Notícias CBJP
Boletim Informativo Semanal
nº 19 – 24 de setembro de 2020
Aumento da fome e pobreza
Segundo dados do IBGE, divulgados em 17 de setembro, o número de brasileiros que enfrentam insegurança alimentar grave subiu 43,7% em cinco anos. Em 2018 havia no Brasil 10,3 milhões de pessoas nessa situação, contra 7,2 milhões em 2013. Conforme a pesquisa, entre a população de 207,1 milhões, 122,2 milhões eram moradores em domicílios com segurança alimentar, enquanto 84,9 milhões viviam com algum nível de insegurança alimentar. Deste último conjunto, 56 milhões estavam em domicílios com insegurança alimentar leve, 18,6 milhões, insegurança alimentar moderada, e 10,3 milhões de pessoas em domicílios com insegurança alimentar grave.
Na insegurança alimentar grave há falta drástica de alimentos também entre as crianças, ou seja, é uma situação onde toda a família está passando fome. Segundo o IBGE, nas zonas rurais, a insegurança alimentar grave é muito mais comum do que nas cidades. Quase metade das famílias do campo vivem com algum grau de insegurança alimentar, sendo que 7,1% apresenta insegurança grave. Nas cidades esse percentual é de 4,1%. Como até as pedras já sabiam, a esta altura, o Brasil voltou ao Mapa da Fome da ONU, no qual estão os países onde mais de 5% da população ingere menos calorias do que o recomendável. Já se sabia que desde 2016 a desigualdade social tinha explodido no Brasil, como revelam todos os indicadores de distribuição de renda. O retorno do aumento da fome era uma questão de tempo. (José Álvaro de Lima Cardoso, Outras Palavras, 23/9)
Indigenistas denunciam Bolsonaro
A abertura da 75ª Assembleia da Organização das Nações Unidas (ONU) foi marcada por um discurso falacioso de Jair Bolsonaro, “refratário e irreal sobre o combate à pandemia do coronavírus e às desigualdades sociais, os direitos humanos e, principalmente, em relação ao combate aos incêndios e à proteção do meio ambiente”, como sustentou o Conselho Indigenista Missionário em nota. Na 45ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, as organizações da sociedade civil apresentam, em refutação ao presidente, o recrudescimento das violências em território brasileiro – o oposto apresentado pelo presidente em seu pronunciamento “delirante”. Entidades indígenas e indigenistas, nos próximos dias, denunciarão durante a sessão ordinária as violências e violações que os povos indígenas tem enfrentando no Brasil de Bolsonaro. (CIMI, 23/9)
CNBB denuncia risco ambiental e social
O arcebispo de Belo Horizonte e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Walmor Oliveira de Azevedo, em vídeo apresentado na segunda-feira (21), durante a 45ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), disse que instâncias governamentais continuam a flexibilizar as regras para a realização da atividade minerária, mesmo diante do risco de rompimento de 40 barragens em Minas Gerais. Dom Walmor, na mensagem, alertou sobre a contaminação do solo e de rios no Pará, com produtos tóxicos da atividade minerária. “Pedimos ao governo brasileiro que cumpra com as suas obrigações internacionais, para garantir medidas de prevenção e de responsabilização das empresas que causaram tragédias”, disse o presidente da CNBB. (CNBB-NE2, 21/9)
CNBB: mensagem sobre as queimadas
“A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil acompanha indignada a devastação causada pelas queimadas nos biomas Amazônia, Cerrado e Pantanal. Une-se às diversas manifestações de entidades católicas feitas nos últimos dias e enaltece todos que cuidam, com esmero, da Casa Comum, de modo especial os que bravamente combatem os focos de incêndio e trabalham pela preservação da vida nas áreas afetadas. A CNBB se solidariza com todos os voluntários que arriscam a própria vida, atuando com poucos recursos no combate ao crime socioambiental que está ocorrendo e na tentativa de salvar a fauna restante que não foi consumida pelo fogo.”
“Mesmo diante de tamanha destruição, o Governo Federal paradoxalmente insiste em dizer que o Brasil está de parabéns com a proteção de seu meio ambiente. Esta atitude encontra-se em nítida contramão da consciência social e ambiental, na verdade beneficiando apenas grandes conglomerados econômicos que atuam na mineração e no agronegócio” . (CNBB, 23/9)
Latifúndios das Queimadas
Qualquer teoria que tente explicar o fogo no Pantanal sem mencionar a pecuária é falha. Já comentamos aqui que, segundo um estudo do Instituto Centro de Vida, as queimadas no Mato Grosso começaram em cinco fazendas. A partir desse trabalho, os jornalistas da Repórter Brasil foram ver quem são os donos das terras. Pelos dados de geolocalização das propriedades, do Cadastro Ambiental Rural e da Secretaria de Estado da Fazenda, chegaram a pecuaristas que vendem gado para o grupo Amaggi (do ex-ministro da Agricultura e ex-senador Blairo Maggi) e para o grupo Bom Futuro, de Eraí Maggi, o maior produtor de soja do mundo. A Amaggi e o Bom Futuro são fornecedores da JBS, Marfrig e Minerva. E não custa lembrar que Amaggi, JBS e Marfrig fazem parte da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, que tem um conjunto de propostas para deter o desmatamento na Amazônia … o fogo que começou nessas cinco fazendas, todas em Poconé, foi responsável por destruir 116 mil hectares, ou 36% de toda a área do Pantanal mato-grossense que havia queimado até agosto. É o tamanho da cidade do Rio de Janeiro. Já no Mato Grosso do Sul, a Polícia Federal conseguiu identificar outras quatro fazendas que levaram à queima de mais 25 mil hectares. (Outra Saúde, 23/9)
Europa quer expulsar migrantes
A Comissão Europeia apresentou nesta quarta-feira(23/9) uma proposta de um novo pacto migratório que rejeita as quotas obrigatórias para a distribuição de refugiados entre os parceiros da UE. Bruxelas optou por um sistema de solidariedade à carta, pelo qual os países poderão contribuir acolhendo refugiados, mas também mediante o que o Executivo do bloco europeu denomina de “retornos patrocinados”. A nova oferta de Bruxelas para as capitais se baseia, de modo geral, na blindagem da fronteira externa da UE e na intensificação da política de repatriamento de imigrantes irregulares. (El País, 23/9)
SP deverá comprar 60 milhões de doses da vacina
A corrida pela vacina contra o novo coronavírus ganhou, ontem, notícias promissoras. O governador de São Paulo, João Doria, afirmou, em coletiva, que o estudo de fase 3 da chinesa CoronaVac, realizado em mais de 50 mil voluntários, apontou segurança e eficácia para prosseguir com o desenvolvimento. Além disso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ampliou o número de voluntários e estados participantes de testes da vacina; e também do imunizante desenvolvido pela Johnson & Johnson. O governador anunciou que a parceria entre o laboratório Sonovac, responsável pela CoronaVac e o estado paulista deve fornecer pelo menos 60 milhões de doses até o fim de fevereiro de 2021, e um primeiro lote de 5 milhões de frascos está programado para chegar no próximo mês de outubro. (Correio Braziliense, 24/9)
EUA: vacina, quando?
Nos Estados Unidos, onde Donald Trump tenta a qualquer custo aprovar uma vacina antes das eleições, a FDA (a Anvisa de lá) planeja emitir esta semana diretrizes mais rígidas para a autorização emergencial. O texto não foi liberado e ainda pode sofrer mudanças, mas alguns trechos já começaram a ser compartilhados com fabricantes de vacinas. Segundo o Washington Post, a ideia é que os dados das farmacêuticas precisem ser examinados por um comitê de especialistas independentes antes que a FDA emita qualquer registro. Além disso, os participantes terão que ser monitorados por pelo menos dois meses depois do recebimento da última dose, para evitar que a imunidade seja de curto prazo. Com essas exigências, é altamente improvável imaginar um registro ainda este ano (mesmo com as avaliações intermediárias explicadas acima). (Outra Saúde, 23/9)
Direitos Humanos: Igreja e Governo de PE firmam compromisso
A Comissão Regional Pastoral para a Ação Sociotransformadora da CNBB NE2 levou ao governador de Pernambuco, Paulo Câmara, denúncias de ameaças e violação dos direitos contra cerca de 5.000 agricultores residentes em pelo menos nove comunidades, na zona da mata sul do Estado. Em meio à pandemia de coronavírus, os camponeses há meses vêm sofrendo com ações violentas como a destruição de lavouras e até atentados contra a vida, tudo isso sob o comando de empresas dos setores agropecuário e imobiliário. O governo de Pernambuco firmou o compromisso de construção de um protocolo de iniciativas com o objetivo de solucionar o conflito, reconhecendo a propriedade dos camponeses que vivem e trabalham na região há muitas décadas. Entre as iniciativas está a substituição do delegado responsável pelos inquéritos, a retirada de câmeras para monitoramento dos trabalhadores rurais e a efetivação dos moradores nas áreas de litígio. (CNBB NE2, 22/9)
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