Um em cada 5 alunos do Ensino Médio na rede pública ficou sem aulas na pandemia

19/11/2021- De acordo com estudo do Inesc, em parceira com a Vox Popoli, a diferença entre os estudantes da rede pública (20,7%) que abandonaram ou não recebem o ensino remoto é de dez pontos percentuais em relação aos alunos da rede privada (11,8%)

Foto: divulgação/MCTIC

Cerca de 20% dos alunos que cursavam o Ensino Médio na rede pública no Brasil perdeu pelo menos um ano letivo desde o início da pandemia – o dobro do percentual registrado na rede particular, no período de 2020 até julho deste ano. Na zona rural, a situação é ainda pior, já que a soma dos jovens sem acesso à educação pública, durante um ano ou nesses dois anos da crise sanitária, chega a 26,8% do total de estudantes do Ensino Médio.

Também é crítico o cenário na região Norte, onde apenas 68% conseguiram ter aulas em 2020 e 2021, revelando a grande desigualdade no sistema educacional do governo.

Essas são algumas conclusões da pesquisa inédita divulgada hoje pelo Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos) sobre a “A experiência do ensino durante a pandemia de Covid-19 no Brasil”, que contou com o apoio do Fundo Malala.

Desigualdades no ensino

Os dados foram obtidos por meio de entrevistas presenciais realizadas pela Vox Populi no mês de julho deste ano, com jovens entre 15 e 19 anos, de todas as regiões do País, nas redes pública e privada, que vivenciaram a experiência da escola em tempos de pandemia.

“O Brasil é conhecido por suas profundas desigualdades raciais, regionais, de gênero, de renda. E essa realidade só se agravou na pandemia, sobretudo, pela forma como foram conduzidas as políticas públicas nesse período”, afirma Cleo Manhas, assessora política do Inesc. Ela acrescenta que a educação, apesar de essencial, foi negligenciada pelos governos nacional e regionais. “Os números refletem essa realidade.”

Sobre a motivação para deixar os estudos, os jovens da rede pública apontam, principalmente, a necessidade de trabalhar (14,6%) e falta de recursos (12,9%) não apenas para manter uma estrutura de educação à distância, como também para garantir necessidades básicas de sobrevivência.

Outras conclusões da pesquisa seguem abaixo:

  • Segundo a pesquisa, a maior parte dos alunos afirma que estudou menos no ensino remoto. Contudo, esta percepção foi mais notável entre estudantes do ensino público: 75% compartilharam desta opinião. Já entre alunos da rede privada, 58% acreditam terem estudado menos e 26% afirmam que não houve diferença entre presencial e remoto.
  • A média de horas de estudo varia quase uma hora entre estes dois públicos: 3,18 horas entre estudantes do ensino público e 4,29 horas entre os do privado. Apesar de muitas e muitos alunos afirmarem que participam das atividades, são os estudantes das escolas privadas que enfatizam essa assiduidade (55% afirmam que participaram da maioria das atividades contra 30% da escola pública).
  • No que tange às condições da residência para o ensino remoto, metade dos jovens que estudam em escolas públicas possui apenas o celular para acompanhar o ensino online. Nesse perfil, 25% não têm acesso à banda larga, isto é, são estudantes da rede pública que dependem do banco de dados do celular, que não necessariamente dura o mês todo.
  • Quanto a ter um espaço para estudo, observa-se que 2/3 afirmam ter um espaço bom ou adequado para tal finalidade, enquanto 1/3 afirma que sua casa não possui tal comodidade.
  • Para esse público, nem a escola possui condições adequadas para o ensino à distância (68%) nem o poder público colaborou neste sentido (metade afirma que não recebeu qualquer ajuda nem equipamentos eletrônicos ou tampouco banco de dados para celular e não tinha como tirar dúvidas). A maioria (cerca de 2/3) afirma que a escola até se esforçou para fazer adaptações de horários e/ou material para o ensino remoto, porém o acompanhamento escolar ficou aquém do desejado. Assim, apesar de reconhecerem que as escolas se esforçaram, as opiniões se dividem equilibradamente: parte acredita que as escolas fizeram tudo o que poderiam para oferecer um bom ensino; parte acredita que as escolas poderiam ter se esforçado mais.
  • As respostas dos alunos de escolas privadas vão na contramão deste cenário: a maioria (mais de 80%) tem computador e celular de uso exclusivo; acesso à internet banda larga e um espaço adequado para estudo. A maioria considera que as escolas privadas onde estudam oferecem boas condições para aulas online, buscaram se adequar à nova realidade e ofereceram um bom acompanhamento escolar. Ou seja, acreditam que suas escolas fizeram tudo o que puderam para oferecer uma boa qualidade de ensino.
  • Os estudantes das redes pública e privada tiveram acesso a uma multiplicidade de formatos para o ensino à distância – videoconferências, aulas gravadas, material enviado por e-mail ou WhatsApp e, mesmo, materiais impressos (a escola pública, principalmente). A preferência por formato está condicionada às condições de vida e estudo: os alunos das escolas privadas têm preferência por videoconferências (58%); enquanto os alunos de escolas públicas, além deste formato, gostam das aulas gravadas, entrega de material impresso ou enviados por meio eletrônico (WhatsApp, email etc.).
  • Podemos dizer que a qualidade do ensino remoto é considerada mediana (entre bom e regular para a maioria dos adolescentes). Porém, os alunos de escola pública tendem a ser mais críticos – aproximadamente 1/3 considera “ruim ou péssimo” e, para cerca de metade dos entrevistados, o ensino remoto prejudica o desempenho.
  • Os que estudam em escolas privadas se dividem equilibradamente entre aqueles que acreditam que o ensino on-line contribui e os que acham a modalidade prejudicial aos alunos. A falta de apoio para tirar dúvidas, a qualidade dos material/aulas e o distanciamento de professores e colegas são motivos consensuais de crítica.
  • Ao compararmos o ensino remoto ao presencial, as opiniões entre as redes privada e pública se aproximam: o ensino presencial é considerado “ótimo” e “melhor” quando comparado ao on-line. Em função do período de coleta de dados (julho de 2021), o ensino presencial ainda não tinha voltado completamente na maioria das regiões brasileiras, especialmente nas escolas públicas (16% estavam tendo aulas contra 43% dos alunos de escolas privadas).
  • Até julho de 2021, quando terminou a coleta dos dados, o medo da contaminação pelo Covid-19 existia para a maioria, em qualquer segmento: 2/3 dos alunos das redes pública e privada). Também foram semelhantes as proporções dos que acreditavam que suas escolas iriam oferecer boas condições de infraestrutura e insumos para o retorno seguro às aulas.
  • Por último, a pesquisa quis saber sobre os impactos do lado emocional nos estudos: independentemente da rede de ensino, mais da metade dos jovens afirma que o lado emocional (ansiedade, stress, tédio etc.) atrapalhou seus estudos. Também impactou em sua vida pessoal e social, especialmente na dos alunos de escolas públicas: metade teve de assumir tarefas domésticas ou procurar um emprego para ajudar a família e mais de 2/3 não teve acesso a atividades sociais (esporte, lazer ou cultura).
  • Com relação aos dados por região, foi verificado que os adolescentes do ensino público, das regiões Sul e Sudeste, têm uma situação pouco mais confortável que aqueles que residem nas regiões Nordeste e Norte (principalmente), onde a vulnerabilidade econômica e social é maior.

Sobre o INESC – O Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), criado em 1979, é uma organização não governamental, sem fins lucrativos, não partidária, e com finalidade pública. A ação do Inesc orienta-se para ampliar a participação social em espaços de deliberação de políticas públicas. Em suas intervenções, utiliza o instrumental orçamentário como eixo estruturante do fortalecimento e da promoção da cidadania.

Assessoria de Imprensa – Adriana Silva (11) 98264-2364

fonte: https://www.inesc.org.br/um-em-cada-5-alunos-do-ensino-medio-na-rede-publica-ficou-sem-aulas-na-pandemia/