômico, bem poucas coisas mudarão. Os Estados Unidos são cada vez menos competitivos, precisam se defender do resto do mundo com protecionismo. Isto não irá mudar.
Continuará crescendo o populismo avivado por esta crise?
O populismo emergiu, porque interessou a uma série de setores, mas diminui. O exemplo está na Alemanha.
Por que o sistema feudal morreu? Porque deixou de ser útil. O mesmo ocorrerá com o capitalismo, e já se começa a ver na queda da liberdade individual – Santiago Niño-Becerra
O sistema capitalista morrerá, disse. Vítima de si mesmo?
Irá entrar em colapso por esgotamento. Morrerá, sim, como todos. Por que o sistema feudal morreu? Porque deixou de ser útil. O mesmo ocorrerá com o capitalismo, e já se começa a ver na queda da liberdade individual. Não é que seja trágico, é que a história muda. E nesta mudança muitos setores vão piorar. O homem da rua não morrerá de fome, mas, em resumo, poucas alegrias.
O que nos aguarda neste inverno e em 2021?
Será dominado pelo vírus, mas iremos nos adaptando. Sevilha cancelou a Cavalgada de Reis, veremos coisas assim em toda a Espanha e não nos rebelaremos, adaptaremos. Caso sejam realizados testes massivos, um pouco como em “Minority Report”, com o departamento pré–crime, é possível detectar o enfermo antes que a doença se manifeste, e vão sendo realizadas quarentenas seletivas, e caso sejam desenvolvidos medicamentos, será possível adoçar um pouco a vida. Mas a Espanha fechará este ano com um déficit de 9 a 12%. Como não há uma reconversão da dívida, os netos das crianças que estão nascendo hoje continuarão pagando dívida.
Destaca que “provavelmente a Revolução Francesa do sistema capitalista pode ser o desaparecimento do Estado” e virá um modelo tipo “Admirável mundo novo”, de Huxley.
Sim, um mundo em que cada um sabe qual é o seu lugar, onde o necessário passa a ser o importante. A tecnologia conduzirá o controle operativo da vida. A sustentabilidade, justificada pela eficiência, impregnará, após um tempo, todas as ações produtivas. Eu termino o meu livro com uma frase de Manuel Castells, hoje ministro das universidades, que é uma frase brutal: “O que as pessoas chamam de futuro é o presente, o que acontece é que o ignoram”. Temos o futuro aqui.
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Aquecimento dos oceanos pode mudar recifes de corais, mostra estudo
Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) prevê mudanças na configuração dos recifes de corais e migração de peixes do Caribe e do litoral brasileiro nas próximas décadas devido ao aquecimento dos oceanos.
A reportagem é de Camila Boehm, publicada por Agência Brasil, 06-10-2020.
A queda na quantidade de peixes que se alimentam de algas na região tropical pode fazer com que os ecossistemas dos recifes percam a sua diversidade de espécies e tenham predominância de algas já em 2050.
O trabalho projetou as interações tróficas – relativas à alimentação – dos peixes em relação ao aumento da temperatura dos oceanos. Os resultados demonstraram que as interações vão diminuir e que em algumas regiões haverá deslocamento geográfico dessas interações: aquelas que ocorriam, por exemplo, na região tropical vão migrar para a região extratropical, conforme explicou Kelly Inagaki, pesquisadora do Laboratório de Ecologia Marinha da UFRN.
“A gente fez essas projeções desde a Carolina do Norte até Santa Catarina [ao longo do Atlântico Ocidental], então pode-se dizer que os recifes de toda essa região estão ameaçados ou são propensos a mudar, de acordo com os nossos resultados”, disse a pesquisadora.
Ela ressaltou que registros de órgãos como o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e a Nasa, a agência espacial norte-americana, mostram que a temperatura média dos oceanos tem aumentado ao longo dos anos. “Ações que reduzam a progressão e o impacto das mudanças climáticas são urgentes. Caso contrário, nós estaremos assumindo o risco de perder os ambientes recifais e todos os seus benefícios”, acrescentou.
Os peixes recifais que potencialmente vão migrar dos trópicos são herbívoros e alimentam-se de algas majoritariamente, controlando a abundância desses organismos nos recifes. Conforme afirmou a pesquisadora, com o aquecimento do oceano, esse controle ficaria prejudicado devido à migração dos peixes para regiões fora dos trópicos, em busca de temperaturas mais agradáveis.
Uma das possibilidades é que os recifes de corais do Caribe, por exemplo, sejam transformados em recifes dominados por algas. “Os peixes que estão controlando essas algas, que estão comendo essas algas, eles vão diminuir. A gente vai ter um aumento dessas algas e a competição com corais ou com outros organismos vai ficar mais forte e vai fazer com que as algas dominem esses ambientes”. Ela explicou que as algas vivem junto com corais, mas, se eles competem por espaço ou por algum outro recurso, normalmente as algas ganham a competição.
“E um ambiente que passa a ser dominado por alga vai ter mudanças em relação a sedimentos, então pode ter água mais turva, pode ter alteração de nutrientes, de PH ou mesmo dos organismos que estão vivendo ali. Nem todo mundo gosta de viver com algas ou gosta de comer algas e, se esse ambiente está se tornando dominado por algas, esses peixes e outros organismos vão buscar outros lugares para viver”, disse.
Com o impacto no ecossistema recifal, os benefícios que os recifes oferecem também são afetados, como a pesca, proteção da costa e o turismo. “Por exemplo, no Nordeste, onde a gente tem uma atividade econômica bastante forte do turismo: se esses ambientes vão mudar, talvez essa atividade de turismo não vá ser tão forte quanto é hoje em dia, e é preciso pensar em alternativas para isso ou se preparar para o caso de essas mudanças acontecerem”, observou Kelly.
Segundo a pesquisadora, essas situações – como a observada na pesquisa – são resultados da vivência, da convivência e de existência humana. “Se quisermos mudar alguma coisa, temos que repensar o modo como vivemos. Temos usado recursos naturais de maneira incessante, sem dar tempo de a natureza se reorganizar em relação a isso”. Ela citou a relação da sociedade com a produção de gás carbônico, produção e consumo de alimentos, poluição e produção de energia como elementos a serem repensados.
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fonte: http://www.ihu.unisinos.br/603523-aquecimento-dos-oceanos-pode-mudar-recifes-de-corais-mostra-estudo